Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 23
Reações




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— Eu ainda não acredito no que vocês fizeram!

Cynthia não ergueu os olhos do texto que escrevia, mas Calista viu seus lábios se curvarem em um sorriso, delatando o quanto a loira se divertia com a sua surpresa.

— Na verdade, foi tudo ideia de Diantha. — A campeã confessou. — E, acredite eu mesma ainda estou muito surpresa com isso.

— Mas como conseguiram fazer tudo aquilo?

— Bem, não vou mentir: foi especialmente graças ao seu pai. Ele forneceu as informações que permitiram que tudo desse certo. A propósito ... Como estão as coisas em Kalos?

— Calmas. Muito mais do que eu esperava.

— Diantha tinha razão, então. De novo. Que droga!

— O que?! — Calista arquejou, surpresa. — Eu ouvi certo, loira?

— Nem comece, Cal. — A campeã rebateu jocosamente. — E, se algum dia contar a ela que eu disse isso, juro que nunca mais falo com você.

— Está bem, está bem. — A irmã de Ash revirou os olhos, embora estivesse rindo. — Caramba, Cynth, e você ainda diz que eu sou orgulhosa.

Cynthia estava prestes a retrucar, mas se interrompeu ao ouvir o toque do celular de sua amiga.

— Desculpe por isso. — A jovem kantoniana disse. — É melhor eu atender. Pode ser importante.

A campeã deu de ombros delicadamente e voltou a escrever, dando a entender que não se importaria nem um pouco de esperar Calista atender à chamada.

— Calista?

O coração da irmã de Ash quase parou naquele instante, ao reconhecer quem falava. Havia seis anos que não ouvia a voz de seu ex noivo, desde o dia em que haviam rompido.

— Gary?! É você mesmo?

— É, sou eu. — O rapaz respondeu timidamente. — E aí, como vão as coisas?

Calista trincou os dentes, sua surpresa sendo substituída por um misto de raiva e incredulidade. A raiva, porém, vencia por uma grande margem.

— Sem conversa fiada, Gary. — A morena rosnou. — Quer que eu acredite que, depois de seis anos, você de repente se importa em saber como eu estou? Está subestimando a minha inteligência, rapaz. Ande logo, diga o que realmente quer.

— Ei, calma! Eu liguei para me desculpar. — O rapaz parecia dolorosamente sincero. — Sinto muito, Caly. Eu devia ter acreditado em você, mesmo sem ter entendido.

— É, devia mesmo.

— Caly ... — Havia saudade na voz do jovem pesquisador, saudade e uma ternura genuína. — Sinto muito. Eu sou um idiota, ok? O maior imbecil na face da Terra. A verdade é que ... Te deixar ir foi o pior erro que eu já cometi. Será que você pode ao menos tentar me dar uma segunda chance?

Calista tentou se lembrar da raiva que sentira de Gary no dia em que rompera o noivado, a raiva que ele merecia por ter-lhe virado as costas quando ela mais precisava de apoio. Para sua surpresa, não conseguiu. Sentia apenas decepção e um vazio imenso, uma sensação de perda que era quase uma dor física.

— Você está certo sobre ser um idiota. — A morena declarou. — Mas tudo bem, Gary. Eu sempre soube disso. Quanto a perdoar você ... Bem ... Veremos sobre isso. É só o que posso prometer.

— Vou provar que mereço seu perdão, Caly. Pode acreditar. — Gary prometeu. — Nos vemos na Liga de Kalos. E ... Eu te amo, acredite ou não.

Antes que Calista pudesse responder, uma voz soou chamando o nome de seu ex noivo. Gary desligou apressadamente e a morena largou o celular, voltando os olhos para seu computador para ver nada além da tela completamente escura indicando uma chamada de vídeo encerrada. Segundos depois, seu celular vibrou com uma nova mensagem. Era de Cynthia.

Cuidado, Cal. Não deixe que ele a machuque de novo.

Ela tem razão. Angel, que estava empoleirada na cama da morena, comentou. Esse garoto já magoou você uma vez. Ele lhe virou as costas.

— Mesmo assim, Angel. — Calista respondeu, virando-se para olhar a Pokemon Melodia nos olhos. — Seria injusto não dar a ele uma segunda chance, não acha?

