Na Estrada escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo Único - Na Estrada


Notas iniciais do capítulo

One-shot especial de halloween.



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As janelas abertas da van, alugada pelo grupo de amigos, dava certo alívio para o calor de um dia ensolarado de verão, no estado de Nevada. Os amigos aproveitavam os últimos dias de férias antes de iniciarem na universidade.

A aventura na estrada teve início em Dallas, no Texas. Tendo como próximo destino Utah, no oeste dos EUA.

O grupo de amigos precisou fazer uma parada na pequena de cidade de Tonopah, para abastecer o tanque de gasolina e para que as garotas pudessem usar o banheiro.

A van cinza, com a lataria encoberta de poeira, diminuiu a velocidade até parar próximo às bambas de gasolina.

Emmett, que estava ao volante, saltou do veículo deixando a porta aberta. A lufada de ar quente soprou seu rosto. Ele passou a mão na testa, limpando um filete de suor que escorria.

Uma bolota de vegetação seca era arrastada pelo vento quente na beira da estrada. Estranhamente, isso o fez se sentir num filme de faroeste.

A música alta dentro da van parou de tocar e o restante dos passageiros saltou fazendo a maior algazarra. As garotas; Isabella, Alice e Renesmee, simultaneamente mencionaram a ida ao banheiro. Já os rapazes, a ida à loja de conveniências em busca de algo para comer e beber.

Emmett se aproximou da bomba de gasolina, observando os amigos barulhentos se afastar, empurrando uns aos outros numa brincadeira tola. Olhando na direção oposta encontrou as garotas, um pouco menos barulhentas, seguindo para o banheiro. Estranhou que a namorada, Rosalie, não estivesse com elas. Voltando-se para o veículo, a encontrou recostada na lataria, junto ao tanque de gasolina, segurando a tampa na mão.

— Achei que também quisesse ir ao banheiro — sondou ele, se mostrando curioso. Chegou mais perto, encostando seu corpo grande e forte ao dela, dobrando-se de maneira encostar os lábios em seus ouvidos.

Rosalie segurou entre os dedos o tecido da camisa que ele vestia, do Dallas Cowboys; time de futebol americano no qual ele torce.

— Talvez eu quisesse um tempo só com você — mencionou, ficando na ponta dos pés para beijar nos lábios dele.

Emmett sorriu entre o beijo. Com as mãos apertando a cintura de Rosalie, aprofundou o beijo deixando-a ligeiramente sem ar. As mãos dela alcançaram seu pescoço, querendo sempre mais. Ele forçou as costas dela contra a lataria empoeirada da van enquanto a beijava.

Ouviram murmúrios, seguidos de som de passos se aproximando, então a voz de Isabella se elevando.

— Procurem um lugar fechado, pelo amor de Deus.

Alice e Renesmee riram de seu comentário.

Emmett se afastou de Rosalie, sem dar importância ao comentário, e foi encher o tanque do carro com gasolina.

— Vocês dois não perdem tempo — comentou Alice, pondo a mão na testa, tentando controlar os fios curtos de seus cabelos que o vento insistia em jogar no rosto.

Rosalie ajeitou as roupas, sem se deixar afetar pelo comentário. Fez um coque no alto da cabeça com os longos cabelos louros da melhor forma que conseguiu. Dessa forma, ficava mais fácil suportar o calor.

— Então, como está o banheiro? — pediu.

— Até que está limpinho — Renesmee foi quem respondeu.

— Pensei que estivesse indo com a gente — comentou Isabella —, quando olhei para trás não estava nos seguindo.

— Bem, acho que irei nesse instante.

— Ei, Rose — Emmett chamou. Colocou a bomba de volta no lugar e tampou o tanque do carro. — Não vá sozinha — sugeriu. — Leve uma das meninas com você.

— Ownn — murmurou Alice. — Ele não é um fofo, preocupado que algo possa acontecer a ela enquanto vai ao banheiro.

— Nunca se sabe quando podemos cruzar com um serial killer a caminho do banheiro — provocou Renesmee. Tanto ela quanto Alice caíram na risada.

Emmett não achou graça alguma. Lançando um olhar na direção de Isabella, pediu:

— Bella…

— Claro — murmurou Isabella impedindo que completasse o pedido —, irei com ela.

