Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 18
Profecia




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Cinco dias se passaram desde a festa de Natal, e Calista ainda fervia de raiva sempre que pensava em Cynthia. A irmã de Ash sabia que não tinha motivos para tal e nem deveria se envolver sem conhecer toda a história, mas ainda ficava furiosa toda vez que pensava no que acontecera naquela noite, no breve flash de mágoa que vira no rosto de Diantha antes de a atriz deixar a sala.

Calista não fazia ideia do que Cynthia poderia ter dito, mas conhecia ambas bem o bastante para saber que só algo muito ruim causaria uma reação tão extrema. A jovem vinha evitando a loira desde então, lutando contra a vontade de se envolver no assunto. Por mais que fossem suas amigas, e ambas igualmente queridas, Calista sabia que aquela briga era algo particular.

Naquela manhã em particular a morena levantou e caminhou descalça pelo corredor acarpetado que levava à cozinha de seu apartamento, prendendo seus cabelos rebeldes em um rabo de cavalo bagunçado enquanto andava.

O toque de seu celular, que propositalmente a jovem deixara sobre a bancada da cozinha, o mais longe possível de seu alcance, soou em meio ao silêncio matutino. Calista ignorou e entrou no cômodo sem pressa, ocupando-se em fazer café. O cheiro forte e rico da bebida logo se espalhou pelo local. Calista relaxou e se recostou contra a bancada, respirando profundamente para melhor apreciar o aroma.

Quase em um transe de enlevo, a morena só voltou a abrir os olhos quando sentiu algo cutucá-la no ombro, o que a fez pular de susto. Era apenas Mirabelle, que a olhava com um misto de ironia e preocupação, como que inquirindo se sua treinadora havia enlouquecido.

— Que droga, Mirabelle! — A morena exclamou, levando uma das mãos ao peito. — Você quase me matou do coração, garota!

Mirabelle revirou os olhos, já acostumada com a tendência de sua treinadora ao drama. A Sylveon simplesmente lhe estendeu algo, que Calista levou alguns segundos para perceber que era um envelope.

— Ah, obrigada! Você é um amor, Mira.

A pokemon tipo Fada sorriu, cheia de si com o elogio, enquanto Calista deixava o envelope de lado sobre a mesa para servir-se de uma xícara de café. Somente então reparou que havia algo preso com um clipe no topo do envelope, um bilhete.

Ao estender a mão livre para desdobrar o pequeno e fino pedaço de papel seus lábios se ergueram em um sorriso quase imperceptível, pois a jovem reconheceu imediatamente aquela letra desmazelada, que mais parecia um garrancho.

Achei que você ainda estivesse dormindo, sua Slakoth. Enfim, eu sei que ainda está com raiva, mas isso não leva a nada. Leia até o fim, certo? Ah, e Serena te convidou para ensaiar no final de semana. Até mais, mana. E não seja teimosa, ok?

A morena riu consigo mesma ao ler o bilhete de Ash. Pelo que ele dissera, teve certeza do que o envelope continha. Não era surpresa que seu irmão tomasse partido. De qualquer forma, sua curiosidade levou a melhor e Calista abriu o envelope. Como esperava, encontrou uma folha escrita com a letra desenhada e elegante, já extremamente familiar, de Cynthia.

Cal,

É sério? Não acredito que você me fez recorrer a isso. Me sinto como se tivesse doze anos de idade novamente. Mas enfim, já que você não atende minhas ligações, que outra opção me resta, não é? Você sabe mesmo ser teimosa.

Honestamente, não tenho justificativa para o que aconteceu na festa de Natal. Steven tem razão, eu queria uma oportunidade para fazer aquilo há muito tempo, acertar as coisas de alguma forma. Mas não se preocupe. Já conversei com Diantha. Sem ressentimentos da parte dela, como esperado.

Mas não é aquela primadonna que me preocupa, é você. Eu não havia percebido até aquela noite o quanto vocês duas se tornaram próximas, e sinto muito por envolvê-la nisso tudo. Não quero deixar que uma briga idiota fique entre nós de novo, não importa o motivo. Acredite, nossa amizade vale mais para mim do que qualquer antipatia idiota.

Me ligue, cabeça de pedra. Precisamos mesmo conversar. Adoro você.

A assinatura era simplesmente "C". Mal terminou de ler, Calista foi distraída novamente pelo toque do seu celular. Um pequeno sorriso curvou seus lábios ao ver quem ligava. 

— Ainda não entendeu que não quero falar com você?

Apesar das palavras ríspidas, seu tom era brincalhão, o que fez Cynthia dar uma risadinha.

— Caramba, Cal. — A campeã disse simplesmente. — Você é mesmo impossível. Recebeu minha carta?

— Recebi. — Foi a resposta. — Você sabe que não vai ser tão fácil assim, não sabe? Diantha pode até não demonstrar, mas aposto que ainda está com raiva de você.

— Não me importo. — Cynthia declarou. — Mas, se você realmente gosta dela, acho que posso tentar tolerar aquela bonequinha. 

