Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 2
O pianista e o fragmentado


Notas iniciais do capítulo

Postei dois capítulos hoje sim, porque estou com medo e quero terminar logo essa fanfic kkk'

O Hoseok nessa fanfic sou eu, literalmente, com medo :v

Boa leitura.



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Hoseok deixou o quarto com tanta velocidade que sequer se importou com a porta de madeira se chocando contra a parede, tamanha a sua afobação. Os gritos de Namjoon eram altos, e o desespero apenas piorou quando o ouviu chamando por Seokjin.

Foi direto para o quarto do rapaz, que estava vazio, e então ouviu Namjoon gritar novamente:

— Eu preciso de ajuda!

A voz dele vinha do começo do outro corredor, mais especificamente do quarto de Kim Seokjin. Deixou o quarto do rapaz e mais do que depressa já estava presente no quarto do outro Kim, cuja porta estava escancarada, revelando um Namjoon que o agarrava pela cintura por trás com tanta força que o rosto em formato de coração estava até mesmo avermelhado, enquanto Seokjin debatia-se em seus braços em uma falha tentativa de se soltar, as lágrimas escorrendo incessantes pelo rosto com cicatrizes.

— Que caralhos está acontecendo, Namjoon?! – Finalmente se pronunciou com a respiração descompassada atraindo os olhos do rapaz, que o olhava suplicante.

— Tira essa porcaria da mão dele Hoseok! Agora! – Namjoon disse e apenas naquele momento o Jung percebeu que Jin estava segurando um pequeno pote de vidro com uma das mãos, fazendo bastante força com os dedos finos.

Engolindo em seco, Hoseok se aproximou de um Seokjin soluçante que começou a balançar os braços de forma agressiva para afastá-lo. Com muito esforço e, mesmo contra a vontade, usando de força bruta, conseguiu retirar o pequeno frasco dos dedos apertados de Seokjin, afastando-se mais do que depressa quando conseguiu.

Os olhos rasgados contemplaram o momento exato em que Namjoon finalmente soltou o namorado, este que acabou caindo de joelhos no chão, a respiração descompassada na medida em que soluçava e balançava a cabeça negativamente, balbuciando palavras desconexas e que Hoseok não conseguia entender. Acabou engolindo em seco mais uma vez, lembrando-se do sonho que tivera naquela noite onde o rapaz pedia-lhe socorro enquanto era consumido pelas paredes.

— Namjoon... – Chamou, e o rapaz voltou os castanhos para si. – O que diabos está acontecendo aqui?

— Eu vim acordar o Jin como eu sempre faço você sabe. – Disse, levando uma das mãos aos cabelos escuros, jogando-os para trás por breves momentos, e só então voltando os olhos para Seokjin, pensando se seria uma boa ideia se aproximar dele ou não. – Os remédios que ele toma para dormir são muito fortes, então alguém precisa vir acordar ele. E quando eu cheguei ele estava com esse frasco aberto, quase colocando na boca.

Hoseok então voltou os olhos para o frasco em sua mão, erguendo-o levemente até a altura de seus olhos. O pequeno frasco estava cheio de pequenas bolinhas pretas, o que fez o Jung franzir o cenho levemente.

— O que é isso? – Perguntou, mais para si mesmo do que para Namjoon responder, e então o outro se aproximou, tomando o frasco das mãos de Hoseok.

— Deixe-me ver isso. Parece algum tipo de veneno. – Namjoon ergueu o frasco a altura dos olhos na medida em que o Jung franzia o nariz para si.

— Você parece familiarizado com esse tipo de coisa. – Deixou escapar, ouvindo um suspiro do mais alto.

— Nunca se sabe quando esse tipo de coisa será útil, Jung Hoseok. – Comentou sarcástico, o que fez o outro tremer brevemente na medida em que imaginava como Namjoon conhecia sobre aquele tipo de assunto. – Parece chumbinho. – Concluiu, estalando a língua entre os dentes antes de voltar a atenção para Seokjin.

— Chumbinho? Aquele veneno de rato? – Hoseok piscou repetidas vezes, surpreso. – Onde ele conseguiu isso?!

— Eu não sei e nem quero saber. – Namjoon trincou os dentes, a expressão mais carrancuda que o normal. Acabou por assustar o Jung quando em um movimento repentino lançou o frasco contra o chão, quebrando-o e fazendo o veneno se espalhar no chão, para logo em seguida ir até o namorado, abaixando-se ao lado dele na medida em que tentava suavizar a expressão. – Meu bem... Você não precisa disso, está me ouvindo?