— Não é necessário — Rosalie insistiu.

— Não vamos contrariar — brincou Isabella.  — Vai que ele surta.

— Estou indo na loja de conveniências, vocês vão querer alguma coisa? — pediu Emmett.

Há certa distância, Rosalie respondeu:

— Um chocolate seria ótimo.

Isabella completou:

— Um cigarro.

— Não vou comprar cigarros para você.

— Irmão mais velho, metido a responsável. Coisa mais chata isso — Isabella se queixou com Rosalie.

— Ele se preocupa com sua saúde, só isso.

— Ele é um neurótico isso sim. 

— Coitadinho. Você é uma irmã malvada, sabia?! — as duas riram.

Ainda parado ao lado das bombas de gasolina, Emmett falou com Renesmee e Alice.

— Vocês duas, vão vir comigo?

— Vamos ficar — Alice foi quem respondeu.

— Ótimo, então esperem aqui. De preferência, dentro da van.

Renesmee bateu continência.

— Sim, senhor. E quando voltar traga nossos namorados junto, porque parece que eles querem montar acampamento lá dentro. Fala sério!

Uma vez sozinhas do lado de fora, Alice olhou em volta.

— Esse lugar parece um tanto assustador. Você reparou nas pessoas que encontramos no caminho. Elas, meio que pareciam zumbis. — Ela estremeceu os ombros em um exagerado calafrio. — Que horror.

— Bizarro— emendou Renesmee. Passado um minuto, perguntou: — Não me diga que tem medo de zumbis?

— Não. É claro que não. Zumbis não existem.

Embora Alice tenha negado, Renesmee viu o medo cruzar os olhos da amiga.

— Ah, vai, confessa. Você tem medo sim. Estou vendo no seu rosto.

Alice se afastou da amiga que a provocava.

— Medrosa — zombou. — Cuidado Alice, tem um vindo em sua direção. E ele é feio pra burro.

Alice gritou. Renesmee caiu na gargalhada.

— Não tem graça — resmungou Alice, indo para longe dela.

— Eu achei que tem sim. — Renesmee continuou rindo. Ao perceber que ficaria sozinha, correu e segurou no braço de Alice. E seguiram juntas pelo mesmo caminho que Emmett.

Edward, Jasper e Jacob estavam finalizando as compras, quando Emmett entrou na loja de conveniências. Logo reparou que junto aos vários pacotes de salgadinhos, balas e refrigerantes estava um pacote de cervejas.

Sem prévio aviso, retirou a cerveja do balcão pondo de volta na prateleira.

— Qual é cara? — Jacob se queixou.

— Sem bebidas alcoólicas, lembra?

— Estamos de férias. Além do mais é você quem está dirigindo hoje. Não há nada que nos impeça de beber.

— É isso aí — Jasper apoiou.

Emmett meneou a cabeça, achando os amigos um tanto malucos. Deixando finalmente que comprassem o que queriam.

— Aêêêê! — os ouviu comemorar.

Renesmee e Alice entraram na loja. A sineta anunciou a chegada das duas imediatamente. Renesmee se juntou a eles sem nem mesmo saber o que comemoravam.

— Não sei quem é mais doido, se eles ou ela — Alice arriscou. Então, olhando para Emmett, perguntou: — Afinal, o que estão comemorando mesmo?

Emmett apontou para a cerveja, em cima do balcão, que Edward acabou de pagar de volta. De repente, ele lembrou.

— Vocês duas não deveriam estar esperando na van?

— Achamos melhor vir também.

— Peguem logo o que precisam, para que possamos voltar para a estrada quanto antes.

Emmett os deixou junto ao balcão e foi pegar barras de cereal para ele e chocolate para Rosalie.

Quando voltava se aproximar do caixa, ouviu o atendente falar para seus amigos.

— Para onde estão indo?

— Utah — Edward revelou.

— Vamos cortar caminho — Jacob emendou orgulhoso. — Vamos pegar a rodovia 375.

— Depois cruzamos a área 51 — concluiu Jasper.

— Não é seguro. O melhor é que escolham outro caminho.

— Besteira.

— Vão por Vegas. Não é seguro. O GPS pode parar de funcionar. Se entrarem em local proibido, sem querer, a aventura de vocês pode terminar mal.

