Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 6
Interação




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Por meus sonhos eu continuo a minha vida”.

Por desejos eu contemplo a minha noite”.

A verdade no fim do tempo”.

Perder a fé se torna um crime”.

Foi ao ouvir esses sussurros que Jung Hoseok percebeu que havia sido enviado para a terra dos sonhos mais uma vez. Contemplou a escuridão ao abrir os olhos, tão profunda que sequer conseguia enxergar um palmo à sua frente. Não fazia ideia do que fazer naquele momento, então em primeiro lugar se certificou de que estivesse em um local sólido, batendo os dois pés aonde deveria ser o chão.

No momento em que fez aquilo, sentiu que o corpo começou a cair de repente em um vácuo que parecia não ter fim. Até mesmo movia as pernas em uma tentativa de encontrar algo onde pudesse se apoiar.

E então, tão de repente quanto a queda, os pés se firmaram em algo sólido, bem como as cores à sua volta começaram a se formar novamente. Hoseok piscou algumas vezes enquanto os olhos se acostumavam com a vista, apenas então percebendo que estava do lado de fora do hospital psiquiátrico. Mais especificamente na cobertura do hospital, os pés na beirada da parede. Apenas um passo em falso separava Hoseok de uma queda horrorosa.

O rapaz cuidadosamente deu um passo para trás, desta forma se afastando da beirada. Sentia o coração palpitando disparado pela adrenalina daquele momento, e então voltou os olhos para os lados, procurando pela figura de Namjoon. Sentia-se até mesmo um pouco nervoso, imaginando o que havia acontecido com o rapaz.

Hoseok...

Ouviu uma voz familiar chamando por seu nome, e voltou a procurar pelo dono dela. Porém, não enxergava nada além da paisagem noturna ao seu redor.

Hoseok... Hoseok...

A voz continuava a chamar, e era a voz de Namjoon, soando insistente em sua cabeça. “Onde você está?” pensou, finalmente encontrando uma porta que provavelmente levaria para o interior do hospital. Os pés se moveram apressados, abrindo a porta e mais do que depressa rumando para o interior dela, sendo imediatamente transportado para o corredor dos quartos do hospital.

O ambiente estava escuro e mal iluminado, um silêncio ensurdecedor tomando conta dos ouvidos do Jung, que sentia o corpo se tencionar a cada passo que dava, o som ecoando por toda a extensão do ambiente. Estava, especificamente, caminhando em direção ao próprio quarto, engolindo em seco com a sensação de a distância estar sendo mais longa do que o habitual.

Rápido Hoseok.

­A voz de Namjoon se fez presente mais uma vez na mente do Jung, que respirou fundo. Iria começar a correr na direção do quarto quando algo chamou a sua atenção.

Mais especificamente, alguém.

Os olhos rasgados se arregalaram de imediato ao contemplarem, à sua frente, uma figura infantil trajando um vestido branco atravessar a parede ao seu lado. Os cabelos encaracolados e em tom alaranjado cobrindo-lhe o rosto ganhando destaque. Hoseok simplesmente sentiu o corpo paralisar com aquilo, sem conseguir desviar os olhos, contemplando a menina virando-se de frente para ele.

Sofrimento é o que tem em um coração humano”.

Daquela vez não foi um sussurro, mas um grito tão ensurdecedor que Hoseok até mesmo teve a impressão de ter visto as paredes à sua volta tremerem. Deu alguns passos para trás, principalmente quando a menina finalmente ergueu a cabeça para si.

Imediatamente Hoseok reparou que a boca da menina não se assemelhava em nada com o que havia visto quando estava paralisado em sua cama, parecendo uma boca comum e normal. O que chamava a atenção agora eram seus olhos, ou melhor, a ausência deles. Tudo o que Jung Hoseok conseguia ver ali era um par de buracos onde seus olhos deveriam estar.

Um arrepio subiu-lhe a espinha no instante em que a menina o olhou e, mesmo que a voz quisesse vacilar consigo, conseguiu encontrar força o suficiente para falar pela primeira vez dentro daquele sonho:

Reila? — Perguntou, vendo a cabeça da menina pender para o lado, sem expressão. Hoseok engoliu em seco mais uma vez. - Está tudo bem...