Hoseok apenas ficou a observar a maneira como Namjoon tratava Seokjin, com um carinho e cuidado tão grandes que não se assemelhava em nada com o homem de humor ácido e completamente assustador com quem dividiu o quarto por uma semana inteira. Tal mudança súbita de personalidade apenas fazia com que o Jung tivesse ainda mais receio do rapaz, que no momento acariciava o rosto repleto de cicatrizes de Seokjin na medida em que o erguia para si.

Apenas foram interrompidos quando os médicos chegaram, provavelmente sabendo por outros pacientes da gritaria no quarto de Jin e, assim que analisaram a cena, rapidamente colocaram Namjoon e a si próprio para fora do quarto para prosseguirem com os cuidados necessários para aquela situação.

No entanto, Hoseok não conseguia deixar de pensar no sonho que tivera naquela noite e no por que de Seokjin ter aparecido para si daquela maneira. Ao mesmo tempo, lembrava-se do assunto que tiveram no jantar na noite anterior e em como os Kim ficaram desconfortáveis ao saberem que passaria a dormir no quarto de azulejos.

[...]

Hoseok ouvia o som de um piano. Aquilo provavelmente passaria despercebido se não fosse por dois simples fatores:

Não saber que havia um piano no hospital psiquiátrico;

A música ser muito semelhante com a que a criança cantarolava para si em seu sonho.

Estava caminhando por entre os corredores do hospital psiquiátrico em uma tentativa de se distrair dos acontecimentos daquele dia. Ver Seokjin naquele estado o havia afetado mais do que gostaria, e por mais que Namjoon não quisesse ficar sozinho, pensando no que poderia ter acontecido para que o amado tivesse um surto daqueles, Hoseok precisava de um tempo só para si para tentar colocar os pensamentos no lugar. Além disso, procurava manter distância do mesmo. Pensava que quanto mais distante estivesse, mais seguro estaria e menos motivos Namjoon teria para fazer alguma coisa consigo, caso ele tivesse algum surto de raiva.

Apenas não imaginava se deparar com a linda e assustadora melodia de um piano, que vinha do final daquele corredor. Hoseok apressou os passos, não demorando a chegar a uma espécie de salão arredondado, com uma graciosa cúpula no teto que ajudava a propagar o som do piano, que estava logo ao centro. Ali, o Jung contemplou um jovem rapaz, que usava o mesmo uniforme esverdeado que todos os pacientes ali usavam, sentado em frente às teclas daquele enorme instrumento musical com um semblante concentrado.

A melodia, que até então era um tanto sombria, agora dava lugar a uma nova música que Hoseok conhecia bem: Clair de Lune, de Debussy. Até mesmo se permitiu encostar sobre a parede, cruzando os braços enquanto observava o rapaz de cabelos pretos brilhantes tocar, agora de olhos fechados, nutrindo uma expressão amargurada demais para alguém que tocava uma melodia tão bonita.

Aquilo acabou fazendo Hoseok sorrir, fechando os olhos brevemente na medida em que a imagem de Min Jee se fazia presente em seus pensamentos. Havia aprendido a amar música clássica graças à mulher, que fazia questão de dançar consigo sempre que estava inspirada ou feliz para comemorar alguma coisa. Clair de Lune o fazia se lembrar da namorada de todas as maneiras possíveis, e antes de ser internado até mesmo estava pensando em colocá-la no repertório do futuro casamento. Estava até mesmo assistindo algumas vídeo-aulas, treinando sozinho em casa para não errar os passos da dança.

Ao abrir os olhos novamente, a atenção foi tomada pela presença de mais uma pessoa ali. Nitidamente mais um paciente pelas roupas que usava, o jovem rapaz dançava ao redor do piano com movimentos graciosos e um belo sorriso nos lábios. A atenção do pianista havia sido tomada por aquele jovem, porém em nenhum momento errava as notas do piano, por mais que os olhos pequenos estivessem concentrados nos movimentos daquele rapaz, que por breves momentos se sentou ao seu lado, encostando a cabeça cuidadosamente sobre os ombros.

— Estamos sendo observados, Yoongi hyung.

No mesmo instante que a voz angelical se pronunciou, uma nota grotesca tomou conta de todo o ambiente. A música parava, e o pianista agora estava paralisado, com os olhos levemente arregalados e o corpo tenso. Hoseok ficou sem entender, e resolveu se aproximar enquanto o dançarino se levantava graciosamente, sorrindo de forma amigável para si enquanto tocava no ombro do pianista que estava agora com a cabeça abaixada.

