Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 5
A dupla perfeita




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Calista lançou um olhar zangado para Ash enquanto os dois entravam apressados no teatro de Exibição Pokemon. O rosto da jovem estava vermelho de raiva.

— Seu bobalhão! — Ela sibilou baixinho, tomando cuidado para não ser ouvida por mais ninguém. — Estou atrasada por sua culpa!

— Nem comece, mana. Eu te disse para vir com a Serena, mas você não quis me ouvir. Tinha que fazer as coisas do seu jeito. Teimosa como sempre.

— Dá um tempo, Ash! — A morena rosnou. — Se eu não estivesse com tanta pressa, você iria me pagar.

— Ande logo, mana. — O rapaz rebateu, revirando os olhos e dando um leve empurrão em sua irmã. — E boa sorte.

— Não se diz "boa sorte" a uma performer, seu pirralho bobalhão.

— Quebre a perna e o pescoço, sua Slowpoke ranzinza.

Calista não respondeu, simplesmente lançou um sorriso por sobre o ombro enquanto seguia a passos rápidos para os camarins. Estando atrasada, encontrou muito poucas garotas ainda trocando de roupa ou retocando a maquiagem.

A jovem kantoniana rapidamente entrou em um dos provadores, tirando as calças jeans e o suéter cor de canela, substituindo-os por um vestido. O tempo todo, teve o cuidado de não olhar para o espelho de corpo inteiro na parede oposta. Quando terminou de se vestir, chutou as botas de couro preto para um lado e as substituiu por um par de sapatos de salto alto.

Só então Calista se voltou para o espelho, analisando criticamente seu vestido rosa claro com estampas geométricas pretas. A cor clara destacava seus cabelos negros, e as estampas escuras faziam sua pele parecer porcelana. O decote em V era profundo, com uma tira que prendia na base de seu pescoço como uma gargantilha, deixando suas costas nuas. A saia, um tanto mais curta do que o necessário, era leve e cheia de babados, cor de pêssego. Um modelo feminino, porém despretensioso.

— Talvez ... — A morena bateu levemente no queixo com o indicador e o dedo médio da mão direita, fitando pensativamente seu próprio reflexo. — Não sei. Acho que ainda falta alguma coisa.

Isso se chama nervosismo. Angel zombou. Relaxe. Você está linda.

— Não tenho tanta certeza.

A irmã de Ash fitou criticamente seu próprio reflexo. Não usava maquiagem, salvo pelos lábios pintados com batom coral, e nenhuma joia a não ser o colar com a Pedra Brilhante que Gary lhe dera quando começaram a namorar. Num gesto rápido a morena prendeu seus cabelos em um rabo de cavalo alto, e então sorriu.

— Agora sim. — Ela disse aprovadoramente. — Vamos nessa!

Calista praticamente correu para a área de reunião atrás do palco, parando imediatamente assim que pôs os olhos nela. Cynthia usava um vestido simples, cor de lavanda, o que destacava a cor incomum de seus olhos. O modelo com decote arredondado valorizava discretamente seu corpo e seu longo cabelo loiro caía em mechas onduladas por suas costas como uma cascata dourada. Ela mal precisava de adornos para parecer magnífica.

— Oi. — Calista disse ao se aproximar, esforçando-se para não deixar Cynthia perceber o quanto estava surpresa. — Desculpe pelo atraso. Culpa do Ash.

— Oi, Cal. Não se preocupe, seremos as últimas. — A loira respondeu, e então riu. — Ash nunca muda, não é?

— Nunca. — A morena concordou maliciosamente. — Aquele pirralho bobalhão.

— Ele quase foi desclassificado quando participou da Liga Sinnoh. — Cynthia contou. — Por dormir demais e chegar atrasado.

Calista conteve uma gargalhada e praticamente implorou por mais detalhes sobre aquela história. A campeã, porém, simplesmente lhe disse para perguntar a Ash.

— Você é uma boba, sabia? — A performer kantoniana declarou jocosamente. — Nem deve ser verdade. Aposto como está inventando tudo isso só para me atormentar.

