Um pequeno problema escrita por Celso Innocente


Capítulo 1
Um estranho visitante


Notas iniciais do capítulo

Esta é mais uma de minhas estórias ternuras com formato drama, onde, mais uma vez a personagem central se chama "Regis" (como em todas).



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Quase sete horas da manhã, Luciana acabara de acordar e ao virar-se na cama estranhou que o esposo, exageradamente coberto dos pés à cabeça, continuava dormindo ali ao seu lado. Ele, embora já aposentado, sempre teve o hábito de levantar-se por volta das cinco horas todos os dias, mesmo em finais de semana.

            Mas naquele dia, por algum motivo ele continuava ali dormindo. Teria acontecido alguma coisa? Estaria doente? Será que…

            Ela simplesmente deu um leve toque em suas costas e ele deu um leve suspiro. Alívio: ele estava bem.

            Luciana levantou-se e foi ao banheiro, ali mesmo em sua suíte de família de classe média baixa, para suas eventuais necessidades de todas as manhãs, inclusive arrumar os longos cabelos escuros.

            Depois de preparar o café, o qual sempre fora, por costume, obrigação do esposo, o relógio já acusava chegando às oito horas e como ele ainda não se levantara ela resolveu que deveria mesmo tirá-lo de lá. Ele jamais dormiria até tal horário.

            Retornou ao quarto e como continuava de roupas de dormir, voltou a deitar-se ao seu lado. Quem sabe acordá-lo com carinho e seduzi-lo a namorarem um pouquinho pela manhã, enquanto os dois filhos adolescentes ainda estavam dormindo. Seria um jeito especial, já que, devido ao longo convívio de seus mais de vinte anos de união conjugal, tais carícias, cada vez mais iam se tornando escassas.

            Puxou um lençol fino sobre seu corpo vestido apenas com baby-doll de seda e abraçou o marido, estranhando que seu corpo totalmente coberto parecia bem menor do que sempre fora. Poderia ser por ele estar encolhido.

            — Benzinho — chamou-a com carinho. — Acorde.

            Ele suspirou espreguiçando-se e virando-se para o lado, acabou por descobrir apenas a cabeça, reclamando ainda de olhos cerrados:

            — Estou com sono.

            Luciana assustou-se e em sobressalto, pulou da cama protegendo seu corpo seminu com o lençol e gritando:

            — O que é isso!?

            Ele acabou de acordar com tal grito de surpresa e também assustado pulou da cama.

            — O que estou fazendo aqui!? — Gritou.

            Seu calção de pijama de seda tamanho adulto foi parar nos pés, só não o deixando passar vexame, devido sua camiseta de pijama de algodão, também em tamanho adulto, ter protegido tal corpo infantil despido.

            — O que você está fazendo em minha cama, menino? — Continuava apavorada Luciana, enquanto ele puxara o calção, segurando-o para que não caísse novamente.

            O pequeno, uma criança de cabelos médios, loiros e olhos castanhos, aproximadamente nove anos de idade, não podendo entender o que estava acontecendo, começara a chorar.

            — Como foi que você entrou na minha casa? — Insistiu a mulher.

            — Eu quero a minha mãe! Por que é que estou aqui?

            Luciana deu a volta na cama e o abraçando devagar sentou-o sobre o colchão macio, sentando-se também ao seu lado e ainda abraçado a ele, insistiu:

            — Quem trouxe você aqui?

            — Eu quero ir pra minha casa!

            — Está tudo bem! — Suspirou ela, acalmando-se da tal surpresa. — Você sabe onde é a sua casa?

            O pequeno acenou que sim.

            Ela levantou-se, foi até o quarto de sua filha Maysa, de onze anos de idade, que continuava dormindo tranquilamente e como todos os dias, continuaria assim até por volta das dez horas, já que só iria para sua escola as treze, procurou nas gavetas do guarda-roupa, apanhando um short de algodão unissex verde e uma camiseta branca. Voltou ao seu quarto, onde o menino continuava sentado na cama ainda chorando.

            — Vista estas roupas.

