Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 12
Diantha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783603/chapter/12

Ash suspirou e se aproximou de Serena, querendo ficar o mais longe possível tanto de sua mãe quanto de sua irmã mais velha. As duas estavam discutindo há horas, desde o início da manhã.

— Vai ser como da última vez. — O moreno comentou. — A qualquer momento a Caly vai se virar e fugir.

— Acho que não, Ash. — Serena respondeu. — Olhe mais de perto.

O rapaz obedeceu. Apesar da discussão sussurrada, Dehlia se apoiava no braço de Calista. E a morena, em vez de a repelir, tinha o braço livre passado pela cintura da mãe.

— Essas duas são estranhas. — O moreno comentou, o que lhe rendeu uma risadinha de sua namorada.

— Por que elas estão brigando, afinal?

— E eu sei? — Ash rebateu ironicamente. — Elas sempre encontram um motivo diferente. Não consigo acompanhar todos.

A performer loira riu novamente. O resto da manhã passou relativamente em paz até as nove e meia, quando Calista anunciou que precisava comparecer a um compromisso.

— Aposto que é um encontro com o Gary. — Ash zombou. — Só não fiquem se agarrando em público, mana.

— Cale essa boca, pirralho!

O garoto ainda estava rindo quando Calista se afastou, andando a passos rápidos até o Hotel Richissime. Ela sabia que estava alguns minutos adiantada, mas não se importava.

A jovem parou por um momento na frente do elegante hotel, passando uma das mãos por seu rabo de cavalo desarrumado, tentando domar as mechas rebeldes. Usava um suéter cor de caramelo, jeans skinny azul-escuros e botas de montaria pretas. Aquilo havia sido o melhor que pudera fazer, casual sem exageros. Não queria que sua família soubesse sobre aquela entrevista. Na verdade, não queria que ninguém soubesse até o momento certo.

Pensando com mais calma, se arrependeu. Não estava nem ao menos usando maquiagem, e o único adorno que se permitira naquela manhã fora uma fita de seda dourada amarrada como um choker ao redor de seu pescoço.

Calista mordeu o lábio inferior, insegura. Sabia que deveria ter se arrumado mais, se esforçado para causar uma boa impressão ...

Num gesto nervoso a jovem soltou os cabelos, deixando que os cachos negros caíssem soltos ao redor de seu rosto. Só então entrou no hotel.

Uma jovem veio ao seu encontro quase imediatamente. Tinha cabelos castanho-avermelhados presos em um coque perfeito e grandes olhos cor de avelã. Usava um vestido preto e branco de saia plissada e sapatilhas, num uniforme ao mesmo tempo discreto e elegante.

— Mademoiselle Ketchum?

— Sim, sou eu. Como soube assim tão rápido?

— Vi sua performance noite passada. — A jovem sorriu timidamente. — Se me permite dizer, a senhorita foi incrível.

— Obrigada, é muito bom ouvir isso.

— Venha comigo. — A jovem funcionária, cujo crachá a identificava como Mirella, disse calorosamente. — Lady Malva a está esperando.

Calista suprimiu o riso, esquecendo o nervosismo por um momento ante a ironia. Linda, imprevisível como um felino selvagem, cruel como um demônio e com o temperamento de um vulcão em erupção, isso Malva com certeza era. Ninguém podia estar mais distante do estereótipo kalosiano de uma "lady" do que aquela mulher.

A jovem kantoniana foi guiada até o quinto andar, o último do hotel, e Mirella lhe abriu uma porta no final de um longo corredor acarpetado, decorado com pinturas de extremo bom gosto em diversas molduras douradas.

— Bem ... Aqui estamos. — A ruiva disse. — Boa sorte, senhorita.

— Obrigada, Mirella. — Calista sorriu calorosamente. — Pode deixar comigo, vou dizer a ela que você foi muito prestativa.

— Eu agradeceria muitíssimo, senhorita!

A irmã de Ash dirigiu uma piscadela amistosa para a jovem Mirella enquanto entrava na luxuosa suíte presidencial.