— Desculpe, eu não queria atrapalhar o momento de vocês. – Disse em um tom amigável. – Mas eu não resisto a uma música dessas.

— É um apreciador de pianistas? Vejo que já conquistou o meu coração! – O rapaz levou uma das mãos ao peito, recebendo um olhar de desaprovação do pianista ao seu lado. – Muito prazer, estranho. Eu me chamo Verônica de Vierre!

— Verônica? – Hoseok pistou diversas vezes em confusão, segurando na mão que o rapaz estendia para si e que insinuava para levar aos lábios e beijar, e assim o Jung o fez.

“Eu estou ficando maluco?” pensou consigo mesmo, porém caso se tratasse de uma mulher seria muito perceptível, mesmo com as roupas largas do hospital. Tudo naquele jovem indicava que era um homem.

— Verônica é uma parte do Jimin. – Foi tirado de seus pensamentos pela voz do pianista, que continuava imóvel e tenso como uma estátua.

— Ah... – O Jung balançou a cabeça levemente, assimilando um pouco melhor agora. – Eu me chamo Hoseok. Jung Hoseok.

— Ah, nós sabemos, querido! – Jimin, ou Verônica, respondeu, unindo as mãos próximo ao rosto com um sorriso gentil, e então sentando-se ao lado do pianista mais uma vez, abraçando-o. – Namjoon hyung fala muito sobre você! Ah, este mal humorado aqui se chama Min Yoongi. – Ele disse, apertando as bochechas do pianista com as duas mãos.

— Ah... Muito prazer, vocês dois e... O Namjoon falou de mim? – Engoliu levemente em seco, vendo Jimin balançar a cabeça positivamente antes de voltar os olhos gordinhos para si.

— Você é o garoto do quarto maldito. Quem não te conheceria?

Um arrepio horroroso percorreu a coluna de Hoseok com a voz rouca que saiu dos lábios pequenos do pianista, que agora estava com as mãos fechadas em punho sobre as coxas. Em seguida recebeu o olhar duro de um Yoongi que parecia estar irritado com algo, ou com alguém.

— Yoongi hyung! Não seja tão mau! – Jimin fez um bico. – Hoseok hyung não parece ser uma pessoa ruim.

— Jin teve um surto depois que aquele quarto foi reaberto. Está acontecendo de novo e é culpa dele! – Yoongi bateu com a mão sobre as teclas do piano, um som horroroso de notas aleatórias ecoando pelo salão.

— O que? – Hoseok piscou diversas vezes, sem entender de fato aonde Yoongi queria chegar.

— Hyung... Não é culpa dele! É o quarto! – Jimin se manifestou novamente, levantando-se quando o Min também se levantou, estreitando os olhos para o Jung, que engolia em seco.

— Eu não vou deixar você me desgraçar e desgraçar o Jimin. Nem que eu tenha que entrar naquele maldito quarto e te matar enquanto você dorme! – Yoongi apontou o dedo para Hoseok, em seguida levando-o para o próprio pescoço, simulando um movimento de corte que fez o estômago do Jung se revirar.

— Ninguém vai matar ninguém, ou então eu mesmo acabo com a raça de todo mundo aqui.

A voz dura de Namjoon soou atrás de Hoseok, que deu um salto em espanto. O mais alto estava com os olhos estreitos para Min Yoongi que, com as mãos trêmulas e respiração levemente descompassada, retribuía o olhar. Não fazia ideia de como a situação havia chegado naquele ponto, onde um clima extremamente tenso reinava entre as pessoas ali presentes.

No entanto, o ambiente pesado foi interrompido pela risada animada de um Jimin, que havia deixado completamente o ar feminino e dócil, dando lugar a uma expressão exageradamente animada. O rapaz correu na direção de Namjoon dando pequenos pulinhos pelo salão, em seguida saltando na direção do corpo do homem, que precisou dar cerca de dois passos para trás antes de segurar Jimin pela cintura, para que o mesmo não fosse de encontro ao chão.

— Papai Nam! – Exclamou, abraçando-o. Até mesmo a voz de Jimin estava diferente, agora mais infantil e brincalhona.