— Vai ficar tudo bem.

— Voltem por Vegas — insistiu.

— Se voltarmos por Vegas, levaremos muito mais tempo para chegar a Utah. E não queremos isso.

— Não é seguro.

Rosalie entrou na loja de conveniências ao lado de Isabella. A sineta interrompeu o ritmo da conversa dos rapazes.

O olhar preocupado de Rosalie encontrou o de Emmett. Ele se aproximou, trazendo os itens que pegou na prateleira.

— O que não é seguro? — pediu ela.

— Seguir em frente com nosso plano de cortar caminho pela área 51.

— E o que você pensa sobre isso?

— Eu não sei.

Os amigos deixaram a loja de conveniências, levando o que compraram.

Emmett pagou pelo que pegou, e saiu de lá com Rosalie ao seu lado.

— Até parece que vamos voltar por Vegas, só para não passar numa droga de lugar — resmungou Jacob a caminho de onde deixaram estacionada a van.

— Eu não sei… Ele parecia bem convencido do perigo que está ligado a cruzar essa região. — Rosalie deu uma breve olhada para trás.

— Não vai acontecer nada. — Edward afirmou. — Vamos apenas passar pela estrada. Não estamos indo invadir área proibida. Estou com Jacob, vamos seguir com nossa rota de origem.

— Quem acha que devemos ir pela área 51, levante a mão — declarou Jasper. Do grupo de amigos, apenas Emmett e Rosalie não levantaram as mãos.

— A maioria venceu — Jacob deu a sentença. — São seis contra dois.

— Então vamos nessa — disseram Alice, Isabella e Renesmee em uma só voz.

Rosalie olhou para Emmett, preocupada. Ele também parecia preocupado. Mas o que poderia fazer, a maioria havia decidido continuar com a rota de origem. Ele segurou na mão dela e seguiram caminho até onde estava a van.

— Agora é minha vez de dirigir — avisou Edward. Ele chegou ao lado de Emmett, estendendo a mão para receber a chave. Vendo o olhar de dúvida no rosto do amigo, esclareceu: — Relaxe, eu ainda não bebi nada.

Emmett finalmente entregou a chave na mão dele.

— Ótimo. Assim posso dedicar um tempo a Rose.

— Viu só como sou um amigo legal. Eu dirijo, e você fica beijando sua garota.

— Superlegal — Emmett zombou.

Rosalie riu dos dois.

Jasper puxou a porta e, um a um, todos ocuparam seus lugares.  Emmett e Rosalie ficaram com os últimos assentos. Isabella e Edward assumiram os assentos da frente.

— Bella — Alice pediu. — Ponha uma música para tocar nesse rádio, minha filha.

Isabella mexeu no dial até encontrar a frequência de comunicação. A voz de Madonna soou pelos altos falantes cantando material girl. As garotas foram contagiadas pela melodia e, mesmo desafinadas, começaram a cantar junto com ela.

Emmett achou graça da empolgação de Rosalie ao cantar aquela música. Deixou a preocupação de lado por um instante, abrindo uma barra de cereal, decidido aproveitar o resto da viagem.

Jasper e Jacob abriram cada um, uma lata de cerveja. Após encerrem a cantoria, as meninas abriram, também, cada uma, um pacote de salgadinhos.

— Gente — Isabella comentou, com a mão-cheia de salgadinho a caminho da boca. — Este é o hotel mais bizarro que vi na vida e, ao mesmo tempo, curioso. É o lugar perfeito para Alice se hospedar — brincou, sabendo que a amiga reprovaria a ideia.

Alice, que olhava algo no celular, ergueu a vista para ver ao que estava se referindo. Logo mais a frente estava o hotel do palhaço.

— A gente podia passar a noite aí — sugeriu Edward. — Soube que o preço é acessível. — Ele parou o veículo no acostamento, em frente ao hotel, onde um palhaço enorme com as mãos erguidas chamava atenção de quem passava. — É só a gente ignorar o que dizem sobre acordar no meio da noite com palhaços assustadores olhando você dormir. E todos aqueles quadros bizarros com a mesma temática.

— Não basta ser bizarro por si só, ainda fica ao lado de um cemitério — lembrou Renesmee, tremendo os ombros propositalmente.

