Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 17
OVA- Especial de Natal




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A atenção de Calista foi desviada do livro pelo som do celular que tocava. Com um suspiro resignado, a morena esticou-se para pegar o aparelho.

— Você está sozinha? — Uma voz inquiriu em tom gutural e ameaçador assim que ela atendeu a chamada.

— O que?! — A jovem exclamou, dividida entre surpresa e afronta.

— Você está sozinha? — A voz repetiu, seu timbre ainda mais profundo.

— Olhe só, seu ...

— Pare de beijar o Gary. — A voz declarou, e Calista pôde ouvir um Pikachu rindo baixinho ao fundo. — Termine com ele.

— Ash! — Calista berrou a plenos pulmões. — Ora, seu ... Seu ... Seu pirralho idiota! Isso foi uma pegadinha muito estúpida, sabia?

Ash caiu na gargalhada. Pela reação de sua irmã, sabia que tinha lhe dado um belo susto.

— Bom dia 'pra você também, irmãzona. — Ele disse enfim, sem se abalar com a óbvia irritação da Rainha de Kalos. — Já está sabendo da novidade?

— Depende. Que novidade?

— Steven ... Festa de Natal ... — Pelo tom do rapaz, Calista quase podia vê-lo revirando os olhos. — Ele não te ligou? O Steven disse que iria.

— Acho que não. — A morena respondeu, agora confusa. — Espere, vou checar.

A treinadora kantoniana afastou o celular do ouvido para checar as ligações recebidas naquele dia e corou violentamente. Haviam duas chamadas perdidas.

— Caramba, Ash! — Ela resmungou ao ouvir seu irmão mais novo rir. — Do que está rindo, seu babaca?

— Steven te ligou, não foi? — Ash ainda estava rindo. — E você não viu.

— Ok, ok, você venceu. Não ouvi meu celular tocar.

— Teria ouvido se não estivesse se agarrando com o Gary o tempo todo. — O rapaz provocou. — É sério, mana, ele é um babaca. Termine.

Você é o babaca por aqui, seu bobalhão.

— Como quiser. — Ash rebateu. — Enfim, o Steven está vindo para Kalos por alguns dias e, como é véspera de Natal, pensou em reunir todo mundo. Bom ... Diantha, eu, você ... Esse todo mundo. Acho que ele disse alguma coisa sobre a Cynthia vir também, mas nem ele tinha certeza. Enfim. Está dentro, mana?

— Não sei, não. Vou ligar para o Steven e perguntar que ideia é essa.

— O que foi, Caly? Não confia em mim?

— Nem um pouco. Ainda não esqueci a história do Haunter no meu armário, pirralho.

— Ah, qual é, mana! Eu tinha seis anos. — Ash rebateu, rindo. — Mas tudo bem, então. Nos vemos mais tarde.

— Até mais tarde, seu idiota.

A morena discou o número de Steven assim que terminou a chamada com seu irmão. O campeão de Hoenn atendeu no segundo toque, como se estivesse esperando sua ligação.

— Caly! — Ele exclamou. — Já era hora. Eu estava começando a ficar preocupado.

— Desculpe, Steven, eu estava lendo. Me distraí e não ouvi meu celular tocar.

— Minha nossa! — Steven riu com gosto daquela explicação. — Você e Cynthia são mesmo iguaizinhas, não sei dizer qual é a pior. Não é surpresa que ela tenha se apegado tanto a você.

Calista corou até a raiz dos cabelos, feliz pelo fato de que Steven não podia vê-la. O campeão de Hoenn adorava provocá-la. Quanto mais sem graça a jovem ficasse, mais ele se divertia.

— Pare com isso, Steven. — A morena resmungou, mas sem conseguir soar nem remotamente irritada. — Enfim, Ash me falou alguma coisa sobre uma festa. Eu ouvi isso direito?

— É isso mesmo. Você vem?

— Eu ... Não sei se é uma boa ideia. Não vai ser um evento só entre vocês?

— E nós todos queremos que você venha. — O campeão rebateu. — Uma de nós em especial ...

