Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 15
Decisões




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Calista pousou em Kalos e desceu do avião já com o celular grudado na orelha.

— Sim, Master Lance. — Ela dizia em voz baixa. — Acabei de chegar. Não, não, diga a Clair que eu estou bem. Caramba! Sim, tenho certeza. Está bem, até mais. Mande um beijo para Emilly. Preciso ir agora, minha mãe está me esperando.

Com a mão livre a jovem acenou para sua mãe e Ash, que a aguardavam logo depois do portão de desembarque, ambos sem fazer ideia dos eventos ocorridos em Kanto.

— Caly! — Dehlia exclamou, correndo para abraçar sua filha mais velha. — E então, como foi?

A morena olhou rapidamente por cima do ombro de sua mãe, para Ash. Dehlia sempre mantivera seu filho mais novo relativamente no escuro sobre o pai, e Calista agora sabia o motivo. Por isso, quando encontrou os olhos de sua mãe, a jovem assentiu discretamente, prometendo em silêncio que manteria tudo em segredo.

O tempo voou rapidamente depois disso, e seis meses se passaram antes que a jovem kantoniana percebesse. Sendo Calista a Rainha de Kalos, além de uma bela mulher, sua ascensão à fama foi meteórica. Comerciais, estreias de filmes, sessões de fotos, entrevistas ... A morena se tornou uma estrela em um piscar de olhos.

Ao seu lado, sempre uma preciosa ajuda com seus conselhos e apoio incondicional, estava Diantha. A atriz, com seu senso de humor afiado, tinha um jeito especial de transformar até os piores trabalhos em algo agradável, e conseguir trabalhar com aquela mulher era um bônus pelo qual Calista definitivamente não esperava.

— Calista?

A voz arrancou a irmã de Ash de seus pensamentos. Calista se voltou e encontrou os olhos azul-celeste de Diantha. Como sempre, não conseguiu evitar uma pontada de inveja à visão de sua nova amiga.

Os cabelos cor de chocolate da atriz estavam presos em um elegante nó na nuca e seu vestido, em um lindo tom de azul-índigo, dava à sua pele clara um tom cremoso. Ela era simplesmente lindíssima, de um jeito que poucas pessoas conseguiam igualar.

— Boa noite, Maître.

Diantha sorriu, lançando-lhe um olhar de desaprovação brincalhona ao ouvi-la usar aquele título. Sendo Calista vários centímetros mais alta, a atriz teve que ficar na ponta dos pés ao lhe saudar com beijos nas duas bochechas, como era o costume em Kalos. Mesmo após tanto tempo, o gesto ainda fez a morena corar.

— Se eu não a conhecesse, meu bem, diria que você está tramando alguma coisa. — A ex campeã provocou. — Se esconder em uma noite como essa é muitíssimo suspeito.

— Você atuou em filmes de mistério demais. — Calista rebateu, rindo. — Eu só precisava tomar um ar antes que a noite começasse.

— Nervosismo de palco mesmo depois de todo esse tempo, Calista? Pensei que a essa altura você já teria se acostumado.

— É, eu também. Acho que isso faz de mim uma grande covarde, huh?

— Uma covarde não dominaria o palco como você faz. — Diantha rebateu calorosamente. — Respire fundo, meu bem. É só sorrir e parecer linda.

— Fácil para você falar.

— Ora, vamos! — A atriz kalosiana soltou uma gostosa gargalhada. — Você sequer se olhou no espelho esta noite?

— Não, eu venho evitando fazer isso.

A ex campeã de Kalos riu mais uma vez ante tal resposta, e Calista se pegou sorrindo. Desde a primeira vez em que trabalharam juntas, em uma sessão de fotos, Diantha parecia ter um sexto sentido para lhe dizer exatamente o que a morena precisava ouvir.

Calista ainda se lembrava daquele dia e da forma como, assim que os fotógrafos declararam encerrada a sessão, a atriz abrira aquele sorriso travesso de dez mil volts e a convidara para um café. Desde então as duas mulheres haviam se aproximado rapidamente, tornando-se surpreendentemente íntimas naquele curto espaço de tempo.