Cynthia meramente riu. Em uma coisa Calista tinha razão: era verdade que adorava atormentá-la. As reações da jovem morena nunca deixavam de diverti-la. Interrompendo sua conversa antes que algo mais pudesse ser dito, uma assistente de palco se aproximou.

— Mademoiselle Calista. — A jovem disse timidamente. — Acabaram de me pedir para lhe entregar isto.

— Ora essa, outro presente! — Calista exclamou, tentando ao máximo conter um sorriso de deleite. — O que será dessa vez?

Abrindo o delicado embrulho colorido, a jovem se deparou com uma linda pulseira de flores, delicadas florações de cerejeira que, mais uma vez, combinavam perfeitamente com seu vestido.

— Ora, ora. — Cynthia comentou jocosamente. — Parece que alguém tem uma grande admiradora. Estenda a mão, eu a ajudo a colocar.

— Obrigada, Cynthia. — Calista sorriu. — Você é um amor.

— Me bajular não vai lhe ajudar, Cal.

— Espere um momento, Marisa. — A irmã de Ash disse para a assistente de palco, enquanto Cynthia agilmente prendia a pulseira florida ao redor de seu pulso. — Quem lhe pediu que me entregasse isso?

— Um dos recepcionistas. — A assistente de palco chamada Marisa respondeu. — Isso é tudo o que sei. Sinto muito não poder ajudar mais.

— Não se preocupe com isso. — Calista sorriu simpaticamente. — E muito obrigada.

— Ora, ora, Cal. — Cynthia zombou assim que as duas ficaram relativamente a sós mais uma vez. — Um admirador secreto?

— Pois é. — A morena disse, desdobrando o delicado embrulho para encontrar, como da vez anterior, um bilhete. — Começou depois do fiasco da minha apresentação. Acho que alguém está tentando me ajudar.

— Isso é bom. — A campeã declarou. — E esse alguém por acaso assinou o bilhete?

— Não. — Foi a resposta. — O bilhete só diz ... "Uma estrela de verdade não precisa de adornos para brilhar."

— Paradoxal dadas as circunstâncias, mas verdadeiro. — Cynthia comentou com aprovação. — O talento a tudo supera.

— Mas o trabalho duro supera o talento se não há esforço.

— Nisso você tem razão, Cal. — A loira declarou, abrindo um sorriso malicioso. —  Mas agora devo  admitir que agora até eu estou curiosa quanto a esse seu admirador secreto.

— Não tanto quanto eu, loira. Pode apostar.

Depois dessa breve conversa, as duas amigas sentaram-se lado a lado em silêncio, esperando por sua vez.

— Você não está nervosa? — A irmã de Ash inquiriu após alguns segundos.

— Nem um pouco. — Cynthia respondeu casualmente.

— Sério? Eu estou. — Calista confessou. — Sempre fico um pouco nervosa antes de uma performance.

— É, mas dessa vez é diferente. — A campeã a lembrou. — Não pense na plateia. Somos só você e eu.

— Ah, claro, e isso facilita tudo. — A morena disse ironicamente. — Bem, pelo menos vai ser mais fácil do que a caçada a Articuno.

— Sobre aquilo ...

— Você definitivamente estava errada. — Calista interrompeu jocosamente. — Admita. Você não esperava por aquele Moltres.

— Não mesmo. — A loira admitiu. — Mas você também não, sua cabeça de pedra, então nem pense em dizer que ganhou a aposta.

— Caramba, você não deixa passar nada! — A irmã de Ash exclamou, se rendendo a uma gargalhada. — Tudo bem, então nós duas estávamos erradas e ninguém ganhou a aposta. Ainda. Mas mesmo assim foi emocionante, não foi?

— Com certeza. — Foi a resposta. — Kanto tem lendas bem peculiares, não sei como nunca me interessei por elas antes.

— Peculiares demais, na minha opinião. E quentes demais também. Sinceramente, Kalos tem lendas mais interessantes.