— Argh! Está bem, está bem! — Calista cedeu, rindo. — Eu irei. Não pode ser assim tão ruim, pode?

— Esse é o espírito! — Steven aprovou maliciosamente. — Vou lhe enviar o endereço mais tarde. Nos vemos às dez em ponto. E use algo vermelho, combinado?

— Combinado. Até mais tarde, Steven.

A morena então desligou e pulou de pé, batendo no queixo com o indicador da mão direita em uma atitude pensativa. O que iria usar? Para garantir, pegou mais uma vez seu celular e digitou rapidamente uma mensagem:

Steven. Festa de Natal. Vejo você hoje à noite?

A resposta, para sua surpresa, foi recebida meros segundos depois.

Com certeza. Mal posso esperar.

Aquela resposta era exatamente o que Calista esperava, e seus lábios se curvaram em um sorriso de satisfação maliciosa.

— Ei, Mira! — A jovem disse para a Sylveon de pelagem azul que dormia enrodilhada ao seu lado. A pokemon ergueu a cabeça e a encarou com olhos sonolentos. — Hora de fazer compras, fadinha.

Mirabelle sorriu e esfregou os olhos com suas fitas, piscando rapidamente em seguida para espantar o sono enquanto se punha de pé, entusiasmada. Cerca de meia hora depois a Sylveon observava criticamente os vestidos da famosa Boutique Couture, em Lumiose.

— Eu sei, eu sei. Steven disse vermelho. — A morena dizia baixinho. — Mas não acha que é um pouco ousado demais, Mira?

Mirabelle pensou por um momento antes de por fim assentir, embora a contragosto. Calista simplesmente sorriu e desviou sua atenção para outra peça.

— Calista?

A voz a fez se virar. Era Diantha. A atriz usava um longo casaco de veludo negro, apropriado para o inverno kalosiano, combinado com calças brancas, e pela primeira vez Calista a via sem saltos altos. Ao invés disso, a ex campeã usava ankle boots de couro, também negro. Seus cabelos castanhos estavam presos em um elegante nó na nuca e ela segurava nas mãos um par de óculos escuros que aparentemente havia acabado de tirar.

— Diantha! — A morena sorriu, deliciada. — Deixe eu adivinhar: você também está procurando algo vermelho?

— Sim. — A atriz respondeu com uma risadinha. — Francamente, não sei de onde Steven tirou essa ideia.

— Bom ... É Natal, afinal de contas. — Calista declarou, dando de ombros delicadamente. — Mas aposto que a ideia não foi dele. Isso me parece ...

As duas mulheres se entreolharam. O nome "Cynthia" deixou seus lábios exatamente ao mesmo tempo. Calista riu, e Diantha abafou uma gargalhada.

— Tem razão, isso parece mesmo ideia dela. — A atriz concordou. — Já encontrou alguma coisa?

— Nada de que realmente tenha gostado.

— É, eu também.

— Que tal procurarmos juntas? — A morena sugeriu. — Talvez assim tenhamos mais sorte. Se não, pelo menos será mais divertido.

— É uma ótima ideia! — A ex campeã concordou animadamente. — Eu adoraria.

Gardevoir, que como sempre acompanhava sua treinadora, também pareceu gostar da sugestão, observando atentamente enquanto as duas treinadoras debatiam sobre vestidos.

Inari, que também havia acompanhado Calista, se encolheu ainda mais atrás de sua treinadora, tentando ficar fora do campo de visão das duas recém chegadas. Foi Gardevoir quem enfim viu a pequena raposa branca, e o aceno amigável da Pokemon Abraço apenas a fez encolher-se ainda mais, choramingando baixinho.

— Inari. — Calista suspirou ao se curvar e pegar a pokemon no colo. — Está tudo bem, sua boba. Elas são amigas.

— Que gracinha! — Diantha exclamou, encantada. — Que tipo de pokemon ela é?

— Uma Vulpix de Alola. — Foi a resposta. — Tímida até o osso. Até demais, se quer saber. Já não sei mais o que faço com essa pequenina.