— Você não tem jeito. — A irmã de Ash respondeu simplesmente. — Sua bajuladora.

— Sou honesta, meu bem. — Diantha rebateu, claramente achando graça na reação da morena. — E você bem sabe que gosta disso.

— A pior parte é que você tem razão.

— Eu sempre tenho.

A ex campeã de Kalos abriu mais uma vez aquele seu sorriso travesso, estendendo uma das mãos em um convite. Calista não hesitou em colocar sua mão sobre a da atriz, e as duas pisaram juntas no tapete vermelho.

Já não era surpresa, na verdade. Desde que o público descobrira sobre a amizade entre as duas, Calista e Diantha haviam se tornado a "dupla de ouro" da região de Kalos. No começo fora uma simples questão de publicidade, mas rapidamente evoluíra para uma amizade sincera de ambas as partes.

Aquela noite em especial se tratava da estreia de um filme longamente aguardado no qual Diantha havia estrelado. E, como  sempre, as duas amigas compareceram ao evento como uma frente unida.

Calista deixou que a ex campeã de Kalos a guiasse, suspirando de alívio quando se viram a sós em uma sala particular.

— É sério, Diantha. — A  morena comentou, continuando a discussão que já era habitual entre elas. — Nunca vou entender como você consegue fazer isso parecer tão fácil.

— Prática, meu bem. Muitos e muitos anos de prática.

— E em que altura de todos esses anos você se acostumou com essa atenção?

— Honestamente, eu nunca me acostumei. Não acho que alguém realmente consiga se acostumar. — Foi a resposta. — Mas acredite, cedo ou tarde você aprende a lidar com toda a atenção.

As duas amigas se acomodaram no enorme e confortável sofá de veludo no centro da sala. Minutos depois um jovem juntou-se a elas.

— Boa noite, Diantha. — Ele disse, com um toque de ironia temperando seu cumprimento bem educado. — Olá, minha rainha.

— Oi, mini campeão. — Calista sorriu enquanto Hitoshi sentava ao seu lado. — E aí, como vai?

— Nada mal. — O irmão mais novo de Cynthia respondeu, abrindo um sorriso malicioso. — Falando nisso, a nee-chan te mandou um oi.

— Pois diga àquela idiota da sua irmã para deixar de ser boba e me ligar.

— Diga você. — O rapaz rebateu. — Afinal, ela é sua amiga.

— Vocês dois. — Diantha interrompeu. — Comportem-se. Nada de discussões essa noite, entenderam?

— Está bem, mãe.

A atriz lançou um olhar reprovador para Calista devido a essa resposta, enquanto Hitoshi simplesmente riu. Os três assistiram ao filme em silêncio e, assim que as luzes foram acesas novamente, Diantha se pôs de pé.

— Você vem, Caly?

— Num minuto. — Foi a resposta. — Vá na frente, é melhor não deixar seus fãs esperando.

— Cuidado, muito em breve será a minha vez de dizer isso a você.

Rindo, a atriz deixou Calista e Hitoshi a sós. A jovem kantoniana simplesmente balançou a cabeça, incrédula.

— Nunca vou me acostumar. — A morena declarou. — Ela é mesmo uma figura, não é?

— Com certeza não é o que se espera de alguém como ela. A Bela e a Fera numa só pessoa, por assim dizer.

— Ah, pare com isso! Diantha é ótima, você só está criticando para defender a sonsa da sua irmã. E, falando naquela loira ... Ande logo confesse: qual é o problema dela? Cynthia tem me evitado há semanas. Desde ...

— Aquele artigo sobre sua nova "melhor amiga". Pois é. Ela ficou uma fera com aquilo. — Hitoshi zombou, se esparramando mais confortavelmente no sofá. — Se quer saber, acho que a nee-chan está com ciúmes.

— Ciúmes? Ora, me poupe, Hitoshi!

— É sério. Você sabe o que ela pensa sobre sua nova amiga.