Só me diga uma coisa, e juro que nunca mais tocarei nesse assunto. A Meloetta disse. Você verdadeiramente o ama?

— Eu ... — A morena hesitou, pensando por um longo momento antes de por fim assentir. — Eu já não tenho certeza, Angel. Não sei de mais nada.

Era exatamente o que eu temia. A pokemon balançou a cabeça, fitando sua jovem parceira com pesar. Tome cuidado, Caly. É tudo o que eu lhe peço.

Calista assentiu mais uma vez, mas seu celular voltou a tocar antes que pudesse elaborar uma resposta mais complexa. Dessa vez era um número bloqueado. Curiosa, a jovem decidiu atender apenas para ver do que se tratava.

— Olá, princesa.

A voz familiar fez seu coração disparar e, sem que percebesse, suas feições relaxaram em um largo sorriso de alívio.

— Papai! — Calista exclamou. — O senhor está bem!

— É claro que sim. — Giovanni asseverou. — Não pensou que aqueles policiais realmente conseguiriam me prender, pensou?

— Nem por um segundo. Eu só ... Só fiquei preocupada.

— É claro que ficou. — O líder da Equipe Rocket comentou, seu tom mais caloroso do que o que usaria com qualquer outra pessoa. — Escute, Calista, tem algo que preciso que você faça por mim.

A morena imediatamente ficou séria, sua mente se voltando para os negócios.

— Do que se trata?

— Quero que seja a embaixatriz da Equipe Rocket e leve adiante um de meus ... Negócios inacabados.

— Negócios inacabados?

— Não posso ser mais específico agora. — Giovanni declarou. — Se aceitar, entrarei em contato com meu parceiro e marcarei um encontro entre vocês.

— Está bem, chefe. — A morena cedeu friamente. — Eu aceito a missão.

— Princesa Rocket, você me orgulha. — Seu pai disse, e ela teve certeza da sinceridade daquela declaração. — Enviarei os detalhes mais tarde, assim que tudo estiver acertado.

— Estarei esperando.

Ao desligar, a morena esfregou de leve as têmporas com os polegares de ambas as mãos. Sentia uma dor de cabeça começando a se formar.

No dia seguinte, às três horas da tarde, a jovem descia de um táxi em frente à famosa Torre Prisma. Momentos depois, uma mulher veio ao seu encontro. Era mignon, de traços finos e com cabelos curtos pintados de um roxo intenso. E o mais importante: usava uma jaqueta de couro vermelha, o sinal que Giovanni a instruíra a procurar.

— Princesa. — A mulher de cabelos roxos disse, sua voz apenas alta o suficiente para que Calista a compreendesse. — Venha comigo.

Calista meramente assentiu, seguindo silenciosamente atrás da desconhecida. Assim que atingiram a relativa quietude de uma das ruas laterais, a mulher lançou-lhe um meio sorriso, algo entre um gesto amigável e um inconfundível sinal de perigo.

— Devo admitir, Princesa. — Ela disse. — Você é mais bonita do que eu esperava. Uma surpresa bem agradável.

Mais uma vez a jovem simplesmente assentiu em agradecimento e reconhecimento ao elogio.

Logo estavam diante do prédio vermelho já tão familiar à irmã de Ash: Café Lysandre. Longe de se deter, sua acompanhante empurrou delicadamente a porta e fez sinal com a cabeça para que Calista a seguisse para dentro. Surpresa, a morena obedeceu, sendo guiada através do estabelecimento até um discreto lance de escadas quase oculto na parte traseira do prédio. Subiram os degraus e seguiram por um curto corredor acarpetado que terminava em uma porta laqueada em dourado. A mulher de cabelos roxos bateu apenas uma vez, uma batida firme que ressoou pelo corredor deserto.

— Entre. — Uma profunda voz masculina ordenou.

A um gesto de sua guia misteriosa, Calista assentiu e estendeu a mão para a maçaneta dourada, que girou suavemente. A porta se abriu sem ruído para revelar um confortável escritório.

A sala era espaçosa, porém recheada com diversas estantes de livros. Ao fundo, perto de uma janela com uma vista panorâmica da rua abaixo, descansava uma escrivaninha de design antigo. Na parede oposta havia uma lareira, apagada devido ao tempo ameno da época. Em uma das poltronas de aparência confortável em frente à lareira sentava-se um homem ruivo que a jovem kantoniana imediatamente reconheceu.