Cynthia não conseguiu não sorrir, divertida por aquele trocadilho bobo.

— Só está dizendo isso porque você parece ter nascido aqui. — Provocou. — Na maior parte do tempo. Quando não está sendo teimosa, pelo menos.

— Engraçadinha. — Calista rebateu, brincalhona. — Mas é verdade. Me sinto mais à vontade aqui em Kalos do que em qualquer outro lugar. Gosto daqui. É uma região incrível.

— Artificial demais, na minha opinião. — Cynthia admitiu. — Tudo se resume a fama e aparência. É fútil e sufocante.

As duas ficaram em silêncio, ouvindo as outras performers serem chamadas para seus rounds classificatórios. Não tardaram a descobrir que o tema daquela exibição era o Quiz Pokemon. Duas duplas, com cada membro usando um pokemon, competiam em tarefas pelo direito de responder primeiro às perguntas dos juízes. A dupla que acertasse duas das três perguntas era declarada a vencedora e seguia para o próximo round.

— Espere só. — A morena disse, lançando um sorriso para Cynthia. — Esse primeiro round é nosso.

— Só tente não ficar muito para trás, Cal.

— Hey, a culpa não é minha se você é uma nerd metida a sabe tudo.

— E a culpa não é minha se você acha que conhecimento é perda de tempo.

— Ouch! Essa foi maldade, Cynthia. Você é cruel, sabia?

— Você mereceu. — A loira rebateu com um sorriso maroto. — Nem tente negar, cabeça de pedra.

Calista simplesmente revirou os olhos e as duas ficaram em silêncio. Não muito depois foram chamadas ao palco, juntamente com Serena e Shauna. A morena encontrou o olhar da namorada de seu irmão, que lhe abriu um sorriso. Era tanto um cumprimento quanto um desafio, e a jovem kantoniana o retribuiu. A competição começara. Que vencesse a melhor.

Ambas as duplas receberam togas de formatura, que vestiram antes de subirem ao palco e enfim assumirem seus lugares. Calista notou o tremor nas mãos de Cynthia, um fato que a loira tentava esconder.

Eu sabia. A morena pensou maliciosamente. Tinha certeza de que ela estava mentindo.

Mas sua diversão com o fato se mesclou com aprovação. Mesmo estando nervosa, Cynthia se esforçava para não demonstrar e fazer seu melhor. Era impossível não respeitar aquela atitude.

A primeira pergunta foi "que tipo de pokemon é imune a veneno?", e a tarefa foi uma corrida na qual os pokemon tinham que atingir o maior número possível de alvos durante o percurso.

IceFire e Togekiss competiram contra a Braixen de Serena e o Ivysaur de Shauna, que não tiveram a mínima chance. Antes que estivessem sequer na metade da tarefa, a dupla voadora já havia terminado. Cynthia assentiu para Calista, permitindo que a morena assumisse os holofotes.

— Tipos Aço e Venenosos são imunes a qualquer tipo de veneno, por mais poderoso que seja.

— Muito bem! Resposta correta!

A segunda pergunta foi "O que Cleffa, Togepi, Azurill, Bonsly e Mime Jr. tem em comum?". As duplas tiveram que enfrentar uma escalada, na qual Mirabelle e a Roserade de Cynthia perderam para o Pancham de Serena e a Gothitha de Shauna. As meninas responderam corretamente, dizendo que todos aqueles eram bebês pokemon.

A tensão envolveu o palco como um grosso cobertor. Com as duplas empatadas, a próxima e última pergunta definiria as vencedoras.

— Muito bem ... — Monsieur Pierre embaralhou os cartões que tinha nas mãos, nos quais estavam escritas as perguntas, até enfim erguer um deles. — Segundo a lenda, que pokemon salvou o mundo do congelamento durante a Era do Gelo?

A prova foi alcançar uma pokebola encravada em um pilar de rocha sólida, removendo-a e levando-a de volta à linha de chegada. Mirabelle e Roserade, combinando Explosão Lunar e Esfera de Energia, foram as vencedoras. Calista mal conseguiu conter o sorriso ao trocar um olhar com Cynthia. Sabia que aquela vitória já era delas.