— Argh! Sua irmã é muito estranha, sabia?

— Pois é. Só percebeu isso agora?

Calista caiu na gargalhada com aquela resposta e ainda estava rindo quando saiu da sala com Hitoshi.

Houve um pequeno tumulto quando os dois se juntaram à multidão, vários pedidos de autógrafos. O irmão de Cynthia, arrogante como era, parecia se divertir com a situação. Calista, por sua vez, se retraiu. Nunca se sentira muito à vontade em meio a multidões de fãs, o que era um paradoxo considerando sua profissão.

Diantha, ao perceber a presença de sua amiga, imediatamente foi até ela.

— Não é assim tão ruim. — A atriz disse em voz baixa. — Tente se divertir.

— Esse é o seu segredo?

Um meio sorriso curvou os lábios pintados de escarlate da ex campeã kalosiana e seus olhos azuis luziram com malícia.

— Talvez. — Ela respondeu simplesmente.

Um trio de jovens se aproximou. Duas delas se mantiveram caladas mas a terceira deu um passo à frente. Em menos de cinco minutos as duas estrelas da noite conversavam animadamente com o trio.

Diantha lançou um rápido olhar para Calista, que recuara alguns passos de modo a ficar ligeiramente atrás da atriz kalosiana. Percebendo isso, a ex campeã habilidosamente conduziu o assunto para as Exibições Pokemon. A mais jovem das três meninas, que até então se mantivera extremamente quieta, soltou uma exclamação abafada de deleite.

— Eu sempre quis me apresentar em uma Exibição Pokemon! — A jovem confessou. — Mas não acho que tenho talento para isso.

— Talento é uma vantagem, mas sem trabalho duro não é de grande ajuda. — Diantha rebateu gentilmente. — Não é mesmo, Caly?

— Diantha tem razão. — Calista corroborou, percebendo a estratégia da atriz para incluí-la na conversa. — Ter talento é ótimo, mas nada supera o bom e velho trabalho duro.

— Foi assim que você fez para derrotar Aria?

— Mais ou menos. Digamos que foi uma combinação de sorte e experiência. Além de uma ajudinha da nossa atriz favorita aqui.

— Ah, não. — Diantha protestou com uma risada. — Você está sendo modesta demais, meu bem. Não tive nada a ver com isso, o mérito é todo seu.

— Bem, se assim você diz ...

As três jovens logo requisitaram a atenção total de Calista pedindo dicas sobre performances. A morena gradativamente se deixou envolver pela conversa, relaxando sem perceber.

Uma explosão soou de repente, espalhando caos e pânico entre os presentes. Uma das paredes internas, feitas de vidro, explodiu em milhares de cacos. Diantha agilmente lançou a pokebola de Aurorus para o alto, ordenando ao Pokemon Tundra que usasse Refletir. Os cacos de vidro ricochetearam na proteção invisível do pokemon tipo Gelo e, graças a isso, ninguém se feriu.

— Ora, ora. — Uma voz familiar zombou. — Olhe só quem está vivendo no luxo. Que bom te ver de novo, princesinha.

As mãos de Calista cerraram-se em punhos num gesto inconsciente, enquanto sua expressão se tornava uma máscara de puro ódio.

— Jessie. — A morena rosnou baixinho. — Desgraçada.

— Não, sua idiota. — Hitoshi interferiu em voz baixa, segurando a morena por um braço. — Tire as pessoas daqui. Diantha e eu cuidamos da Equipe Rocket.

Calista meramente se voltou para o rapaz, seus olhos verdes queimando com raiva cega. Hitoshi resolveu agir como agiria com sua própria irmã: ignorando a raiva dela, soltou-lhe o braço e a empurrou de leve na direção da saída.

Surpresa demais para protestar, a morena obedeceu. IceFire foi tirada de sua pokebola, ajudando a carregar algumas pessoas para fora através das janelas.

— Calista. — Uma voz masculina soou em meio à multidão apavorada. — Pare. É inútil lutar.

