Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 6
História




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Naquela noite, assim que se viu sozinha, Calista tirou da bolsa o livro encadernado em couro. A ponta de uma folha de papel se sobressaía entre as páginas, mais ou menos na metade do tomo. Foi naquele trecho que a morena o abriu. O papel se provou ser um bilhete escrito numa letra pequena, arredondada e elegante.

Aqui está a explicação que lhe prometi. Leia o resto, se quiser. Não vou me importar. Me ligue se tiver alguma dúvida. E, de novo, não fale sobre isso com ninguém. Vamos manter esse segredo apenas entre nós por enquanto.

Isso fez Calista sorrir. Ela se deu conta, ao notar que as páginas do caderno de couro estavam cobertas com a mesma letra do bilhete, que o que tinha em mãos era um diário de pesquisa. O fato mal a surpreendeu, exceto por uma onda de prazer. Sendo uma mulher de palavra, é claro que Cynthia manteria sua promessa de lhe explicar tudo. A jovem folheou as páginas de volta para o começo do tomo, lendo com interesse.

No começo, Cynthia havia escrito, alguns pokemon eram reverenciados como deuses. O culto a eles era tão poderoso que civilizações inteiras foram erguidas em sua homenagem.

O que você está lendo?

A pergunta fez Calista pular de susto. Estivera tão completamente absorta olhando os esboços de antigas runas nas páginas à sua frente que não percebera a presença de Angel.

— A pesquisa em que Cynthia estava trabalhando antes da luta com Darkrai. — A jovem respondeu. — Mas, antes que você pergunte, ainda não tive tempo de ler e descobrir do que se trata. Alguém resolveu aparecer para me distrair.

Já que alguém já a distraiu ... A Meloetta respondeu travessamente, pousando no ombro da morena. Não vai se importar em ter companhia, não é?

— Nem um pouco, contanto que esse alguém não me distraia ainda mais.

Angel riu daquela resposta, se inclinando de modo a poder ler sem dificuldade. As páginas seguintes continham informações sobre o desenvolvimento daquelas civilizações antigas, suas culturas e história. Não havia exatamente um material conclusivo a esse respeito, e a campeã preenchera as lacunas com suas próprias teorias.

— Ela é brilhante. — Calista comentou com admiração, vendo a linha do tempo alternativa feita por Cynthia abaixo da linha original. — Não sei como ela conseguiu deduzir tudo isso com tão poucas pistas.

De fato. Angel concordou. A campeã de Sinnoh tem uma mente privilegiada.

A morena estava prestes a responder, mas se deteve ao ver a fotografia na página seguinte. Era uma gravura feita em pedra bruta, de aparência extremamente antiga, com vários círculos que preenchiam todo o espaço, criando interseções entre si e sendo ligados por linhas.

Calista encarou aquela gravura, confusa. Era ali que havia a maior lacuna, a página estava quase toda vazia. Ou era uma pesquisa em andamento ou não havia informações suficientes sobre o assunto. Logo abaixo da fotografia havia uma única anotação, em uma letra bem pequena, dizendo simplesmente "governantes da vida".

Isso é uma surpresa. Angel declarou. A lenda dos guardiões foi quase perdida no tempo, eu não esperava que alguém ainda soubesse qualquer coisa sobre isso.

— Que lenda é essa, Angel?

A lenda das quatro esferas. A Meloetta respondeu. Há muitos séculos, dizia-se que existiam quatro pokemon que governavam as quatro esferas da vida: criação, crescimento, transformação e destruição. Eu pensava que todas as pistas sobre essa lenda houvessem sido destruídas.

— Bem, é de Cynthia que estamos falando. E, além do mais, tudo o que está escrito aqui parecem ser suposições. Ela aparentemente não encontrou nada além dessa gravura antiga.

E chegou muito, muito perto da verdade. Assim como em todo o resto. Sua amiga é uma mulher surpreendente, estou impressionada com o quanto ela conseguiu deduzir. A Meloetta declarou, aproximando-se do livro e apontando para a interseção dos dois círculos nas extremas direita e esquerda. Cada esfera está conectada às outras de certa forma, elas existem juntas. Quatro "reinos", cada qual governado por um pokemon e protegido por quatro cavaleiros, aqueles cujo poder o rei compartilha. Somente juntos é possível atingirem seu poder total. Agora ... Olhe para essa gravura e me diga o que está vendo.

— Símbolos. As esferas tem símbolos dentro delas. — Calista ofegou de surpresa enquanto sua mente traçava a semelhança entre aquele símbolo arcaico e algo que vira há não muito tempo atrás. — Não acredito! Essa silhueta ... É Giratina?

