Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 26
É melhor assim (parte I)




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Capítulo 24 

É melhor assim, parte 1

 

San Sebastián, Espanha

14 de dezembro de 2015 

 

Já eram duas da tarde. Tomoyo já estava atrasada.

Fazia um dia frio na capital da província de Guipúscoa. As ondas do mar iam e vinham, como tudo na vida, pensou Syaoran, olhando a ressaca no mar. Mesmo tomando uma xícara quente de txakoli, o chinês sentia muito frio. O nariz dele estava vermelho e apenas pensava na hora que Sakura apareceria. Tomoyo prometeu trazer a cardcaptor o mais cedo que ela pudesse, mas nunca se sabe o que a natureza apronta. Trilhos congelados ou uma ventania afetam toda a operação do trem.

Nessa hora, tudo o que pensava era no filho Chitatsu e se ele estava bem agasalhado, para não pegar uma friagem. Felizmente, Nakuru ajudava o rapaz no que ele precisasse. Meiling seguia em coma no hospital em Madrid e seu quadro não melhorou muito desde o dia que bateu a cabeça no carro. Com a prima do lado, ele não se preocupava muito com isso, mas de uns tempos para cá, pensou se não estava deixando de pensar no filho o suficiente para focar em outras coisas. Sucesso profissional era tudo, mas família era importante também. De repente, pegou-se pensando em Iñigo e Inãki e o quanto foi ausente na vida dos dois rapazes.

Se tinha alguém que não era culpado nisso tudo eram eles. Syaoran estava presente em todos os aniversários do filho que teve com Sakura. Quanto aos gêmeos, limitou-se muitas vezes a enviar presentes. De uns anos para cá, começava a aparecer para eles e se surpreendia a cada gesto de carinho e amor que recebia deles. Mesmo distante, Gotzone não colocou os gêmeos contra ele. Quanto mais Syaoran ficava longe dos meninos, mais ansiavam a volta dele, como quando um astrônomo amador espera pela volta do cometa Halley. 

O chinês olhou para a rua e viu um táxi parado na calçada. Sakura e Tomoyo saíram de lá. Syaoran buscou se arrumar na cadeira para receber as mulheres, mas apenas Sakura andou até onde ele estava. Tomoyo ficou parada, olhando a amiga andar até o outro lado da rua. Ela mandou uma saudação e deu um tímido sorriso para eles antes de partir com o mesmo táxi. 

Syaoran se sentia muito isolado com aquele ato. Agora era só ele e Sakura. Mesmo morando longe do Japão, era unanimidade para o chinês que  Tomoyo tinha a chave para entender Sakura. Nem mesmo conversando com Chiharu, Rika ou Naoko via tal nível de entendimento. Talvez tenha visto em Rika, depois em Naoko, uma capacidade de compreensão da esposa, mas era só uma sombra do que Tomoyo entendia.

Enquanto estava perdido em seus pensamentos, Sakura já estava na mesa, olhando para ele séria por trás do cachecol grosso de lã.

— Posso sentar, Shoran.

— Sim, sim! Deve! Sente-se. Quer pedir alguma coisa? 

— Não vou demorar muito… 

— Como não? Você não vai me deixar eu me explicar? O Chi tá aqui perto e… 

— Não envolve nosso filho nisso, senão vai ficar pior! — disse Sakura, com severidade.

— Eu acho que eu mereço ser escutado… 

— Você vai ser, Shoran, anda, fala! O que você tem para falar? — Sakura finalmente sentou-se diante dele e o olhava diretamente nos olhos. Syaoran, de início, não soube o que dizer, mas depois começou.

— Eu fiquei sabendo que a Ordem… Que a Ordem ficou interferindo na nossa vida… Foi a Ordem que quis que essa situação de caos acontecesse, não foi? 

Sakura não estava nada contente, nem sequer sorria. Estava com os olhos tão frios quanto o vento que saía daquele mar, as bochechas imóveis.

— Que Ordem, Shoran? Isso foi culpa sua! 

— Foi a Tomoyo que falou isso?

— Para de usar meus amigos como escudo! para, vai! Desde quando eu cheguei aqui, você vem falando de filho, de Ordem, agora vem falar da Tomoyo? Para! Se você não tiver nada pra falar sem precisar se apoiar nos outros, eu vou embora daqui! — disse Sakura, com uma rispidez que Syaoran nunca imaginou ver na mulher. Sakura era doce, gentil e um pouco avoada. Aquela faceta dela, ele não conhecia ainda e teve medo de conhecer.