Hitoshi também reconheceu a voz do homem que falara e ordenou a seu Sceptile que usasse Lâmina de Folha. Diantha se juntou ao ataque, ordenando a Aurorus que congelasse o oponente com Raio de Gelo.

Rápida e discreta, a morena pegou a pokebola de Demetria e libertou a Vivillon por trás de suas costas.

— Proteja-o. — Calista ordenou em voz baixa. — Mas não se deixe ser vista.

A magnífica borboleta kalosiana assentiu, voando até se fundir com as sombras do teto alto e então usando Proteção. Os ataques de Aurorus e Sceptile ricochetearam inofensivamente em uma barreira invisível.

Giovanni pareceu surpreso por um momento, então seus olhos encontraram os de sua filha. Os dois se encararam por um longo segundo.

, a morena disse apenas com o movimento dos lábios.

Muito devagar, quase imperceptivelmente, o líder da Equipe Rocket assentiu.

— Jessie, James ... Já chega. — O homem moreno ordenou imperiosamente. — Vamos embora.

— O que?! — Jessie praticamente guinchou, indignada. — Mas chefe ...

— Obedeçam. — Giovanni lançou um olhar de ódio a Diantha e Hitoshi. — E vocês, não pensem que venceram. Nem por um segundo.

Uma nuvem de fumaça negra, provavelmente vinda do ataque Cortina de Fumaça de algum pokemon, envolveu o salão. IceFire a dispersou com rajadas de suas poderosas asas, mas os criminosos já haviam sumido. O caos e a correria da multidão se transformaram em aplausos estrondosos e gritos de comemoração.

Hitoshi e Diantha lidaram bem com a atenção, recebendo os elogios e apertos de mãos. Calista, por sua vez, se aproveitou da confusão para sumir sem ser vista no meio de todas aquelas pessoas.

Assim que se viu do lado de fora, a morena tirou os sapatos de salto alto e desatou a correr. Não parou até chegar a seu apartamento, em um prédio numa rua transversal com vista para a Torre Prisma.

— Mas que droga! — Calista exclamou ao finalmente se ver a sós, desabando em sua cama. — O que foi que eu fiz?!

Caly? O sussurro telepático de Angel soou em sua mente. Calista, o que aconteceu?

Ao invés de responder, a morena simplesmente pensou nos acontecimentos daquela noite. Sabia que sua parceira veria tudo através de seu elo de empatia.

— Eu errei feio, Angel.

Sim, errou. A Meloetta concordou, tornando-se visível ao lado da irmã de Ash. Seus olhos verde-água fitavam a jovem com preocupação. Ele é um criminoso. Por que você o defendeu?

— Ele ainda é meu pai. — Foi a resposta. — Eu não podia deixar que saísse ferido. Não antes de saber toda a verdade.

A Pokemon Melodia não respondeu, simplesmente balançou a cabeça com pesar, estendendo uma de suas pequenas mãos e descansando-a no rosto de Calista. A jovem kantoniana ficou imóvel e em silêncio por um longo tempo, até ouvir o toque de seu celular.

— Preciso atender. — Ela disse, verificando o número de quem ligava. — É Diantha.

Vai contar a verdade a ela?

Calista simplesmente balançou a cabeça em negativa, já atendendo a chamada.

— Calista Ketchum! — Diantha exclamou rispidamente. — Para onde você foi? Tem noção do susto que nos deu?

— Ei, calma, super estrela. — A morena respondeu, se esforçando para manter seu tom de voz leve e casual. — Eu precisava sair. Toda aquela confusão foi ... Sufocante.

— Bem, você podia ter me avisado. — A atriz rebateu acidamente. — Você está bem? Eu juro, Calista, se me assustar desse jeito de novo ...

— Eu estou bem. Obrigada. — Mesmo através de sua confusão, a preocupação sincera da amiga fez Calista abrir um pequeno sorriso. — Eu só não lido bem com toda aquela atenção. Você sabe disso melhor do que ninguém.

— Certo, mas nunca mais faça isso comigo de novo. Entendeu?

— Tudo bem. Eu prometo.