— Volcarona. — A loira respondeu. — O Pokemon Sol da região de Unova.

A resposta estava correta, o que as classificou para o round das batalhas de exibição. Calista finalmente se permitiu sorrir, agradecendo a campeã com o olhar.

— Serena! — A jovem chamou ao descer do palco. — Serena, espere!

A performer kalosiana se virou para olhá-la, e Calista sentiu uma breve pontada de culpa ao ver o desapontamento na expressão dela.

— Parabéns, Caly. — A menina disse sinceramente, embora seu tom fosse ligeiramente melancólico. — Quebre a perna.

— Obrigada. — A irmã de Ash sorriu. — E vocês foram ótimas. Não deixe ninguém dizer o contrário.

Serena sorriu, jogando os braços ao redor da morena em um abraço breve, porém sincero. Ela e Shauna, com as outras duplas que não haviam conseguido se classificar para o round final, se dirigiram aos camarins para trocar de roupa.

Calista correu de volta para junto de Cynthia no momento em que a ordem das batalhas de exibição era anunciada. Elas seriam as primeiras, contra duas garotas chamadas Amber e Minerva.

Amber era uma loira pequena que não parecia ter mais de doze anos. Sardas, olhos verde-água, maria-chiquinha e vestido de babados cor de rosa. A típica bonequinha kalosiana. Minerva, por sua vez, era uma adolescente de cabelos castanho-arruivados, com intensos olhos cor de chocolate. Usava um simples vestido branco e sorriu educadamente para cumprimentar suas duas oponentes.

— Pronta para sua surpresa, campeã?

— Tenho até medo de descobrir o que é.

— Covarde.

O pokemon de Amber era um Dedenne, e o de Minerva era uma Weavile. Cynthia escolheu seu Lucario, e Calista escolheu um Dragonair. Nem mesmo a campeã de Sinnoh conseguiu conter uma exclamação maravilhada ao ver a pokemon tipo Dragão.

Aquela era Ryu, a Dragonair que Calista recebera como presente de uma amiga da região de Johto. Mas Ryu não era uma Dragonair comum. Seu longo corpo serpentino era de um belo tom de cor de rosa, enquanto as joias em seu pescoço e cauda cintilavam com um belo tom dourado, como se fossem realmente feitas de ouro.

— Essa era a sua surpresa?

— Era sim. O que achou da minha garota?

— Ela é magnífica. — Cynthia admitiu. — Mas veremos se consegue se sair bem em batalha.

Sendo ambos mais rápidos, Dedenne e Weavile foram os primeiros a atacar. O Pokemon Garra Afiada lançou um Raio de Gelo, enquanto o pokemon tipo Elétrico/Fada usava Trovão. Lucario facilmente desviou usando Velocidade Extrema. Os orbes na cauda de Ryu brilharam enquanto a Dragonair serpenteava e de suas joias liberava um tornado de vento púrpura. O ataque Twister foi tão poderoso que deteve o raio gelado envolto por faíscas elétricas lançado pelas adversárias.

A cauda da Dragonair então foi envolta por espirais de água. Calista trocou um olhar rápido com Cynthia, que assentiu e ordenou a seu Lucario que usasse Terremoto. No momento em que os tremores começaram Ryu bateu com a cauda no chão, enviando as espirais de água da Aqua Cauda diretamente para os oponentes, com sua força multiplicada pelo impulso.

Weavile saltou para evitar ser atingida, atacando com Corte Noturno. Lucario usou Velocidade Extrema mais uma vez. Ryu usou sua poderosa cauda para lhe dar impulso enquanto o Pokemon Aura saltava, girando em pleno ar para agarrar o oponente pelo braço e arremessá-lo para o chão, aterrissando no palco com graciosidade. O golpe, porém, havia sido apenas uma distração. Assim que o Lucario de Cynthia tocou o palco foi atingido por um golpe Cavar de Dedenne que o derrubou.