Malva nem pareceu notar sua entrada. A repórter estava esparramada em um divã, parecendo completamente à vontade. Usava uma blusa vermelho-sangue estilo cigana que expunha a pele nua das curvas de seus ombros e leggins cor de graffiti tão escuras que quase chegavam a ser negras. Seus pés descalços brincavam distraidamente no grosso tapete persa enquanto ela lia a pilha de papéis que tinha nas mãos. Seus cabelos caíam soltos, em delicadas mechas cor de rosa ao redor de seu rosto, o que lhe dava uma aparência enganadoramente feminina, doce e vulnerável. Essa impressão, porém, foi imediatamente desfeita pelo sorriso diabólico com o qual a repórter a cumprimentou - feito somente de péssimas intenções e sensualidade.

— Ora, ora. Bem vinda, Sua Alteza. — A mulher de cabelos cor de rosa cumprimentou, sua voz quase um ronronar.

— Olá, Mestra do Fogo. — Calista respondeu, fazendo uma breve mesura. O gesto lhe rendeu um olhar sarcástico, beirando a impaciência.

— Ora, me poupe, Calista. — Malva exclamou acidamente. — Já estamos muito além disso, não acha?

— Se assim você diz ...

Ao ouvir a voz da jovem kantoniana, a Pyroar deitada aos pés de Malva ergueu a cabeça com um grunhido gutural. Momentos depois a leoa saltou sobre Mirabelle, que estava ao lado de sua treinadora, tentando acertar a pequena Sylveon com uma patada. A pokemon tipo Fada pulou para fora do alcance da adversária, atingindo-a direto na cara com suas fitas. A leoa rosnou, parecendo furiosa por aquele gesto.

— Lyse. — Malva repreendeu, embora com displicência. — Pare com essa bobagem. Isso não é jeito de receber nossas convidadas.

A Pyroar grunhiu baixinho em protesto ao ter sua brincadeira interrompida, mas foi até Calista e cutucou-lhe a mão com seu focinho gelado e áspero.

— Sua gata super crescida. — A morena sorriu carinhosamente enquanto a pokemon começava a ronronar alto e esfregar o rosto contra sua mão. — Você nunca muda, não é?

— Sua pokemon traidora. — Malva suspirou em frustração, embora a afeição por sua parceira fosse óbvia em sua voz. — Embora isso não me surpreenda. Por mais que eu não entenda o motivo, minha garota sempre gostou de você.

— Porque sou incrível, esse é o motivo. — Calista brincou. — Qual é o problema, Malva? Ciúmes?

— Talvez. — A repórter rebateu, seus olhos cor de âmbar assumindo uma expressão brincalhona. — Duvido que alguém seja capaz de não sentir ciúmes de você. Fica mais bonita a cada vez que a vejo, o que não deveria ser humanamente possível.

— Mas você ainda é a mais bonita, não se preocupe. — A morena respondeu, abrindo seu sorriso mais charmoso. — Senti sua falta, Malva.

— Igualmente, menina fada. — Malva declarou quase num ronronar de satisfação. — Encantadora como sempre, pelo que vejo. Infelizmente, me bajular não vai levá-la a lugar nenhum.

— Nesse caso, não deveria ter facilitado as coisas para mim. — Calista acusou jocosamente. — Quem sabe? Talvez a "grande Malva" tenha abrandado um pouco. Quanto tempo já faz, afinal?

— Um ano e meio.

— Ora, ora ... — A irmã de Ash ronronou maliciosamente. — Então você estava mesmo contando os dias. Parece que a "bruxa má" também sentiu minha falta. Só um pouquinho, talvez?

— Certo, certo. — A mulher de cabelos cor de rosa cedeu, rindo com gosto. Era raro ouvi-la rir tão francamente, e Calista apreciou o som. — Primeiro ponto.

— Na verdade, eu diria que seu elogio extremamente previsível quando cheguei foi o primeiro ponto.

— Previsível, talvez. — A repórter rebateu. — Mas nem por isso menos verdadeiro.

Calista riu baixinho, sentindo suas bochechas esquentarem. Sabia que estava corando. Desde que começaram a treinar juntas, quando Malva a ajudara a controlar a Mega Evolução de IceFire, a relação entre elas se tornara uma espécie de jogo.