Exatamente. Angel respondeu com uma risadinha satisfeita. Os símbolos representam o rei e seus quatro cavaleiros. Esta, por exemplo: Giratina, Darkrai, Yveltal, Hoopa e Lunala. Acha que sabe de qual esfera se trata?

— A esfera da destruição.

Correto. A Meloetta assentiu. Mas não se engane, a destruição não é necessariamente algo ruim, simplesmente é parte da vida. Nem Giratina nem seus cavaleiros são cruéis. Bem ... Exceto um.

— Darkrai.

Sim. Angel suspirou, seu rosto assumindo uma expressão sombria. Ele é cruel, acha que o destino inevitável do mundo é ser destruído e que os mais fortes terão todo o poder.

— Então ele traiu seus companheiros em busca desse poder. — Calista completou. — Iniciando uma guerra que se arrastaria por séculos e quase arrasaria o mundo.

Angel ofegou e deslizou de seu ombro, flutuando à sua frente para olhá-la nos olhos, assombrada.

Onde você ouviu sobre isso?

— Um amigo. — A morena respondeu. — Ele mesmo não sabia quase nada, apenas isso que acabei de dizer.

Bem, seu amigo tinha razão. Tudo começou com rumores, pequenas coisas para criar discórdia entre nós e nos distrair enquanto ele reunia aliados. Estávamos despreparados e perdemos a batalha, mas revidamos em pouco tempo. Todos foram forçados a escolher um lado e aqueles de nós que escolheram não tomar parte no conflito foram aos poucos sendo vistos como inimigos por ambos os lados. Mas estávamos equilibrados demais, e nenhum lado conseguia a vitória. Foi então que Arceus se uniu aos melhores treinadores pokemon do mundo, os Escolhidos.

— Cynthia descobriu algo sobre isso. — A morena notou ao virar a página. — Bem aqui. Segundo ela, esse elo conferiu algum tipo de poder aos treinadores escolhidos, assim como aos pokemon.

Ela está correta. Angel concordou. Mas a campeã não teria como saber a história toda. Isso é um segredo que juramos guardar.

— Que segredo?

A história por trás do elo. A voz da Pokemon Melodia caiu a um timbre grave, sério e antigo. Você tinha razão, a guerra entre nós teria devastado o mundo. Precisávamos de algo que permitisse a um dos lados vencer e acabar com o caos. Foi então que surgiu Catlea. Ela encontrou Shaymin na Floresta Eterna, em Sinnoh. Ele estava muito ferido, e a jovem o tratou. A amizade entre os dois se tornou tão forte que Shaymin, para protegê-la, compartilhou com ela parte de seu poder. Arceus descobriu sobre isso, e logo percebeu que aquele elo poderia ser a chave da vitória. Mas foi Uxie o primeiro a entender que não era o bastante simplesmente formar alianças. Não precisávamos de força, e sim de poder de verdade.

— Quer dizer espírito?

Espírito, coragem, determinação ... Chame como quiser. Angel deu de ombros, embora parecesse satisfeita por Calista ter compreendido tão prontamente. A questão é que precisávamos escolher as pessoas certas. Levou muito tempo, mas enfim conseguimos.

— E então?

Então selamos Darkrai e seus aliados em outra dimensão. A pokemon franziu a testa, parecendo preocupada. Não sei como conseguiram escapar. O selo deveria ser indestrutível. Algo deve ter dado errado.

— Nós vamos descobrir, e selá-los de novo. — A morena garantiu. — Ou destruí-los de uma vez por todas, se necessário. Eu juro.

Sim. Angel assentiu relutantemente, embora a determinação de sua parceira a houvesse reconfortado. Sim, nós vamos.

Calista continuou a folhear o diário de pesquisa, de vez em quando parando para ler algum trecho particularmente interessante em voz alta. Angel parecia se divertir com aquilo, sempre com algum comentário a fazer sobre as conjecturas da campeã de Sinnoh. A irmã de Ash fazia o possível para memorizar todas aquelas informações, tencionando surpreender Cynthia no dia seguinte.

As horas passaram despercebidas enquanto a noite avançava cada vez mais. Em algum momento Calista caiu no sono sem nem sequer se dar conta do fato, acordando com um sobressalto após outro de seus já habituais pesadelos.

A jovem pulou de pé e foi até a janela, espiando o céu. Logo viu que não dormira muito, pois o horizonte a leste mal havia começado a clarear, assumindo o mais leve tom cinzento. Agitada demais para sequer pensar em voltar para a cama, a morena decidiu fazer algo útil com aquele tempo extra.

Com cuidado para não despertar Angel, que dormia enrodilhada sob as cobertas, Calista puxou a cadeira e sentou-se à pequena escrivaninha embutida em um armário no canto do quarto, com uma folha em branco à sua frente. A irmã de Ash encarou o papel por vários minutos, organizando os fatos antes de começar a escrever.