— Então ...— Lysandre disse com visível satisfação, levantando-se com uma graça atípica para um homem tão grande. — Finalmente tenho o prazer de conhecer a infame Princesa Rocket. É uma honra, mademoiselle.

O ruivo se curvou em uma mesura, tomando a mão direita da jovem entre as suas. Então, em um gesto cavalheiresco de uma época perdida que fez os olhos verdes de Calista se arregalarem sob os óculos de sol de armação extragrande usados para esconder sua identidade, beijou-lhe suavemente as costas da mão.

— A honra é toda minha, monsieur. — A morena disse formalmente.

— Por favor, sente-se. — Lysandre convidou gentilmente. — Temos muito a discutir.

E foi assim que Calista se tornou uma agente dupla, membro tanto da Equipe Rocket quanto da temida Equipe Flare.

Um mês depois, belamente maquiada e usando um luxuoso vestido de noite azul-escuro, a filha de Giovanni caminhava apressadamente pelo corredor vazio na direção do camarote de honra do qual prestigiaria a abertura da Liga de Kalos.

— Droga, Mirabelle! — Calista exclamou, ouvindo seus saltos altos estalarem enquanto andava. — Você precisava mesmo insistir em treinar até o último segundo? Nós nem vamos competir!

Mirabelle, a Sylveon, resmungou baixinho em resposta. A morena ia revidar tal atitude, mas foi impedida ao trombar com alguém.

— Cuidado, Lina. — Uma voz familiar disse, enquanto um par de mãos fortes a segurava pelos antebraços para ajudá-la a manter o equilíbrio. — Apressada como sempre, minha menina.

A jovem ergueu os olhos, seu rosto se iluminando com um sorriso largo de prazer e surpresa.

— Professor Carvalho! — Ela exclamou, jogando-se nos braços do velho pesquisador pokemon. — Nossa, é muito bom ver o senhor!

— Igualmente, minha menina. — O professor respondeu com um sorriso afetuoso. — Como tem estado?

— Bem, na medida do possível. — Foi a resposta. — O senhor veio para Kalos sozinho?

— Não. — Samuel Carvalho respondeu, achando graça da pergunta. — Achou mesmo que sua mãe perderia a oportunidade de ver você?

A voz de Dehlia chamando o nome de sua filha mais velha se fez ouvir antes que a jovem pudesse responder. Segundos depois, Calista estava nos braços de sua mãe.

— Mãe. — A morena disse baixinho. — Senti tanta saudade.

— Não tanto quanto eu, meu amor. — Dehlia disse carinhosamente. — Minha nossa, você está tão linda!

— Obrigada, mamãe.

— Mãe? Professor? — Uma voz masculina muito familiar soou. — Andem logo, vocês dois. Vão perder o começo das ...

Ash se interrompeu abruptamente ao ver com quem sua mãe e o professor Carvalho estavam conversando. Por um breve momento os dois irmãos apenas se encararam em silêncio, então o rapaz fechou a distância entre eles em passos largos e tomou sua irmã mais velha nos braços, num abraço quase sufocante.

— Me perdoe mana. — Ele disse. — Me desculpe de verdade.

— É claro que sim. — Calista respondeu, retribuindo o abraço de seu irmão. — Claro que perdoo você, seu pirralho idiota.

— Ei, Ashzinho, não seja possessivo. — Gary provocou. — Me deixe dizer um oi também.

— Sai pra lá, Gary. — Ash respondeu acidamente.

O rapaz moreno soltou Calista, que olhou para seu ex noivo com desconfiança.

— Oi, Caly. — O jovem pesquisador disse, abrindo um sorriso incerto. — Senti sua falta.

— É bom te ver, Gary.

Tanto o tom frio de suas palavras quanto o fato de Calista não ter feito menção alguma de se aproximar do rapaz falaram por si só. Por um momento, um flash de mágoa passou pelos olhos castanhos do neto do professor Carvalho, mas ele rapidamente disfarçou o fato.

— Ei, mana. — Ash chamou, quebrando a súbita tensão. — Por que não vem assistir às batalhas com a gente?