— Ótimo. — Pelo tom de sua voz, a morena teve certeza de que Diantha estava sorrindo. — Bonne nuit, mon ami.

— Boa noite, Diantha.

Calista recolocou o celular sobre sua mesinha de cabeceira apenas para ouvi-lo tocar segundos depois, indicando uma nova mensagem. Ao checar, seu sangue gelou:

Precisamos conversar, só nós dois. Café Lysandre, 10h30?

Não havia identificação do remetente, e nem precisava. Calista sabia exatamente quem enviara a mensagem. Com o sangue ainda gelado nas veias, a jovem respondeu apenas duas palavras:

Estarei lá.

Na manhã seguinte, Calista adentrou o café próximo ao centro pokemon de Lumiose com o coração aos pulos, e imediatamente parou, lançando ao redor um olhar atônito. Tudo ali era vermelho. Paredes vermelhas. Mesas vermelhas. Piso vermelho. Até mesmo os talheres eram vermelhos.

Uma vez superada a surpresa devido a um lugar tão peculiar, a jovem olhou em volta mais atentamente. Não demorou a reconhecer seu pai sentado em uma mesa quase no fundo do estabelecimento, o mais longe possível de todos os outros fregueses. Percebendo seu escrutínio, Giovanni lhe dirigiu um aceno discreto.

— Creio que você já sabe por que eu a chamei aqui. — Ele disse assim que Calista se aproximou. 

—  Tenho uma ideia. —  A morena respondeu, sentando-se de frente para seu pai. — Mas vá em frente. Quero ouvir de você.

O líder da Equipe Rocket se permitiu um pequeno sorriso, apenas o mais leve erguer dos cantos dos lábios. Havia uma ponta de orgulho naquele gesto, pois a resposta de sua filha era exatamente o que ele esperara.

—  Você é mesmo minha filha. — Ele declarou. — Mas receio que isso vá tomar mais tempo do que você imagina, princesa.

— Se apresse. — Calista rebateu friamente. — Vou lhe dar quinze minutos, e considere-se satisfeito.

— Só por curiosidade ... — Giovanni disse lentamente. — Qual o motivo dessa súbita mudança de atitude? Não me lembro de você agir assim quando a visitei no centro pokemon.

— Pretende continuar com isso? — A morena inquiriu acidamente. —  Porque, se sim, vou embora agora mesmo.

— Certo. — O líder da Equipe Rocket assentiu, qualquer traço de humor negro desaparecendo de suas feições. — Aos negócios, então. Eu lhe prometi respostas e sou um homem de palavra.

O homem se interrompeu quando uma garçonete se aproximou. Calista pediu uma dose dupla de café puro e croissants de chocolate com canela, dispensando a jovem com um sorriso amistoso. Qualquer traço daquela simpatia desapareceu quando a performer kantoniana se voltou para seu pai.

— Pois bem. — Giovanni disse em voz baixa, para que somente a mulher à sua frente o ouvisse. — Suponho que você se lembre da época que fui embora.

Os lábios de Calista se apertaram em uma linha fina. Por sob a mesa, suas mãos cerraram-se em punhos. Não admitiria a verdade, nem mesmo para seu pai. Especialmente para ele.

— O suficiente. —  Ela respondeu secamente.

— E consegue imaginar meu motivo para partir?

— Oh, sim. Vários deles, na verdade. Passei muito tempo me perguntando qual seria o verdadeiro.

— A Equipe Rocket foi fundada com objetivo de pesquisa. — Giovanni se interrompeu brevemente para tomar um gole de café. — Mas Sam ... O professor Carvalho ... Foi um covarde. Ele não entendeu a importância do que estávamos fazendo e jogou sua mãe contra mim. Dehlia me fez acreditar que você havia morrido e fugiu de mim meses depois. Ela desapareceu, não consegui encontrá-la. No entanto, encontrei Sam em Viridian um ano depois. Ele me contou que sua mãe também havia morrido. Disse que era minha culpa, por tudo o que tentei fazer. Era, é claro, uma mentira. Não tardei a descobrir isso.