— Aposto que ela vai ficar mais confiante com o tempo.

— Espero que você tenha razão.

— Eu sempre tenho, não é?

— Não seja tão convencida, sua primadonna!

— E o que você esperava, meu bem?

Calista meramente riu. A mistura de senso de humor e ironia de Diantha nunca deixava de surpreendê-la. Minutos depois a jovem notou o quanto Inari parecia fascinada pelos movimentos graciosos de Gardevoir, nunca desviando os olhos da outra pokemon.

A Pokemon Abraço, percebendo a atenção que despertava, se aproximou de Calista com um sorriso. Para surpresa da jovem, Inari deixou que Gardevoir lhe acariciasse.

— Uau. — A morena disse. — Você deve ser especial, Gardevoir. Minha Inari nunca deixa ninguém além de mim tocá-la.

Essas palavras pareceram agradar a pokemon, que abriu um largo sorriso. A morena riu consigo mesma ao perceber o quanto aquele gesto lembrava Diantha. As duas eram extremamente parecidas, assim como ela própria e Mirabelle.

— Calista, veja! — Diantha chamou. — Encontrei o vestido perfeito para você!

A morena se virou para olhar, um tanto surpresa. Mas o bom gosto de Diantha já era um fato que conhecia bem. Confiaria nela cegamente em qualquer dia.

E, de fato, a atriz não a desapontou. O vestido era de um bonito veludo vermelho-sangue com um enfeite de cetim branco-pérola na barra, que terminava pouco acima dos joelhos, completando a saia drapeada. O corpete tinha um simples decote arredondado, porém a fita de cetim branco lhe realçaria perfeitamente a cintura.

— Tem razão, é absolutamente perfeito. — Calista concordou. — Mas e quanto a você, ainda não encontrou nada de que goste?

— Ainda não ... Acho que vermelho não é minha cor.

— E qual seria, então?

— Branco, é claro.

Calista revirou os olhos e não fez comentários. Com Diantha, às vezes era difícil saber onde a mulher terminava e a personagem começava. Seus lábios, porém, logo se curvaram em um sorriso.

— Acho que tenho uma ideia. — A morena disse. — Espere um segundo.

A jovem kantoniana desapareceu entre as roupas por alguns instantes, retornando com um vestido branco nos braços.

— Meu bem ... — Diantha não conseguiu esconder o tom de diversão em sua voz. — Steven disse algo vermelho. Ele não vai me deixar em paz se me vir com isso.

— Vamos, super estrela, confie em mim e experimente.

— Tudo bem, mas só se você experimentar o vestido que eu sugeri.

— É justo. Vamos lá, então.

As duas mulheres foram para os provadores. Calista se surpreendeu ao se olhar no espelho. O modelo que Diantha lhe sugerira, embora de veludo, era surpreendentemente leve e gracioso.

— Calista? — Diantha chamou. — Pronta para desfilar para mim?

— Sem chance. — Calista protestou. — Nem pense nisso, Diantha!

— Ah, por favor! — A atriz pediu e, pelo tom de sua voz, Calista quase conseguia ver seus lábios se franzindo em um biquinho. — Estou morrendo de curiosidade! Me deixe ver como ficou!

— Está bem, está bem. — A jovem cedeu com um pesado suspiro. — Você venceu, Diantha. Como sempre.

Calista abriu a cortina do provador apenas para perder o fôlego, admirada. O vestido branco que escolhera para Diantha caíra mesmo bem. O modelo destacava o corpo gracioso da atriz sem chamar muita atenção para ele, fazendo com que seus fantásticos olhos azuis fossem o centro das atenções. Os flocos de neve bordados em vermelho na saia rodada, que pareciam dançar a cada movimento da ex campeã, eram o toque final perfeito.

— Você tinha razão, meu bem. — Diantha cedeu, girando enquanto se olhava no espelho. — Ficou mesmo perfeito.

— Você também tinha razão. — Calista concedeu. — Acho que nossa busca está encerrada.