            Ele levantou-se, despiu-se primeiro daquele calção de pijamas. Sentiria vergonha em despir-se na frente de tal estranha, mas como a camiseta lhe parecia um vestido, o fez sem restrição, vestindo, mesmo sem cueca aquele pequeno short, depois tirou a camiseta gigante, vestindo a outra de seu tamanho.

            A mulher, recolhendo aquelas roupas de adultos e observando direito, questionou-lhe:

            — Por que você estava usando as roupas de dormir de meu marido?

            O menino não sabia responder e não sabia por que estava ali e só sabia… chorar.

            — Pare de chorar — pediu ela carinhosamente. — Você vai voltar pra sua casa.

            Isso mesmo. Ele resolveu que deveria ir embora. Saiu do quarto, abriu a porta da sala.

            — O que você vai fazer? — Perguntou-lhe a mulher.

            — Vou embora pra minha casa.

            — Você sabe onde fica?

            — Sei! — Chegou até um dos dois grandes portões brancos, abrindo-o.

            — Quer que eu leve você?

            — Não precisa — balançou os ombros. — Sei ir sozinho.

            — Tem que atravessar a rodovia. É perigoso!

            — Eu olho para os dois lados.

            — Mesmo assim é perigoso.

            — Venho aqui todos os dias.

            — Fazer o quê?

            — Na casa de meu padrinho. Ele mora nesta rua. Mas está diferente! Não tinha asfalto! As casas eram diferentes. Sua casa era velha. Como fez outra em pouco tempo?

            — Essa construção demorou dois anos, menino. E depois, já faz cinco que terminamos.

            — Não faz! — Negou o pequeno convicto, apontando para um campo cerrado a menos de cem metros distante. — Ontem eu fui naquele mato caçar frutas.

            — Você está confundindo as ruas.

            — Não estou!

— Está bem! Vá com cuidado.

            — Depois eu devolvo suas roupas. Não sei aonde estão as minhas.

            Ele começara a caminhar.

            — Não prefere que eu leve você? — Insistiu a mulher.

            Ele nem respondeu. Caminhou pela rua quase deserta, passando em frente à casa, a qual ele mesmo sabia ser então de seu padrinho, confirmou que ela estava igual ao dia anterior e depois de quinhentos metros chegou até a rodovia, estranhando a enorme fábrica de tubulação existente no local e principalmente o grande fluxo de carros, também muito diferentes do que de costume, no formato e principalmente cores, que deixava de serem pretos, brancos, azuis, vermelhos, verde-escuros, amarelos… e se tornaram predominantes em prata, preto ou branco, com as outras cores aparecendo em raras exceções.

Depois de prestar muita atenção e aguardar um espaço de segurança, atravessou correndo a tal rodovia; caminhou à sua margem, virou ao lado do pequeno córrego que corta a cidade, com certeza estranhando também, que agora tinha uma rua de cada lado toda asfaltada, sendo antes apenas uma pequena trilha batida, pela constante passagem de pedestres, principalmente crianças aventureiras como ele, que iam até ali para nadarem.

Depois de trezentos metros virou à esquerda, caminhando depressa, quase correndo por outros quatrocentos metros, que ele conhecia bem, apesar de que era praticamente deserto, sem uma construção sequer e ruas sem pavimento, agora teria sofrido uma grande metamorfose de concreto, com residências, fábricas e até estabelecimentos comerciais, até chegar a que, apesar da plaquinha de identificação mostrar outro nome, sabia ser a rua de sua casa, antes esburacada pela erosão causada por chuvas torrenciais.

Mais trezentos metros caminhando ansioso, confuso por ver a rua repleta de construções, onde antes teria com certeza apenas duas até se deparar com a que seria a sua casa, embora estivesse estranhando muito. Ele tinha certeza que era à sua, mas também estava totalmente transformada.

            Abriu o portão de ferro do muro baixo e entrou rapidamente, adentrando a porta lateral e ao chegar à sala de estar encontrou uma mulher magra, de seus mais de oitenta anos de idade, porém, com cabelos castanhos bem escuros.

Ambos se surpreenderam.


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Notas finais do capítulo

Vou torcer para que goste desta nova estória.
Mas, só vou saber se deixar um breve comentário.



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