Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 15
Idiota! Não fala bobagens!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783908/chapter/15

Capítulo 13/Capítulo 3

Idiota! Não fala bobagens! 

 

I

 

Secretaria de governo do Ministério de assuntos especiais em Euskadi, Bilbao, Espanha.

3 de agosto de 2015

 

— Tomoyo, calma aí, a Sakura deve estar bem! 

— Como calma aí, Marcela! A Sakura foi atacada! A Sakura foi atacada porque um dos interventores do Felipe estava comigo naquela reunião! Eles sabiam por onde a Sakura iria passar! Eles sabiam que dia a gente ia chegar! 

Os escritórios da Secretaria de governo do ministério parecia ser um prédio pequeno no começo, mas ele começou a se alargar à medida que Tomoyo entrava no local. Para quem não era mago ou não tinha magia, aquela era uma sensação esquisita, pois quanto mais se avançava, mas se achava que não ia para lugar algum. Foi a mesma sensação que ela sentiu ao entrar em Toledo, uma das pouquíssimas cidades na península ibérica feita só pra gente que tem magia. 

Quanto mais avançava, mais as paredes de madeira davam lugar à paredes brancas de um hospital e, quanto mais seguia, mais as pessoas deixavam de usar terno e gravata comuns para usar vestes mágicas como as que Tomoyo viu na cidade de Toledo. Por fim, começaram a aparecer os soldados de farda branca que Marcela havia comentado e a costureira sentiu que estava cada vez mais perto. A saia rodopiando, os longos cabelos negros esvoaçando ao vento, o olhar dos soldados magos para ela, o suor na testa, o cansaço nas pernas, ela não se importava com nada daquilo. O importante era saber onde estava Sakura, Chitatsu e o resto do pessoal. 

Passados alguns minutos, Tomoyo viu uma mulher de cabelos claros e farda branca dando sermão em três soldados da Ordem do Dragão. A roxinha viu que uma delas era Gotzone. As outras eram Ágatha e Nerea, segundo se recordava da luta contra a Ordem em Osaka e Barcelona, há quatro anos. Elas estavam ajoelhadas, com as armas aos pés da mulher de farda branca.

— Eu já disse, Gotzone! Eu não quero ver vocês mais aqui! E não quero saber mais de Ordem do Dragão misturada com a comunidade de magos! Nem com o ministério!

Gotzone pegou a espada longa do chão, se levantou e disse:

— Mas você precisa escutar a gente! Como eu ia saber que o Lorenzo ia nos trair?

— Ah, não me diga! “Como eu ia saber que o Lorenzo ia trair a gente”, o cara é pai de família, e bla, bla, blá! Ah, já chega! Eu nunca fui com a cara da Ordem uma vez sequer! Eu sempre falei pro Alfredo que era um erro contar com o apoio de vocês.

— Mas pelo menos a senhora podia escutar El Rey, Dona Beatriz!— insistiu Nerea, uma mulher de cabelos curtos finos. 

— El Rey? — Beatriz, a mulher de farda branca, sorriu. — Pelo amor de Deus! Eu perdi minha mãe naquela igreja em Zumaia e quero saber a verdade dessa guerra mal contada! Eu não tinha nem um ano de idade quando “El Rey” tava brincando de soldado e vendo minha mãe torrando! 

— Mas… — disse Ágatha.

— Mas nada! Caiam fora daqui e nem pensem em me procurar de novo! Agora é mão dura contra vocês! 

Alguns soldados de farda branca cercaram as três mulheres da Ordem e escoltaram-nas para fora de lá, entrando por uma porta onde dava para ver o céu. Tomoyo, mesmo não gostando muito da Ordem do Dragão, sentiu o peito apertar com aquele apelo, com todos os problemas que Felipe VII estava enfrentando. Marcela percebeu e correu para apresentá-las:

— Senhora Beatriz. Eu trouxe a Tomoyo… 

— Ah, Marcela, bem vinda! Suas joias foram de grande ajuda pra gente… — respondeu Bea. — Prazer, sou a Beatriz Fanjul, representante do ministério aqui em Euskadi e, temporariamente, ministra de assuntos especiais… — disse a loira, estendendo a mão para Tomoyo. 

 

II      

 

Andando por mais calma por aqueles corredores, Tomoyo e Marcela viram que mesmo estando num ambiente mágico, havia muitos meios de comunicação dos comuns no lugar, como celulares, televisores e telefones. Inclusive muitos daqueles soldados de branco telefonavam para a família ou jogavam algum jogo num Nintendo 3DS enquanto esperavam e se recuperavam da luta. 

— Muitos deles vivem no mundo dos comuns, né? 

— Claro que sim! Não existe muitas cidades só de magos por aqui! 

