Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 20
O outro lado da história




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Calista soltou um grunhido de frustração, forçando sua mente a se concentrar no documento que lia. Dois meses haviam se passado desde seu confronto com Gary e Ash, mas as cenas daquele dia insistiam em voltar à sua mente quando menos esperava, especialmente quando tinha tempo livre para pensar, como naquele momento.

— Droga, Caly. — A morena murmurou para si mesma mesma. — Se concentre, mulher.

Mas era impossível. Não naquele momento, pelo menos. Com um suspiro derrotado, a morena se reclinou para trás na cadeira giratória e fechou seu laptop. O clique emitido pelo aparelho, embora suave, soou alto no quarto silencioso.

As coisas continuaram daquela forma por um bom tempo. Oficialmente Calista ainda era a Rainha de Kalos, invicta e brilhante, uma estrela admirada por toda a região. Em segredo, era a espiã mais valiosa da Equipe Rocket.

Um ano se passou antes que a jovem kantoniana finalmente conseguisse convencer seu pai de que trabalharia melhor sozinha mas, depois disso, passou a ter ainda mais liberdade. Reportava-se apenas a si mesma e ao próprio Giovanni, ninguém mais. Ou pelo menos era o que queria que ele pensasse.

Dois anos passaram. Calista se sentia mais sozinha do que nunca, mesmo estando sempre rodeada por fãs e admiradores. De que adiantava aquilo, se sua própria família lhe havia virado as costas?

Sua maior surpresa, assim como sua maior alegria, foi a constância da amizade de Cynthia e Diantha. As duas se mantiveram ao seu lado com lealdade ferrenha, ambas se recusando a sequer considerar o fato de Calista ser verdadeiramente uma Rocket. Era a elas que a morena respondia, mantendo-as sempre informadas sobre todo e qualquer movimento da organização criminosa.

Após três anos, nem mesmo Cynthia conseguiu se manter indiferente ao charme da ex campeã de Kalos. Mesmo ainda entrando em atrito constantemente, era claro que a loira passara a gostar de Diantha.

Quatro anos se passaram, e então cinco. Ao completar seu sexto ano nas linhas da Equipe Rocket - e também seu sexto ano consecutivo como vencedora invicta no concurso de Rainha de Kalos - Calista recebeu uma ligação inesperada de Giovanni. A jovem atendeu imediatamente, sabendo que seu pai jamais ligaria a não ser que o assunto fosse importante.

— Calista. — Giovanni disse à queima-roupa. — Surgiu um assunto a ser discutido. Preciso que esteja na base de Viridian amanhã à noite, às onze em ponto.

— Sim, senhor. — A morena respondeu sem hesitar. — Estarei lá.

— Ótimo. Enviarei um helicóptero às nove. Depois lhe informarei os detalhes.

— Entendido.

Giovanni desligou. Calista afastou o celular, deixando o aparelho descansar na palma de sua mão por alguns segundos antes de enfim escrever rapidamente uma mensagem:

Reunião de emergência amanhã à noite. Pareceu importante. Entro em contato assim que tiver mais informações.

Diantha foi a primeira a responder, poucos segundos depois:

Boa sorte, meu bem. E tenha cuidado.

Cynthia respondeu quase em sincronia, sua mensagem chegando meio segundo depois:

Não gosto disso. Tenha cuidado, Cal.

Calista sorriu consigo mesma, sentindo seu peito se aquecer com a preocupação daquelas duas. Era bom saber que podia contar com aquela amizade, não importando o que acontecesse.

Eu sempre tomo cuidado. A morena respondeu. Boa noite, vocês duas.

As duas responderam com "boa noite" e Calista largou o celular, dirigindo-se para seu quarto. Hora de descansar e salvar energia para o que estava por vir.

O dia seguinte passou sem grandes acontecimentos, e Calista finalmente se viu embarcando no helicóptero enviado por seu pai. Estava tão tensa que a viagem de quase uma hora até Kanto mal pareceu durar um minuto. Quando desceu do veículo, já na frente da conhecida sede da Equipe Rocket, James a aguardava.

— Boa noite, princesa. — O homem cumprimentou, fazendo uma mesura e lhe estendendo uma das mãos. — É um prazer vê-la de novo.