No entanto, para horror do Jung, a menina começou a pender a cabeça cada vez mais para o lado, até que o rosto fosse virado completamente de cabeça para baixo. E, tão de repente quanto, a mesma se colocou de quatro no chão, começando a andar na direção de um Hoseok que a única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi correr.

As pernas se moviam apressadamente na medida em que olhava para trás vez ou outra, apenas para arregalar ainda mais os olhos ao ver que a menina de cabelos alaranjados agora corria imediatamente atrás de si. Quando Hoseok voltou os olhos escuros para frente mais uma vez se surpreendeu ao ver que uma enorme janela havia de repente se materializado ali.

Não conseguiu parar a tempo, o corpo se chocando violentamente contra o vidro que cortava a sua pele, abrindo fundas feridas, ao mesmo tempo em que o corpo era arremessado novamente na direção do vazio. Em seu campo de visão a imagem do espelho se fez presente em meio ao vazio escuro, e então a menina apareceu ali, o rosto medonho e macabro encarando-o na medida em que caía.

Logo em seguida sentiu o corpo se chocar contra uma superfície gelada, e Jung Hoseok mais do que depressa prendeu a respiração quando percebeu que estava mergulhando em algo. Para a sua sorte, sabia nadar muito bem, e usou dessas habilidades para impulsionar o corpo para cima, puxando o ar com força e necessidade quando as narinas encontraram o ar mais uma vez, aspirando o odor fétido que exalava daquilo que Hoseok acreditava ser água podre.

Os olhos varreram o local escuro e a única coisa que Hoseok conseguia enxergar era um pequeno ponto luminoso no que encarou ser o fundo daquele lugar alagado. Não sabia o que aquilo significava, mas algo lhe dizia que precisava nadar até ali.

Foi então que, tomando fôlego, Jung Hoseok mergulhou, os braços e pernas trabalhando incansáveis até alcançar aquele ponto luminoso. Aos poucos o desenho de uma porta de madeira foi tomando forma aos olhos do Jung, o ponto luminoso tomando a forma de uma maçaneta redonda brilhante. Mais do que depressa Hoseok segurou aquela maçaneta com as duas mãos, tendo muita dificuldade para abrir aquela porta por conta da pressão que a água fazia contra a mesma.

A porta começou a se mover, porém estava perdendo o fôlego, o que impactava diretamente na sua força. Hoseok não sabia mais do que fazer, não sabia se continuava abrindo aquela porta ou se tentava voltar para a superfície a tempo de respirar, os olhos desesperados perdidos entre a superfície de madeira e a parte de cima daquele ambiente alagado.

Não conseguiria subir a tempo, precisava abrir aquela porta.

Hoseok então fechou os olhos com força, as duas mãos segurando firme naquela maçaneta, puxando-a com vontade. Ao abrir os olhos, o Jung percebeu uma fresta luminosa com espaço suficiente para que pudesse encaixar os dedos, o que foi suficiente para que conseguisse finalmente abri-la.

Mais do que depressa Jung Hoseok apoiou as duas mãos na superfície seca do outro lado da porta, colocando a cabeça para o lado de fora e puxando o ar para dentro dos pulmões com toda a força que tinha, tossindo vez ou outra na medida em que, trêmulo, impulsionava o seu corpo para dentro daquele ambiente ainda desconhecido para si, mas que era infinitamente melhor de onde estava.

No momento em que pôs os pés para fora da água, os olhos rasgados finalmente conseguiram identificar o local onde estava: o quarto com as paredes desenhadas em giz de cera. Porém, não foi aquilo que havia chamado a sua atenção de fato, mas sim a presença de mais uma pessoa ali.

Namjoon?— Balbuciou, a respiração ainda ofegante. O Kim estava imediatamente ao seu lado, porém com os pulsos e tornozelos acorrentados ao chão daquele quarto. O rapaz mais alto ergueu os olhos para Hoseok no momento em que ouviu ser chamado.

