Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 10
Devemos continuar a ser uma família unida




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Capítulo 8

Devemos continuar a ser uma família unida… 

 

Madrid, Espanha

8 de maio de 2015

 

— Vocês sabem que dia é hoje, gente? Hoje é o dia que eu mandei uma carta pro meu irmão Andoni e disse pra ele: ganhamos, mano! Ganhamos! — disse o Cardeal Dom Miquel Tossel Ferrer de Bourbón e Munté.

— É o dia da vitória na segunda guerra, não é? Nunca imaginei que os alemães iam invadir a Espanha mesmo! Pior que é tudo verdade! O senhor é a história viva mesmo, tio! — disse Dom Antoni Ferrer de Bourbón e Lekuauribe. Dom Antoni era arcebispo de Tarragona e irmão caçula de Dom Felipe. Tinha só sete anos de idade quando Dom Andoni morreu. Com o irmão na guerra e o outro irmão na política palaciana, foi mais apegado ao tio religioso que seguiu carreira na igreja. Quando tinha 35 anos e já era cardeal e hoje, aos 42, era forte candidato a ser Sumo pontífice depois da partida de João Paulo III.

Estavam no palácio real de Madrid, numa enorme mesa de jantar feita para muitos convidados, mas apenas os irmãos de El Rey estavam presentes naquele jantar oferecido por Dom Miquel. No centro da mesa, de costas para a imensa janela onde dava para ver o pôr do sol, estava o rei da Espanha, Dom Felipe Ferrer de Borbón e Lekuauribe.

— Sim, tio, eu já entendi. O senhor fala da segunda guerra, né? Você é sempre tão ingênuo, Toni, pra essas coisas! — disse Dom Jordi Ferrer de Borbón i Lekuauribe, num tom ríspido.

— Não precisa falar assim com seu irmão, Jordi! Ele vai partir para o conclave daqui há alguns dias! Ele pode se tornar papa e não vai ter tempo para visitar a nossa família! — disse Dom Miquel.

— Não se preocupe, tio. Vou ser o mesmo Toni que eu sempre fui… — disse o jovem cardeal. — Vou estar com a minha família para qualquer coisa que ela precisar… Conte comigo, mano! — Ele olhou para Dom Felipe e deu uma piscada com o olho.  

— O senhor também poderia ter se tornado papa, tio. Se não quisesse ser presidente da Catalunha… — comentou Dom Jordi.

— Eu fui presidente com muito orgulho, sobrinho! 

— O senhor arruinou a sua carreira política e eclesiástica, simples assim! — retrucou Jordi.

— Eu fiz o que eu deveria fazer com o meu coração… — respondeu Dom Miquel. 

Dom Jordi era um homem de quarenta e seis anos, e fazia quase dezesseis anos que não punha os pés no palácio real de madrid. Apenas foi até lá por convite do tio cardeal e para se despedir do irmão antes que enfrentasse o conclave. 

— Jordi, vou continuar com a minha narração e, se tiver algo a falar depois disso, será bem vindo… — disse o cardeal mais velho. Ninguém naquela mesa quis falar mais nada e continuaram a comer. — Sabia que os alemães tinham um plano de invadir a Espanha? Eles iam atacar a gente pelos pirineus e tomar todas as terras ao norte do rio Ebro! 

— A Virgem de Montserrat nos livrou de uma boa! Iam acabar com a nossa soberania! — disse Dom Antoni. — O senhor chegou a ver o movimento das tropas?

— Sim, eu vi os tanques e falei pro meu irmão: mano, o General Berenguer, que mandava na época no governo, está louco! Os alemães vão nos invadir a qualquer momento! Eles pensam que são aliados deles. 

Alguns sorrisos foram escutados com a encenação do velho cardeal.

— Então, meu irmão me escreveu, uma semana depois: mano Miquel, não se preocupa: os americanos me passaram que vão invadir a normandia e acabar logo com isso! Continua vendo tudo daí de Perpinyà e eu tento impedir o General de se aliar com os alemães aqui em Madrid. 

— Dito e feito! — comentou Dona Uxue, uma mulher de cabelos grisalhos. Uxue Ferrer de Bourbón i Pozueta era uma mulher de 60 anos e segunda filha do rei Andoni com a primeira esposa dele. Poderia ter sido a rainha da Espanha agora, só que ela renunciou a coroa, acreditando que os republicanos assumiriam o controle do governo a qualquer momento.

— Graças à Deus, o bom general Pablo Urrutia tomou o poder em Madrid e tirou o Berenguer do poder!

— E o General Berenguer se matou logo em seguida, sei, sei… — comentou Jordi.

 E eu continuei meu exílio, rodando o mundo! E sabe o mais importante disso tudo? Eu jamais perdi o contato com o meu irmão…  — Dom Miquel Tossel terminou sua narração com alegria no olhar. Todos prestavam atenção, exceto por Dom Jordi.

— Me pergunto, tio, se o senhor não tinha medo de ter as cartas interceptadas. — perguntou Dona Uxue.