— Não está competindo, Ash?

— Nah, não esse ano. É melhor eu treinar mais um pouco antes de tentar de novo. — O rapaz respondeu, dando de ombros. — E aí, você vem?

— Eu adoraria. — Calista disse. — Mas não posso. Preciso me juntar a Diantha e aos outros no camarote daqui a pouco.

— Não tem problema. — O moreno declarou. — Podemos nos encontrar depois.

— Vou adorar. — A jovem kantoniana concordou com um sorriso. — Nos vemos depois, pirralho.

Com um último sorriso para seu irmão e um beijo rápido na bochecha de sua mãe, a jovem seguiu apressada para o camarote de honra. Não seria em Kalos a reunião daquele ano, então apenas Diantha e Cynthia estavam presentes. Diantha porque jamais perderia aquele evento, e a campeã de Sinnoh apenas pelo fato de seu irmão ser o atual campeão de Kalos.

— Ainda tenho esperanças. — Ela dizia à atriz kalosiana quando Calista entrou. — Quem sabe? Esse pode ser o ano em que alguém finalmente vai derrotar aquele meu irmãozinho idiota.

— Desista, loira. — A irmã de Ash declarou ao se juntar a suas duas amigas. — Além do mais, você está orgulhosa dele. Admita.

— Nem pensar. — Cynthia rebateu. — Além do mais, foi fácil demais para ele conseguir o título. Mal vale a pena.

— Fácil? — Diantha repetiu, estreitando perigosamente seus olhos azuis. — Então por que não temos uma batalha, Cynthia? Uma melhor de um contra um.

— Talvez seja uma boa ideia. Mas sabemos quem será a vencedora.

— Claro. — A atriz kalosiana sorriu maliciosamente. — Eu.

— Sonhe. — A loira rebateu, rindo. — Não me admira que tenha perdido, Diantha, sendo tão arrogante.

A conversa foi interrompida pelo anúncio do começo da Liga. Ao contrário de sua primeira batalha seis anos antes, Hitoshi não parecia sentir necessidade de se exibir ao entrar na arena. Ele foi discreto, sorrindo ao ver que seu oponente era, mais uma vez, Alain.

— Você nunca desiste? — O irmão de Cynthia zombou.

— Não até eu vencer. — Foi a resposta seca do rapaz.

Os dois enviaram seus pokemon ao mesmo tempo. Foi Charizard contra Tyranitar.

O pokemon tipo Fogo atacou primeiro com Asa de Aço, ao que o Pokemon Armadura respondeu imediatamente usando Obelisco. O Pokémon Chama voou alto e evitou o ataque super efetivo, retaliando em seguida com Garra do Dragão.

Se aproveitando da proximidade do adversário, Tyranitar agarrou Charizard por uma das asas para impedi-lo de fugir e usou Mastigada. Hitoshi rosnou de raiva e ordenou que seu pokemon se libertasse. Isso foi feito com um Soco Trovoada diretamente na cara do adversário.

Charizard e Hitoshi cruzaram os braços em sincronia numa atitude arrogante, encarando Alain e Tyranitar. O rapaz fez uma careta de raiva.

— Isso não é bom. — Calista comentou. — Hitoshi está deixando Alain furioso.

— Bem ... — Diantha respondeu. — É o jeito dele. Além do mais, é uma batalha de exibição. Duvido que até mesmo Hitoshi consiga fazer muitos estragos.

— Só diz isso porque não o conhece tão bem quanto eu. — Cynthia declarou.

E a campeã loira estava certa. Quando Tyranitar retaliou o ataque Super Aquecer de Charizard usando Pulso Sombrio, a colisão dos dois ataques causou uma explosão quase ensurdecedora, além de uma poderosa onda de calor.

— Com licença.

Calista e Cynthia trocaram um olhar desconfiado ao ver Diantha deixar o camarote de honra. Como suspeitavam, a ex campeã abordou Hitoshi assim que a batalha terminou, culminando numa vitória do jovem treinador de Sinnoh.

— O que você acha, Cynth? Devemos ir até lá?

— Não há como evitar. — A loira respondeu. — Eu juro, esse Hitoshi. Que garoto idiota!

