Magia Literária escrita por Emiko


Capítulo 1
Nas sombras


Notas iniciais do capítulo

Indicação de música: In the Shadows, Amy Stroup.



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Já era tarde da noite quando as festividades do Dia das Bruxas haviam se encerrado no Salão Principal, pude ver muitos dos meus alunos se direcionarem para as escadas, a fim de chegarem em seus dormitórios, de barriga cheia e cansados, ansiosos por suas camas confortáveis.

Continuar em Hogwarts foi, decididamente, a melhor escolha que fiz, apesar de ser estranho reencontrar antigos amigos e ser chamada de Profa. Stam ou, como eu sugeri que eles me chamassem, Profa. Dália. Ainda me pergunto o que fez Dumbledore me aceitar como professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, sendo que havia outro candidato para a vaga.

Não seria certo dizer que eu estava despreparada para a vaga, muito menos que estava receosa, porém, comparada com Severo Snape, eu era uma piada sobre conhecimentos das Artes das Trevas. Claro, a fama dele ser um “rato de biblioteca” era sabida por todos no nosso tempo de estudantes, até meus colegas da Corvinal o invejavam, porém, parece que Dumbledore não levou isso em conta, ou fingiu de desentendido.

Contudo, desde o início do ano letivo, não houve um dia sequer que Snape deixasse de comentar sobre meus métodos, para ele, minhas aulas eram simplórias demais e pareciam uma espécie de “brincadeira”. Várias vezes tentei contestá-lo, e sempre terminava com um deboche dele. Parecia que ele aprendera a ser mais desagradável do que os Marotos quando éramos mais jovens.

Ainda assim, Minerva continuava a me encorajar, até me ajudou a preparar novos planos de aula. Em troca disso, eu ofereci repor os horários de ronda dela pelo castelo. Ela ficou agradecida com isso, pois poderia desfrutar um pouco da companhia do marido, e eu fiquei feliz também, pois conheceria mais alguns lugares do castelo.

Já eram quase uma hora da manhã, poucos fantasmas passavam pelos corredores, o silêncio às vezes era cortado por um piar de coruja ou alguma armadura caindo, por obra de Pirraça. Foi então que, mais ou menos dez minutos antes do meu horário de ronda acabar, que escutei passos atrapalhados perto da cozinha.

Imaginei que algum aluno poderia estar procurando por algumas guloseimas que sobraram do jantar, ou talvez por uma cerveja amanteigada, mas, assim que me aproximei, fui surpreendida por um corpo esguio no pé da escada. Ao acercar a ponta da minha varinha nas sombras, iluminei o rosto pálido e tonto de Severo Snape.

Ele cheirava uma mistura de Whisky de Fogo, Hidromel e, talvez, vinho. Seus olhos, que pareciam duas ônix, estavam quase se fechando, ele tentava, fortemente, focar a visão, enquanto empenhava-se, sem sucesso, em levantar. Ao vê-lo naquele estado, coloquei o meu braço em volta do corpo dele e esforcei para levantá-lo. Ledo engano o meu ao julgar que ele era leve, o máximo que consegui fazer foi puxar o tronco dele para cima, e isso o fez ficar ainda mais atônito, a ponto de deixar sua cabeça pendida para frente.

Em seguida, ele fez um rápido movimento com a mão direita, levando-a em direção a boca, e, imediatamente, estava formando uma poça de vômito. Naquele instante pensei que vomitaria também, porém segurei o impulso do meu estômago e ajudei Snape com os cabelos, puxando-os para trás. Ao fim, ele se sentou alguns centímetros longe do vômito, estava mais pálido do que de costume e a carranca no rosto era a mais feia que já vi. Ele balbuciava algumas palavras sem contexto, e até nomes, só consegui compreender alguns xingamentos para Tiago e Sirius, algo sobre briga entre a mãe e o pai dele e, o mais estranho, um lamento.

