Um pequeno problema escrita por Celso Innocente


Capítulo 7
Meu papaizinho querido.




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Luciana levantou-se às seis horas da manhã, uma hora mais cedo do que o costume habitual. Preparou o café, lavou toda a louça do jantar anterior e aguardou que sua prole levantasse.

            Maysa acordou por volta das oito horas e foi para a sala de computador, sentando-se ao lado de uma grande mesa para fazer seus deveres escolares. Arthur, como apenas estudava, aproveitava da cama e só se levantou às nove horas. Chegando à cozinha, perguntou à sua mãe em gracejo:

            — Meu novo papai já acordou?

            Sem responder, ela dirigiu-se ao quarto, sentou-se ao lado do menino, acariciou seus cabelos loiros e seu rosto pequeno, fazendo-o abrir os olhos.

            — Oi! — Cumprimentou-o ela. — Conseguiu dormir bem?

            O menino fixou bem sua anfitriã e demorou alguns segundos para perceber que de fato não estava sonhando, haviam se passado todo um dia e uma noite e ele continuava ali preso a um mundo que de fato não era o seu.

            — Você já descobriu onde estão os meus pais? — Perguntou-lhe, espreguiçando-se.

            — Ainda não deu tempo. O dia apareceu agora. Levante-se.

            Embora ainda sonolento, o menino levantou-se devagar e a acompanhou em direção à cozinha. Na passagem pelo corredor, pediu:

            — Posso usar o seu banheiro?

            — Com certeza!

            Enquanto o pequeno fora ao banheiro, ela retornara à cozinha, chamando antes a filha, para juntos participarem do desjejum matinal.

            Os três sentaram-se ao lado da mesa e passaram a se servirem, aguardando que tal inesperado hóspede aparecesse.

            Cinco minutos depois, caminhando devagar, ele surgiu naquela copa, ao qual, admirado e ainda irônico Arthur insinuou:

            — Então este aí é meu novo papai!

            — Não sou seu… pa…pai! — Protestou o menino fazendo careta.

            Luciana fez sinal para que ele se sentasse à mesa, o que obedeceu.

            — Foi a mamãe quem disse! — Riu Arthur. — Ela disse que você é o marido dela.

            — Acha! Eu nem sou casado!

            — Minha mãe não é bonita?

            O pequeno olhou para ela, depois para Maysa e explicou, embora tímido:

            — Se a sua irmã é mesmo uma princesa, sua mãe é uma rainha!

            — Ih! Já vi que não é o papai mesmo, mãe! — Caçoou Arthur. — Papai nunca foi tão romântico.

            — Se for por aí você tem razão — concordou Luciana.

            — É claro que não sou seu… pai! Olha meu tamanho! — Levantou-se para mostrar que mal passava da altura da mesa do café. — Você é mais velho do que eu!

            — É verdade que você veio lá do passado? — Interferiu a menina.

            — Não sei! — Entristeceu-se ainda mais. — Acho que estou meio perdido…

            — Não tem problemas — tentou consolá-lo Arthur. — Até que as coisas se resolvam você ficará conosco.

            O menino, ainda perdido, simplesmente abaixou a cabeça e tornou a sentar-se. Arthur continuou:

            — Só espero que não resolva me dar mais castigos, proibindo-me o computador.

            — O que é com… putador?

            — Você não conhece computador?

            Ele simplesmente acenou que não.

            — Então você só pode ser do passado mesmo! — Riu Arthur, depois voltou-se para Luciana e completou. — É, mãe! Você estava casada com um homem um tanto mais velho do que você! Agora acabou casada com um mais novo. E haja mais novo nisso!

            — Não sou casado com sua mãe! — Protestou o menino, com jeito de choro.

            — Chega de fazer gracejos com ele! — Interferiu Luciana. — Não vê que o deixa ainda mais assustado? Nós vamos acertar sua vidinha. Está bem, Regis?

            — Aí sô! Tem até o nome do pai!

            — Basta, Arthur! — Reclamou a mulher. — Agora vamos tomar café. O que você quer tomar, Regis? Leite com café… com chocolate?

            — Chocolate.

            Durante a refeição da manhã resolveram silenciar-se, ou pelo menos diminuírem a conversa, para assuntos secundários.

            Regis, que em sua verdadeira infância, sabia, não desfrutava de tal mesa farta, aproveitou para tomar um copázio de leite com achocolatado, comeu pão francês com fatias de mozzarella e presunto e depois para completar, um caprichado pedaço de bolo de coco caseiro e outro copo de achocolatado.

            — Gostou do bolo, Regis? — Perguntou-lhe Luciana.

            — Gostei de tudo!

            — Foi Maysa quem fez o bolo.

            — Tá!

            — Só tá!? — Protestou a menina. — Tenho só onze anos e já sei fazer bolo de coco e você só diz tá?

            — Tenho nove anos e já sei fazer almoço pra minha mãe! — Deu de ombros o pequeno, sem menção de elogiar a menina.

            — Até parece que você sabe fazer o almoço pra sua mãe! — Ironizou Maysa.

            — Faço almoço todos os dias.

            — Quero só ver! Na hora do almoço você fará nosso almoço?