As duas mulheres ainda conversavam animadamente alguns minutos depois, quando saíram da loja. Ambas mal podiam esperar pela chegada da noite. Aquela festa prometia ser ótima.

Horas depois, já na frente do hotel que Steven lhes indicara, Diantha e Calista trocaram um sorriso travesso.

— Pronta para deixá-los chocados?

Calista riu daquela pergunta, enganchando o braço no da ex campeã.

— Pronta. — Declarou. — Vamos mostrar a eles.

Ainda rindo daquela piadinha interna, as duas se dirigiram ao salão particular reservado por Steven. Cynthia foi a primeira a reparar na entrada da dupla, sorrindo e dirigindo um discreto aceno para Calista. 

— Vá falar com ela. — Diantha sussurrou para a jovem. — Parece que Cynthia sentiu sua falta.

— Não comece, Diantha.

A atriz meramente abriu um sorriso malicioso enquanto Calista seguia seu conselho e ia ao encontro de Cynthia.

— Oi, campeã. — A jovem kantoniana disse. — Já faz tempo.

— Oi, Cal. — A campeã respondeu calorosamente. — Caramba, como senti sua falta!

— Claro, loira. — Calista riu ironicamente. — Não teria sentido tanto a minha falta se me ligasse de vez em quando.

— Ah, pare com isso. Você sabe que eu prefiro escrever.

— Pura desculpa furada, e nós duas sabemos disso. Sua bobona.

Cynthia não conseguiu deixar de rir daquela resposta. A espontaneidade com que Calista a tratava era como uma lufada de ar fresco.

— Falando em escrever ... — A morena disse. — Como vai a sua pesquisa? Encontrou mais alguma coisa interessante?

— Ah, você não faz ideia! — A campeã de Sinnoh exclamou, seu rosto se iluminando como o de uma criança na manhã de Natal. — Descobri tanta coisa, Cal! Eu quis enviar para você por e-mail, mas ...

— Depois você me conta tudo. — Calista disse, divertida ao ver tanta empolgação. — Estou curiosa. Vamos ver se a sua nerdice descobriu alguma coisa que eu não saiba.

A jovem foi brevemente até Steven para cumprimentá-lo. Hitoshi, que conversava com o campeão de Hoenn, não resistiu a provocar a irmã de Ash, que respondeu lhe dando um soco no braço.

— Desculpe pelo meu irmão. — Cynthia disse enquanto sua amiga se juntava a ela novamente. — Ele é o maior idiota de todos.

— Acho que Ash é quem merece esse título.

— Isso é discutível.

As duas amigas se acomodaram juntas em poltronas na frente da antiga lareira de pedra que decorava a sala, conversando animadamente. Enquanto falava sobre suas descobertas mais recentes, Cynthia quase parecia uma garotinha. Era impossível para ela esconder sua empolgação.

— Ei, mana! — Ash chamou depois de algum tempo. — Deixe de ser anti social e venha aqui!

— Você também, nee-chan. — Hitoshi adicionou. — Sua nerd.

— É melhor nós irmos. — Calista declarou, brincalhona. — Não queremos que esses dois pirralhos descubram sobre o que estávamos falando. Eles não nos deixariam em paz.

— Hitoshi não precisa desse tipo de desculpa para me atormentar.

As duas riram e se juntaram ao grupo, que não era tão grande, composto por Steven, Diantha, Cynthia, Hitoshi, Ash e a própria Calista. Todos conversavam e a reunião de última hora organizada pelo campeão de Hoenn logo adquiriu o clima festivo típico da época. À meia noite todos brindaram ao Natal, e depois disso as coisas rapidamente começaram a ficar caóticas.

— Que tal jogarmos "desafio"? — Steven sugeriu a certa altura.

— Desafio? —Cynthia riu. — Sério, Steve? Não estamos mais na faculdade, sabia?

— O que foi, Cynth? Com medo?

— Jamais. Estou dentro.

— Sabia que você diria isso. — O campeão de Hoenn riu. — E, já que é assim, você pode ser a primeira.

