Atenas 1990

Agatha

A minha vida financeira sempre foi confortável, não posso dizer que já fui ou sou rica, mas sempre tive tudo que precisava, a única coisa que mudou há anos é que não sou feliz, atualmente vivo sozinha em uma casa grande e a única companhia que tenho é da minha empregada.

Fui muito feliz no meu casamento, meu marido e eu vivemos em harmonia durante 40 anos, tivemos momentos difíceis mas conseguimos os superarmos juntos, tivemos um casal de filhos, faz quatro anos que perdi o meu filho vítima de acidente de trabalho e ele não me deixou netos.

A maior decepção da minha vida foi a minha filha engravidar sendo solteira, não conseguia aceitar essa nova realidade, sem nenhuma pena ajudei o meu marido a expulsar ela de casa, meu filho ainda era muito jovem para tentar ajudar a irmã.

Não chorei nenhuma lágrima quando a minha filha morreu no parto, sequer desejei conhecer os meus netos naquele dia, mas uns anos depois, fui no orfanato e os vi a distância, não posso negar que eram lindas crianças, mas o meu coração não sentiu nada por eles.

O meu preconceito foi maior que o meu amor de mãe, pensava que ter uma filha solteira grávida estragaria a reputação da minha família, como fui egoísta, como fui desumana com a minha única filha que estava desesperada ao ter sido iludida e abandonada.

Vejo muitas amigas minhas cuidando de seus netos e imagino como teria sido ter aqueles loirinhos nos meus braços, teria os criado como meus filhos, lhes dado amor, carinho, atenção, se tivesse tomado essa atitude eu teria uma linda família e não estaria sozinha.

Imagino que tenham se tornado dois lindos homens, desejo que tenham bons corações e que nunca cometam o mesmo erro que eu, pois não desejo a ninguém a solidão como companhia.

A tristeza vivi no meu coração e corrói a minha alma, junto dela está o remorso e o arrependimento pelas decisões ruins que tomei, sei que o tempo não volta, mas quero ter a minha consciência tranquila para viver em paz os últimos anos que tenho, então contratei um detetive particular para procurar os meus netos, três meses depois ele me entregou um endereço de onde eles moram e rapidamente escrevi uma carta e a enviei.

Santuário de Atena Casa de Gêmeos 

Saga: Estou arrumando casa, não entendo como o Kanon consegui deixar tudo atrapalhado em poucas horas, mas não posso reclamar, dividimos bem as responsabilidades da casa, ele cozinha e arrumo casa e cozinha, felizmente temos máquina para lavar roupas o que ajuda bastante.

Kanon e eu temos comportamentos muito diferentes, mas sempre conseguimos nos entendermos, embora nunca tivemos uma família, sabemos o que é necessário para viver em harmonia com os outros, é necessário termos paciência com as diferenças entre as pessoas, saber ouvir o outro, como temos isso, podemos falarmos que somos uma pequena família. 

Nunca desejei morar longe do meu gêmeo, acho que ficaria muito solitário sem ele nessa casa, não consigo me imaginar vivendo longe do meu irmão mesmo que as vezes fico muito irritado com o seu comportamento.

Kanon: Acabo de ir no décimo terceiro templo a pedido do Shion, ele me entregou uma carta falando que era da minha avó, minha vontade foi de a rasgar imediatamente, não tenho nenhum motivo de querer conhecer alguém que expulsou a minha mãe grávida de casa e que mesmo após a morte da sua filha sequer quis nos conhecer.

Mas não posso tomar essa atitude porque não sei o que o chato do meu irmão vai decidir, como é muito bonzinho talvez encontre a velha e lhe faça companhia até a sua morte ou nós morrermos em uma guerra.

Não sei como o Saga pode ser muito certinho, isso as vezes me irrita muito, mas ele é a minha única família de sangue, somos criados dividindo as coisas, então não consigo o odiar e sou capaz de enfrentar uma guerra por amor que tenho por aquele chato.

Entro em casa e vejo que o chato acabou de fazer faxina, essa mania dele de limpar casa todos os dias é irritante, tenho até dificuldades em encontrar as minhas coisas estando tão bem arrumadas e acabo atrapalhando tudo horas depois dele arrumar.

Saga, Shion me entregou essa carta, é da nossa avó materna, ela fala que está arrependida e quer nos conhecer. Não tenho nenhum interesse em saber quem é a pessoa que não nos desejou quando éramos bebês, espero que receba um bom julgamento no submundo.

Saga: Eu compartilho os seus sentimentos, essa mulher não passa de uma estranha para nós, não posso lhe perdoar por ter feito mal a nossa mãe quando estava grávida de nós, se ela está sozinha isso é apenas consequências das suas escolhas ruins.

Pode queimar ou rasgar essa carta, já somos uma família e ainda temos nossos amigos que cresceram conosco e são como nossos irmãos e o Shion que nos ama como um pai.

Kanon: Rasgo a carta e a jogo no lixo, essa mulher não merece nenhuma consideração nossa, depois vou para a cozinha onde faço um  lanche para nós e assistimos televisão juntos enquanto conversamos como bons irmãos que sempre fomos.

Agatha 

Uma semana depois que enviei a carta, recebo uma carta de um homem falando ser o pai adotivo dos gêmeos, dizendo que eles rasgaram a carta que lhes mandei sem a lerem, apenas disseram não terem motivos para querer conhecer alguém que lhes fez mal antes mesmo deles nascerem.

Ler aquelas palavras me fez chorar muito, mas eles tem razão em não desejarem terem nenhum contato comigo, sei que não mereço nada além que me desprezem, pois foi exatamente isso que fiz quando eles eram apenas bebês.

Estou condenada a viver com o remorso em meu coração e minha mente, a única coisa que posso fazer é aconselhar outras pessoas a não errarem como eu, pois o arrependimento tardio nunca é perdoado por quem sofreu pelos nossos erros.