Andando mais um pouco, as duas viram a seguinte notícia num telejornal:

— Vai ser enterrado amanhã o corpo do ministro Alfredo Bosch. Ele estava andando de carro pela autoestrada do cantábrico, em visita à secretaria do ministério, quando o veículo capotou num engavetamento. A secretária do ministério no País Basco, Beatriz Fanjul, vai assumir interinamente a pasta deixada pelo trabalhista. A repórter Ana Nogueras está no congresso e traz mais informações… 

— Marcela, que mentira é essa? — perguntou Tomoyo, segurando a cabeça com o queixo para que ela não caísse com o espanto que teve.

— Não é mentira, é o mundo dos magos! É assim que ele funciona.

— Como assim?

— Já ouviu falar que o mundo dos magos é cruel?

— Cruel como?

— Bem… Como eu posso te explicar? Entenda o seguinte: o objetivo da agora ministra Bea e do ministro Alfredo era evitar que gente comum saiba que magia existe. Geralmente, quando magia é usada e não levantamos uma barreira, os comuns caem no sono, ou pensam que é um desastre natural… 

— Mas parece que ontem não usaram barreira… 

— A presença do ministro já criou uma barreira. Fora que a Ordem já tinha criado outra barreira.

— Mas, e os carros?

— Os carros que ficaram na barreira pensam que estavam em um engavetamento por causa da neblina na estrada. Mas todos os carros atravessaram em segurança a estrada. O trecho da barreira foi totalmente ignorado.

— Então… Foi como se tivessem usado a carta "loop"?

— Exatamente isso… 

— Sei… 

— Agora, me diz, Tomoyo: como a gente fala que o ministro foi assassinado por um bando de armadura vermelha? Sabe o impacto disso? 

— Acho que eu consigo entender… 

— Pois é, Tomoyo. Toda a luta de ontem foi tratada como um “engavetamento”.

— E todo mundo que morreu? 

— Foi dada uma outra desculpa, sabe? Os soldados de branco vem de diversos cantos da Espanha, inventar motivo pra morrer não é difícil… 

— Essa é a parte cruel de ser mago? 

— É cruel, é desonesto, eu sei, mas tudo pra evitar espalhar pro povo comum que magia existe. Já pensou no caos que ia ser? 

Tomoyo baixou a cabeça e se calou um pouco.

— Tem muita gente comum empenhada em provar que magia existe. O meu objetivo, o nosso objetivo, enfim, o objetivo do ministério de assuntos especiais, é impedir isso… Você entende?

— Não é à toa que vocês estão infiltrados nas forças de segurança, né? 

Marcela e Tomoyo continuaram a caminhar pelo lugar.

 

III

 

Andaram mais um pouco e viram outra televisão ligada no noticiário que dizia: 

“— … A Guardia Civil concluiu que os repasses milionários foram feitos para uma conta no Panamá, aberta pelo advogado Victor Delgado, que era usado como um dos laranjas do esquema todo. A rede de corrupção também contava com conexões nas Canárias, na figura do médico Lorenzo Mata, que está foragido. O repórter Joseba Etxeberria está em Pontevedra e nos traz mais informações. Joseba, bom dia.

— Bom dia, Letízia.

— Joseba, a Guardia Civil concluiu que até mesmo a Infanta Maitê Ferrer de Borbón está envolvida no esquema?

— Pois é, Letízia, a irmã do Rei também…”        

Tomoyo olhou para a televisão e ficou indignada:

— Minha nossa senhora! O Felipe não tem paz mesmo… 

— Você acredita nisso mesmo, Tomoyo? 

— Como assim, Marcela? 

— Você entendeu mesmo o que eu quis dizer sobre a comunidade dos magos ser cruel? 

— Bem… 

— Olha só: A maitê e o Victor são interventores da Ordem do Dragão. Eles não tiveram medo de mostrar a cara. Você tá entendendo o que eu quero dizer? 

— Espere! Você está querendo dizer que o ministério de assuntos especiais criou uma acusação falsa contra eles? É sério isso.

Marcela confirmou com a cabeça.

— Mas como eles podem usar magia para perseguir alguém assim?

— Se for alguém com que eles não forem com a cara, pode sim… Pisa no calo do ministério pra você ver! Mesmo se a Gotzone, famosa do jeito que ela é, pisar fora da linha que a Beatriz falar pra ela, o ministério transforma a vida dela num inferno em um instante.

Tomoyo ficou contrariada depois de ouvir Marcela. 

— Mas não fica assim não! Isso não acontece direto. O ministério é muito tolerante. Você viu como a Ordem atacou o pessoal, não viu… 

— Vi sim…

— Pensa que dá pra julgar eles do jeito que merecem num tribunal comum? Nem ferrando! Gente como o Victor ou a Maitê não é tão fácil de pegar, não no mundo dos comuns… 

— É uma forma de justiça torta, não é, Marcela? 

— Sim, é torta sim, mas… É o jeito que a gente encontrou pra enfrentar a justiça torta do mundo… — De repente, Marcela sentiu uma presença mágica distinta naqueles corredores de paredes brancas.