Calista? 

O chamado sonolento a fez pular de susto. Ao olhar para trás, viu Angel sentar-se e esfregar os olhos, tendo acabado de acordar.

— Bom dia. — A morena disse. — Desculpe, eu não queria acordar você.

Não me acordou. A Meloetta garantiu. Mas o que você está fazendo de pé tão cedo?

— Não consegui mais dormir, então decidi escrever o que você me contou ontem à noite.

Uma olhada para o relógio na mesinha ao lado da cama revelou que já passava das oito da manhã, fazendo Calista perceber que estivera escrevendo por mais de duas horas sem parar. Não chegou a ser uma surpresa, dadas as várias folhas já preenchidas à sua frente.

Seu celular vibrou e a morena distraidamente o pegou, quase por reflexo. Era uma nova mensagem de ninguém menos do que Cynthia, convidando-a para uma caminhada matinal. Combinaram de se encontrar na saída leste da cidade, que levava à Rota 12, margeando a Baía Azure. Era o lugar perfeito.

Calista se apressou a trocar de roupa, leggins pretas sob um suéter azul celeste, e tênis, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo bagunçado e agarrando sua bolsa antes de quase sair correndo porta afora. Cynthia já a esperava, observando distraidamente as ondas que encrespavam as águas da baía com o rosto contraído de preocupação.

— Bom dia. — A jovem disse. — Oi, Garchomp.

A pokemon tipo Dragão a cumprimentou com um grunhido gutural, tendo notado primeiro a presença da jovem kantoniana.

— Bom dia. — A loira respondeu enfim, parecendo sobressaltar-se com a chegada de sua amiga. — Que bom que você veio.

— Você me convidou. — A irmã de Ash sorriu, achando graça daquele comentário. — É claro que eu viria.

Antes que a campeã pudesse dizer qualquer coisa, uma das pokebolas de Calista se abriu com um estalo e IceFire saiu, encarando Garchomp. A pokemon dragão abriu um sorriso zombeteiro, balançando uma de suas garras no ar no que sem dúvida era um desafio. A Charizard rugiu alto em resposta.

— Fire! — Calista repreendeu — Pare com isso. Deixe de ser infantil. Garchomp é nossa amiga, está lembrada?

IceFire grunhiu, soltando uma pequena coluna de fumaça pelas narinas, sem jamais desviar os olhos dos de Garchomp. Para surpresa da jovem morena, Cynthia caiu na risada.

— IceFire não odeia Garchomp, Cal. — A loira explicou. — As duas se consideram rivais.

— Sério?! — A jovem inquiriu com ironia, arqueando uma sobrancelha. — Parece que a rivalidade é nosso destino, hein loira?

— Poderia ser pior. — Cynthia rebateu. — Você é uma rival ... Interessante, para dizer o mínimo.

— Vou tentar encarar isso como um elogio. — A irmã de Ash respondeu jocosamente. — Embora claramente não tenha sido sua intenção.

— Claro que foi. — A campeã protestou. — Eu estava me referindo ao seu estilo de batalha. Não consegui nem sequer chegar perto de fazer algo parecido.

— Ah, por favor. — Calista corou de puro prazer com aquele elogio. — Eu improvisei na maior parte do tempo.

— Um improviso combinando graça, força e beleza. — Cynthia disse calorosamente. — Aceite o elogio, Cal. Seu estilo de batalha é único, assim como você.

— Obrigada. E, por falar em coisas únicas ... — A jovem tirou da bolsa o diário de pesquisa encadernado em couro, estendendo-o de volta para a campeã com um floreio. — Eu sempre soube que você era inteligente, Cynthia, mas isso ... É quase sobrenatural! Como conseguiu unir os fatos tendo tão pouco com o que trabalhar?

— Lógica. — Foi a resposta, dada em tom de absoluta humildade. — E instinto, eu acho. Minha intuição raramente está errada.

— Eu sei. Angel me disse que a maior parte de suas deduções estava certa.

— Ela disse isso? Bem ... Que ótimo. Fico feliz em saber que eu não estava tão longe da verdade.

— Ela ficou especialmente surpresa por você conhecer a lenda das quatro esferas. Disse que essa era uma história perdida no tempo.

— Realmente é. Foi muito difícil descobrir até mesmo o pouco que sei sobre o assunto.

— Pouco? — Calista repetiu, erguendo uma sobrancelha. — Você está se subestimando, Cynthia. Descobriu muito mais do que imagina.

— E tenho a impressão de que você sabe mais sobre isso do que está me dizendo.

— Apenas porque Angel me contou. Você praticamente descobriu a verdade sozinha. — A morena suspirou pesadamente, abandonando seu pretenso ar tranquilo. — Não consegui deixar de me perguntar o quanto disso tem a ver conosco. Com esse elo.