— O prazer é meu, James. — Calista respondeu, aceitando a mão estendida e permitindo que o jovem de cabelos azuis a ajudasse a descer do helicóptero.

— Já faz muito tempo. — James comentou agradavelmente enquanto andava ao seu lado. — O chefe a tem mantido bem ocupada, huh?

A morena meramente assentiu e seguiu o jovem pelos corredores, a essa altura já familiares, até a sala de reuniões, a mesma onde Giovanni anunciara o surgimento da infame Princesa Rocket seis anos antes. Mal Calista havia estendido a mão para a maçaneta, James segurou seu pulso para detê-la.

— O que foi? — A jovem inquiriu, sua voz saindo mais ríspida do que pretendia devido à surpresa. — Algo errado?

A única resposta de James foi dar um passo para mais perto, quase prendendo-a contra a parede.

A respiração de Calista se apressou até estar praticamente suspensa enquanto o homem de cabelos azuis estendia a mão livre para seu pescoço, ajustando delicadamente a gargantilha de veludo que o enfeitava. A pérola encrustada na joia alinhou-se perfeitamente com a base da garganta da Rainha de Kalos.

— Se o rosto por trás dessa máscara for tão bonito quanto seus olhos ... — James declarou suavemente. — Não se descuide. Mulheres bonitas foram feitas para sempre parecerem perfeitas.

Antes que a jovem morena pudesse dar uma resposta àquele comentário machista, James esboçou um sorriso e se afastou.

Calista se deixou ficar apoiada contra a parede por mais um momento, então balançou a cabeça para clarear os pensamentos e entrou na sala de reuniões.

Apenas poucas pessoas estavam presentes, rostos que Calista logo reconheceu como membros do alto escalão da equipe, abaixo apenas dela mesma e do próprio Giovanni na hierarquia. Seu pai não exagerara. Aquele assunto era sério.

Havia uma única cadeira ainda não ocupada na sala, exatamente ao lado de Giovanni. O lugar de seu sub comandante, que Calista logo ocupou.

Para sua surpresa, seu pai começou a reunião divulgando algumas das informações sigilosas que a jovem kantoniana conseguira nos anos anteriores. Quando todos estavam a par daquilo que queria que soubessem, o líder da Equipe Rocket se recostou em sua cadeira estofada de espaldar alto na cabeceira da mesa, com um discreto sorriso nos lábios.

— E é por isso ... — Ele completou calmamente. — Que, de hoje em diante, nossa princesa será também meu braço direito. Todos vocês devem reportar-se a ela. Somente minhas decisões podem anular uma ordem dada por ela. Estou lhe dando autoridade absoluta, e carta branca para utilizá-la. Entendido?

A jovem morena congelou de surpresa, lembrando-se repentinamente da estranha atitude de James. Estaria ele tentando avisá-la? Poderia ele saber o que Giovanni estivera planejando? Será que também saberia a verdade sobre sua identidade?

É claro que não. Angel, como sempre empoleirada em seu ombro direito, declarou arrogantemente. Eu jamais deixaria isso acontecer.

A jovem relaxou e se permitiu um leve sorriso, reconfortada por aquela declaração. Desde que Angel concordara em ajudá-la a manter seu disfarce, tudo se tornara mais fácil. Calista simplesmente assentiu para Giovanni, mantendo a expressão mais fria que pôde.

— É uma honra, chefe. — A morena declarou suavemente, porém com firmeza. — Tentarei fazer jus à sua generosidade.

Os olhos quase negros de seu pai brilharam por um breve segundo, numa mensagem secreta que somente Calista pôde compreender. Era mais do que mera satisfação. Era orgulho.

Alguns minutos depois, com a reunião encerrada, pai e filha ficaram a sós na sala.

— Tire a máscara. — Giovanni ordenou gentilmente.

Calista obedeceu lentamente. O objeto pendeu da ponta de seus dedos quando a jovem baixou a mão que o segurava, pousando a máscara na mesa atrás de si e voltando-se para encarar seu pai.

— Calista. — Giovanni disse, e agora não havia dúvidas sobre o tom de orgulho. Sua voz praticamente fervia com ele. — Minha filha, você se tornou a mulher que sempre esperei que se tornasse. Não sabe o quão orgulhoso me faz.