— Droga! — Calista exclamou. — Eu não esperava por isso. Elas são boas.

— E nós também. — Cynthia respondeu. — Não perca o foco, Cal, é isso que elas querem.

Calista assentiu, forçando a si mesma a pensar apenas na batalha. Weavile já estava de volta ao ataque, usando Garra Esmagadora em Lucario antes que o Pokemon Aura pudesse se levantar.

— Ah, não, você não vai! — A morena rosnou. — Ryu, Trovão!

Os orbes da Dragonair brilharam como pequenos sóis enquanto seu corpo era envolto por faíscas. A eletricidade se reuniu acima de sua cabeça, em um raio poderoso que ela lançou contra Weavile, bloqueando o ataque da pokemon Gelo/Sombrio.

— Obrigada. — A campeã sorriu. — Agora, Lucario, Corpo a Corpo.

O pokemon guerreiro se pôs de pé em um salto, agarrando Weavile antes que esta pudesse se afastar e atingindo-a com poderosos socos a uma velocidade tão incrível que os golpes mal eram visíveis. Quando terminou, pulou para trás bem a tempo de evitar um Twister lançado por Ryu.

O golpe tipo Dragão, embora não muito efetivo, lançou Weavile do outro lado do palco e a colou contra a parede. Dedenne aproveitou a oportunidade para usar Chamego, paralisando Lucario.

— Droga! — Calista murmurou. — Agora estamos encrencadas. Isso vai nos custar muitos pontos.

— Ainda não. — Cynthia respondeu. — Eu tenho uma ideia.

A irmã de Ash simplesmente encarou sua parceira, com um sorriso se formando nos lábios ao compreender o plano da campeã em sua totalidade.

— Tem certeza, campeã?

— Absoluta. Confie em mim.

A morena assentiu, ordenando que Ryu usasse Twister mais uma vez. Lucario usou Pulso Sombrio. Os dois movimentos se misturaram, criando um furacão negro no meio do palco. O golpe arremessou Weavile para o alto e, quando a Pokemon Garra afiada caiu, foi atingida com uma chicotada poderosa da cauda de Ryu. Calista se conteve para não soltar um grito de vitória.

Dedenne, porém, não fora atingido, tendo usado Cavar para escapar. O Pokemon Antena pulou para fora de seu túnel, agarrando Ryu pela cauda e usando Jogo Duro, super efetivo contra o tipo Dragão da adversária. A Dragonair caiu com um grito de dor.

Lucario entrou em cena, investindo com Corpo a Corpo. Isso distraiu o pokemon tipo Elétrico por tempo suficiente para que Ryu pudesse se recuperar.

— É melhor acabarmos logo com isso. — Calista disse. — Antes que essa garota acabe conosco.

— Até parece que eu deixaria isso acontecer, Cal.

A morena sorriu, seus olhos mais uma vez encontrando os da campeã naquela estranha comunhão sem palavras, em que as duas sabiam instintivamente o que fazer.

Calista ordenou que Ryu usasse Meteoro do Dragão exatamente quando Dedenne lançava um ataque Trovão contra Lucario. O Pokemon Aura saltou, usando Velocidade Extrema para ganhar impulso, pulando sobre os meteoros do ataque tipo Dragão e subindo cada vez mais. Amber, tentando ser esperta, ordenou que Dedenne usasse Cavar para evitar qualquer que fosse o ataque do guerreiro de aço. Lucario então usou Terremoto.

Ryu colocou a longa cauda na boca do túnel cavado por Dedenne, aproveitando os tremores causados por seu aliado para enviar as ondas de seu ataque Aqua Cauda em todas as direções pelo subterrâneo. O Pokemon Antena foi lançado para fora em um pequeno gêiser e atingido em pleno ar por Lucario com Velocidade Extrema. Quando o pequeno pokemon elétrico caiu novamente sobre o palco, estava desmaiado e incapaz de batalhar.

A plateia explodiu em uma ovação, e as duas treinadoras se curvaram em agradecimento antes de se se juntarem às outras performers, esperando pelo resultado final do evento.