— Detesto você, Steve.

Steven meramente riu enquanto vendava os olhos de sua amiga de infância, explicando rapidamente as regras para o restante do grupo. Quando terminou, fez a campeã loira girar três vezes sobre si mesma.

O restante dos presentes se movia silenciosamente ao redor dela, tentando ficar fora de seu alcance. A regra era que o primeiro em que a pessoa vendada tocasse seria o "desafiador". No caso de Cynthia, essa pessoa foi Steven.

— Certo. — Ele disse, tirando a venda de sobre os olhos dela. — Verdade ou desafio?

— Verdade. — Foi a resposta. — E faça o que quiser disso.

— Muito esperta, Cynth. — Steven elogiou, abrindo um sorriso verdadeiramente diabólico. — Muito bem, então, diga a verdade: o nome de alguém que você verdadeiramente odeia.

Cynthia hesitou, percebendo que Steven a encurralara em uma armadilha. Ele a conhecia, sabia muito bem qual seria a resposta àquela pergunta, e qual seria a penalidade mais constrangedora caso resolvesse mentir.

— Diantha. — A campeã de Sinnoh declarou enfim.

A atriz kalosiana literalmente se encolheu ante aquela resposta. Não perceptivelmente, mas o bastante para que Calista, parada ao seu lado, notasse. A morena lançou um olhar de reprovação para Cynthia, que meramente deu de ombros e se ocupou em vendar os olhos de Steven.

A pessoa que o campeão de Hoenn tocou foi Hitoshi. O rapaz riu, satisfeito.

— Valeu, cara. — O jovem treinador de Sinnoh disse maliciosamente. — Verdade ou desafio?

— Desafio, rapaz. Faça o seu pior.

— Eu te desafio ... A dar um soco na pessoa mais irritante dessa sala.

Os lábios do homem de cabelos claros se curvaram em um sorriso malicioso enquanto ele recuava e dava um soco sem força no ombro de Hitoshi. O rapaz se esquivou e rebateu com um soco no estômago do homem mais velho. Os dois riram. Conhecendo-se desde sempre, os dois se consideravam quase irmãos apesar da diferença de idade. Steven vendou os olhos do irmão de Cynthia logo depois, e a primeira pessoa tocada por Hitoshi foi Ash.

— Beleza! — O irmão de Calista riu alto. — Verdade ou desafio, seu mané?

— Verdade, idiota. Acha que eu não sei que você estava tramando alguma?

— Então fale a verdade ... — Ash abriu um sorriso malicioso. — O que você acha da sua irmã?

— Merda, cara! Isso não vale!

Hitoshi parecia prestes a pular no pescoço de Ash, mas respirou fundo e foi em frente.

— A nee-chan é uma chata. Uma nerd total. — O rapaz declarou. — E uma tremenda idiota. Mas ... Ela é uma treinadora incrível. Pronto, satisfeito?

Ash gargalhava ao pegar a venda da mão de Hitoshi e colocar sobre os próprios olhos. Para seu azar, a primeira pessoa em quem tocou foi o irmão de Cynthia.

— Isso aí, Espinho. — Hitoshi obviamente estava louco por sua vingança. — Verdade ou desafio?

— Desafio. Pode mandar ver!

— Eu te desafio ... — Hitoshi foi até sua mochila e tirou de lá uma garrafa de uísque. — A beber isso. Até a última gota.

— Hitoshi, seu babaca! — Cynthia quase gritou. — Ficou maluco?! Ash, não faça isso.

Mas Ash não parecia se importar. Na verdade, o moreno tinha um sorrisinho satisfeito nos lábios.

— Está tudo bem, Cynthia. — Ele disse simplesmente. — Desafio é desafio.

O rapaz se afastou e voltou pouco tempo depois com copos de uísque, servindo duas doses, uma para si e uma para Calista. A morena não conseguiu evitar uma risada ao ingerir a bebida. Ash tinha cérebro, afinal.

— Ei! — Hitoshi protestou. — Isso é trapaça!