A irmã de Ash era uma das pouquíssimas pessoas a não se deixar intimidar pelo sarcasmo e atitude dominadora da repórter kalosiana. Malva se divertia com a personalidade espontânea, às vezes totalmente amalucada, da morena, e a provocava por mero prazer. Por mais que seus flertes fossem às vezes completamente descarados, não eram a sério. Calista sabia disso, e esse saber às vezes era a única coisa que a impedia de se derreter em uma poça aos pés daquela mulher.

— E então? — A nova Rainha de Kalos inquiriu, sorrindo consigo mesma ao ver Malva dar um tapinha no divã, em um convite para que sentasse ao seu lado. — Como quer começar a entrevista?

— Ouch! — A mulher de cabelos cor de rosa exclamou dramaticamente, fazendo uma expressão magoada e levando uma das mãos ao peito, logo acima do coração. — Se eu não a conhecesse tão bem, docinho, diria que você está com pressa para se ver livre de mim.

— Eu? Nem em sonhos. Não tenho nenhum problema com bruxas.

— Ah, então você ouviu sobre essa bobagem. — Malva fez uma careta de desaprovação. — Tudo uma grande mentira, posso garantir. Não sou tão má quanto dizem. Pelo menos não para você, e você sabe disso.

— Também sei que não posso baixar a guarda perto de você nem por um segundo. Você é linda como uma Roselia, Malva, mas seu veneno é mais potente do que o de qualquer Seviper.

Malva lançou-lhe um olhar de contrariedade, mas ficou calada. Conhecia Calista bem o bastante para saber que revidar a uma de suas provocações apenas a faria querer continuar a importuná-la até que uma das duas vencesse a discussão ou entregasse o jogo. Mas, apesar de tentar permanecer séria, a especialista em pokemon tipo Fogo se rendeu a um sorriso.

Olhando para a expressão travessa naquele rosto delicado, Malva se lembrou de como, quando se conheceram, pensara se tratar de apenas mais uma bonequinha de porcelana aspirante ao título de Rainha de Kalos. Calista não só conseguiu mudar sua opinião como também calar sua boca quanto a quaisquer motivos de chacota no futuro, fato que ainda a surpreendia tanto quanto a divertia.

A membra da Elite dos Quatro estava acostumada a intimidar pessoas, acostumada a ver todos recuarem ante o rugido de sua Mega Houndoom, mas Calista nem ao menos se abalara. A coragem daquela jovem quase beirava a insanidade, e Malva não pôde evitar um respeito relutante por isso, sentimento que acabou evoluindo para uma amizade mais calorosa do que a repórter jamais se daria ao trabalho de admitir.

— Pois bem, então. — A mulher de cabelos cor de rosa pegou uma minúscula câmera e a ajustou na mesa de centro. — Pronta, menina fada?

— Dê o seu pior, bruxa.

A especialista em tipos Fogo abriu um sorriso malicioso e se inclinou para ligar a câmera. Foi uma surpresa ver a mudança que ocorreu em Malva uma vez que ela iniciou a entrevista. Era como lidar com uma pessoa completamente diferente, tão cativante e profissional que chegava a assombrar. Ela começou com habilidade, conduzindo o assunto para a vitória de Calista como Rainha de Kalos.

— O que quero saber é ... — O tom da mulher kalosiana era leve e casual, mas seus olhos brilhavam de malícia. — Qual, na sua opinião, foi o fator decisivo para sua vitória?

Calista estreitou os olhos sutilmente ante aquela pergunta obviamente pensada para pegá-la de guarda baixa. Malva meramente ergueu uma sobrancelha, como que a desafiando a dar o troco.

— Bem ... Aria é uma performer excelente. — A morena respondeu em tom pensativo. — Honestamente, qualquer uma de nós poderia ter ganho a coroa. Suponho que o público me escolheu, simples assim.

— E eu suponho que a ajuda de uma certa ex campeã contou muitos votos a seu favor. — A especialista tipo Fogo declarou jocosamente. — O que me diz sobre isso, Calista?

— Eu digo ... Que é bem possível. — Calista admitiu modestamente. — Nunca foi minha intenção, mas suponho que o apoio da ex campeã de Kalos realmente tenha contado a meu favor. E devo muito a ela por isso. Diantha claramente é uma mulher incrível, não tenho como agradecer o apoio que me deu.

Foi a vez de Malva disfarçar um bufo de irritação, seus olhos endurecendo como um par de citrinos. A jovem kantoniana conteve um sorriso debochado. Não se deixaria ser provocada sem rebater à altura.