Finalmente você apareceu, Hoseok. — Namjoon comentou, puxando os braços em uma falha tentativa de se soltar, mordendo o lábio inferior e resmungando quando não conseguiu. – Estava pensando quando iria finalmente aparecer.

O que houve com você?— O Jung perguntou, porém, Namjoon não teve tempo de responder.

A atenção dos dois rapazes foi roubada pelo buraco no chão onde Hoseok havia saído e por onde aquela água fétida começou a subir rápido demais. Não demorou para que a mesma alcançasse as mãos de Namjoon que estavam presas ao chão.

Que inferno... Ela quer me matar afogado?!— Namjoon comentou consigo mesmo, os olhos arregalados enquanto puxava os braços com mais força, os pulsos começando a ficar feridos.

Namjoon calma! Você vai se machucar!— Hoseok disse, rapidamente se aproximando do rapaz enquanto olhava para os tornozelos e os pulsos, tentando encontrar alguma forma de soltá-lo. Sem sucesso.

Se essa maldita acha que vai me prender aqui, ela está muito enganada!— Namjoon começou a puxar os pulsos com força, as correntes começando a abrir feridas no rapaz na medida em que a pele escorregava e se apertava ao aperto.

Hoseok fechou os olhos por breves momentos, ouvindo Namjoon resmungar de dor quando os dedos das mãos começaram a sentir o aperto das correntes, até mesmo imaginando se eles quebrariam com aquilo. No entanto, o Jung reabriu os olhos ao ouvir o suspiro aliviado do Kim, percebendo que o rapaz havia conseguido livrar os pulsos daquelas amarras.

Porém as mãos de Namjoon estavam sangrando por conta da pele rasgada em alguns pontos, e a expressão de dor no rosto do Kim conseguia traduzir exatamente como aquilo o estava incomodando.

No entanto, não tiveram tempo para descansar. A água escura começou a subir mais rapidamente atingindo os dois em cheio. Hoseok ajudou Namjoon a se levantar, a água já alcançando o quadril do Jung. O Kim continuava preso ao chão pelos pulsos e simplesmente não conseguiria se libertar das amarras das correntes da mesma maneira que fez com os pulsos. Os dois então se entreolharam, e Namjoon mordeu o lábio inferior levemente.

Volta Hoseok. — Disse, encarando o rapaz diretamente nos olhos.

O que?! — O Jung disse confuso, fazendo Namjoon suspirar.

Volta para onde você veio, ou você vai ficar preso aqui comigo.— Namjoon completou, segurando o mais baixo pelos ombros com certa firmeza.

Eu não vou te deixar aqui Namjoon! — Hoseok insistiu, segurando nos braços do rapaz enquanto olhava em volta, o desespero começando a tomar conta.

O rapaz então tomou fôlego, mergulhando naquela água que agora já estava na altura do peito de Namjoon. Mergulhou o suficiente até estar no chão daquele quarto, segurando as correntes com as duas mãos enquanto tentava desfazer as amarras, porém sem sucesso. Voltou então para cima, puxando o ar com força enquanto tentava pensar, a água na altura dos ombros de Kim Namjoon.

Naufragar em um dia de solidão”.

Colo para uma face com lágrimas”.

Minha canção pode tomar emprestada a sua graça”.

Os sussurros voltaram a se fazer presentes, e tanto Namjoon quando Hoseok o ouviram. O Kim estava na ponta dos pés, esticando o pescoço o máximo que conseguia agora que a água já estava perigosamente na altura de seu rosto, os olhos fechados enquanto esperava o momento certo para tomar fôlego. Hoseok não sabia o que fazer, não queria que Namjoon fosse preso ali.

Já se sentiu longe comigo?”.

Foi então que foi pego de surpresa pelo Kim, que abriu os olhos imediatamente, como se tivesse se lembrado de algo muito importante.

Só uma vez é tudo o que preciso. Envolvido em achar você algum dia.— Namjoon balbuciou aquelas palavras antes de o rosto ser finalmente coberto pela água escura.

Porém, naquele momento, a água parou de subir, regredindo apenas o suficiente para deixar o rosto do rapaz à mostra mais uma vez.