— Dizem que algumas das pessoas enterradas nele, foram mortas por uma misteriosa epidemia que ocorreu no século XX — acrescentou Emmett. — Existe também o relato de uma garotinha rondando a área do cemitério.

— Credo! — murmurou Rosalie.

Emmett deu continuidade.

— Teve uma equipe de televisão, que certa vez veio fazer uma reportagem e a câmera ficava falhando, a bateria descarregava o tempo todo. A relatos também de programas de caça fantasma que vieram até aqui.

— Deus me livre — murmurou Rosalie.

— Gente pare de falar essas coisas. Vamos embora — pediu Alice. — Edward, ligue logo esse carro e vamos embora.

Os amigos riram fazendo pouco caso de seus medos.

— Vamos descer e tirar fotos — Isabella sugeriu. — Não sabemos quando será a próxima vez que passaremos por aqui. Não vamos desperdiçar a oportunidade.

Um a um, todos eles saíram da van, com exceção de Alice que decidiu ficar.

— É sério, pessoal. Vamos embora — insistiu Alice.

— Larga mão de ser boba — Renesmee falou. — Só estamos indo tirar fotos nos arredores. Não vamos entrar nem nada. — Ela puxou Alice pelo braço.

— Me solta, Nessie. Já falei que não quero ir. — O grito que soltou foi de quem realmente estava com muito medo.

— Tudo bem. Quer ficar aí, fique. — Ela soltou o braço de Alice e saiu correndo, levando o celular na mão. Posicionou-se em frente ao arco branco na entrada, onde estava escrito: Tonopah Cemitery 1901-1911. A cerca baixa de madeira permitia a vista dos túmulos cujo suas marcações eram feitas por pedras. Cruzes e lápides de madeira completavam a imagem.

Isabella e Rosalie fotografavam em frente ao hotel. Depois, se juntaram a Renesmee na porta de entrada do cemitério. Assim como os rapazes também fizeram.

Alice observava tudo à distância. Nem mesmo cogitava a hipótese de sair de dentro da van.

Os amigos riam e faziam piadas a respeito de todas as histórias bizarras que ouviram sobre o local. Quando menos esperavam, foram surpreendidos pelo grito apavorante que saiu do interior da van.

— Alice — Jasper chamou seu nome, apressando-se até o acostamento. O restante do pessoal foi atrás dele entre tropeços e empurrões.

Alice ainda gritava.

— O que houve? — pediu ele, parado diante a porta aberta do veículo. — Você está bem?

— O que aconteceu? — Emmett parou logo ao lado dele, preocupado com a amiga que havia insistido em ficar dentro da van.

— Eu vi — arriscou Alice com a voz trêmula. — Eu vi…

— O que você viu? — perguntou Rosalie, igualmente preocupada.

— Um vulto. — Ela olhou a janela ao seu lado esquerdo. — Tinha alguém aqui. Estava olhando para mim. E eu tenho certeza de que era o vulto de uma criança.

— Aposto que não era nada — rebateu Jacob.

Renesmee o apoiou.

— Pois é. Estava com tanto medo que viu coisas onde não tinha.

Edward deu a volta no entorno da van para ter certeza de que não havia ninguém por perto.

— Eu sei o que vi. — insistiu. — E estava bem aqui.

Edward voltou ocupar o assento do motorista.

— Não há nada lá fora Alice — ele afirmou.

— Eu só quero sair deste lugar, okay?

Renesmee, Isabella e Jacob riram.

— Já chega! — Emmett disparou. — Ligue esse carro, Edward, ou me entregue à chave agora mesmo.

Pondo o cinto de segurança, Renesmee resmungou:

— Como vocês são chatos, caramba. Não sabem se divertir.

— Não desse jeito — Emmett emendou. — Muito boas amigas vocês são — ironizou.

Ele voltou ocupar junto com Rosalie os últimos assentos da van. Passando o braço nos ombros dela ao se acomodarem.

— Ela ficou realmente apavorada — comentou Rosalie em voz baixa. Emmett a beijou brevemente nos lábios. Estando tão perto dela, não resistiu.

— Eu sei o que vi — Alice sussurrou para Jasper.