A entrevista seguiu naquele ritmo, e Calista logo se viu envolvida na dinâmica sugerida por Malva, com respostas curtas e muitos comentários jocosos nas entrelinhas. Era mais fácil do que pensara. Tão fácil, de fato, que se surpreendeu quando a repórter anunciou que haviam terminado.

— Sério?! — A treinadora kantoniana exclamou enquanto a mulher de cabelos cor de rosa se punha de pé para desligar a câmera. — Isso foi tão rápido!

— Estamos aqui há quase duas horas, Caly. — Malva rebateu, divertindo-se com a surpresa da nova Rainha de Kalos. — Já é quase meio dia.

— Bem, não foi tão ruim quanto eu temia. Obrigada por pegar leve comigo.

— De nada. — A repórter sorriu. — Agora, sobre aquela sua promessa ...

— Malva, por favor! Não pode deixar isso de lado e tentar não ser curiosa, só dessa vez?

— Sou uma repórter, doçura. — A mulher kalosiana respondeu maliciosamente. — Ser curiosa é meio que meu trabalho. Além do mais, você vale o esforço, no que me diz respeito.

— Está bem, está bem. — A morena se rendeu com um suspiro. — Pergunte o que quiser. Está gravando?

— Claro que não. Isso está fora dos registros. É só entre nós. — Foi a resposta, no tom de obviedade que beirava o ofendido. — Então ... Ash?

— Meu irmãozinho. — A jovem morena revelou. — Mas você já deduziu isso. Ficamos vários anos sem nos falar, o que é uma longa história ...

— Não precisa me contar. Isso já é o bastante. — A repórter kalosiana interrompeu, no tom mais gentil que Calista já a ouvira usar. — Só mais uma coisa: Diantha. O que você achou dela?

— Como você ... ?!

— Eu vi a reuniãozinha de vocês ontem à noite. — Malva revelou. — Quem você acha que despistou aquelas garotas, afinal?

— Foi você?!

— Isso não importa. Apenas ouça meu conselho e fique longe dela. Diantha é linda como uma Milotic, isso nem eu posso negar, mas tem a ferroada de um bando de Beedrill.

— Pelo que vejo, é você quem está ferroando. — Calista rebateu. — Diantha me pareceu um amor.

— Cuidado, menina fada, as aparências enganam. Especialmente em se tratando daquela mulher. Ela é uma atriz tão boa que poderia enganar até a si mesma.

— Um comentário bem suspeito vindo de você. — Foi a resposta. — Dado o fato de que vocês duas se odeiam.

— Isso não vem ao caso, por mais que seja verdade. — Malva rebateu acidamente. — Não seja burra, está bem? Me escute e tome cuidado.

— Cuidado, Bruxa Malvada. - A morena disse ironicamente. — Primeiro as flores e agora isso? Se eu não soubesse, pensaria que você falou sério sobre sermos amigas.

— Então você descobriu. — Malva disse simplesmente, dando-lhe um olhar de aprovação.

— É claro. — Calista rebateu. — Só você conhece minha citação favorita.

A repórter desviou os olhos, finalmente notando a fita amarela que adornava o pescoço de Calista. Seus olhos se arregalaram por um segundo.

— Eu não sabia. — Ela disse suavemente.

— É claro. — A irmã de Ash revirou os olhos. — Até parece, Malva.

— Não, estou falando sério desta vez. — Malva protestou. — Eu não fazia ideia de que era a única.

— Porquê então? Se o buquê não foi uma de suas jogadas de poder, por que enviá-lo?

— O mesmo para você, Menina Fada. — Foi a resposta. — Por que se abrir comigo?

Calista se levantou e foi até a porta. Estava mais do que cansada daquela conversa, de jogos e subterfúgios.

— Cuidado, bruxa. — A morena disse acidamente. — Continue assim e as pessoas podem começar a pensar que você realmente se importa.

— Talvez eu realmente me importe.

A voz de Malva a alcançou quando a jovem estava quase tocando a maçaneta. A nova Rainha de Kalos hesitou por um momento, então se virou e lançou um sorriso sardônico por cima do ombro.