— Belo trabalho de equipe. — Cynthia elogiou.  — Vocês foram incríveis, Cal!

— Ah, pare. — Calista respondeu humildemente, mas seu sorriso era tão animado quanto o da campeã. — Não teríamos vencido se não fossem as suas estratégias.

— E foram as suas combinações que nos ganharam aqueles aplausos no final. Dê a si mesma algum crédito, Calista.

— Não seja humilde. — Calista rebateu — Você sabe que eu não teria vencido sozinha. Eu te devo uma.

— Que nada. — A campeã respondeu. — Foi divertido. Obrigada pela oportunidade, Cal.

— Obrigada a você por ter feito isso por mim. — A morena disse calorosamente. — Mas tenho medo de que não tenhamos marcado pontos suficientes. Aquelas duas conseguiram alguns golpes muito bons. Especialmente com Dedenne tendo paralisado seu Lucario. Mesmo que não tenha nos atrapalhado, uma condição de status pode custar muitos pontos na contagem final.

— Cal, relaxe. — Cynthia praticamente ordenou. — Nós vencemos, com certeza.

Calista não respondeu. Mais uma vez, Cynthia sabia exatamente o que ela precisava ouvir. As duas ficaram em silêncio, esperando. Ryu enrolou seu longo corpo ao redor de sua treinadora, descansando a cabeça em seu ombro com um murmúrio de satisfação.

— Você foi a verdadeira estrela. — Calista disse, aninhando a bochecha da pokemon em sua mão.  — Aquela batalha foi ótima, Ryu.

A Dragonair gorjeou suavemente, cutucando a bochecha de sua treinadora com o focinho.

— Sua sorte é inacreditável. — A campeã declarou. — Quantos pokemon brilhantes você tem, afinal?

— Hum ... — A jovem fingiu pensar apenas para provocar sua amiga. — Seis.

— Seis?! — Nem mesmo Cynthia conseguiu não se surpreender com aquilo. — Tem certeza de que você é realmente humana, Cal? Essa sua sorte não pode ser natural.

— Talvez eu seja uma fada.

Isso você definitivamente não é. Um dragão, talvez. Um Hydreigon disfarçado.

— Há há há, que engraçado. — A irmã de Ash revirou os olhos. — Estou morrendo de rir. Você nunca se cansa de me atormentar, campeã?

A campeã lhe dirigiu um olhar astuto, seus lábios se curvando em um sorriso.

— Serviu para distrair você do seu nervosismo, não foi?

— Você é inacreditável, Cynthia. — Calista balançou a cabeça, rindo ao perceber a verdadeira intenção de sua amiga. — Mas obrigada por isso.

As duas ficaram em silêncio depois disso. Exatamente como Cynthia previra, foram declaradas vencedoras quase que por unanimidade. Calista soltou um suspiro audível de alívio quando o resultado foi anunciado.

— Vamos lá, loira. — Ela disse depois que todas as formalidades foram cumpridas. — Vamos tirar essas fantasias.

Uma vez nos camarins, Calista rapidamente trocou o vestido por jeans e suéter, calçando novamente suas confortáveis botas de couro. Quando terminou, pôde ouvir Cynthia ainda lutando com o zíper de seu vestido no provador ao lado.

— Droga! — A campeã murmurou. — Sua coisinha perversa!

— Cynthia. — Calista chamou, tentando não rir. — Quer que eu a ajude?

— Está tudo bem, Cal. Você não precisa ...

— Apenas aceite a ajuda, loira. É tão difícil assim, ou essa atitude é reservada a mim?

Cynthia abriu um sorriso, divertindo-se ao reconhecer suas próprias palavras e perceber que Calista tinha estado esperando pelo momento certo de se vingar por aquele comentário.

— Certo. — A loira cedeu. — Obrigada.

A campeã abriu a cortina do provador, permitindo que Calista a ajudasse. Ela abriu o zíper do vestido em um único movimento experiente. 