— Então nos perguntamos a mesma coisa. — A loira disse. — Quer saber por que fui embora tão de repente ontem? Foi porque você me fez perceber uma coisa: segundo a lenda, Darkrai e seus aliados foram selados em dimensões paralelas, exilados para sempre de nosso mundo. Isso quer dizer que ele tem um novo aliado, alguém que rompeu o selo. Não sei como não fiz essa conexão antes. É tão óbvio!

— Pode não ser o caso. — Calista discordou, seu rosto assumindo uma expressão grave. — Talvez se trate de um aliado antigo nunca descoberto. Um espião.

— Talvez. A questão é que agora sei como o selo foi rompido. Você tinha razão, Cal: foi a explosão durante a nossa revanche que começou tudo isso. Aquilo foi o gatilho.

— Então é nossa culpa.

— Não, de forma alguma. Acredito que teria acontecido de qualquer maneira, nós simplesmente apressamos as coisas.

— E quanto ao resto? Ash, Hitoshi, nós duas ... ? Para mim, parece que algo maior está em movimento.

— Eu concordo. E, seja lá o que for, parece que estamos no centro disso.

Calista estava prestes a responder, quando uma voz familiar chamou seu nome. Ao se virar, viu um jovem de cabelos castanhos rebeldes correndo pelo píer na sua direção.

— Gary! — A irmã de Ash exclamou, retribuindo o aceno do rapaz. — Não acredito!

O jovem pesquisador se aproximou e, para surpresa de Calista, seu sorriso desapareceu ao ver Cynthia. Alguns anos haviam se passado desde que Gary Carvalho ajudara a combater a Equipe Galáctica juntamente com Ash, Dawn e Brock, mas a campeã também o reconheceu imediatamente. Os dois trocaram olhares mais frios do que gelo, cumprimentando-se com simples acenos de cabeça.

— Oi, Caly-Nite. — Gary disse, disfarçando a curta pausa ao puxar a morena para um abraço apertado. — É bom te ver.

— Com certeza! — A jovem performer sorriu. — Quando você chegou?

— Há mais ou menos uma hora. — Foi a resposta. — Sua mãe e o vovô vieram também, saíram há pouco com o Ash.

— Ah, droga! — Calista exclamou, corando de constrangimento. — As semi finais! Eu esqueci completamente! Mamãe deve estar uma fera!

— Pode apostar. — Gary riu. — Tia Dehlia está pronta para estrangular você.

— Droga!

— Relaxe, Caly. — O rapaz disse com um sorriso maroto. — Eu te protejo.

— Meu herói.

O comentário irônico da morena foi seguido por um suspiro de frustração. Ela reconhecia a forma como Gary olhava para Cynthia. Era a mesma forma como ele costumava olhar para Ash anos antes, quando os dois ainda se detestavam. E, embora a expressão da campeã fosse de uma frieza quase perfeita, a jovem já conhecia Cynthia bem demais. O desprezo que ela sentia, embora melhor disfarçado, não era menos intenso do que o do neto do professor Carvalho.

— Cal, nos vemos depois. — A loira disse. — Obrigada pela companhia.

— Disponha. — Calista respondeu, lançando um olhar de censura para seu noivo ao vê-lo fazer uma careta de desdém.— É sério. Sempre que você quiser.

A campeã de Sinnoh sorriu, parecendo satisfeita com a declaração nas entrelinhas daquela frase, porém meramente lhe dirigiu um aceno de despedida, já se afastando com Garchomp. Gary imediatamente passou um braço pelos ombros de Calista, puxando-a para si, mas ela o empurrou.

— Você foi absolutamente ridículo. — A performer morena declarou friamente. — Cynthia é minha amiga, e não quero saber de você criando problemas com isso. Entendido? Estou te avisando, Gary Carvalho, não ouse bancar o ciumento comigo. Posso ser sua noiva, mas isso não o torna meu dono.

— Tanto faz. — O rapaz respondeu, ligeiramente amuado pela repreensão. — Quer ir encontrar os outros? Eles devem estar se perguntando onde nós estamos. Sua mãe, pelo menos. Ela estava louca para te ver.

Embora ainda zangada com a atitude ciumenta do rapaz, e surpresa pelo fato de imediatamente ter tomado o lado de Cynthia naquela situação sem saber dos fatos e sem parar para pensar, Calista optou por abster-se de discutir, pelo menos daquela vez. Ao invés disso, ela deixou que Gary a guiasse pela cidade.

Naquela mesma noite Serena e Calista, observando as performances por trás das cortinas, se entreolharam. A morena abriu um sorriso que era tanto um desafio quanto um gesto de conforto, dando um tapinha carinhoso no ombro de sua jovem amiga.

— Não vá perder, loirinha.