— Boa tentativa. — Ela disse ao sair. — Quase me enganou dessa vez, bruxa.

Calista estava agitada e resolveu caminhar assim que saiu do hotel. Conhecia Lumiose bem o bastante para andar a um passo rápido pelas calçadas movimentadas sem correr o risco de se perder.

Estava tão envolvida em seus próprios pensamentos que não percebeu para onde seus pés a levavam até dar por si em uma pequena praça, aos pés de um obelisco de quartzo cor de rosa. Calista encarou o monumento, totalmente esquecida do mundo ao seu redor.

Algo tocou seu ombro inesperadamente, fazendo-a pular de susto, e de repente havia uma enorme folha de plátano à sua frente, flutuando no ar como uma borboleta acastanhada. A morena estendeu uma das mãos e a folha pousou exatamente no meio de sua palma, o que a fez soltar uma exclamação de deleite.

— Ótimo! — Uma voz feminina exclamou, triunfante. — Nós conseguimos fazê-la sorrir.

Calista se virou na direção da voz e não conseguiu evitar uma pontada de inveja. Aquela mulher era linda. Pequena, esguia e delicada, com cabelos castanhos que lhe caíam em ondas suaves ao redor do rosto, ao mesmo tempo emoldurando e disfarçando suas feições.

Uma blusa de seda negra fazia contraste com sua pele clara, e a saia branca exibia a quantidade exata de suas pernas bem torneadas envoltas em meia calças pretas. Um cachecol também negro estava enrolado ao redor do longo pescoço e botas de cano baixo, com salto agulha, completavam o conjunto. Uma Gardevoir estava parada ao lado da mulher misteriosa, parecendo muito satisfeita consigo mesma.

— Desculpe se a assustamos, meu bem. — A mulher disse, embora seu tom de voz denotasse um toque de diversão com a reação da morena. — Mas não pude resistir quando a vi parada aí parecendo tão séria.

O modo como a mulher de cabelos castanhos a chamou fez Calista erguer uma sobrancelha. Somente uma pessoa a chamava daquela forma, e certamente era a última que esperava encontrar.

— Você ...

— Olá, Calista. — Diantha disse, abrindo aquele sorriso brincalhão de dez mil volts que fizera a região de Kalos, e eventualmente o mundo, cair a seus pés. — Confesso que eu não esperava encontrá-la de novo tão cedo.

— E nem eu, Maître. — A jovem respondeu. — É um prazer revê-la.

— Ora, vamos. — A atriz kalosiana deu uma risadinha. — Sei que já lhe pedi para não usar meu antigo título.

— Desculpe. — Calista esboçou um sorriso constrangido. — Força do hábito.

— Não se desculpe. — A mulher mais velha respondeu gentilmente. — Por que não vem comigo? Você parece estar precisando de uma amiga. E de uma boa distração.

— Tem certeza? Não quero atrapalhar seus planos.

— Longe disso, meu bem. — Diantha assegurou calorosamente. — Sua companhia será um prazer imenso.

— Nesse caso ... Mostre o caminho.

As duas caminharam lado a lado, em um silêncio amistoso. Calista não se importou. Havia algo em Diantha que a punha à vontade.

— Foi um belo truque. — A morena disse enfim. — Fazer aquela folha voar como uma borboleta. Teria recebido uma ótima nota em uma performance.

— Obrigada. — Diantha trocou um olhar satisfeito com Gardevoir, que caminhava ao seu lado. — Mas o mérito é seu, já que foi você quem me deu a ideia.

Calista ergueu uma sobrancelha ante aquela declaração, surpresa com o tom de humildade da atriz kalosiana.

— Ora, ora, você é bem modesta para uma super estrela mundialmente famosa.

A jovem imediatamente se arrependeu de seu comentário impensado, mas Diantha não pareceu se ofender. Pelo contrário, abriu mais uma vez aquele sorriso brilhante que era sua marca registrada.

O lugar a que a atriz a guiou era uma espécie de armazém de pedra. Parecia abandonado e deslocado entre os prédios mais elegantes ao seu redor. Diantha pareceu notar sua surpresa com o fato, pois lhe ergueu uma sobrancelha. Sob os óculos escuros, a jovem kantoniana tinha certeza de que aqueles olhos azul-celeste praticamente dançavam, olhando-a com malícia, provocando-a, quase como se a atriz a desafiasse a dizer algo sobre aquele lugar.