— Está bem, Sakura! Você quer escutar eu falar de mim? Pois bem, eu vou falar! Sim, o Iñaki e o Iñigo são meus filhos! Tá satisfeita agora?

Sakura fechou os olhos como se tivesse levado um soco no estômago. O chinês continuou:

— Sim, eu tive um caso com a Gotzone antes de me casar com você.

Mais uma vez, Sakura fechou os olhos com o impacto das palavras. Abriu os olhos tremendo, tentando dizer alguma coisa:

— Desde quando… 

— Eles nasceram no mesmo ano que a gente soube que o Chitatsu ia vir pro mundo… 

— No meu primeiro ano de faculdade, né? 

— Sim, no seu primeiro ano de faculdade… 

— A gente nem se viu naquele ano direito, né? E só foi uma vez e o Chi já veio… 

— Sim… Nesse mesmo ano, meus dois meninos nasceram… Eles nasceram fortes, com saúde… Só queria que o Chi nascesse do mesmo jeito… 

Sakura fazia não com a cabeça, sem acreditar no que escutava.

— Mas os nomes deles…

— Pensa que eu não ia registrar meus filhos? O sobrenome dele pode ser o da mãe, mas eu dei meu nome pra eles… — disse Syaoran, mostrando o DNI dos meninos. Neles, se lia: Iñaki Bengoetxea y Li e Iñigo Bengoetxea y Li. — Eu não seria tão canalha a ponto de nem assumir os filhos que eu coloquei no mundo…

— Mas… 

— Eu sempre dei presentes de aniversário pra eles, sempre visitei eles quando eu tava na Europa… Ano passado, eles souberam que tinha um irmãozinho e, em vez de me odiar, eles me amaram mais ainda e queriam conhecer o Chi a qualquer custo… Eu não consegui impedir eles de conhecerem o irmão… Nem você ia conseguir… 

— Quer dizer que… aquela vez na escola, não foi por amizade? Não foi por sentirem a presença um do outro?

— Claro que foi! Eles sabiam quem era o Chi, eles sentiam a presença dele até com as minhas fotos onde ele aparecia… Sabia que foi uma felicidade muito grande pra eles encontrar o irmãozinho? 

— Eles te contaram depois?

— Sim, me contaram.

— Você via eles mesmo estando aqui com a sua família? 

— Sim. Eu não posso me esconder dos meus filhos.

— E você achava que eu nunca ia descobrir isso? 

— Você nunca ia descobrir, Sakura! Você nunca percebe a maldade ou a intenção nas outras pessoas… Se não fosse a sua capacidade inata de sentir presença… 

— E você queria esconder isso por quanto tempo de mim? 

— Até eu achar uma hora certa pra te dizer tudo isso… 

Sakura sentia que tinha levado uma sequência de socos e não sabia como se defender. A primeira reação foi chorar. Ela queria que ele dissesse a verdade sem se proteger em ninguém, mas ela também seria capaz de escutar tudo o que ele tinha para dizer? Ela se perguntava.   

— Agora, será que você pode me escutar e entender por que eles vieram ao mundo? 

Em meio as lágrimas que caíam, Sakura gargalhou, como se ouvisse uma contradição.

— Entender? Ah, sim, entender. Você acha mesmo que eu tenho que entender a sua canalhice com o nosso matrimônio? O que eu tenho que entender, Shoran?

— Você precisa entender, sim! Você precisa escutar as minhas explicações! 

— Eu não tenho que escutar nada! — gritou Sakura. Todo mundo em volta escutou e olhou para o casal, mas logo voltaram para seus próprios assuntos.

— Você tá sendo egoísta, sabia? — disse Syaoran.

Sakura voltou a chorar de novo.

— Quer saber, Shoran? Você foi me trair com a pior pessoa que você podia ter arranjado… Gotzone… Eu nem sei falar isso direito!

— Você tá em Euskadi agora! 

— Você me arrastou pra cá! 

— Você para com isso que essa foi uma proposta que eu recebi!

— Tô até achando que isso é armação sua pra ficar com a outra… 

— Que outra, Sakura? A única pessoa que eu me deitei esses anos todos foi você!