Já se sentiu longe sem mim?”.

O sussurro se fez presente mais uma vez, para a estranheza de Jung Hoseok, que olhava para Namjoon assustado e confuso ao mesmo tempo.

Meu amor, ele repousa tão profundamente. — O Kim murmurou, e mais uma vez houve uma resposta do sussurro.

Já sonhou comigo?

Namjoon, o que está acontecendo?— Hoseok finalmente perguntou em um fio de voz, aproximando-se mais do rapaz que estava tentando controlar a respiração.

Ever Dream. Os sussurros dela são letras de música. — Respondeu. – Acho que é assim que ela tenta se comunicar... Hoseok... — Namjoon voltou os olhos escuros para o Jung. – Precisamos ouvir as músicas...

Mas antes que Hoseok pudesse sequer pensar em responder, viu Namjoon ser puxado com toda a força para dentro da água escura, que voltou a subir pelo cômodo a uma velocidade ainda maior que antes. O Jung tomou fôlego mais uma vez e mergulhou, os olhos procurando por Namjoon que havia simplesmente desaparecido do quarto, a atenção sendo tomada por outro detalhe em específico e que também havia desaparecido: a porta no chão por onde havia entrado.

Hoseok nadou para cima mais uma vez, sem querer batendo com a cabeça contra o teto daquele quarto fechado, tamanha a rapidez com que a água havia subido. Estava completamente sem saída, a água já subindo pelo rosto e tomando conta de todo o quarto.

Jung Hoseok ficou ali até perder todo o fôlego, sendo obrigado a puxar a água para dentro dos pulmões em uma tentativa de respirar, sentindo-os serem preenchidos com a água suja e fétida.

Foi naquele exato momento que Jung Hoseok despertou, virando para o lado oposto ao de Namjoon na cama e começando a tossir com muita força, vomitando exatamente a mesma água suja que havia engolido em seus sonhos. Os olhos escuros olhavam para aquilo sem entender, a respiração descompassada e a faringe dolorida.

Foi então que um estalo veio em sua mente, e mais do que depressa se voltou para o corpo de Kim Namjoon ao seu lado, que ainda estava com os olhos fechados.

Mas não estava respirando.

— Namjoon! – Hoseok chamou, mais do que depressa se aproximando do outro, sacudindo-o vez ou outra. – Namjoon acorda!

O desespero começou a tomar conta de Hoseok, que mais do que depressa tapou o nariz de Namjoon com uma das mãos enquanto a outra abria a boca do Kim, iniciando ali uma respiração boca a boca ao mesmo passo em que tentava fazer uma reanimação, massageando o peito de Namjoon, alternando entre as duas coisas.

Não demorou para que o Kim começasse a tossir a água suja, virando-se de lado e vomitando tudo o que estava em seus pulmões na direção do chão, para alívio de Hoseok, que até mesmo deixou o corpo cair sobre a superfície fria do chão de seu quarto.

Namjoon tossia com força e puxava o ar para dentro dos pulmões também com muita força, os olhos levemente marejados repousando em um Hoseok que estava em um estado semelhante ao seu. Estava estranhando a si próprio e a forma como o seu corpo estava tremendo involuntariamente.

— Você está bem? – Hoseok finalmente perguntou, a voz banhada em preocupação. Namjoon respondeu acenando a cabeça positivamente. – Eu pensei que você fosse ficar preso...

— Eu... Também... – Namjoon tossiu de novo, sentando-se sobre a cama sob o olhar atento do Jung. – Hoseok...

— O que? – O mais baixo se aproximou de Namjoon, sentando-se ao seu lado na cama enquanto levava uma das mãos às suas costas.

— Antes de você chegar... Eu vi alguém naquele quarto... – Disse, atraindo os olhos surpresos do outro para si.

— Quem você viu? – A voz de Hoseok saiu trêmula e seu corpo nitidamente ficou mais tenso, sendo observado por um Namjoon que aos poucos recuperava a compostura.

— Precisamos encontrar o Jungkook...


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Notas finais do capítulo

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