— Pode deixar. — Serena assentiu com uma risadinha. — Você também, Caly.

— Não se preocupe, não planejo perder para ninguém. Nem mesmo se esse alguém for você.

— Veremos. — A jovem kalosiana sorriu, estendendo uma das mãos no espaço entre elas. — Que vença a melhor.

— Que vença a melhor. — Calista repetiu, seu sorriso se alargando enquanto batia o punho fechado sobre o da menina em um cumprimento. — Quebre a perna, Serena.

— Quebre a perna e o pescoço, Caly.

As duas riram. Apesar de parecer estranha a alguém de fora, aquele tipo de cumprimento era quase uma tradição. Algumas podiam não admitir, mas toda performer era supersticiosa em algum nível. Se tinha uma coisa que nenhuma delas, por mais racional que fosse, jamais faria antes de subir ao palco, era desejar "boa sorte" a alguém, especialmente a quem considerasse uma amiga. Mesmo aquelas que juravam não acreditar nesse tipo de "bobagem" estremeciam só de pensar em ouvir aquelas duas palavras.

A jovem performer kalosiana respirou fundo ao ouvir seu nome ser chamado, então saiu de trás das cortinas e assumiu o palco com Braixen, Pancham e Sylveon. A irmã de Ash a observou, como sempre impressionada com o quanto sua amiga se transformava ao subir ao palco. Era quase hipnotizante de assistir.

— É melhor tomarmos cuidado com ela. — Calista comentou com o Houndoom e a Vivillon que estavam ao seu lado. — Se não prestarmos atenção, Serena vai acabar conosco e ganhar a coroa.

Feral, o Houndoom, balançou a cabeça em negativa com um rosnado baixo e irônico. Demetria, empoleirada no ombro de Calista, revirou os olhos como se a mera ideia de aquilo acontecer fosse ridícula. A jovem morena riu e balançou a cabeça em reprovação.

— Continuem assim. — Ela disse jocosamente. — E vamos mesmo perder. Não fiquem confiantes demais, pessoal, temos uma competição muito boa esse ano.

Feral se aproximou e lambeu as pontas dos dedos de sua treinadora, cutucando-a com seu focinho gelado. Ela sorriu e lhe deu um tapinha carinhoso no pescoço.

Logo chegou sua vez. Ao assumir o palco a jovem imediatamente vasculhou a plateia em busca deles, seu rosto se iluminando em um sorriso quando os viu: sua mãe, Ash, Gary, o professor Carvalho, Bonnie, Clemont ... E, pairando logo acima da cabeça de seu irmão mais novo, estava Angel. A Meloetta sorriu e acenou, fazendo uma pirueta no ar.

A jovem disfarçou uma risada, seu nervosismo habitual sendo substituído pela euforia familiar que sempre precedia um grande desafio. Quando mais nova Dehlia costumava brincar sobre aquela sua natureza competitiva, dizendo que era o sangue dos Ketchum agindo. Seu pai simplesmente ria daquelas palavras.

Essa é a minha princesa. Ele dizia, sorrindo com orgulho. Lembre-se disso, Caly: os Ketchum nunca desistem. E nunca fugimos de um desafio.

A lembrança das palavras de seu pai fez a morena erguer ainda mais o queixo, endireitando a postura até estar perfeitamente ereta. Ela o deixaria orgulhoso, a ele e a sua mãe.

— Prontos, pessoal? — Feral e Demetria assentiram. A cauda em forma de seta do Houndoom se movia como um pêndulo, demonstrando o quão animado estava para a performance. — Muito bem, então, hora do show!

Feral saltou à frente com um rugido e dentes à mostra, calando todo o auditório por um momento com o gesto intimidador, e então usou Redemoinho de Fogo. Demetria, a Vivillon, levantou voo e parou logo acima das chamas, usando seu ataque Psíquico para moldá-las na forma de uma ave.

De um Moltres, para ser mais exata. O pássaro de fogo bateu as asas uma vez antes de as chamas serem extintas por Demetria com seus poderes psíquicos, se desfazendo em flashes de luz que lembravam vagalumes. Calista ergueu uma das mãos e um deles pousou em sua palma. A morena o soprou para a plateia com um beijo antes de tomar impulso e saltar, fazendo uma graciosa pirueta.

Demetria seguiu a deixa de sua treinadora. Ela e Calista começaram uma série de acrobacias, com a Vivillon voando em alta velocidade, descrevendo círculos ao redor da jovem e do Houndoom que dançavam. A borboleta então pousou na cabeça do cão tipo Fogo.