Lágrimas queimaram nos olhos verdes da jovem kantoniana com aquelas palavras. Eram as palavras certas na situação errada. Tudo estava errado.

Nem tudo. Angel a lembrou gentilmente. Não acreditei no começo, mas agora ... Acho que você está fazendo a coisa certa. Ficar é o certo a fazer. Não tenho dúvidas disso.

Espero que sim, Angel. Realmente espero que sim. Calista concordou amargamente. Meu pai é um excelente mentiroso.

Acha que ele a está enganando?

Não. A jovem respondeu pensativamente. Mas ele vem escondendo coisas de mim. Coisas que eu deveria saber. E vou descobrir o que é. Este é o único motivo de eu ainda estar aqui.

O diálogo telepático fora tão rápido que Giovanni nem percebera. Calista assentiu mais uma vez, abrindo um sorriso.

— Obrigada, pai.

— Venha. — O líder da Equipe Rocket disse simplesmente. — É tarde. Mandei que preparassem um quarto para você no alojamento. Meu piloto a levará de volta pela manhã.

— Sim. — A morena aquiesceu. — Obrigada. Boa noite, pai.

— Boa noite, princesa.

Calista deixou a sala de reuniões a passos curtos, perdida em pensamentos.

O alojamento ficava atrás do edifício principal, num prédio de vidro e aço que refletia a luz das estrelas. A jovem kantoniana seguiu para o corredor que a levaria até lá. Quando finalmente alcançou a porta dos fundos do edifício e saiu para o ar tépido da noite, se permitiu respirar fundo, recostando-se contra a parede atrás de si e erguendo o rosto para a lua.

Acha que ele sabe?

A voz suave de Angel ao seu lado fez a morena dar um pulo de susto.

Que pretendo traí-lo? Calista respondeu segundos depois, já refeita. Claro que não. Mas desconfia. Temos que tomar mais cuidado.

Quer mesmo ir em frente com isso? A Meloetta inquiriu. Ainda pode desistir, voltar atrás.

Fomos longe demais para voltar atrás agora, Angel. Foi a resposta obstinada. Giovanni tem que ser detido.

Não é isso que estou questionando. Angel rebateu. Eu sei o que ele fez. Mas ...

Mas ... ?

Mas ele ainda é seu pai, não é? Você o ama. A Pokemon Melodia disse gentilmente, empoleirando-se mais uma vez no ombro de sua parceira enquanto a jovem morena recomeçava sua caminhada para o alojamento. Não deve ser uma escolha nada fácil.

Não é. Calista admitiu com um suspiro. Mas mamãe tinha razão. Droga, até Gary tinha razão! Meu pai morreu no dia em que nos deixou, e fui uma tola por não ter percebido isso antes.

Você não queria que fosse verdade. Angel disse, sua voz reduzida a um mero sussurro na mente de Calista. Nunca quis acreditar.

Não, eu não quis. A jovem morena tocou o amuleto em forma de pokebola que levava sempre consigo, oculto. Você não sabe como ele era, Angel. Você não faz ideia.

Acha mesmo que não resta nada daquele homem?

Sim, acho. Calista respondeu tristemente. Às vezes, acho que o vejo por alguns momentos, mas então volto à realidade. Meu pai não existe mais, só o líder da Equipe Rocket. E ele é inescrupuloso. Usaria qualquer coisa, ou qualquer um, para atingir seus objetivos. Inclusive a mim.

Antes que Angel pudesse responder, o celular de Calista tocou, fazendo com que ambas pulassem de susto. Ao ver o número de quem ligava, as mãos da jovem tremeram tanto que ela mal conseguiu pressionar o botão para aceitar a chamada.

— Mãe? — Sua voz tremia. Não falava com Dehlia há quase seis anos, e mal podia imaginar um motivo forte o suficiente para levar sua mãe a retomar contato depois de tanto tempo. — Mamãe, o que aconteceu?

— Caly! — Dehlia exclamou. — Minha menina! Ainda bem! Onde você está? Está em casa?

— Não, mãe. — A morena respondeu, surpresa. — Estou ... Fora.