— Não é, não. — Foi a resposta. — Você me disse para tomar tudo, não que eu devia tomar tudo sozinho.

— Ele tem razão, irmãozinho. — Cynthia declarou, rindo. — Essa foi boa, Ash.

O rapaz sorriu e ergueu um terceiro copo numa oferta silenciosa. A campeã loira assentiu. Até mesmo Steven decidiu beber com eles.

— Ei, Steve. — Cynthia chamou minutos depois. — Uma pessoa pode ser "desafiante" duas vezes seguidas?

— Não vejo problemas nisso. — Steven rebateu. — Mas, se acontecer, essa pessoa só pode escolher desafio. Nada de fugir para a verdade.

— É justo. — A loira assentiu.

Hitoshi recolocou a venda e o jogo recomeçou. Os desafios só foram se tornando mais ridículos a medida que o álcool começava a agir. A certa altura, foi a vez de Hitoshi desafiar Cynthia novamente.

— Nee-chan, eu te desafio a beijar a pessoa mais bonita dessa sala.

Calista jamais pensou que veria Cynthia perder a compostura daquela forma: a loira paralisou, ofegando audivelmente e corando até a raiz dos cabelos.

— Você é terrível, Hitoshi. — Ela declarou. — O pior irmão do mundo.

— O mesmo para você, nee-chan. — O rapaz respondeu, já tropeçando um pouco nas palavras devido ao álcool. — Vai cumprir o desafio?

A campeã, tendo a vantagem da sobriedade a seu favor, meramente assentiu, indo até Calista e dando-lhe um beijo na bochecha. Hitoshi teve a "chance" de ser desafiado por Cynthia logo em seguida. A expressão de satisfação vingativa no rosto dela era algo que valia a pena ser registrado.

— É isso aí, irmãozinho. Sua vez. — Ela declarou. — Agora você é quem vai beijar a pessoa mais bonita da sala.

Assim como sua irmã mais velha, Hitoshi corou até a raiz dos cabelos. Ele lhe dirigiu uma careta antes de ir até Diantha e lhe dar um beijo na bochecha. A atriz também corou, embora tenha tentado disfarçar o fato.

Calista, Cynthia, Diantha e Steven deixaram o jogo logo depois. Ash e Hitoshi decidiram continuar entre si. Os dois rapazes estavam muito bêbados, para a fúria de suas irmãs mais velhas.

A certa altura, uma discussão entre os dois culminou em uma troca de socos. Calista e Cynthia suspiraram, trocando um breve olhar resignado.

— Deixe comigo. — Cynthia disse.

A campeã de Sinnoh tirou seu Glaceon da pokebola e ordenou ao Pokemon Neve Fresca que usasse Pulso d'Água combinado com Raio de Gelo. Os dois rapazes foram atingidos pela água extremamente fria e pararam imediatamente. Cynthia os encarou com as mãos fincadas na cintura, sem disfarçar o quanto estava furiosa.

— Esfriaram os ânimos? — A campeã inquiriu acidamente. — Ótimo. Agora parem de agir como duas criancinhas, pode ser?

— Desculpe, Cynthia. — Ash disse, corando de constrangimento. — Eu perdi a cabeça.

— É comigo que você tem que se entender, garoto. — Calista interferiu rispidamente. — Seu babaca.

— Ei! Hitoshi é tão culpado quanto eu! Por que só eu levo a bronca?

— Porque quando um não quer dois não brigam. — Calista rebateu. — Se Hitoshi começou, você não precisava revidar.

— Ei, isso não é justo! — Hitoshi protestou. — Foi o Ash quem começou.

— Chega, vocês dois! — Cynthia ordenou rispidamente. — Os dois estão bêbados. Especialmente você, Hitoshi. Suba e vá tomar um banho antes que pegue um resfriado, seu irresponsável.

— Você já cuidou disso, nee-chan. Se eu me resfriar, a culpa é dessa sua geladeira ambulante.