Feral usou Fumaça. A névoa venenosa, de um intenso tom de púrpura, foi moldada pelo ataque Psíquico da Vivillon na forma de um dragão. A fera serpenteou pelo palco, ascendendo na direção do teto. O Houndoom então saltou com um rugido gutural que ressoou pelo teatro, usando Lança Chamas para que a criatura de fumaça parecesse cuspir fogo. A plateia gritou de empolgação quando a fera se desfez inofensivamente no ar.

O Houndoom então usou Redemoinho de Fogo enquanto Demetria levantava voo e usava Zumbido de Inseto. As chamas espiralaram ao seu redor, dançando no ritmo das ondas vermelhas liberadas quando a magnífica borboleta batia suas asas.

Ela descreveu um amplo arco ao redor do palco, parando logo acima de Calista, e então usou Poder Oculto. O golpe fez várias esferas luminosas surgirem ao seu redor, as quais foram arremessadas na direção de Feral. O Houndoom reagiu com uma série de saltos ágeis, rebatendo cada uma das esferas com a ponta de sua cauda em forma de flecha e lançando-as em direção ao teto.

Demetria então pousou sobre a cabeça de Calista, aninhando-se entre os cachos negros como um gracioso laço de fita, e usou Psíquico para fazer as esferas colidirem, criando uma explosão de fogos de artifícios que choveram sobre a morena e seus dois pokemon enquanto agradeciam ao público com uma reverência.

Calista se reuniu às outras performers pouco depois, e Serena imediatamente correu ao seu encontro. A menina tinha um enorme sorriso no rosto, que estava corado de empolgação.

— Caly, aquilo foi incrível! — Ela exclamou. — Aquele dragão de fumaça ... E de onde você tirou a ideia daquele Moltres? Foi absolutamente demais!

— Que bom que você gostou. — A morena sorriu, sem nem tentar disfarçar o imenso orgulho que sentia. — Mas esse é um segredo que eu jamais vou revelar.

— Ah, Caly. — Serena fez beicinho, lançando-lhe um olhar pretensamente magoado. — Você é má.

— Sou. — Calista riu alto. — Meus parabéns, loirinha. Sua apresentação foi ótima.

A performer loira corou violentamente com aquele súbito elogio. Era exatamente a intenção da irmã de Ash: distrair sua amiga para que ela não perguntasse mais nada sobre sua performance. Só uma pessoa entenderia que a imagem flamejante daquele Moltres havia sido mais do que mera criatividade artística.

Que fofo! Angel exclamou quase num trinado. Não acredito que você realmente fez isso!

Bem ... Calista se viu corando, e disfarçou o fato deixando que seus cabelos lhe escondessem o rosto. Era o mínimo que eu poderia fazer para agradecer a ela.

Eu sabia. A Meloetta riu maliciosamente. Você gosta mesmo dela, não gosta?

Cynthia é minha amiga, Angel. A morena a lembrou severamente. Só isso. Não comece a ter ideias erradas. Você sabe que estou noiva.

Ah, sim, aquele rapaz. Mesmo sem olha-la a jovem kantoniana pôde imaginar o rosto de sua parceira se retorcendo em uma careta de desgosto. Você merece bem melhor do que ele, Calista.

Falamos sobre isso depois.

O diálogo telepático fora tão rápido que ninguém além das duas envolvidas sequer se dera conta do fato.

 Você na verdade me inspirou. — Serena disse timidamente. — Lembra quando se apresentou para nós no parque e fez aquelas asas de fogo? Aquilo foi lindo, eu passei muito tempo pensando em como fazer alguma coisa tão incrível quanto.

— Eu me lembro, sim. — A irmã de Ash respondeu, feliz com as palavras da jovem kalosiana. — E, pode acreditar, se a ideia era superar aquilo, você com certeza conseguiu. Seu encerramento foi lindo, nem eu mesma poderia ter feito melhor.

E era verdade. Serena havia encerrado sua performance combinando o Vento de Fada de seu Sylveon com a Explosão de Fogo de Braixen para criar uma flor de fogo em plena floração, que abriu as pétalas antes de desaparecer em uma chuva de faíscas brilhantes.

— Obrigada, Caly. — A menina disse, estendendo uma das mãos para segurar a da mulher mais velha. — De verdade. Isso significa muito para mim.

— A decisão vai ser difícil. — A morena brincou. — Como nós duas fizemos algo parecido, vai ser difícil escolher a vencedora. Na verdade, eu não ficaria surpresa se empatássemos. É melhor se preparar para mais um round, loirinha.

— Eu já estou pronta. — A menina sorriu desafiadoramente. — E não espere que seja fácil.

— Digo o mesmo para você, garota.

A morena mal terminara de falar quando seu olhar cruzou com o de uma mulher parada quase na saída do enorme teatro, recostada casualmente contra a parede. Parecia ter acabado de chegar, e observava tudo com uma expressão quase de tédio, embora a forma como não desviava os olhos do palco desmentisse tal impressão.