— Eu acredito em você — ele a tranquilizou, fazendo com que encostasse a cabeça em seu ombro e relaxasse um pouco.

Renesmee optou por ficar em silêncio, depois de ser criticada.

Edward finalmente levou todos dali com o carro.

Rosalie arriscou olhar para trás, para além do para-brisa traseiro. Embora não tenha avistado nada, o corpo tremeu com um repentino calafrio.

Emmett tocou seu queixo com a mão.

— Você está bem?

— Sim — ela anuiu, tornando olhar para frente. Então, olhou para Alice. A amiga estava apavorada demais para ter sido apenas fruto de sua imaginação o que dizia ter visto.

Emmett a sentiu ficar tensa.

— Tem certeza que está bem? — tentou outra vez.

Ela assentiu, para, em seguida, lhe beijar o maxilar.

Emmett a aconchegou ao seu corpo, permanecendo um bom tempo em silêncio.

A viagem seguiu tranquilamente. Enquanto Edward dirigia, Isabella ouvia música com os fones de ouvido. Emmett olhava para fora, a paisagem seca, típica do deserto de Nevada. O restante do pessoal cochilava.

Era quase sete da noite, mas o céu ainda estava claro. Nessa época do ano, a noite custava a chegar àquela região.

O GPS começou falhar.

— Pessoal — começou Edward, depois de um bom tempo calado. Ninguém respondeu. O GPS parou de funcionar. — Pessoal — falou um pouco mais alto dessa vez.

Emmett ajeitou a postura, atento ao que acontecia no banco da frente.

— O que está acontecendo? — pediu.

— Ficamos sem o sinal do GPS — contou Edward.

— Sem internet também — Rosalie lembrou, olhando com preocupação da tela do celular para o rosto de Emmett.

Isabella verificou no aparelho celular dela, como que para confirmar que a amiga estava certa.

— Não temos sinal algum — alarmou-se Renesmee.

— Estamos perdidos — Alice voltou a falar assustada. — Nunca mais voltaremos para casa.

— É claro que voltaremos. — Emmett tentou tranquilizar as meninas.

— Bem que disseram para pegarmos outro caminho. Só falta agora a gente ir parar em local proibido e acabarmos na prisão, pior ainda, mortos.

— Ninguém aqui vai para a prisão ou irá morrer — Emmett voltou a falar. — Vamos ficar todos bem.

— Foi ideia sua, Jacob, virmos por este caminho.

— E todos concordaram. — defendeu-se ele.

— Todos nós somos culpados. — Edward fez questão de lembrar.

— Emmett e Rose não concordaram com isso. Tecnicamente, os dois são inocentes. — Alice lembrou.

— Estamos juntos nessa — afirmou Emmett. — E assim iremos sair. — Onde estávamos na última localização no GPS?

— Na rodovia estadual 375, depois da rota 93. Vejam, tem uma placa logo ali na frente. — A placa verde com desenhos de discos voadores dizia “Estrada dos Extraterrestres”. Diante deles, uma via de duas pistas parecia levá-los ao infinito. Placas alertavam para a presença de gado e de aeronaves que voavam em baixa altitude, um lembrete que estavam perto da base Nellis da Força Aérea Americana.

— Como assim? — Renesmee se precipitou. — Vamos dar o fora daqui. — Definitivamente, ser abduzida não está nos meus planos. 

Não demorou em chegarem a Rachel. Uma cidadezinha com menos de 98 habitantes, considerada por muitos como a “capital mundial dos óvnis”. E a mais próxima habitação da Área 51, um complexo militar situado a poucos quilômetros. Que durante décadas esteve rodeado de segredos, sem que o governo de Washington confirmasse nem desmentisse sua existência. Somente em 2013, depois que documentos secretos foram tornados públicos, o governo confirmou que se tratava de um campo de provas e de treinamento da Força Aérea.

A placa branca com dizeres em azul e vermelho dava as boas-vindas.

— Vamos passar a noite em Rachel — Emmett afirmou.

— Está de brincadeira — Renesmee tornou se queixar.

— Você prefere dormir dento de um trailer alugado ou dentro da van numa estrada deserta? — Emmett perguntou.

Jasper interrompeu.