— Pronto. — A morena disse. — Que tal sairmos para dar um passeio? Não quero encarar a multidão de novo.

A loira assentiu em resposta, surpresa com o convite, e correu para terminar de se trocar. Calista abriu um leve sorriso ao ver Cynthia momentos depois, usando calças jeans e um suéter roxo que ficava largo bastante para disfarçar as formas de seu corpo.

— Ora, ora. — A performer kantoniana comentou. — Você gosta mesmo de se esconder.

— Prefiro conforto à beleza. — A loira rebateu. — Não vá me dizer que a futilidade kalosiana já afetou você?

— Não, eu entendo bem o que você quer dizer. Viver de aparências se torna exaustivo depois de algum tempo. É o tipo de coisa que pode nos consumir completamente se não tomarmos cuidado. — A expressão séria da morena se desfez em um sorriso caloroso. — Mas é fácil não se importar com as aparências quando se é linda.

Cynthia foi pega de surpresa pelo comentário, e sentiu suas bochechas esquentarem, xingando a si mesma em pensamento por corar como uma adolescente.

— Linda? — Repetiu, tentando disfarçar sua incredulidade. — É isso que você realmente pensa?

— Eu e 100% das pessoas em Sinnoh. — A morena respondeu, rindo. — Não me diga que você nunca percebeu?

— De certa forma. Eu só nunca me importei com isso.

— O que só a torna mais incrível. — Calista rebateu. — Pronta para sair daqui?

Cynthia assentiu e as duas escaparam pela porta dos fundos, rindo como duas garotinhas travessas.

— Ainda bem que você concordou! — A irmã de Ash disse — Aqueles repórteres ... Argh! Conheço alguns deles, e são um pesadelo. Provavelmente tentariam creditar nossa vitória de hoje à sua reputação como campeã, só para me desmoralizar.

— É, eu sei. Por isso concordei em sair de lá. Eu também não iria querer enfrentar algo desse tipo.

— Mas posso adivinhar uma coisa que você vai querer. — Calista sorriu. — Sorvete. Conheço uma sorveteria aqui perto. O que me diz?

Isso capturou a atenção da loira, com certeza. Calista praticamente pôde ver estrelas naqueles olhos cinzentos, o que não a surpreendeu. Qualquer um que conhecesse a campeã de Sinnoh pelo menos um pouco sabia o quanto Cynthia era louca por sorvete.

— Ótima ideia! — Ela exclamou, animada.

— Mas eu vou pedir. — A jovem performer declarou. — Senão ficaremos lá até amanhã.

— Ei! — Cynthia protestou, fingindo-se ofendida. — Não sou tão indecisa assim.

— Qual sabor você quer, então?

— Chocolate. — A loira respondeu de bate-pronto. — Não ... Morango ... Talvez baunilha ...

Calista caiu na gargalhada.

— Viu só? — Provocou — Eu vou pedir, e ponto final.

— Está bem. — A campeã cedeu, rindo. — Acho que não posso argumentar depois dessa.

E Cynthia não se importava por Calista assumir o controle, o que surpreendeu até a si mesma.

— Pronto. — A morena disse minutos depois. — Baunilha com calda de chocolate.

A campeã pareceu surpresa ao aceitar o sorvete.

— Como sabia que esse é meu sabor favorito?

— Você não era a única prestando atenção. — A irmã de Ash admitiu. — Você sempre fica indecisa, mas sempre acaba pedindo o mesmo sabor todas as vezes.

— Estava de olho em mim, Cal?

— Engraçadinha. — Calista rebateu ironicamente. — Não conhece o ditado "mantenha seus amigos próximos e seus inimigos mais próximos ainda"?

— Até parece. — A loira provocou . — Aquilo era tudo encenação.

— Tem razão. — Calista admitiu calorosamente. — Eu nunca odiei você, somente o fato de não conseguir te vencer. E o fato de você ser uma sabe tudo. E irritante ...

— Já entendi! — Cynthia interrompeu acidamente. — Quanto a me vencer, você já fez isso.