Mesmo de tão longe, Calista soube o momento exato em que a mulher notou seu olhar, pois seus lábios se ergueram em um sorriso. Não um sorriso agradável, mas um gesto zombeteiro e irônico que beirava a insolência.

Muitas pessoas tinham vontade de apagar aquele sorriso a socos, mas a jovem kantoniana o retribuiu. Ela chegou mesmo a pensar ter visto uma das mãos da mulher, cujos braços estavam cruzados, se erguer em um aceno, mas o gesto fora rápido demais para que pudesse ter certeza.

— Caly! — Serena exclamou em um sussurro nervoso. — É agora! A votação vai começar!

A jovem praticamente se agarrou à mão da irmã de Ash, tremendo incontrolavelmente. Calista se voltou para ela, lançando-lhe um sorriso tranquilizador.

— Calma, loirinha. — A morena disse. — Uma de nós duas vai vencer, com certeza.

— Quanta humildade, Caly.

— É simplesmente a verdade. — A jovem rebateu jocosamente. — Espere e verá.

As luzes se apagaram, exceto pelo holofote principal sobre o palco. Foi então que a plateia ergueu seus Poke Lume, dispositivos especialmente criados para as Exibições Pokemon. A chave de cada performer tinha uma pedra de cor específica, e as luzes emitidas pelos Poke Lume eram programadas para mudar de cor e ser absorvidas pela chave cuja pedra correspondesse à cor emitida. Era assim o processo de votação.

Luzes cintilantes encheram o ar como vagalumes, com a predominância das cores azul-turquesa e amarelo. Ao final da votação, Calista e Serena trocaram um olhar incrédulo. Tinham exatamente o mesmo número de votos. Estavam empatadas na semifinal.

— Uau! — A morena riu, radiante com aquele desenlace. — Eu não conseguiria pensar em uma forma melhor de cumprir nossa promessa. Que vença a melhor, loirinha.

Serena balançou a cabeça, ainda sem acreditar. Monsieur Pierre, o apresentador, tomou à frente, acalmou a plateia e anunciou oficialmente o empate das duas jovens.

— No entanto ... — Ele declarou com um largo sorriso. — Um round de desempate não será necessário. Há um voto de Minerva a ser concedido. Mademoiselle Malva, s'il vous plaît.

Um dos holofotes se deslocou e iluminou a mulher de cabelos cor de rosa. Malva não pareceu minimamente abalada por ser subitamente o centro das atenções. Pelo contrário, pareceu se deleitar com o fato.

Como membro da Elite dos Quatro e repórter estrela do Holomissor, estava mais do que habituada a situações como aquela. E, sendo a exibicionista natural que era, adorava ser o centro das atenções.

Serena segurou a mão de Calista com mais firmeza, com tanta força que quase chegava a machucar. A morena, porém, simplesmente fixou os olhos nos da repórter, cujas feições relaxaram em um sorriso. Calista ergueu uma sobrancelha para ela, sem confiar nem um pouco naquela pretensa e súbita simpatia.

Com a graça de uma leoa, Malva deu um passo à frente e ergueu o Poke Lume que trazia na mão livre. Uma pequena esfera azul turquesa saiu do dispositivo e voou pelo ar. A irmã de Ash conteve um arquejo de surpresa, olhando para a belíssima pedra azul na chave que trazia presa por uma fita de seda em sua cintura, enfeitando seu vestido.

A plateia foi à loucura, explodindo em aplausos. Calista mais uma vez se curvou em agradecimento, sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Ao erguer a cabeça e olhá-la mais uma vez, viu Malva assentir em aprovação, seus olhos cor de âmbar brilhando como duas chamas.

Espere aí! A jovem pensou, atônita. Aquilo foi uma piscadela? Sério? Malva está brincando comigo?

Calista ergueu uma sobrancelha, ao que a mulher de cabelos cor de rosa simplesmente deu de ombros. Seus lábios se curvavam para cima nos cantos e alguma coisa naqueles olhos fazia a jovem performer pensar que ela estava contendo o riso.

Uma vez completadas as formalidades, as performers se recolheram aos bastidores para trocarem de roupa. Assim que se viram sozinhas, o sorriso de Calista foi substituído por uma expressão apologética enquanto ela se voltava para a namorada de seu irmão.

— Serena, eu ... Eu sinto muito. — A morena disse. — Você merecia a vitória tanto quanto eu. Não foi justo. Deveriam ter feito o round de desempate.

— Está tudo bem, Caly. — Serena declarou, sua voz apenas ligeiramente trêmula. — Você mereceu. Só ... Me prometa que vai dar o melhor de si na Classe Mestre. Vença a grande final.

— Prometo. — Calista declarou fervorosamente, tomando as mãos da amiga entre as suas. — Vou ganhar aquela coroa por nós duas. E você me prometa que não vai desistir.