— Devemos passar a noite em Rachel. Assim já ficamos conhecendo o restaurante e motel Little A'Le'Inn. Eles recebem turistas de todas as partes há décadas. Eu sempre tive curiosidade em conhecer. Vocês não podem me negar essa chance.

— Não tenho interesse em conhecer um lugar como este. Definitivamente, não quero ir até lá — afirmou Renesmee.

Ao lado dela, Jacob duvidou.

— É sério que você acredita mesmo nessa coisa de extraterrestres?

Jasper tornou a falar:

— Quando era Alice com medo, você zombou fazendo pouco caso. Agora veja só, está se borrando de medo de alienígenas. 

— Eu errei, admito. E peço desculpas.

— Não é para mim que tem de pedir desculpas. É para Alice.

Renesmee olhou para Alice ao lado dele. O semblante claramente envergonhado ao falar com a amiga.

— Desculpe ter zombado de você mais cedo, com o lance dos palhaços e do cemitério.

Alice segurou de leve em sua mão.

— Está tudo bem — disse por fim.

Renesmee voltou olhar para frente, murmurando:

— Eu quero sair daqui.

— Então, o que faremos? — Edward pediu.

— Está decidido, passaremos a noite em Rachel — Emmett afirmou.

— O que faremos amanhã? — Rosalie pediu.

— Se todos estiverem de acordo, faremos o caminho por Vegas.

— Estamos de acordo — todos, com exceção de Renesmee, concordaram em passar a noite em Rachel. Mas ela não tinha escolha.

— Por mim, voltaríamos agora mesmo. — Renesmee interferiu.

Isabella fez questão de lembrar.

— Acontece que vai escurecer logo mais. O GPS está falhando.  Não queremos nos perder, e acabar entrando em área proibida e acabarmos na prisão ou com um tiro.

— Com sorte seremos abduzidos — brincou Jacob. Renesmee o acertou com o soco no ombro.

Logo puderam avistar, junto a um pequeno prato voador metálico pendurado em uma grua, um letreiro com um alienígena de olhos enormes dá as boas-vindas aos “terráqueos”. Uma das muitas referências aos extraterrestres que podem ser vistas dentro e fora do local, que também é uma loja de suvenires.

Ao estacionar a van, perceberam logo ao lado da placa de boas-vindas do restaurante uma estação de medição de radiação, uma lembrança de que estavam também há poucos quilômetros do lugar no qual, a partir dos anos 1950, o governo dos EUA realizou cerca de mil testes nucleares. Fato que parece não incomodar as dezenas de turistas que estão sempre a visitar o local.

— Dá para acreditar nisso? — Jasper quebrou o silêncio. — Essas pessoas levam mesmo a sério essa história de alienígenas. Mal posso esperar para ver como é o lado de dentro.

Aos poucos, todos saíram da van. Mesmo àquela hora, o sol não havia se posto.

Rosalie, Isabella e Alice se apressaram em tirar fotografias junto à placa na entrada do estabelecimento.

— Não sei vocês, mas eu estou morrendo de fome — comentou Emmett, de olho na entrada do restaurante. — Vamos entrar e comer alguma coisa.

As garotas pararam com as fotografias e foram atrás dos rapazes.

Jacob parou, olhando para trás.

— Você não vem, Nessie?

Ela estava parada ao lado da van. Os braços cruzados, olhando para os lados, como não confiasse onde estavam.

Jacob voltou até ela e segurou sua mão.

— Essa coisa de extraterrestre não existe.

— Você deve concordar que do lado de dentro é bem mais seguro que aqui, do lado de fora — Edward fez questão de lembrar.

Ao entrarem, eles deram de cara com um pequeno monumento, um lembrete de que o local foi eleito pelo estúdio 20th Century Fox para promover, em 1996, a estreia do filme Independence Day, no qual uma civilização vinha do espaço e tentava conquistar a terra.

Impressionados com as muitas referências extraterrestres, os amigos buscaram uma mesma onde pudessem sentar e provar da comida. Lá dentro havia um balcão comprido, com bancos cujos assentos eram na cor azul. As mesas continham apenas quatro cadeiras cada. Uma mesa de sinuca ocupava espaço no salão.

Para surpresa dos amigos, a mulher que os atendeu usava um avental com a imagem de um alienígena verde.