Ao se aproximarem dos dois, viram o rapaz rubro de raiva. Diantha tinha os braços cruzados, mas fora isso parecia tão serena como sempre. Exceto, é claro, pelos olhos azuis que luziam de raiva.

— Não cabe a você. — O irmão de Cynthia disse. — Da próxima vez, não tente me dizer como batalhar. 

— Você viu o que sua "batalha" causou? — Diantha retrucou com acidez. — Aquela explosão poderia ter ferido metade de audiência.

— E daí? — O rapaz rebateu. — Eu venci, não foi? É só isso que importa.

Nem mesmo a fachada sempre perfeita de Diantha foi capaz de resistir a essa declaração. Calista viu o momento exato em que a atriz perdeu o controle, viu a forma como aqueles olhos azuis ensombreceram. Um momento depois sua mão direita atingia o rosto de Hitoshi, num tapa tão forte que fez a cabeça do rapaz virar.

— Você é uma criança arrogante. — A ex campeã declarou friamente. — Conquistou o título, mas jamais terá a honra de ser considerado um verdadeiro campeão. Você, Hitoshi, jamais poderá sequer começar a se comparar à sua irmã!

Aquele era, provavelmente, o único insulto realmente capaz de ofender o irmão de Cynthia. O rapaz ficou ainda mais vermelho mas, antes que pudesse rebater, a campeã de Sinnoh se interpôs entre os dois.

— Já chega. — Ela disse. — Vocês estão fazendo uma cena. É hora de parar com isso.

— Tem razão, Cynthia. — Diantha anuiu. — Não vale a pena.

— Bela atitude. — Hitoshi zombou. — Mas não adianta tentar bancar a superior. Desça do seu pedestal, bonequinha.

— Cale essa boca!

— Diantha, chega. — Cynthia interferiu novamente. — Eu esperaria esse tipo de comportamento do meu irmão, mas jamais de você. Se acalme.

— E lá vem você, estando certa de novo. — A ex campeã provocou. — Sinto muito, Cynthia. Eu realmente me excedi.

— Não sem motivo. — A loira admitiu. — Mas deixe que eu assumo daqui. Hitoshi, você e eu precisamos ter uma conversa. A sós.

— Não. — O rapaz rosnou. Ele praticamente agarrou a mão livre de Diantha, depositando algo em sua palma e em seguida fechando os dedos da atriz ao redor do objeto. — Pra mim já deu. Tome. Isso deveria ter sido seu desde o começo.

Tendo dito isso, o jovem virou as costas e saiu a passos largos. Se Calista se esforçasse um pouco, poderia ver a fumaça de raiva saindo pelas orelhas dele.

— Espere! — Diantha exclamou. — Ah, mas que droga! Hitoshi!

A atriz seguiu atrás do irmão de Cynthia, um rubor nada usual colorindo seu rosto e seus olhos azuis chispando de raiva.

— Mas o que ...

— Sei tanto quanto você. — A campeã de Sinnoh respondeu, dando de ombros. — Deixe que eles resolvam isso. Venha, a primeira partida já vai começar.

As duas voltaram ao camarote de honra. Não muito depois, Diantha juntou-se a elas. Parecia mais tranquila, embora ainda obviamente irritada.

— O que aconteceu? — Cynthia inquiriu. — O que meu irmão fez?

Ao invés de responder, a atriz afastou a gola do longo casaco branco que era sua marca registrada em eventos como aquele. Isso revelou um broche de cristal na forma de uma rosa, com o símbolo da Liga de Kalos gravado.

— Ele não ... ! — Raras vezes uma situação era capaz de deixar Cynthia sem palavras. Aquela era uma delas. — Não acredito nisso!

Outra coisa rara: ver a sempre fria campeã de Sinnoh agir por impulso. Mas foi exatamente o que aconteceu. Cynthia se levantou e seguiu intempestivamente para fora do camarote, caminhando a passos largos.

— Isso não pode acabar bem. — Calista comentou. — Talvez seja melhor eu ir atrás dela.

— Deixe estar. — Diantha respondeu enfim. — Tenho a sensação de que há mais nisso do que podemos ver.

— É, talvez. — A morena concordou com relutância. — Mas, de qualquer forma, é melhor eu falar com ela quando tudo isso acabar.