— Se sabia que a mamãe mentiu sobre a própria morte, não imaginou que a minha pudesse ser uma farsa também? — A morena inquiriu. — Ela seria um elo, poderia tê-la usado para me encontrar. Por que desistiu de procurar por mim?

— Quem lhe disse que eu desisti? — Giovanni desafiou — Desisti da sua mãe assim que ela me deixou, mas continuei procurando por você. Imagine só minha surpresa quando a vi na televisão, ganhando a coroa de Rainha de Kalos. Não a reconheci imediatamente, é claro. Você se tornou uma bela mulher, muito diferente da menininha que conheci. Mas não tardei a ligar os pontos.

— Isso foi várias semanas antes de nos enfrentarmos em Celadon. — A morena exigiu. — Você já sabia que mamãe havia mentido. Sabia onde eu estava. Por que não entrou em contato?

— Eu queria. — Foi a resposta. — Mais do que tudo. Porém alguns ... Assuntos me detiveram em Kanto, e acabamos por nos reencontrar da pior forma possível. Acredite, nada do que aconteceu em Celadon estava nos meus planos.

Calista tomou um pequeno gole de café, seus olhos analisando seu pai com atenção por sobre a xícara. Giovanni praticamente podia ouvir os pensamentos que corriam por trás daqueles olhos verdes, as dúvidas e a confusão de sua filha.

— Então ... — Ela disse enfim. — Seu plano era me recrutar desde o começo?

O líder da Equipe Rocket percebeu a armadilha naquela pergunta e seus lábios se curvaram em um sorriso de puro humor negro. Inteligente, forte e bonita. Uma jovem da qual podia se orgulhar.

— Meu plano era, e ainda é, lhe dar uma escolha. — Ele respondeu. — O resto depende somente de você.

— Tenho uma condição. — A jovem anunciou. — Quero saber de tudo. 

— Imaginei que você diria isso. — Giovanni declarou, parecendo satisfeito. — Pois bem. Se vier comigo a Kanto, posso lhe explicar tudo.

— Então irei. Quando?

— Agora mesmo. Só preciso dar um telefonema. — O líder da Equipe Rocket lançou um olhar incisivo para o anel de noivado brilhando no dedo anelar direito de Calista. — E talvez você também devesse. Podemos demorar um pouco.

— Não há necessidade. Ele é meu noivo, não meu dono.

— É assim que se fala, princesa. — Giovanni sorriu com aprovação. — Mas quem é ele, afinal? O rapaz que lhe deu este anel?

A jovem desviou o olhar, corando violentamente até a raiz dos cabelos.

— É ... É o Gary.

— Gary?! — Giovanni não conseguiu esconder sua surpresa. — Gary Carvalho? O neto do Sam? Esse Gary?

— Sim, pai. Esse Gary.

Giovanni nada disse, mas a forma como seus lábios se contraíram foi o bastante para que Calista percebesse no que ele estava pensando.

— Ele é uma criança. — O homem kantoniano declarou enfim, friamente. — Não é para você, Caly.

— Pai, já chega! Acha mesmo que pode voltar de repente e começar a me dar ordens? Você não tem esse direito!

— Você está certa. — O homem de terno negro concordou gravemente. — Perdi esse direito há muito tempo.

Os dois terminaram seus cafés em silêncio. Não muito depois, pai e filha voavam de volta para Kanto no jatinho particular do líder do ginásio de Viridian. A morena se permitiu olhar pela janela, perdida em pensamentos. Foi a voz de seu pai que a trouxe de volta à realidade.

— Tem algo que preciso que você faça para mim, Calista. — Giovanni anunciou.

— E o que é?

— Use isto. — Ele pediu, entregando-lhe uma pequena caixa. — E não a tire. Não mostre seu rosto nem diga seu nome a ninguém, entendeu?

A morena abriu a caixa para se deparar com uma máscara. Era bonita, estilizada na forma das asas de um Butterfree, e grande o bastante para esconder seu rosto por completo.