Cada um deles comeu um alien burger, e um pedaço de torta de maçã como sobremesa.

Logo após a refeição, optaram por ver de perto os vários objetos à venda. Entre os quais muito faziam referência a Área 51. Ouviram das pessoas lá dentro que, cerca de 20 quilômetros a oeste de Rachel ficava uma das portas de entrada da base, da qual muitos turistas se aproximam para tirar fotos. E dos inúmeros avisos para ficar longe.

Na parte traseira do estabelecimento ficavam os trailers que serviam para receber viajantes que decidiam passar a noite. Os amigos conseguiram alugar um trailer com três quartos, sendo duas camas em cada. Na pequena cozinha tinha uma maquina de café, pratos e utensílios. E um banheiro.

Houve tumulto durante a divisão dos quartos. E também sobre quem tomaria banho primeiro. Pouco antes de ocuparem o trailer, os amigos voltaram até a van para pegar as mochilas com os poucos pertences que levavam na viagem.

As garotas foram as primeiras na fila do banheiro.

Aquela altura, o sol havia finalmente se posto, revelando um imenso céu estrelado.

Nenhum deles sentia que era hora de dormir. Tantos relatos e histórias os deixaram com a mente cheia. Em vez de irem para a cama, pegaram, nas mochilas, marshmallows e biscoitos para fazer S'more.

Sentaram-se no chão do lado de fora do trailer. A noite estava abafada, mas valia a pena estar do lado de fora apreciando as estrelas.

Aproveitaram aquele tempo, sozinhos, para falar das histórias que ouviram. Embora Renesmee fosse a única a acreditar em vida extraterrestre, Jasper se mostrava bastante interessado em tudo o que dizia respeito. 

Passado algum tempo, Isabella e Edward resolveram se afastar um pouco do grupo para namorar. Acabaram parando logo atrás do trailer.

Já Alice e Renesmee acharam melhor entrar e dormir um pouco. O dia havia sido puxado, em especial para elas que estiveram de cara com o medo. Jasper e Jacob acabaram fazendo o mesmo, entrando no trailer logo atrás das meninas. Ficando apenas Rosalie e Emmett e o que restou dos biscoitos e marshmallows.

Rosalie tinha a cabeça encostada na lateral do corpo de Emmett, enquanto olhava a vasta constelação de estrelas no céu.

— Sempre fui fascinada pelo deserto e as estrelas — falou de repente. — E se junto a isso estão histórias de vida fora do planeta terra, fica tudo ainda muito mais interessante.

— Não vai me dizer que, assim como Nessie, você também acredita em vida extraterrestre. Jasper está a um passo de acreditar nisso também.

— Assim, acreditar, acreditar, eu não acredito. Mas você deve admitir, é tudo muito interessante. Nos faz pensar em como realmente seria se de fato existisse.

— Pensando dessa forma — então, após um instante em silêncio, ele tornou a falar: — Quer dar uma volta?

Rosalie se afastou o suficiente para olhar no rosto dele.

— Agora?

— A não ser que esteja com medo de encontrar algum extraterrestre vagando por aí.

— Até parece. — Ela se colocou de pé. E ofereceu a mão a ele. — Está demorando demais. Quem sabe você esteja com medo — brincou.

Emmett abriu um sorriso. O olhar na mão estendida em sua direção. Segurou a mão dela na sua e se levantou. Aproveitou para puxá-la para perto, envolvendo o corpo dela com um abraço forte, que foi facilmente retribuído. Trocaram um beijo breve, logo depois se puseram a caminhar de mãos dadas.

Rosalie avistou Isabella e Edward atrás do trailer trocando carícias. Meneou a cabeça para a cena. Se Emmett viu a irmã ali, fingiu não ver.

— Está com medo? — perguntou, sentindo a mão de Rosalie apertar a sua em dado momento do passeio.

— Não.

Ele olhou suas mãos unidas, mesmo na pouca luz.

— É que eu gosto pra caramba de segurar sua mão — ela tinha uma expressão divertida no rosto quando disse isso.

— Sei… — Emmett falou, com uma risada de quem duvidava da resposta. O som do riso dela se juntou ao seu.

Chegando ao estacionamento onde deixaram a van, Rosalie olhou o céu por um tempo maior.