— Exceto há cinco anos, né? 

— Exceto há cinco anos. 

Os dois voltaram a ficar em silêncio e mal tinha coragem de olhar na cara um do outro. 

— Olha só… Ela é bonita, né? 

— Muito, muito mais bonita de corpo do que você, se é isso que você quer ouvir! Ela parece uma modelo! Ela é atleta, tem o corpo definido… Eu nem vou falar no resto porque aí já é demais! Tá satisfeita, agora?  — disse Syaoran. Ele ficou tão mal com o que disse que nem quis continuar mais. Aquilo foram anos de impaciência com as perguntas insistentes que Sakura fazia com relação às outras mulheres que rodeavam o rapaz. Naquela hora, aquilo explodiu. 

— Então… Fica com ela pra você.

— Assim tão fácil? 

— Eu não tenho mais paciência pra continuar com isso… Eu sabia que… Uma hora ou outra, isso iria acontecer… 

— Sabia? Isso nunca ia acontecer! Eu me segurei muito mesmo pra não te trair esses anos todos! Proposta não me faltou, sabia? E nem me falta, até hoje! Eu que não te falei pra não te deixar com mais ciúmes do que você já tá! Eu que também nunca tentei, porque, por mais que você não acredite, eu valorizei nosso casamento… Toda a nossa história com as cartas, agora com a Ordem…  

Os dois voltaram a ficar em silêncio. Sakura pegou o celular da bolsa e enviou uma mensagem para Tomoyo, pedindo para buscá-la.

— Olha, Shoran, eu já ouvi muita coisa hoje e… Eu preciso de um tempo pra pensar… 

— Você não vai nem querer ver meu lado?

— Não precisa… Você já me traiu, Shoran! Você acha que precisa? A Gotzone é bonita, tem o peito maior que o meu, é mais famosa do que eu, mais atleta do que eu… Ganha mais do que eu e… 

— Isso é você que tá falando…

— Não é eu que tô falando… Ela é a pior pessoa com quem você podia ter me traído… Você entende?

— Entendo sim… 

— É melhor a gente se separar. É melhor assim.

Um táxi parou do outro lado da calçada e Sakura se levantou da cadeira.          

— E o Chi, Sakura? Você não quer ver ele? Ele tá perguntando de você… 

— Eu vou falar com o Chi, não esquenta! Até o natal, eu falo com ele… 

Sakura voltou a ficar em silêncio e caminhou até a calçada. Quando se preparava para atravessar a rua, Syaoran perguntou:

— Você me ama, Sakura? 

A cardcaptor parou para respirar um pouco antes de virar para ele e responder.

— Eu amei aquele Shoran gentil que me protegia dos perigos das cartas. Eu amei aquele Shoran gentil que eu me sacrifiquei pra entregar o ursinho e sangrei minhas mãos pra te fazer aquela yukata. Se lembra?

— Claro que sim!

— Só que eu acho que a gente se precipitou demais com algumas coisas. A gente tinha 11, 12 anos na época, né?

— Sim, sim… 

— Eu acho que eu tinha que ter vivido mais, conhecido mais, e você também… só isso…  

— Esse é o fim, então?

— Não sei. Não sei o que o futuro reserva. Isso é a pior parte, sabe? A Tomoyo me proibiu de ver o futuro. 

— E a Tomoyo tem alguma coisa a ver com essa sua decisão também? Eu mereço saber! — disse Syaoran, segurando o pulso de Sakura antes que ela partisse.

— Sim, Shoran, tem muito a ver. Tem muito a ver a inveja que eu tenho dela, sabe? Da experiência de vida que ela conseguiu. E só. Sobre a gente, ela me implorou pra eu te entender, sabia? Sou eu que não quero.

Syaoran não perguntou mais nada. Tomoyo olhava para eles do outro lado da rua, com uma certa melancolia no rosto. O sinal de pedestres ficou verde de novo e Sakura precisou partir.

— Adeus, Shoran. Leva o Chi pra conhecer os irmãos dele. Joga limpo com ele, pelo menos. Ele é seu sangue. Não tem nada que ligue a gente mais.

O pulso de Sakura deslizou pelos dedos frios de Syaoran. Ela entrou no carro e partiu. O Chinês olhou para a calçada e ficou sem saber o que fazer.

 

Continua… 


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