— Se tinha medo? Tinha! Sempre tive! Mas o General sempre respeitou as minhas cartas e nunca violaram-nas! Graças a Virgem! 

— Amém! — comentou Dom Antoni.

— Eu tô cansado dessas historiazinhas de guerra, de moral, de não seu o quê! — disse Dom Jordi. Todo mundo ficou em silêncio.

— Você entendeu de verdade o porquê de eu contar essa história? — perguntou o velho cardeal. Dom Jordi ficou em silêncio, só comendo. Dom Miquel respondeu:

— Eu tinha união com o meu irmão. No tempo mais difícil do mundo, eu conseguia conversar com o meu irmão. O General Berenguer me exilou, mas mesmo assim, nós nos apoiamos. Por quê? Por que a gente tinha fidelidade, a gente tinha companheirismo! E hoje, o que eu vejo aqui? Só discórdia e divisão! A Maitê já não apareceu… Eu só acho que devemos continuar a ser uma família unida! Não importa a situação! — terminou Dom Miquel.

— Ela, com certeza, tinha coisa mais importante pra fazer… — interrompeu Dom Jordi.

— … E você continua com essa cara pro seu irmão! Que barbaridade! Onde chegamos! — disse Dom Miquel.

— A culpa não é minha! A culpa é do seu sobrinho mesmo! Quem mandou mimar ele e não prepará-lo para ser o rei? — respondeu Dom Jordi.   

Dona Uxue, percebendo o clima de tensão crescente, comentou:

— Eu sempre gostei dessas histórias que o papai contava pra gente, tio! Uma pena que o reino está rachando ao meio de novo! Quem sabe uma terceira guerra mundial resolve isso de uma vez… 

— Deixe de besteira, Uxue! — repreendeu Dom Jordi.

— Ora, sou sua irmã mais velha, rapaz! Só não sou a rainha daqui por que eu pensei que o povo odiaria a gente quando acabasse a ditadura dos generais que o papai continuou…  

— Lembremos também de Maitê, irmã, ela merecia muito mais do que qualquer um ser rainha daqui! Ela colocaria o País Basco e a Catalunha nos eixos, isso sim! — comentou Dom Jordi, olhando para o assento vazio do lado do cardeal. 

— Maitê… — comentou Dom Felipe, sorrindo ironicamente.

— Você ri, irmão? Maitê é mais estadista que você! — disse Jordi, jogando na cara de El Rey uma edição do jornal “El Mundo” que dizia na capa: 

 

“Congresso derruba a imunidade do Rei. 

Dom Felipe vai responder perante o tribunal supremo como um cidadão comum, com os votos dos republicanos, trabalhistas, regionalistas e independentista. Os liberais se abstiveram e os conservadores votaram contra.

"Isso é uma grande vitória do parlamento, mas apenas nesse caso extraordinário de denúncias graves contra El Rey", disse Joan Borrell, líder da oposição"

 

— Você sabe o peso disso, Felipe? Você não sente vergonha na cara? — perguntou Jordi.

El Rey não respondeu.

— Jordi! O que é isso! A gente tá aqui num jantar em família pra apoiar o mano e você vem lembrar a gente de uma porcaria dessas! — repreendeu Uxue. 

— Agora é eu que venho com uma dessas? Pelo amor de Deus! Essa é a maior crise que a monarquia enfrenta desde a morte de Dom Albert e a culpa toda é dele! Ele só ri disso tudo! Ele perdeu a imunidade jurídica do Rei porque é um idiota completo! — disse Jordi, aprontando para o irmão. — Sabe o que é isso, Felipe? Você é um fraco! Você é um frouxo! Você é um pedaço de estrume puro! 

Dom Felipe não falava nada. Apenas comia sua comida cabisbaixo.

— Vejo que os anos que você passou na política te ensinaram a atacar, não é, Jordi? É por isso que eu não durei muito tempo nela, como você bem destacou aqui! — disse Dom Miquel, em claro sinal de desacordo com as ofensas proferidas. 

— Desculpe-me, tio, mas esse aí merece! 

— Esse aí é o rei da Espanha, Jordi! quer você queira, quer você não! — disse Dom Antoni, visivelmente nervoso. 

— Belo de um rei! — Dom Jordi aplaudiu ironicamente o irmão. — Não passa de um estrume que pensou que era o super-homem e ia se dar bem com isso. Se ferrou, se ferrou bonito! Sabe quantos anos ele vai pegar de prisão por crimes de guerra? 

Todo mundo ficou calado.

— Ninguém fala, não é? Então eu vou falar! Trinta! Isso se o tribunal supremo for generoso… Aposto que a esquerda e os independentistas vão recorrer pro tribunal penal de Haia e ele pega cadeia perpétua…

— Por isso estamos aqui, pra apoiá-lo, Jordi. Tenha um pouco de cristianismo e caridade dentro de si. — apelou Dom Miquel.  