Glaceon rosnou alto de pura afronta e o olhar furioso que a campeã lançou para seu irmão mais novo foi suficiente para fazer até mesmo Hitoshi desistir de discutir.

Assentindo silenciosamente, o rapaz deixou o salão acompanhado por Calista e Ash. O trio se separou no saguão do hotel. Enquanto Hitoshi subia para seu quarto, Calista guiou Ash até a frente do prédio. Uma vez do lado de fora, a morena tirou IceFire de sua pokebola.

— Me ajude aqui, parceira. — A jovem disse. — Antes que esse idiota pegue um resfriado.

A Charizard rosnou baixinho, numa imitação perfeita da atitude reprovadora de Calista, e usou suas asas para criar poderosas rajadas de vento quente que deixaram Ash seco em questão de segundos.

— Valeu, mana. — O rapaz disse. — Você também, Fire.

— Ande, babaca, vamos voltar para dentro. E tente se comportar, ou juro que vou matar você.

— Desculpe mesmo por aquilo,  Caly. — Ash disse enquanto caminhavam de volta a salão particular. — Eu não sei o que deu em mim.

— Álcool. — Calista respondeu secamente. — Quem não está acostumado não deve beber, seu idiota.

— Vou me lembrar disso.

Os irmãos Ketchum se juntaram novamente ao grupo, e Calista pediu desculpas pelo comportamento de seu irmão mais novo. Ash também se desculpou com todos, e Hitoshi se juntou ao grupo não muito depois, tendo tomado banho e trocado de roupa.

Ash e Hitoshi voltaram a conversar depois de poucos minutos, tendo superado a birra, discutindo acirradamente sobre técnicas de batalha pokemon. Um comentário do irmão de Cynthia levou ao assunto da mega evolução, no qual Steven e Diantha também participaram. Depois de alguns minutos Hitoshi desistiu de tentar acompanhar a conversa, deitando a cabeça no encosto de sua poltrona e fechando os olhos.

— Eu sabia que isso ia acabar acontecendo. — Cynthia disse. — Esse idiota.

— Pegue leve, Cynth. — Steven disse. — Ele vai acabar aprendendo cedo ou tarde.

— Espero que sim, Steve. Espero mesmo que sim.

A calmaria que se seguiu foi confortável. Ash, que estava sentado ao lado de sua irmã mais velha, apoiou a cabeça no ombro de Calista e também fechou os olhos. A morena soltou um bufo de impaciência, mas não o afastou, limitando-se a conversar em voz baixa com Cynthia, Diantha e Steven.

Calista e o campeão de Hoenn logo se envolveram em um debate sobre táticas e costumes de suas respectivas regiões, da qual as duas campeãs se abstiveram de participar.

A conversa dos dois só foi interrompida quando Calista notou Diantha se levantar e sair do salão. Uma rápida olhada para Cynthia, ainda corada de raiva, delatou imediatamente e sem sombra de dúvidas o que havia acontecido.

— Acho melhor você falar com ela. — Steven disse. — Eu cuido da Cynth.

— Tem certeza?

— Absoluta. — O campeão assentiu. — Vá.

Calista não precisou que ele repetisse o pedido. Sendo rápida, encontrou Diantha ainda no corredor que levava ao saguão principal.

— Diantha. — A morena chamou. — Diantha, espere!

Para sua surpresa, a atriz kalosiana obedeceu, parando e se apoiando contra a parede. Ela, porém, continuou de costas.

— Olhe para mim. — Calista pediu gentilmente. — O que aconteceu? O que a Cynthia disse?

— Nada. — Foi a resposta, . — Não aconteceu nada.

— Não pode mentir para mim, Diantha. — A jovem kantoniana rebateu. Apesar das palavras ásperas, seu tom foi carinhoso. — Eu conheço Cynthia melhor do que ela imagina, e conheço um pouco sobre você. Sei que alguma coisa aconteceu, então pode me contar. O que ela disse que a abalou tanto?

A atriz meramente balançou a cabeça, ainda sem se virar.

— Não quero falar sobre isso. — Ela respondeu simplesmente.