— Prometo. — Serena assentiu com um sorriso. — Vou competir de novo no ano que vem, e derrotar você.

— É assim que se fala!

Calista sorriu, satisfeita, e foi trocar de roupa. A jovem morena foi a primeira a voltar ao saguão principal, seus olhos esquadrinhando a multidão em busca de uma certa repórter, mas Malva não estava em lugar algum.

— Até que enfim, mana. — Ash exclamou ao se aproximar, fazendo-a pular de susto. — Eu estava te procurando.

— Hey, Ash. — Calista se voltou para o jovem com um largo sorriso, notando que ele carregava um belíssimo buquê de exóticas orquídeas amarelas. — Uau! O que é tudo isso?

— Um presente. — O rapaz disse. — Uma das assistentes de palco me pediu para entregar a você.

— Caramba! — Calista corou ao aceitar o vistoso buquê. — Eu queria saber quem está fazendo tudo isso.

— Aposto que isso é coisa do babaca do Gary.

— Ele não é babaca. — A morena rebateu. — Você é um babaca.

— Ah, cale a boca!

Olhando o buquê mais de perto, Calista reparou em um cartão cor de creme cuidadosamente acomodado entre as flores. Ao desdobrá-lo, deparou-se com uma elegante escrita cursiva.

Nas mãos de Midas, tudo se transforma em ouro. Meus parabéns pelo sucesso de hoje, menina dourada.

A irmã de Ash corou violentamente, reconhecendo o trecho de um livro referente à primeira frase. Só uma outra pessoa sabia o quanto aquela citação significava para Calista.

— Ei Ash ... — A morena disse. — Você viu Malva por aí?

— Malva?! — O rapaz pareceu muito surpreso com aquela pergunta. — Não, não vi. Acho que ela já foi. Tanto melhor. Ouvi dizer que aquela mulher é terrível.

— Ah, por favor. Aposto que ela não é tão ruim assim.

— Sei lá, mana. Todo mundo diz que ela é uma bruxa malvada. 

— Bruxa Malva. — Calista riu com gosto daquele título. — Adorei. Combina com ela. Mas, ainda assim, eu deveria pelo menos dizer "obrigada" depois de ela ter votado em mim hoje.

— Ah, pare de ser humilde. — Ash revirou os olhos. — Você foi incrível, mana. Mereceu essa vitória.

— É, eu sei. — A jovem respondeu em tom brincalhão. — Fui incrível mesmo. Mas pensei que você estivesse torcendo pela Serena.

Antes que o rapaz pudesse responder, Bonnie apareceu correndo e quase derrubou Calista ao se jogar em seus braços. De fato, somente o fato de Ash ter passado um braço por sua cintura a impediu de cair.

— Você foi incrível! — A garotinha loira exclamou. — Tão ... Tão ... Uau! A Serena também! Queria que tivessem feito um round de desempate, seria tão legal!

— Bonnie. — Clemont, que vinha logo atrás de sua irmã mais nova, protestou. — Pare com isso. Regras são regras, lembra?

—  Eu sei, irmãozão. —  Bonnie respondeu. — Mas teria sido incrível. Não acha, Serena?

Serena, que acompanhava seu irmão mais novo, assentiu em resposta. Calista ficou boquiaberta ao olhar direito para Clemont. Era a primeira vez que o via desde que voltara para Kalos, uma vez que o rapaz estivera ocupado com o projeto da nova Pokedex para o Professor Carvalho.

O garoto crescera um bocado e seus cabelos loiros, em geral caindo desordenadamente sobre seu rosto, estavam cortados bem curtos, quase ao estilo militar, o que pela primeira vez evidenciava o fato de Clemont ser um rapaz bonito. A maior mudança, porém, era a ausência dos grandes óculos redondos de lentes grossas. Sem elas, seus olhos pareciam maiores e mais expressivos.

— Foi incrível de qualquer jeito. — Clemont declarou, seus gentis olhos azul-claros se fixando em Calista. — Meus parabéns pela vitória, Caly. E ... É bom finalmente te ver de novo.

— Igualmente. — Foi a resposta, dada com prazer sincero. — Você está ótimo.

Clemont corou com o elogio, o que fez Calista rir. Apesar da mudança na aparência, o rapaz continuava tímido como sempre.

Sua mãe, Gary e o professor finalmente se uniram a eles, e o restante dos acontecimentos foi um borrão. Alguém sugeriu que saíssem para comemorar, embora Calista não conseguisse lembrar quem foi. Sua próxima lembrança nítida foi a de sair do enorme teatro com o braço de Ash sobre seus ombros e o de Gary ao redor de sua cintura, rindo de alguma piada idiota contada por eles e se sentindo em casa.


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