— Quanto a isso, eu concordo. — A atriz kalosiana assentiu. — Creio que você talvez seja a única a quem Cynthia dará ouvidos agora.

 Nunca antes as batalhas da Liga pareceram tão desinteressantes. Calista assistiu a todas elas com impaciência, e pulou de pé assim que foram declaradas encerradas as partidas do dia.

Fique aqui, por favor. A morena disse para a Meloetta empoleirada em seu ombro. Ajude no que puder, está bem?

Você tem certeza?

Tenho. A jovem assentiu. Além do mais, preciso falar com Gary. E prefiro não ter plateia para o que vou dizer. Nem mesmo você.

Está bem. A Pokemon Melodia abriu um sorriso encorajador. Boa sorte, Caly.

Obrigada. Algo me diz que vou precisar.

Antes de seguir para fora do camarote, a jovem kantoniana puxou da bolsa um par de óculos escuros. Enquanto andava, também soltou seus cabelos do elaborado penteado, deixando seus cachos caírem soltos para esconderem-lhe as feições. Não era muito, mas era o melhor que podia fazer. E, aparentemente, foi o bastante, pois chegou à saída lateral do estádio, menos usada, sem ser abordada por ninguém.

Finalmente do lado de fora, Calista parou por um momento, pensando sobre a melhor forma de fazer o que pretendia. Não queria uma cena na frente de sua família. Precisava fazer tudo o mais discreta e rapidamente possível, para acabar logo com aquilo.

Duas figuras familiares não muito longe atraíram-lhe a atenção. Uma delas estava semioculta pela lateral do estádio, mas os cabelos quase dourados da segunda figura eram inconfundíveis.

— Ainda acha que não me diz respeito? — Calista, ao se aproximar um pouco mais, ouviu a campeã de Sinnoh inquirir rispidamente.

— Acho, sim. — Somente ao ouvir a voz da segunda figura, aquela que permanecera semioculta devido ao ângulo do estádio, Calista percebeu que se tratava de Gary. A surpresa a fez paralisar exatamente onde estava. — A menos que você tenha algum interesse ainda não revelado, o que não duvido.

— Você não presta, Gary Carvalho. — Cynthia declarou. — Fique sabendo que não fiz nada contra você seis anos atrás porque a Cal me pediu. Mas ela não vai me impedir uma segunda vez. Magoe minha amiga de novo e eu juro que vou acabar com você. Custe o que custar.

— Que seja. — Gary zombou. — Mas é melhor avisar: eu não vou desistir dela. Nunca. Custe o que custar, como você mesma disse.

A isso Cynthia nem respondeu, simplesmente passou direto pelo rapaz e se afastou. Por mais um momento Calista continuou paralisada de surpresa, então um meio sorriso curvou seus lábios. Não teve, porém, tempo de reagir de nenhuma outra forma, pois tudo ao seu redor começou a girar vertiginosamente. Seu corpo, inesperadamente pesado e desajeitado, teria tombado ali mesmo se um par de mãos fortes não a houvesse segurado.

— Não tente resistir. — Uma voz sussurrou. — Só vai dificultar tudo ainda mais.

Calista mal conseguiu compreender aquelas palavras. Tudo soava distante e abafado, como sons sob a água. Sentiu que a erguiam e em seguida estava firmemente segura novamente, quase aninhada contra algo.

— Me desculpe por isso. — A mesma voz sussurrou. — Mas ordens são ordens. É uma pena, na verdade. Eu adoraria ver como você se sairia caso tivesse a chance de lutar.

Calista tentou lutar contra o que a segurava, mas seu corpo desajeitado parecia não responder a suas ordens. Além do mais, tudo ao seu redor girava tanto que a jovem logo descobriu que a única forma de evitar a náusea era manter os olhos fechados.

— Isso mesmo. — A voz disse gentilmente. — Boa menina.

Aquele elogio cheio de complacência fez uma onda de familiaridade e reconhecimento lhe atingir. Calista sabia que já havia escutado aquela voz antes, dizendo aquelas exatas palavras. Se ao menos pudesse se lembrar ... Se pudesse ver ... Uma nova tentativa de abrir os olhos, porém, resultou em uma onda de náusea tão forte que lhe tirou a consciência.


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