— Por mim tudo bem. Mas eu não tentaria lidar com tudo sozinha se fosse você. — Calista respondeu, ainda gentilmente. — Já fui por esse caminho, e sei que está fadado a não dar certo.

Isso finalmente fez a atriz se virar. Aqueles olhos azul-celeste luziam de pura raiva, delatando o quanto estava furiosa.

— É só uma antiga discussão entre nós, nada com o que você precise se preocupar. — A ex campeã confessou finalmente. — Honestamente, não entendo por que Cynthia ainda insiste em usar isso contra mim.

— Ela é complicada. — Calista admitiu. — Mas não acredito que faça por pura crueldade. Cynth é teimosa, mas não há sequer um osso de maldade naquela mulher.

— Em se tratando de mim, não tenho tanta certeza.

Enquanto as duas mulheres conversavam, Cynthia e Steven discutiam acaloradamente no suntuoso salão de festas.

— Que diabos foi aquilo? — O campeão de Hoenn exigiu num rosnado. — O que deu em você, Cynthia?

— E quem disse que a culpa foi minha, Steven?

— Eu, porque conheço você. — Steven rebateu. — Não pode mentir para mim, Cynth. Você queria uma oportunidade para atingir Diantha há muito tempo.

— Isso não e verdade!

— Claro que é! — Steven rebateu. — Minta para si mesma, se quiser, mas não vai conseguir me enganar. Francamente, Cynthia, eu esperava mais de você.

— Steven, eu ...

— Já chega. — O campeão de Hoenn interrompeu acidamente, ainda furioso. — É melhor encerrarmos a noite. Nós dois estamos exaltados. Se discutirmos, vamos nos arrepender pela manhã.

A loira meramente assentiu em concordância, deixando o salão em silêncio. Ao cruzar com Calista e Diantha, lançou um sorriso apologético para a jovem kantoniana.

— Sinto muito, Cal.

— Não é comigo que você precisa se desculpar. — Calista rebateu friamente.

— Tem razão. — Cynthia cedeu com um suspiro. — Sinto muito, Diantha. Eu não devia ter dito nada daquilo.

— Não, não devia. — A atriz respondeu. — Mas eu também reagi mal. Vamos simplesmente esquecer tudo, certo?

— Por mim, tudo bem. — A loira assentiu.

— Bem, já está tarde. — Calista disse, seu tom ainda puro gelo. — É melhor irmos. Não acha, Diantha?

— Sim, você tem razão. — Diantha concordou. — Boa noite, Cynthia.

— Boa noite. — Cynthia respondeu. — Boa noite, Cal.

Calista respondeu apenas com um aceno de cabeça, já se virando para deixar o hotel junto com Diantha. As duas caminharam lentamente pelo corredor, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.

— Calista ... — Diantha enfim quebrou o silêncio. — Você também percebeu, não foi?

— Percebi o que?

— Enquanto Cynthia e eu discutíamos. — A atriz explicou. — Já discutimos milhares de vezes, e nunca perdi o controle da forma como aconteceu hoje. Foi como se ... Como se eu pudesse sentir a minha própria raiva, e a dela ao mesmo tempo.

— Agora que você mencionou ... — Calista mordeu o lábio inferior, pensativa. — Alguma coisa me alertou pouco antes de você sair da sala. Eu pude sentir essa onda de raiva que você descreveu.

— O que você acha que foi?

— Eu não sei. — A jovem respondeu. — Se não fosse impossível, eu diria que foi telepatia.

— Também considerei essa alternativa. — Diantha declarou. — Mas, como você disse, é impossível. Já ouvi falar sobre casos de telepatia entre humanos e pokemon, mas jamais entre dois seres humanos.

— Então o que aconteceu lá?

— Eu adoraria saber.

As duas ficaram em silêncio. Calista se pegou relembrando, pensando naquele momento. A sensação fora muito forte, porém breve. Como um relâmpago. Mas era inconfundível. Apesar de sua descrença, a irmã de Ash sabia que só havia uma resposta possível.


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