Hoseok simplesmente não conseguiu não reparar na expressão séria de Namjoon, como quem estivesse prestes a lançar o corpo de Jimin para o outro lado da sala com toda a força que tinha, porém, estava se contendo para não fazê-lo. Principalmente por conta do olhar de poucos amigos que Yoongi lhe lançava.

— Oi, Chimchim... – Namjoon disse entre os dentes, apertando os olhos em aparente impaciência quando o rapaz riu alto para si, apertando-se mais ao corpo do outro.

— Chimchim...? – Hoseok comentou para si mesmo.

— A criança interior de Jimin. – Yoongi disse, também entre os dentes. Ambos pararam para observar como Namjoon tentava tirar o garoto de seu colo sem ser tão bruto, e foi então que o Min resolveu se envolver. – Chega Chimchim, vamos embora.

— Não! Chimchim quer o papai Nam! – O garoto se apertou ainda mais ao corpo de Namjoon, que inflou as narinas em impaciência.

— Sai de perto de mim, garoto! – Disse, finalmente empurrando-o com força, fazendo Jimin cair com tudo no chão frio.

Aquilo foi o suficiente para fazer os olhos de Jimin lacrimejarem, e em seguida o rapaz começou a chorar alto e intenso, soluçando entre as lágrimas enquanto levava as mãos ao rosto. Yoongi ficou completamente estático por breves momentos, lançando um olhar agressivo para Namjoon, que deu de ombros.

— Você me paga por isso, Kim. – O Min praticamente rosnou, abaixando-se ao lado de Jimin e ajudando-o a se levantar, ao mesmo tempo em que o puxava para fora daquele salão.

Hoseok estava completamente em choque pela reação de Namjoon, afinal, por mais que o corpo de Jimin fosse o de um homem já adulto, sua mentalidade, pelo menos naquele momento, era a de uma criança. Estava se preparando para voltar-se irritado para o antigo companheiro de quarto no momento em que o viu socar a parede com tanta força que por um momento imaginou que seus dedos tivessem se quebrado.

— Eu odeio essa criança maldita... – Rosnou, o rosto distorcido em uma carranca raivosa e os dentes rangendo um contra o outro.

— Hm... Nam... Joon? – Chamou em um fio de voz, toda a coragem que havia reunido para enfrentá-lo caindo por terra naquele momento.

— O que foi caralho? – Namjoon voltou os olhos castanhos para o Jung, que engoliu em seco.

Resolveu deixar aquele assunto de lado em um primeiro momento, suspirando pesadamente para então tocar em outro assunto que também era de seu interesse, e tão importante quanto.

— Primeiramente... Eu preciso de você calmo, tá bom? – Hoseok ergueu ambas as mãos em uma tentativa de manter a paz entre eles, e Namjoon ergueu uma das sobrancelhas. – Eu quero te fazer uma pergunta.

— Então por que está demorando tanto para fazer? – O Kim se afastou da parede, aproximando-se em passos lentos do mais baixo, que engoliu em seco pela enésima vez naquele dia. – Não sei se você percebeu, mas eu não estou em um dos meus melhores dias.

— Certo, certo... Eu não vou demorar tá bom? – Hoseok estava com os olhos levemente arregalados para Namjoon, porém não cortou o contato visual em nenhum momento. – Então... O que o Jin iria me falar ontem no refeitório sobre o quarto dos azulejos?

A expressão raivosa deu lugar a expressão surpresa, em seguida para uma confusa. Namjoon piscou algumas vezes processando aquela pergunta e logo em seguida os lábios se entortaram no maldito sorriso assustador que Hoseok detestava. E não parou por aí.

Namjoon riu. Uma risada digna de um filme de terror e que fez os pelos de Jung Hoseok se arrepiarem.

— Você é um cagão do caralho. – Disse, ainda rindo por causa da pergunta extremamente cômica aos seus ouvidos, arrancando um rolar de olhos como resposta.

— Haha, muito engraçado. – Hoseok respondeu, balançando a cabeça negativamente na medida em que Namjoon se aproximava, a expressão mais suave agora.

— Meu amigo, eu apenas direi uma coisa por enquanto. – Disse, repousando uma de suas grandes mãos sobre o ombro de Jung Hoseok, que o olhava com atenção. – Tenha uma ótima noite de sono hoje.

Hoseok franziu o cenho incrédulo perante o comentário e o sorriso de Namjoon, que deu leves tapinhas em seu ombro antes de girar os calcanhares para deixar o salão.

— Agora mesmo que não vou conseguir dormir bem nem se eu quisesse...


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Notas finais do capítulo

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