Naquele instante, parado e perdido, Snape começou a chorar, mas não um choro soluçante, um choro silencioso, ele colocava as mãos no rosto e, às vezes, começava a socar o chão. Estranhando aquilo, eu permaneci calada e um pouco trêmula, com medo que ele fosse vomitar de novo, ou pior, ficasse mais agressivo. Então, quando ele pareceu se cansar de socar o chão, eu o chamei, mas ele parecia estar em transe, pois começou a olhar para as próprias mãos e murmurar:

— Por...por que...deveria ter sido eu... – Snape empeçou a abrir e fechar as mãos várias vezes, até decidir envolve-las no próprio pescoço. - ... nem a morte me estima.

  Assustada com aquilo, subitamente, agarrei seus pulsos, e ele urrou de dor quando sentiu a ponta das minhas unhas. Posso jurar que ouvi mais palavrões do que ouviria a vida inteira naquele momento, mas foi necessário para fazê-lo voltar a si, ou quase. Snape encarou-me furiosamente e, quando parecia que ia se levantar, ajoelhou-se no chão, murmurando uma última palavra, Lílian. E debruçou-se sobre o chão como se fosse o melhor lugar que poderia estar.

Aproximei-me do seu corpo e cutuquei-o, só escutei um resmungo e ele permaneceu imóvel, respirando pesadamente. Talvez fosse o vômito dele ou as coisas que ouvi, senti que a minha cabeça ia estourar, afastei-me para recompor e puxei um cigarro. Não era a melhor hora para fazer aquilo, mas era a única opção que me faria digerir tudo o que acabar de ver e ouvir.

Entre algumas baforadas, várias teorias passaram pela minha cabeça, mas nenhuma delas pareciam se encachar. Talvez as palavras de um homem bêbado fossem apenas devaneios, ou mágoas do passado. Com certeza, ele ainda sentia ódio de Tiago e Sirius, pois era nítido em seu comportamento com os alunos da Grifinória. Mas como Lilian se encaixava nisso tudo, e porque ele dissera o nome dela em um momento tão avulso. Ao menos que ele tenha se lembrado de quando a chamou de sangue-ruim, algo que não fazia sentido algum de se arrepender, pois muitas vezes pude vê-lo depreciar pessoas que não fossem sangue puros.

Bom, não adiantava gastar tempo, muito menos outro cigarro, para achar alguma relação entre tudo o que Snape falou, a mistura de bebidas havia lhe afetado drasticamente e era necessário leva-lo para ala hospitalar, antes que ele acordasse e recomeçasse sua lamúria. Apaguei o cigarro contra a parede e guardei-o no bolso, retirei a varinha de outro e, com um rápido movimento, fiz o corpo de Snape levitar. Seria melhor colocá-lo em uma maca, todavia, seria demorado e tinha a possibilidade de acordá-lo.

Fui guiando-o pelos corredores e escadas cuidadosamente, qualquer um estranharia ao ver-me acompanhar o carrasco Prof. Snape como uma pinhata pelo castelo. Ele teve sorte por não ter algum aluno, ou fantasma, vagando aquelas horas, muito menos Pirraça, que certamente faria piadas.

Ao chegar na ala hospitalar, empurrei a porta e fiz o corpo de Snape passar por ela. Madame Pomfrey apareceu minutos depois, quando estava deitando-o em uma das macas. Expliquei resumidamente o que havia acontecido, alterando algumas coisas para que ela não ralhasse com ele depois, como sempre fazia com os estudantes mais velhos que acordavam de ressaca. Por fim, ganhei uma grande quantidade de poção de sono e um pedido, mais uma reclamação seria apropriado dizer, de Pomfrey para que eu não fumasse no castelo. Tranquilizei-a sobre isso, ainda que, mais adiante, nas sombras dos corredores, eu colocasse o último cigarro da noite na boca.


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Notas finais do capítulo

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