A ex campeã a levou até uma porta lateral, que ela abriu com uma pequena chave prateada, revelando um interior surpreendentemente amplo, dominado por uma pista de patinação no gelo. Diantha praticamente correu para colocar os patins e entrar no rinque com uma graciosa pirueta, o que deixou imediatamente clara sua habilidade.

— E então, você não vem?

A jovem kantoniana hesitou ante aquela pergunta, sabendo que era uma péssima patinadora. Se lembrava bem das lições de Lance e Clair, no inverno, perto da cidade Mahogany. Aquelas lições sempre acabavam em desastre. Porém, vendo a expressão de expectativa naqueles olhos azuis, Calista não conseguiu se obrigar a dizer não.

Ela foi até os ganchos onde haviam vários pares de patins pendurados e escolheu um. Conseguiu deslizar alguns metros pelo gelo antes de perder o equilíbrio e precisar se segurar nas paredes do rinque. Diantha se aproximou e lhe estendeu uma das mãos, numa oferta silenciosa de ajuda.

— Obrigada. — A morena sorriu. — E me desculpe. Eu devia ter avisado que não sou boa patinadora. Vou acabar atrapalhando você.

— Não se preocupe com isso. — Foi a resposta. — É como dançar. Tente criar um centro de equilíbrio. Use sua perna esquerda como suporte por enquanto.

A irmã de Ash seguiu o conselho, surpresa com a diferença que uma pequena mudança podia fazer.

— Isso. Muito bem! — A ex campeã de Kalos sorriu aprovadoramente. — Agora, devagar, tente deslocar seu peso para a outra perna enquanto desliza.

Calista mais uma vez seguiu as instruções da outra mulher.

— Tem razão, não é assim tão difícil.

— Então se afaste da parede e faça isso sem apoio.

— Isso é um desafio, super estrela?

— E se for?

Calista meramente riu e balançou a cabeça. O senso de humor irreverente de Diantha era algo de que podia aprender a gostar. A jovem se soltou da parede do rinque apenas para perder o equilíbrio, e teria caído se a ex campeã não a segurasse.

— Acho que isso não foi uma boa ideia. — A morena declarou, rindo.

— Não se preocupe, você só precisa de um pouco de prática.

As duas patinaram juntas por cerca de uma hora, até enfim se cansarem, então sentaram lado a lado nas arquibancadas, mais uma vez envoltas em um silêncio confortável.

— Espero que Malva não tenha sido cruel demais com você. — Diantha disse amigavelmente.

— Isso ... Como você sabia?!

— Aquela mulher adora se gabar. — Foi a resposta, com uma leve careta de desaprovação. — Ela me contou assim que você concordou com a entrevista.

— Não se preocupe, eu já estou acostumada com isso. Malva e eu treinamos juntas por um tempo.

— Não diga. — A atriz riu. — Menina fada?

— Adivinhou. Só não acredito que Malva lhe contou esse apelido bobo.

— Bem ... Ela com certeza falou muito de você.

— O que ela disse, exatamente?

— Que você é uma excelente treinadora, e muito bonita. — Diantha lhe dirigiu um sorriso cativante. — Até onde vi, foi a primeira vez que ela não exagerou os fatos.

— Exagerou? — Calista repetiu, arqueando uma sobrancelha.

— Malva tende a tentar fazer as coisas parecerem maiores do que são. Acho que você já percebeu isso.

— Isso se chama sensacionalismo, minha cara. É típico. Todo repórter é especialista nessa área.

— Talvez. — A atriz deu de ombros delicadamente, embora seus olhos azuis brilhassem numa inegável expressão de diversão. — Mas digamos que sua amiga Malva é um pouco melhor nisso do que a maioria. Ela pode fazer uma garoa parecer uma tempestade.

— E você não?

— Certo, certo. — A mulher kalosiana cedeu, com uma nota de satisfação maliciosa na voz. — Você me pegou.

Pela forma como a ex campeã disse aquelas palavras, Calista sentiu como se houvesse passado em alguma espécie de teste.