— Você é terrível, Cynth. A pior de todas. — Calista riu. — Sou mesmo assim tão importante para você?

— É claro que sim, sua boba. — A campeã respondeu. — Você é a amiga mais incrível que eu já tive. Como poderia não ser importante?

A irmã de Ash suspirou, totalmente rendida. Cynthia sempre sabia exatamente o que dizer, fosse para irritá-la ou acalmá-la. Às vezes era como se aquela mulher pudesse ler sua mente.

— E você também, Cynthia. — A morena confessou. — Mas juro que, se fizer qualquer coisa parecida com aquilo, nunca mais olho na sua cara.

— Ficou mesmo assim tão zangada, Cal?

— Desapontada. — Calista corrigiu. — Você não é uma pessoa cruel, que magoa os outros simplesmente por vingança. Aquela simplesmente não é você, Cynth.

— Às vezes me esqueço disso. — A campeã suspirou. — Obrigada, Cal.

— É para isso que servem as amigas, loira. — Calista respondeu afetuosamente. — E me desculpe por ter evitado você quando eu nem mesmo deveria ter me envolvido.

— Diantha também é sua amiga, não é? Conhecendo você, eu já deveria prever essa reação. Afinal, essa lealdade é uma das coisas que mais admiro em você.

— Você é um amor, Cynth.

— Claro que sou. — A campeã respondeu, rindo. — Preciso ir, Cal. Até mais tarde.

— Até mais tarde, loira.

Mal a morena havia desligado e pousado o celular sobre a bancada de granito, o aparelho tocou indicando mais uma ligação. Dessa vez era Diantha.

— Bom dia, super estrela. — A morena atendeu. — Como você está?

— Muito melhor. — Foi a resposta. — Eu ... Lhe devo desculpas por ontem à noite. Não foi justo envolvê-la em meu problema com Cynthia.

— Pode acreditar, minha amiga, eu já estava envolvida. Só fiz o que qualquer pessoa teria feito.

— Não as pessoas que conheço. — A atriz kalosiana disse calorosamente. — Dentre todas, só você teria feito algo assim. E não consigo acreditar que esqueci de lhe agradecer.

— Não precisa me agradecer, bobinha. É para isso que servem as amigas.

— Só as melhores, meu bem. — Foi a resposta. — Enfim ... Quase esqueci. Liguei porque tenho uma boa notícia: sei de alguém que talvez tenha uma resposta à nossa pergunta.

Surpresa com o fato de Diantha imediatamente tê-la incluído em seus planos, como se ambas fossem mesmo uma dupla, Calista não conseguiu responder nada além de uma simples interjeição de surpresa.

— Você está livre, não está? — A atriz inquiriu, sua voz denotando uma nota de preocupação. — Pode me encontrar em Anistar hoje, no final da tarde?

— O que?! Tem certeza de que quer que eu vá junto?

— Claro. Você foi a única a também sentir aquilo. Isso diz respeito a nós duas agora. — Diantha declarou, como se aquele fato fosse óbvio. — Além do mais, será bom ter por perto alguém em quem posso confiar.

— Combinado, então. — Foi a resposta, embora a morena ainda tentasse não demonstrar a surpresa com a declaração de sua amiga. — Não sei quanto a você, mas eu vou gostar de ter algumas respostas.

— Não tanto quanto eu, meu bem. Pode apostar nisso.

A pessoa que Diantha mencionara era ninguém menos que Olympia, a líder do ginásio da cidade de Anistar. A fama daquela mulher não só como Oráculo, mas como uma grande sábia, era conhecida em toda a região de Kalos.

Para surpresa de Calista, Olympia pareceu satisfeita ao ver as duas mulheres. Ela fez questão de recebê-las na entrada do ginásio, guiando-as em seguida a uma aconchegante sala de estar onde se acomodaram juntas. A jovem kantoniana não se importou em deixar Diantha tomar as explicações a seu cargo, contente em simplesmente ouvir as explicações da grande líder de ginásio.

— De fato. — A líder do ginásio concordou após ouvir todo o relato. — Sua amiga com certeza usou telepatia, embora talvez nem ela mesma esteja ciente disso.

— Mas como isso é possível?

— Eu não sei. A única explicação é uma mente excepcionalmente forte, agindo sob circunstâncias extremas.

Diantha lançou um rápido olhar para Calista, que assentiu. As duas lembravam da expressão de fúria nos olhos cinzentos da campeã de Sinnoh. Cada palavra da teoria de Olympia se encaixava perfeitamente.

Um Sigilyph voou subitamente sobre as duas mulheres, descendo em rasante na direção de Calista e fazendo-a soltar um gritinho de susto. Diantha puxou a morena para perto de si a tempo de tirá-la do caminho.

— Sigilyph! — Olympia repreendeu. — Já falamos sobre isso, seu maroto. Nada de assustar nossos visitantes!