— Pai ... Qual é o motivo disso? — Calista inquiriu, confusa. — Por que me esconder?

— Porque, ao contrário de mim, há alguns na Equipe Rocket que denunciariam sua identidade apenas para se beneficiar. Não quer arriscar tudo o que conquistou, quer?

— Não, pai. — Calista respondeu, já experimentando a máscara, que lhe serviu perfeitamente. — Eu entendo. E obrigada.

Foi um voo silencioso. Antes do final da manhã estavam chegando em Viridian. Calista assentiu para seu pai, recolocando a elegante máscara estilizada.

— Espere. — Giovanni a segurou pelo pulso, fazendo com que se virasse, e ajustou a máscara, que a morena deixara ligeiramente torta. — Agora sim. Preparada?

— Sim, senhor.

Ao chegarem ao ginásio, foram recebidos por ninguém menos do que James, que os esperava na porta.

— Chefe. — O homem de cabelos azuis saudou com uma mesura. — É um prazer tê-lo de volta.

Giovanni retribuiu o cumprimento com um meneio de cabeça.

— É um prazer voltar. — O líder da Equipe Rocket respondeu simplesmente.

Nenhum comentário foi feito sobre a mulher mascarada ao lado do chefe. James meramente lhe lançou um olhar curioso, mas teve o bom senso de permanecer calado, especialmente ao ver Giovanni oferecer-lhe o braço.

Escoltada pelo próprio líder Rocket, Calista entrou no ginásio de Viridian. Giovanni a guiou para a área dos fundos, diretamente para um edifício menor e mais antigo.

— É sério? — Calista provocou em voz baixa. — Você tem fixação com o subterrâneo.

— Impenetrável e secreto. São os melhores lugares para nós.

Os dois desceram um lance sombrio de escadas que dava em um longo corredor branco. Lâmpadas se acenderam automaticamente à passagem dos dois.

— Por aqui. — O líder da Equipe Rocket indicou. — Já convoquei a reunião, os outros devem chegar em breve.

— Reunião? — Calista repetiu, erguendo uma sobrancelha.

— Sim. Eu lhe prometi respostas, não foi?

A jovem não protestou, apenas se deixou guiar pelo corredor até uma ampla sala com uma grande mesa de madeira de lei. Alguns homens já estavam presentes.

O próprio Giovanni puxou uma cadeira para ela, exatamente ao seu lado. Ninguém protestou. Quem quer que fosse aquela mulher, os outros pensaram, devia ser alguém muito importante para que o chefe a tratasse daquela forma.

O restante da equipe chegou rapidamente e Giovanni fez as devidas apresentações. Eram, na maioria, membros da divisão de inteligência e administradores da equipe. Nenhuma palavra foi dita a respeito da misteriosa jovem de cabelos negros, que apenas acompanhou a reunião com um olhar atento, sem querer perder sequer uma palavra ou gesto.

No final Giovanni pediu que todos esperassem alguns minutos antes que o encontro fosse oficialmente encerrado. Ele trocou um olhar com Calista. A jovem, entendendo a pergunta silenciosa, teve que pensar rápido.

Pesou as opções. Havia a raiva pela mentira contada por sua mãe, e a chance de descobrir a verdade. Havia seu pai, que nunca deixara de procurar. E havia a chance de integrar a infame Equipe Rocket e acertar o inimigo de dentro, de onde o golpe jamais seria esperado. Lentamente, a morena assentiu, dando sua resposta. Giovanni abriu aquele sorriso secreto que Calista conhecia tão bem.

— Senhores. — O líder da Equipe Rocket anunciou. — Devem estar curiosos a respeito de minha ... Companhia incomum na reunião de hoje. Permitam-me anunciar, com imenso prazer, que ela é uma nova adição às nossas fileiras. Devem se dirigir a ela como Princesa Rocket. Bem vinda a equipe, minha cara.

A jovem apenas assentiu em resposta, mantendo até mesmo sua voz em segredo. Nascia então a Princesa Rocket, o membro mais misterioso da tão temida equipe.


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