            — Sim! — Deu de ombros como a dizer que nem haveria problemas.

            — Sim coisa nenhuma! — Protestou Luciana. — Não quero nenhuma criança perto de meu fogão aceso.

            Saindo da mesa, Arthur chamou-o para a sala do computador, onde Maysa retornara para continuar sua tarefa escolar.

            — Papai miniatura — ironizou o rapaz ligando à máquina. — Apresento-lhe… computador.

            — Isso é uma televisão! — Deu de ombros o menino. — Só que é muito fininha! Igual à da sua sala!

            — É! — Fez careta tal rapaz. — Não deixa de ser tevê! Mas quem controla ela é a gente!

            Sentou-se à frente do mesmo, puxando o teclado sem fios que estava escondido e aguardou mais alguns segundos, até que o mesmo acabava de carregar todos os drives.

            — Diga-me pa… Regis — achou que estava na hora de parar com aquela brincadeira inconveniente. — O que você quer ver?

            O menino, desconhecendo aquilo, apenas balançou os ombros. Arthur se prontificou:

            — Vejamos você!

            Abriu a página de buscas por imagens da web e digitou:

            “Regis Alexander dos Santos”

            E apertou enter.

            — Como você sabe o meu nome? — Especulou o menino, pois sabia que não dissera o seu nome ao rapaz.

            — Acha que eu não saberia o nome de meu pai?!

            Dezenas de fotos do verdadeiro pai (adulto) do rapaz surgiram na página do computador.

            — Eis aí você! — Brincou o rapaz dizendo, digamos, a verdade.

            — Esses não sou eu!

            — Mas será! Digamos… em dois mil e quinze! Que ano estamos hoje? — Ironizou.

            O menino, que devido sua pouca idade, ainda não se familiarizara com datas e períodos, simplesmente balançou os ombros.

            — Vejamos… você tem nove anos! Minha mãe disse! Que ano você nasceu?

            — Sei lá!

            — Mas eu sei! Um mil novecentos e cinquenta e oito!

            Rolava a linha do browser para baixo e:

            — Espere! — Gritou o pequeno. — Esse sou eu!

            Arthur voltou à linha do browser, parando em uma foto de seu pai quando criança, ao qual o menino colocando o dedo na tela confirmou:

            — Tá vendo! Este sou eu! Veja! É igualzinho a eu!

            — Igualzinho a eu, ou igualzinho a mim?

            O pequeno sem entender a correção do rapaz, deu de ombros, Arthur prestou atenção na foto e depois no menino ao seu lado e concordou:

            — Exato! Este aí é você!

            — O que minha foto está fazendo no computador de sua casa?

            — Ela não está aqui! — Negou o rapaz. — Nem imagino onde ela possa estar! Pode estar em um servidor perdido do outro lado do mundo!

            — Por que perdida? — Estranhou o menino. — Perdida como eu!?

            — Deixe pra lá! Você não entenderia mesmo.

            O pequeno continuava triste, de pé ao lado do rapaz, que depois de tal foto, resolveu que deveria levar a sério aquela situação.

            — Quem perdeu minha foto aí nesse troço?

            — Meu pai adulto a colocou aqui com certeza. Embora poucas, ele tem fotos suas de quando criancinha.

            Virou a cadeira giratória para ele e até o abraçou com jeito meigo, depois disse:

            — Sabe o que é garotinho… de verdade? Não sei como, o porquê e de que jeito, mas você realmente é o meu pai que veio lá do passado. Você está com medo?

            — Estou!

            — Não tenha medo não — emocionou-se o rapaz. — Sendo você o meu pai, então esta aqui é a sua casa e nós somos a sua família. Com isso, seja muito bem-vindo ao lar!

            — Mas como? — Não entendia o menininho. — Vocês são ricos! Eu sou pobre!

            — Ricos, nós!? Quem me dera!

            O menino continuou sério, com jeito assustado.

            — Não somos ricos! — Negou Arthur, convicto. — Quem lhe disse?

            — Tem dois carros! Essa casa gigante! Três televisão… dois computador! Outra casa do lado!

            — Você não tem carro?

            — Tenho bicicleta! Quer dizer… É do meu pai! Mas eu uso.

            — É do vovô?!

            — Ãh!?

            — Seu pai! Meu avô… Ambrósio!

            — Ah tá! Aqui vocês têm bicicletas?

            — Três! Tem uma especialmente pra você!

            — Como?

            — De seu tamainho nanico!

            — Não sou nanico!

            — Modo de falar! — O rapaz olhou bem para o menino. — Você até que é grande!

            — E eu posso andar na sua bicicleta… de meu tamanho?

            — Você não tem que me pedir nada! — Ironizou Arthur. — Eu é quem tenho que lhe pedir! A única coisa, é que você não me deixará mais de castigo! Ao contrário, acho que eu lhe darei alguns castigos… severos pra descontar.

            Luciana apareceu na sala do computador com uma escova dental nova nas mãos, chamando:

            — Regis… Arranjei uma escova nova para que você escove os dentes.

            — Obrigado! — Agradeceu ele tomando tal escova.

            — Depois você vai sair comigo e a Maysa.

            — A gente vai procurar meus pais?


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Notas finais do capítulo

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