— Olha lá, Tomoyo! É o Syaoran! Ele deve saber onde tá a Sakura… 

O chinês chegou perto delas, segurando Chitatsu no colo. Kero estava atrás dele, flutuando no ombro do chinês.

 

IV

 

O quarto onde repousava Sakura era como o de um hospital, piso branco, paredes brancas, só que não havia equipamentos para medir os batimentos cardíacos ou injetar soro na veia. Só cristais coloridos em cima de uma pequena mesa ao lado da cama. Tomoyo não sabia para que eles serviam e achou melhor deixar como estavam. Os magos rejeitavam qualquer tecnologia comum nesses casos. 

A costureira chegou perto da amiga querida e viu que ela dormia profundamente. Ver Sakura naquele estado despertou uma compaixão profunda no peito da roxinha que a fez desejar ceder uma parte da sua energia só para Sakura despertar e dizer um ‘oi’. Segundo os médicos magos, ela só despertaria depois de mais um dia. 

Tomoyo se aproximou de Sakura com olhos ternos, quase chorando. Segurou a mão dela e viu que estava morna. Sentiu-se um pouco mais aliviada e tocou no rosto dela, nos cabelos dela, acariciando cada centímetro daquela pele que tanto adorava. Depois de afagar a bochecha dela por um tempo, parecia que seus pensamentos foram transmitidos para a amiga querida só com aquele toque: Sakura abriu os olhos. O coração de Tomoyo deu um salto no peito e seus olhos arregalaram. A moça sentiu a respiração congelar por uns segundos, mas ela voltou logo em seguida assim que Sakura girou a cabeça para ela. A cardcaptor sorriu.

— Tomoyo… 

— Sakura…

Sakura apertou com forças a mão da amiga querida, só que não com tanta força assim por causa da convalescência. As lágrimas que Tomoyo prendeu começaram a escorrer pelos olhos.

— Sakura…

— Tomoyo… 

A costureira enxugou as lágrimas com as mãos e tentou engolir um soluço que subia pela garganta e não encontrava freio. Sakura apenas sorria. Até mesmo a temperatura da sua mão aumentou um pouco.

— Não fica assim… 

— Eu pensei que ia te perder, Sakura! 

— Baka (Idiota)! Não fala bobagens… Vem aqui, me dá uma abraço… 

Sakura se levantou aos poucos do leito e puxou Tomoyo para si, com a pouca força que tinha no momento. Surpresa, a costureira se deixou levar por aquelas mãos e caiu por cima de Sakura, meio sem jeito. 

— Desse jeito, você vai me perder mesmo, sua feiosa! — disse Sakura, sorrindo.

— Não diz isso de mim! — disse Tomoyo, sorrindo também, enxugando ainda as lágrimas que insistiam em cair. 

— Vem aqui, fica um pouco aqui comigo… — disse Sakura, ajeitando um pouco o cobertor e seu corpo na cama para que Tomoyo coubesse lá também. A costureira dividiu o travesseiro com Sakura e as duas ficaram em silêncio, apenas segurando a mão da outra. Não necessitava de palavras, apenas aquele compartilhamento de calor e energia entre as duas já dizia tudo o que elas queriam falar. Ficaram assim por meia hora até que começaram a falar novamente.

— Se lembra o que você me disse quando a gente chegou no aeroporto? Eu, o Chi, o Shoran, a Meiling?

— Claro que sim! Disse que eu tava feliz aqui, que aqui era uma terra de oportunidades…    

— Eu quero ver essas oportunidades também, Tomoyo. Vou terminar a minha faculdade aqui, quero ser pediatra, quem sabe mais pra frente me especializar em cirurgia… Eu tenho muitos planos, sabe? O Shoran também tá muito feliz por estar aqui… Eu mais ainda por estar com você, tá bem? 

— Sakura… Eu não entendo como você pode ficar tão avoada com tanta coisa acontecendo… 

— Eu não entendo como você pode ficar tão triste com essa terra de oportunidades que já te fez tão feliz… 

As duas ficaram em silêncio por um tempo até Sakura voltar a falar:    

— Eu não quero pensar na Ordem, eu não quero pensar que o meu pai tá nas mãos deles ou que eles querem as cartas Clow… Eu só quero pensar no aqui, no agora e caminhar um passo de cada vez… Se eles vierem pra cima, eu vou pra cima deles! Agora eu tenho mais certeza que nunca! — disse Sakura. Tomoyo sorriu. 

— Foi o Li-kun que te disse isso, não foi? 

— E foi você que me disse isso também, tá? — disse Sakura, beijando a testa da parceira. 

— Eu me preocupo com você, Sakura! Eu me preocupo demais! 

— Então vamos nos preocupar as duas juntas, tá? Vai dar tudo certo! — disse Sakura. 

— Vai dar tudo certo! — disse Tomoyo.

A porta do quarto abriu e uma enfermeira entrou;

— Senhorita Tomoyo, o horário de visita… Nossa, que milagre! A Sakura despertou!

 

Continua… 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.