— Viu alguma coisa? — ele questionou, parando de andar assim como ela havia feito.

— Nadinha. — Ainda olhando para o céu, ela perguntou: — E você, viu algo?

Olhava no rosto dela, quando voltou a falar:

— Apenas a mulher com quem um dia irei me casar.

Ela o encarou, um sorriso estampado no rosto entregando que havia gostado do que ouviu.

— Ela é uma mulher de sorte, então — brincou.

— Estou certo que sim — aceitou ele, tornando abraçá-la.

[…]

Ainda muito cedo, no dia seguinte, os amigos levantaram e se dedicaram arrumar suas mochilas para irem embora.

Edward usou a cafeteira disponível no trailer para preparar um café, mas somente ele, Isabella e Emmett beberam.

Bastantes sonolentas Alice e Renesmee puseram suas mochilas nas costas e deixaram o trailer praticamente se arrastando. Rosalie ia logo atrás. Os cabelos louros presos de forma irregular no alto da cabeça como no dia anterior. Assim como os demais, seus tênis estavam impregnados pela terra cor de ferrugem do deserto de Nevada.

Mesmo àquela hora da manhã, quando o sol nem mesmo brilhava no céu, Alice e Renesmee usavam óculos escuros. Jacob já pensava em cerveja. E Jasper, não parava de falar em extraterrestres.

Entregaram as chaves do trailer e partiram para o estacionamento em busca da van encoberta de poeira. Parando um instante, admirando o nascer do sol no deserto. Incrivelmente belo, de tirar o fôlego. As cores no horizonte impressionavam.

— Lindo, não é?! — a voz de Emmett soou ao pé do ouvido de Rosalie.

— Incrível — respondeu, olhando brevemente no rosto dele antes voltar atenção a beleza do nascer do sol.

— Vamos nessa — Edward chamou atenção para que todos entrassem no veículo.

— Pode deixar que agora eu assumo a direção. — Emmett se aproximou. O amigo entregou a chave sem questionar. E foi ocupar os últimos assentos da van junto com Isabella.

— Ainda bem — confessou ele. — Porque estava mesmo cansado pra caramba.

— Aqui podemos apenas relaxar — Isabella concluiu.

Emmett aguardou que todos entrassem e colocassem o cinto de segurança. Rosalie ocupou o banco do carona logo ao seu lado.

Uma nuvem de poeira levantou quando o veículo deu a ré para sair do estacionamento.

No extremo sul da estrada 375, a pedido de Jasper fizeram uma parada de poucos minutos para fotografar em frente à loja de suvenires, chamada Centro de Pesquisa de Alienígenas. A loja estava situada em um hangar metálico, diante do qual havia uma estátua gigante de um extraterrestre.

A única a se recusar levar um registro daquele momento foi Renesmee, que permaneceu em seu assento no interior da van.

A decisão de voltar por Vegas permanecia. Sendo assim, não tinham muito mais tempo para fotografias.

Emmett seguiu dirigindo, com os amigos todos em silêncio. Era cedo demais para estender qualquer tipo de conversa. Ainda estava impressionado com o nascer do sol, mesmo enquanto dirigia. No banco ao lado, Rosalie parecia pensar o mesmo.

De repente, sem aviso, pisou firme no freio. Todos os amigos foram forçados para frente, contra o cinto de segurança. Um burburinho acabou com o silêncio no interior da van. Todos se queixando, de alguma forma, de sua atuação ao volante.

As mãos de Emmett permaneciam firmes no volante. O olhar fixo, além do para-brisa.

— Pessoal — arriscou falar.

Todos se colocaram olhando para frente, na mesma direção que ele olhava. Espanto estampavam seus rostos. Na estrada, com a iluminação fraca de início de uma manhã no deserto, uma luz forte descia do céu na direção da van. Ruídos estranhos foram ouvidos. Nada tinha a ver com aviões militares que cruzavam os céus do deserto de Nevada e volta e meia permitiam ouvir explosões sônicas.

— Meu Deus do céu — soltou Emmett, num momento de perplexidade.

— Que merda é essa? — Jacob disparou.

— Eu sabia — Renesmee soltou, apavorada. — Eu sabia.

Silêncio.

Nada além de silêncio e olhos que pareciam não acreditar no que viam.

Fim


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