— Me ligue assim que chegar em casa. — Dehlia pediu com urgência na voz. — E certifique-se de estar sozinha. Por favor, Caly. É importante.

— Eu ... — Calista hesitou por um segundo. — Eu estou em Kanto. Poderia ... Ir até aí?

— Sim. — Sua mãe respondeu imediatamente. — Vou deixar a porta dos fundos destrancada para você.

— Até daqui a pouco, mãe.

Calista desligou e olhou em volta para ter certeza de que ninguém a observava. Graças a hora tardia, não havia movimento algum do lado de fora do alojamento Rocket. A morena tirou IceFire de sua pokebola e a Charizard a encarou, inquisidora.

— Vamos lá, parceira. — A morena disse. — Vamos para casa.

A casa estava às escuras quando pousaram. Como sua mãe havia dito, Calista foi até a porta dos fundos e experimentou a maçaneta. Girou facilmente e abriu sem nenhum ruído.

Apenas as luzes de seu antigo quarto estavam acesas, e para lá Calista seguiu. Encontrou Dehlia sentada em cima da cama, de pernas cruzadas. Ao vê-la, a expressão de sua mãe tornou-se ilegível. Raiva, dor, tristeza, saudade e desapontamento passaram em flashes por seus olhos castanhos, quase rápido demais para serem notados.

— Mãe, eu ...

Para sua surpresa, Dehlia pulou de pé e a envolveu em um abraço apertado, quase esmagador. Calista se deixou ir. Não havia, até aquele momento, percebido o quanto ansiara por aquele gesto.

— Caly, eu sinto muito. — Sua mãe disse, sua voz trêmula com o esforço de conter as lágrimas. — Sinto muito, muito mesmo.

— Não, mamãe. Eu sinto muito. — Foi a resposta. — Por ter feito o que fiz. Acredite, eu ...

— Eu sei, Caly. — Dehlia interrompeu gentilmente. — Eu sei de tudo.

— Como a senhora sabe?!

— Venha comigo. — Dehlia disse, soltando-a e pegando a morena pela mão. — Quero lhe mostrar uma coisa.

A jovem se permitiu ser guiada até o quarto de sua mãe, onde enfim Dehlia parou na frente de um antigo armário. Era de madeira escura, provavelmente carvalho, e estava ali desde que Calista conseguia se lembrar. Sempre trancado.

Usando uma chave que a jovem nem percebeu onde conseguira, Dehlia abriu o antigo armário e retirou de lá um porta retratos. Calista analisou a foto, reconhecendo instantaneamente o jovem casal na extrema esquerda: Giovanni sorria com orgulho e tinha um braço ao redor dos ombros de Dehlia, que o abraçava pela cintura com uma expressão da mais pura felicidade.

Foi difícil desviar o olhar dos rostos de seus pais, mas Calista enfim focou sua atenção no homem ao lado deles, com cabelos castanhos em selvagem desalinho e usando um jaleco. A jovem sorriu consigo mesma ao enfim reconhecê-lo, mas ficou séria ao ver o rapaz mais novo, ainda quase um adolescente, de mãos dadas com uma jovem de aparência delicada. Os dois eram muito jovens, não pareciam ter mais de vinte anos. Calista, porém, reconheceu os longos cabelos castanho-claros da mulher, e os olhos castanhos gentis do homem.

— Esses são ... ?

— Joseph e Linda Carvalho. — Dehlia informou. — Os pais de Daisy e Gary.

Calista assentiu solenemente. Lembrava muito pouco dos dois, pois era ainda uma criança. Gary não passava de um bebê, mal havia completado um ano de idade quando seus pais morreram naquele acidente.

— Por que está me mostrando isso, mãe? Por que voltar a entrar em contato comigo agora?

— Por causa do seu pai. —  Dehlia respondeu. — Sei o quanto você sempre o amou, Caly. Quando criança, faria qualquer coisa por ele. Mesmo agora, ainda acredito que o faria. É por isso que você precisa saber a verdade.

— A verdade? Sobre o que, mãe?

— Sobre o monstro que Liam realmente é. — Foi a resposta amarga. — Veja os broches nessa foto. Reconhece o símbolo?

Calista analisou a foto novamente, pela primeira vez percebendo que todos os cinco integrantes usavam broches iguais.