— Ainda não. Não completamos a batalha, lembra? Aquilo não conta.

— E você ainda diz que o Ash é orgulhoso. — A campeã provocou.

— Que seja. Mas não vou contar vitória até vencer você em uma batalha completa. Aquilo foi, no melhor dos casos, um empate.

Cynthia simplesmente balançou a cabeça, se divertindo às custas do orgulho de sua amiga. As duas decidiram não ficar na sorveteria, temendo encontrar alguém vindo da Exibição Pokemon recém encerrada. Ao invés disso, caminharam sem rumo por alguns minutos, apreciando seus sorvetes. Enfim decidiram parar quando chegaram ao píer, observando as ondas revoltas do mar.

Depois de um longo silêncio, Calista ficou surpresa ao ver Cynthia lhe estender o caderno com capa de couro, o qual se lembrava de vê-la lendo algumas vezes quando a loira a visitara no hospital.

— Leia. — A campeã simplesmente. — Mas tenho uma condição: quero que me prometa segredo. Não diga uma palavra sobre isso a ninguém, nem mesmo ao Ash.

Antes que Calista pudesse responder ou sequer pegar o caderno, seu celular tocou. A morena atendeu sem nem mesmo olhar.

— Caly?

Era Ash. A voz se seu irmão mais novo a trouxe de volta à realidade com um choque.

— O que foi, maninho?

— Onde você se meteu? Estamos te procurando!

— Desculpe. Cynthia e eu saímos para tomar sorvete. Já vamos voltar.

— Certo. Vou avisar os outros.

Antes de desligar, Calista ainda ouviu Ash murmurar algo que soava como "mulher maluca". Ela riu. Aquilo era típico de seu irmão.

— É melhor voltarmos. — A jovem kantoniana disse.

Cynthia assentiu e as duas voltaram, caminhando em um silêncio ainda mais pesado do que antes. O livro de capa de couro parecia queimar nas mãos de Calista.

— Cal ... — A campeã enfim quebrou o silêncio. — Fiquei curiosa. Quando Tapu Fini apareceu, você a reconheceu imediatamente. Como sabia?

— Pesquisei um pouco enquanto estive em Alola. Acontece que Tapu Fini é considerada uma deidade naquela região. Você deveria saber. Lusamine nunca mencionou?

— Não. Nós nunca falamos sobre trabalho. — A loira respondeu. — Mas sim, eu conheço a lenda sobre os Tapus. Os quatro são defensores jurados de Alola, cada qual habitando uma ilha. Só não pensei que você tivesse se interessado por isso.

— Tive pouco tempo. — A morena admitiu. — Basicamente tudo o que pude fazer foi ler sobre o assunto. Mas tudo o que li só me deixou mais curiosa.

— Cuidado, Cal, você está começando a falar igualzinho a mim. 

— Talvez nerdice seja contagiosa. — Calista provocou. — Falando nisso ...  Tapu Fini já falou com você?

A pergunta fez a campeã arquear uma sobrancelha, incrédula.

— Pokemons não falam, Cal.

— Alguns lendários falam. — Calista rebateu, satisfeita por saber algo que sua amiga não sabia. — Quando escolhem um treinador. Bem ... Não é exatamente falar. É telepatia. Mas você entendeu o que eu quis dizer. Depois que o elo é estabelecido, essa conexão telepática se forma. Angel me contou.

Cynthia desviou o olhar, parecendo pensativa. Calista não disse mais nada, simplesmente caminhou ao seu lado em silêncio, deixando-a absorver aquelas informações. Chegaram ao teatro de Exibição Pokemon sem terem dito mais nenhuma palavra.

— Ash com certeza vai querer planejar algo para comemorar nossa vitória de hoje. — A morena disse. — Quer vir com a gente?

— Eu não posso. — Cynthia respondeu. — Preciso confirmar uma teoria. Podemos nos ver amanhã?

— É claro.

A campeã sorriu, se despediu e desapareceu no meio da multidão. Calista decidiu não pensar sobre aquela partida apressada e foi encontrar seu irmão.


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