As duas mulheres continuaram a conversar. Calista já sabia que Diantha era irreverente e amigável mas, quanto mais a conhecia, mais surpresa ficava. Doce, inteligente, simpática e carinhosa, aquela mulher parecia talhada para ser sua amiga perfeita, o que obviamente fez a jovem se lembrar do aviso de Malva. A lembrança das palavras que tanto a irritaram a fez ter vontade de provar que a repórter estava errada.

— Bem, Diantha ... — A morena disse. — Tenho certeza de que já ouviu isso antes, mas você definitivamente não é o que eu esperava.

— E o que você esperava, meu bem? — A atriz inquiriu jocosamente. — Uma primadonna mimada, fútil e insuportável?

— Bem ... Sim. — Calista admitiu. — Exceto por ser insuportável. Isso eu tenho certeza de que você não conseguiria ser mesmo que tentasse.

Para surpresa da jovem kantoniana, Diantha não se ofendeu com sua confissão. Se tanto, pareceu um pouco decepcionada.

— Tem dado ouvidos demais aos rumores, Calista. — Ela disse simplesmente. — Não acredite em tudo o dizem sobre mim, especialmente em se tratando de Cynthia.

— É, Steven me disse o mesmo ontem à noite.

— Ele sabe o que diz. — Diantha admitiu com um suspiro. — Calista, sei que eu não deveria nem pensar em lhe perguntar isso ... Mas o que, exatamente, Cynthia disse sobre mim?

— Nada de mais. — A morena respondeu. — Ela só disse que você é ... Arrogante. Pelo que ela falou, eu esperava uma diva total.

— A maioria pensa assim. — Diantha confessou. — É fácil se deixar enganar pelas aparências, especialmente quando se trata daqueles em posições de poder.

Calista foi levada de volta no tempo por aquelas palavras, para quando Lance a resgatara. Tinha dezesseis anos, e tivera medo dele a princípio por sua aparência intimidadora.

Não se deixe levar, ele dissera As pessoas nem sempre são o que parecem.

A própria Calista experimentara parte disso depois de adulta. Podia ser forte, mas ainda era uma mulher, e uma mulher bonita. As pessoas tendiam a não levá-la a sério.

— Parece ... Solitário.

— E é. — A ex campeã admitiu. — Bem, às vezes. Eu tento não pensar nisso.

— Bem, se isso conta para alguma coisa, eu acho que Cynthia está enganada. — Calista declarou calorosamente. — Você é uma mulher incrível, Diantha.

A jovem morena quase caiu na gargalhada ao ver a ex campeã desviar o olhar, suas bochechas ganhando um leve tom de cor de rosa. Adorável. Só se podia mesmo gostar de uma atriz mundialmente famosa como aquela se um simples elogio ainda a fizesse corar.

Diantha, por sua vez, xingou a si mesma em pensamento, desconcertada. Pouquíssimas pessoas tinham o dom de olhá-la e ver além da fachada brilhante que mostrava ao mundo, especialmente alguém que a conhecia a tão pouco tempo.

Aqueles olhos verdes pareciam um par de esmeraldas brilhando sob a luz do sol de verão, e algo naquele olhar fazia a atriz kalosiana sentir-se hiperconsciente de cada movimento que fazia, de uma forma que as câmeras jamais haviam conseguido. Como aquela garota tinha poder e presença de espírito para aquilo era um mistério. Normalmente a situação seria inversa, e Diantha estava furiosa consigo mesma por trair-se corando como uma novata.

Não se envolva. Ordenou a si mesma. Lembre-se de quem é uma das amigas mais próximas dessa garota.

Uma garota, isso é o que ela era. Nada mais do que uma garota, embora talentosa. E embora somente Malva já tivesse tido a ousadia de encarar Diantha daquela forma. E agora Calista, é claro. O que talvez não fosse uma coisa tão ruim ...

Erguendo deliberadamente seus olhos azuis no momento certo, a atriz encontrou os olhos de Calista. Ela não desviou o olhar, e a ex campeã lhe dirigiu seu sorriso mais doce. Aquele era um jogo para dois. E Diantha conhecia as regras como ninguém.

O desafio não passou despercebido pela morena, cujo sorriso de resposta carregava um toque de prazer selvagem. Lá estava a prova de que Malva dissera a verdade. Por baixo daquele exterior adorável, Diantha era muito mais do que parecia. E a jovem kantoniana não pôde evitar uma onda de satisfação selvagem por conseguir fazer uma fachada tão perfeita escorregar.