— É o símbolo da Equipe Rocket! — A morena exclamou, surpresa.

— Isso mesmo. — Dehlia assentiu sombriamente. — Foi esse o nome que escolhemos. Rocket. Para simbolizar nossa determinação de levar nosso objetivo sempre além, mais alto que as estrelas.

— Equipe Rocket. — Calista repetiu, chocada. — Então vocês a criaram?

— Sim. — Sua mãe respondeu. — Foi ideia do seu pai. Sem a determinação dele, nada teria acontecido. Liam era ... O homem mais brilhante que já conheci. Ele e Sam formavam uma dupla de visionários, quase pareciam capazes de ver o futuro. Decidiram trabalhar juntos para tornar suas visões uma realidade. Mas, com o tempo, os interesses de seu pai foram se tornando cada vez mais obscuros. Ramos da ciência considerados perigosos demais por diversos motivos, incluindo clonagem genética. Sam descobriu ... Descobriu que ele estava usando você, Calista. O seu sangue. Liam estava usando amostras de seu sangue em uma das abominações que tentava criar!

Calista encarou sua mãe de olhos arregalados, paralisada de surpresa e nojo. Não conseguia acreditar, não conseguia duvidar. Sabia, conhecendo o homem em que seu pai se tornara, que Giovanni seria capaz de tal atrocidade. Mas poderia seu pai, o homem de quem se lembrava, realmente ter feito aquilo? Poderiam suas lembranças serem uma mentira?

— Sam me ajudou. Ele roubou todos os dados relativos àquele experimento. Liam nunca suspeitou de nós, das duas pessoas mais próximas a ele. Esse foi nosso maior trunfo. Consegui armar tudo, fazê-lo acreditar que você havia morrido afogada durante uma viagem de barco quando na verdade a escondi aqui, com a sua avó. Não muito depois, eu mesma o deixei e vim ao seu encontro. Sam tinha família aqui em Pallet, que era uma cidade ainda menor na época. Eu sabia que Liam jamais se daria ao trabalho de me procurar. Garanti isso ao ir embora. Então, recomeçamos. E Sam nos seguiu não muito depois, ele não suportou continuar apoiando a loucura de seu pai.

— Mas por que não me lembro de nada disso?

— Recorri a uma amiga. — Dehlia confessou. — Pedi a ela que se assegurasse de que você jamais se lembraria de nada disso. Para seu próprio bem.

— Por isso a senhora nunca me deixava sair. — A morena percebeu. — Tinha medo de que ele nos encontrasse.

— Não, não a mim. Nunca tive medo do seu pai. — Foi a resposta. — Mas eu não podia deixá-lo continuar a machucar você. Sinto muito, Caly. Eu sei o que pareceu, durante todos aqueles anos. Mas sempre, sempre tentei protegê-la.

— Não foi sua culpa, mãe. — A jovem disse gentilmente. — Está tudo bem. Eu entendo agora.

As duas ficaram abraçadas por um longo tempo, até Dehlia se desvencilhar com delicadeza dos braços de sua filha mais velha.

— Quero que tome cuidado, Calista. — Ela disse. — Liam jamais mediu esforços para ter o quer.

— A pesquisa ... Aquela que ele estava fazendo usando meu sangue ... Ainda existe?

— Existe. — Foi a resposta. — Sam não teve coragem de destruir algo daquela magnitude. Achou que seria desperdício demais, que a tecnologia poderia ser usada para fins benéficos no futuro. Ele a escondeu em algum lugar de nosso antigo laboratório, na cidade de Laverre.

— Em Kalos?!

— Sim. — Dehlia assentiu. — Há uma passagem secreta subterrânea em uma antiga casa abandonada nos limites da cidade. Mas não sei se o lugar ainda existe. E, mesmo que exista, duvido que ainda haja algo lá. Deve estar desativado há décadas.

— Vou descobrir. — Calista declarou com determinação. — E, se realmente encontrar esses dados, vou destruí-los, como já deveria ter sido feito.

— É a melhor decisão. — Sua mãe concordou. — Apenas ... Tome cuidado, minha filha.