— Caridade com um criminoso de guerra? Que caridade é essa? Estão acusando ele de genocídio, de estupro! Que caridade é essa? Isso não dá pra resolver mesmo com Jesus vindo pra terra e dizendo“ vá e não peque mais!”. Eu li a bíblia, o senhor me ensinou a ler.

— Basta de blasfêmias, irmão! Vamos terminar de comer e, se você quiser, pode ir… — disse Dom Antoni, visivelmente nervoso. 

Dom Jordi bateu os talheres no prato e se levantou da mesa. 

— Eu vou mesmo. Essa comida já esfriou e eu já renunciei a família real faz tempo. Eu não devia nem ter vindo. Porque eu me toquei que eu era só uma bucha de canhão pra esse cara aqui. — disse Dom Jordi, apontando para Felipe. El Rey levantou o rosto e olhou para o irmão com uma expressão de desgosto silencioso. — Enquanto eu tava ralando em Madrid, passando doze horas de pé, recebendo líderes, participando de reuniões infindáveis, “El Rey de Espanha” tava lá, no País Basco, brincando com aquela boneca de olho puxado dele! 

— Cai fora daqui, Jordi… — disse Dom Felipe, sussurrando. Dom Jordi continuou a provocar:

— Como era o nome dela mesmo? Shizune? Suzune? Acho que é isso, Suzune Amano! Uma bela de uma japonesa que ela era, mano! Pelo menos te esquentava a cama enquanto os outros soldados ralavam… 

— Cai fora daqui, Jordi! — repetiu El Rey com mais energia, levantando-se da cadeira. Ele deu um soco na mesa que fez tremer os pratos e talheres. Todo mundo ficou preocupado, mas Dom Jordi sorria.

— Sabe qual é o meu prazer? É ver você se ferrando por não ter escutado os meus conselhos! E você vai se ferrar mais ainda! Você vai passar a vida toda na cadeia e eu vou cuidar pra que a Sophia vire uma rainha de verdade! Ela vai te odiar, mano, escuta o que eu tô te dizendo… 

— Você não toca a mão na minha filha, hein? — Dom Felipe jogou a cadeira na parede e ela quebrou. Uxue puxou Jordi e Dom Miquel e Dom Antoni fizeram o mesmo com Felipe antes que eles partissem para o tapa um contra o outro. Apesar de tudo, não conseguiram evitar a troca de xingamentos mútua e os dedos na cara de um e do outro. A guarda real estava atenta ao tom de voz do rei e abriu de súbito a porta da sala de jantar.

  — Dom Jordi. Pedimos encarecidamente que deixe o palácio. El Rey não está em condições de receber o senhor. — disse um oficial da guarda real. Ele fez um gesto e quatro homens cercaram o Infante.

— Perdão, tio, mas eu tinha que falar umas verdades na cara dele. Vou indo… Bom conclave, Toni… — disse Dom Jordi, sendo escoltado para fora da sala. O oficial que abriu a porta fez um gesto de licença e Dom Miquel pediu que ele partisse. As portas se fecharam e Dom Antoni pegou uma cadeira nova para o irmão se sentar.

— Que baixaria! — disse Dona Uxue.

— Acalme-se homem! — disse o jovem cardeal, pegando um copo de água para o irmão. Dom Felipe começou a chorar. 

— E o que eu posso fazer contra isso? Ele tá certo! Eu vou ser condenado! A Sophia vai me odiar a vida toda! 

— Não fala isso! Você não é nenhum criminoso de guerra! — disse Uxue. — Isso todo mundo sabe… 

Dom Miquel se aproximou do sobrinho e segurou firme nas mãos dele.

— Você vai ser julgado, sim, pela justiça dos homens. Você vai lutar, você vai provar que não tem nada a ver com o que estão falando de você! Essa é só mais uma guerra que você foi convocado. Nessa guerra, você não vai lutar com armas de fogo. Você vai lutar com palavras, com seu coração… — disse o velho cardeal. El Rey pegou o copo de água e tomou-o aos poucos. — Você é o Rei da Espanha, Felipe! Aja como um rei e não se rebaixe à essa provocação! 

— Eu sei, tio, eu sei! Difícil é não reagir! Tô sofrendo muito com essa pressão ultimamente… 

— Você quer que eu ligue pra Tomoyo vir pra cá? — perguntou Dona Uxue. Felipe arregalou os olhos e parou de chorar na hora.

— Como você sabe da Tomoyo? 

— Isso não é mais segredo pra ninguém… A Sophia vive falando nela… — disse Dom Antoni… 

Dom Felipe saiu da sala de jantar e não quis falar com mais ninguém. Os irmãos dele o olharam com preocupação.

— Vocês, definitivamente, não deviam ter tocado nesse assunto. Não quando o nome da Suzune foi pronunciado aqui… Vocês não sabem quanto ele gostava daquela mulher… — disse Dom Miquel.

Uxue e Antoni se entreolharam, com um pouco de culpa nos olhares.

 

Continua… 


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