— Na verdade ... — A atriz declarou, deixando de lado os subterfúgios. — Sabe que tive um motivo para querer conversar com você, não sabe?

— Sim, eu sei. — A morena rebateu. — Estive me perguntando quais seriam suas verdadeiras intenções desde que aceitei seu convite.

— Muito simples, meu bem: quero desafiá-la para uma batalha completa. — A ex campeã revelou. — Nossa ... Exibição ontem à noite me deixou curiosa.

A jovem kantoniana ergueu uma sobrancelha, surpresa. Esperara muitas coisas, mas não um desafio daqueles.

— Curiosa sobre o que, exatamente? — Calista inquiriu.

— Se você é uma treinadora tão boa quanto parece. — Foi a resposta. — Porque ontem à noite tive a impressão de que você estava se contendo.

— Você está superestimando minhas habilidades. — A jovem kantoniana advertiu. — Mas tudo bem, aceito seu desafio.

— Perfeito! Podemos usar o rinque de patinação como arena. — Diantha disse, já com uma pokebola na mão esquerda.— O que me diz de uma batalha de exibição? Vencerá aquela que conseguir derrubar a adversária com os melhores golpes.

— Parece bom para mim. — Calista assentiu. — E, já que o desafio é seu, você começa a batalha.

As duas estavam prestes a começar a batalha, mas o toque do celular da atriz as interrompeu. A jovem kantoniana deu de ombros, indicando que não se importava, e se recostou contra a parede enquanto a outra mulher atendia a ligação.

— Sim? — Sua testa se franziu levemente ante as palavras do outro lado da linha. — Agora? Tem certeza, Kathi? Está bem, está bem. Entendido. Não, tudo bem. Nos vemos daqui a pouco.

A atriz desligou e guardou o aparelho na bolsa novamente. Desapontamento estava escrito em cada linha de seu rosto.

— Calista, eu sinto muito. — Ela disse — Surgiu um compromisso de última hora, minha agente acabou de me lembrar ...

— Sem problemas, podemos adiar nossa batalha. — A morena sorriu. — Na verdade, é uma boa desculpa para nos vermos de novo.

— Como se eu precisasse de uma desculpa. — A atriz rebateu charmosamente. — Nos vemos em breve. E espero que finalmente tenhamos a chance de batalhar.

— Eu já disse, você vai se arrepender disso.

— Deixe que eu decida quanto a isso, meu bem. Muito em breve, prometo.

A irmã de Ash simplesmente sorriu, balançando a cabeça com incredulidade.

— Você é mesmo uma mulher inacreditável, Diantha.

A única resposta da atriz kalosiana a esse comentário foi rir com gosto, ficando na ponta dos pés para se despedir de Calista com o cumprimento habitual na região de Kalos: um beijo em cada bochecha.

Mais tarde naquela mesma noite, Calista estava deitada em sua cama, completamente acordada. Não conseguia esquecer a expressão nos olhos de Diantha quando a ex campeã confessara ser solitária. Era quase como se ela não tivesse percebido o que havia dito, o quanto confessara.

Claro que ela não percebeu. Angel afirmou  Você a fez falar.

Eu fiz? Mas como?

Faz parte do nosso poder. A Meloetta explicou. Você sabe por que sou a rainha da esfera da transformação, não sabe?

Porque você pode transformar os sentimentos das pessoas com suas canções.

Exatamente. Foi a resposta. E quando formamos nosso vínculo, você também ganhou esse poder. Bem, em parte. Claro que você não pode literalmente manipular sentimentos, mas pode atrair pessoas para você, fazê-las se abrir. Como a campeã de Sinnoh, por exemplo.

Você está dizendo ... Que a maneira como ela age em relação a mim é afetada pelo meu poder?

Correto.

Isso é horrível! Como eu o controlo?

Primeiro, precisa aprender a se controlar. Foi a resposta. Quando controlar seus desejos, controlará seu poder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O próximo episódio vai ser especial... Tem a revelação de um segredo de uma certa campeã... *cof cof* Cynthia... Fiquem ligados ❤️



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pokémon - Laço Eterno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.