— Eu prometo. — Num gesto espontâneo, a jovem se inclinou e beijou a bochecha de sua mãe. — Mãe ... Por que agora?

— Porque, não importa o que aconteça, você sempre vai ser minha filha. Minha garotinha. — Dehlia respondeu afetuosamente, estendendo uma das mãos para acariciar os cachos negros de sua primogênita. — Agora vá, antes que notem a sua ausência.

Calista assentiu e deu mais um abraço em sua mãe. Poucos minutos depois, estava novamente voando em IceFire, de volta à base.

A Charizard aterrissou cerca de um quilômetro depois do prédio, enrolando-se na grama e esticando o longo pescoço em direção à lua para admirar o astro que brilhava. Calista se recostou contra o corpo escamoso de sua parceira e tirou o celular do bolso. Àquela distância da base, deveria ser seguro. Certamente não haveriam ouvidos curiosos à espreita.

Ligou primeiro para Cynthia, mas a loira não atendeu, então Calista simplesmente deixou um recado pedindo que ligasse de volta assim que pudesse. Ligou também para Diantha, que atendeu no terceiro toque.

— Calista! — A atriz exclamou. — Até que enfim! Pensei termos combinado que você daria notícias logo depois da reunião. Tem noção do quanto fiquei preocupada?

— Desculpe. — Calista não conseguiu conter uma risadinha ante o exagero de sua amiga. — Mas aconteceu uma coisa, e você não vai acreditar!

Antes que pudesse lançar-se ao relato dos acontecimentos da noite, uma nova chamada a interrompeu. A morena aceitou a ligação, ajustando a configuração para uma chamada em grupo.

— Cal! — Cynthia exclamou rispidamente, e Calista quase conseguiu visualizar a loira com as mãos fincadas nos quadris, seu rosto contraído de raiva. — Sua tratante! Pensei que fosse ligar logo depois da reunião!

— Viu? — Diantha provocou. — Eu não fui a única.

— Parem com isso. — A morena revirou os olhos, soltando um suspiro de enfado. — Vocês se preocupam demais. Agora escutem, tenho uma coisa importante pra contar.

A jovem resumiu o mais rapidamente que pôde os eventos daquela noite. Quando terminou de falar, o silêncio na linha foi mortal.

— Santo Arceus! — Cynthia declarou enfim. — Caramba, Cal.

— Eu ainda não acredito. — Diantha disse simplesmente. — O que vai fazer a respeito disso?

— A única coisa certa a ser feita. — Calista rebateu, em um tom de aço que não escondia sua determinação. — Seguir nosso plano e acabar com eles.

— Certo. — Cynthia rebateu. — Mas como pretende fazer isso, Cal?

— Com informações. — Foi a resposta. — Sou a segunda em comando agora, vou ter acesso a tudo. Claro, não posso fazer isso de uma vez só. Vai ter que ser aos poucos, para que não suspeitem de nada.

— Cal ... — A loira não conseguiu esconder sua preocupação. — Você percebe que, como membro da Equipe Rocket, também será acusada se tudo vier à tona?

— Eu sei. — Calista respondeu calmamente. — Mas é um risco que estou disposta correr. A Equipe Rocket tem que ser derrubada.

— De acordo. — Diantha anuiu. — Diga como podemos ajudar.

 — Esperem. — A morena protestou. — Vocês não devem se envolver. Eu correr o risco é uma coisa, mas não posso pedir que ...

— Que se danem os riscos! — Cynthia interrompeu com veemência. — Apenas diga como podemos ajudar, Cal.

— Cynthia tem razão. — A atriz kalosiana declarou. — Estamos nessa com você, meu bem. Quer você queira ou não.

— Vocês duas são as melhores, sabiam? — Calista disse afetuosamente. — Certo, então. Podemos dividir as informações, assim diminuiremos os riscos.

— E haverá mais credibilidade se a denúncia final vier de nós três. — Diantha sugeriu. — Ninguém duvidaria da nossa palavra.

— Bem esperta. — Cynthia riu, aprovando a ideia. — Gostei dessa, super estrela.

A familiar resposta de "pare já com isso" dada pela atriz kalosiana mal foi ouvida por Calista. A jovem estava envolvida demais em sua própria euforia. A maior missão da sua vida estava para começar.


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