O pokemon assentiu, envergonhado, flutuando para trás de sua treinadora. Olympia olhou para a dupla à sua frente a tempo de ouvir Calista dizer um "obrigada" em voz baixa, ao qual Diantha respondeu com um sorriso. Por um momento a expressão da líder de ginásio foi de vivaz diversão, mas logo em seguida se suavizou. Uma suavidade estranha, vazia.

— O elo entre vocês duas é muito forte. — A mulher de cabelos roxos declarou, num tom grave que ressoava de poder. — Mas não único. Esta é uma corrente e, juntas, seu potencial é ilimitado. Vocês estão destinadas a ser parte disso. A salvar o mundo, ou destruí-lo. Tudo dependerá do caminho que escolherem trilhar.

— Não é único? — Diantha repetiu — Quem mais é parte disso, Olympia?

— Essa resposta chegará no momento certo. — Olympia rebateu. — Mas, Calista, tenha em mente que em você repousam o começo e o fim. Você será aquela a encerrar o ciclo.

— O começo e o fim? O que isso quer dizer? E de que ciclo você está falando?

Mas Olympia dessa vez não respondeu. Sua expressão se tornou mais intensa e focada enquanto a líder de ginásio balançava a cabeça em um gesto negativo.

— Não sei dizer. — Ela respondeu suavemente. — Mas vejo que minhas palavras a perturbaram. Esta é a maior razão pela qual seres humanos não devem saber seu destino de antemão. A tentação de mudá-lo é grande demais.

— Mas mudar um destino trágico não seria uma coisa boa? — Calista inquiriu.

— Talvez. — A líder de ginásio rebateu bondosamente. — Mas é preciso lembrar que o futuro não é como um livro, em que tudo está escrito de maneira irrevogável. O futuro é uma estrada com infinitas bifurcações e a cada segundo temos a chance de mudá-lo de acordo com nossas escolhas.

— Entendo. — A jovem kantoniana assentiu solenemente. — Muito obrigada, Olympia.

Não muito depois Diantha e Calista deixavam juntas o ginásio de Anistar. 

— O que acha de uma caminhada? — A atriz sugeriu. — Olympia certamente nos deu muito em que pensar.

— E se a reconhecerem?

— Meu bem ... — A zombaria amistosa na voz de Diantha era fraca, disfarçada pela preocupação, mas estava presente. — Acha mesmo que alguém me reconheceria com essa aparência?

Calista cedeu a um sorriso. De fato, sua amiga estava quase irreconhecível. Usava um largo moletom cinza escuro com capuz, calças de montaria pretas e botas de caminhada, com seus cabelos castanhos presos em um despreocupado rabo de cavalo.

— Tudo bem. — A jovem assentiu enfim. — Você tem razão.

As duas amigas caminharam pela cidade, até pararem sob o grandioso relógio solar de Anistar. Diantha ergueu os olhos para o magnífico monumento. Eram quase oito horas da noite, e uma réstia de sol passava pelo orifício central da torre, fazendo o cristal cor de rosa que o formava parecer adquirir vida própria.

— É lindo, não acha? — Calista inquiriu, maravilhada.

— Belíssimo.

A atriz apoiou os cotovelos na balaustrada da plataforma que cercava o relógio de sol, curvando-se até que sua cabeça descansasse entre suas mãos.

— Qual é o problema? Não vá me dizer que ...

— Seja honesta: o que Olympia disse não a assustou nem um pouco? 

— Claro que sim. — A morena apoiou as costas contra a balaustrada da plataforma, preferindo encarar o céu que escurecia cada vez mais do que o espetáculo cintilante atrás de si. — Estou rezando para que ela esteja errada.

— Não creio que seja possível. — Foi a resposta. — Olympia é famosa por jamais ter errado uma profecia. As palavras dela sempre se tornam verdade.

— Há uma primeira vez para tudo, eu acho.

— Está só enganando a si mesma, meu bem, e você sabe disso.

— Talvez. — Calista sorriu, tocando o ombro da amiga com o seu e lhe dirigindo um sorriso conspiratório. — Mas, no que diz respeito a nós duas, não precisamos nos preocupar.

— Você acha? — Diantha inquiriu incisivamente, erguendo uma sobrancelha.

— Acho. — A jovem assentiu. — É como Olympia disse, o futuro se altera a cada segundo. Talvez nossas escolhas nos levem a um futuro melhor. E, mesmo que não, tenho certeza de que podemos enfrentar qualquer coisa. Juntas.

Diantha meramente sorriu e passou um braço por sua cintura. A ex campeã era tão mais baixa que o topo de sua cabeça só tocava o ombro da jovem kantoniana.

— Obrigada. — A atriz kalosiana disse simplesmente.

— De uma coisa tenho certeza. — Calista declarou, passando um braço pelos ombros de sua amiga. — O que quer que aconteça ... Espero que realmente possamos enfrentar juntas.

Diantha ergueu a cabeça para olha-la nos olhos. Aquelas íris azuis brilhavam com um misto de malícia, carinho e determinação.

— Não se preocupe, meu bem. — Ela respondeu. — Isso não é uma possibilidade, é uma certeza.


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