Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 10
Surto


Notas iniciais do capítulo

Preferi encerrar o capítulo antes do esperado, pois ele iria ficar MUITO grande se colocasse tudo o que queria aqui rsrs'

Boa leitura!



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Precisaram correr escondidos pelos corredores para conseguirem acessar o telhado em plena luz do dia. Hoseok temia o que poderia encontrar lá, mas era preciso. Se no telhado existisse qualquer coisa que pudessem ajuda-los a resolver o mistério envolvendo Sooyoung Reila, precisavam ver logo.

Subiram a rampa que dava acesso à porta que ligava ao telhado, e Namjoon abriu a porta de qualquer jeito, o som do ferro se chocando contra a parede ecoando por todo o local. Hoseok sentiu o vento se chocar contra o rosto, os cabelos escuros balançando na medida em que se aproximava em passos lentos do local onde estava quando teve aquele sonho com Namjoon, engolindo em seco ao ver as marcas da cadeira de rodas de Jungkook ali, exatamente no mesmo lugar.

Os dois se aproximaram, Hoseok olhando diretamente para a área arborizada que era ainda mais destacada no ponto onde estavam, e em seguida olhando para baixo, exatamente para o ponto onde Jungkook havia caído bem diante dos seus olhos. O Jung não estava conseguindo fazer conexão alguma com a queda de Jungkook, o seu sonho e o sonho de Kim Namjoon.

— Os segredos sombrios do bosque ficam escondidos de meia-noite as três. – Ouviu Namjoon falar ao seu lado, e então voltou os olhos escuros para ele, que encarava a área verde pensativo. – Eu pensei que pudesse ter alguma coisa reveladora aqui no telhado, mas parece que não é o caso.

— No que está pensando? – Hoseok perguntou, e Namjoon apontou para o amontoado de árvores na frente deles.

— Talvez tenha alguma coisa lá. Alguma coisa que a Reila quer que nós vejamos. – Concluiu, olhando para o Jung com firmeza. – Precisamos ir até lá.

— Não podemos durante o dia, os médicos e enfermeiros estão por todo o lugar. – Suspirou um tanto derrotado, levando as mãos à cintura.

— Parece que vamos passar mais uma noite juntos, Jung Hoseok.

O rapaz voltou os olhos para Namjoon, que sorria de canto e estava com os olhos levemente cerrados, o que fez Hoseok engolir em seco.

[...]

Era difícil enxergar alguma coisa naquela hora da madrugada, mas precisavam ser cautelosos e não podiam ser vistos. Hoseok ficou no quarto de Namjoon até dar meia-noite, e então foram para o lado de fora do hospital psiquiátrico, ambos em silêncio, tentando enxergar o caminho.

O Jung nunca andou por aquela parte do hospital, assim como Namjoon. Desta forma preferiram andar próximos um ao outro para não correrem o risco de se separar. O Kim até mesmo segurava a mão de Hoseok vez ou outra enquanto o guiava pelo caminho cheio de gravetos e pedras no chão. Ainda não sabiam o que de fato iriam encontrar, mas apenas a possibilidade de ser algo muito ruim fazia o estômago de Jung Hoseok se revirar.

Parou de caminhar apenas quando se chocou contra o corpo imóvel de Namjoon, que havia parado repentinamente e, sem entender, Hoseok se colocou ao seu lado, os olhos pretos voltando-se para os do rapaz mais alto.

— O que houve? - Perguntou, voltando os olhos para frente e finalmente vendo que ali tinha algo que se assemelhava a um galpão abandonado.

Porém, o Jung teve o corpo puxado repentinamente por um Namjoon que se escondeu por entre os arbustos. O corpo do Jung foi de encontro ao chão logo ao lado do Kim e iria retrucar, se o mais alto não tivesse tapado a sua boca com uma de suas mãos grandes.

— Shh... Eu vi alguma coisa. - Namjoon sussurrou, levantando a cabeça de forma que apenas os olhos aparecerem acima dos arbustos. Hoseok fez o mesmo, finalmente contemplando uma figura caminhando na direção do galpão.

Não demorou muito para que as luzes do mesmo fossem acesas. Conseguiam ver uma silhueta humana caminhando lá dentro sempre que a mesma passava em frente a uma das janelas espalhadas pelo galpão, porém não conseguiam identificar quem seria aquela pessoa.

O silêncio era tamanho que Hoseok até mesmo conseguia ouvir o som do vento da madrugada se chocar contra as árvores ao redor, bem como o movimentar dos animais noturnos. Seria um ambiente até mesmo tranquilizador se não estivesse completamente aterrorizado e com um grande medo de ser pego fora do hospital com Namjoon.

Ficaram ali por alguns minutos em silêncio, observando com atenção todo o movimento dentro daquele galpão. Hoseok procurava entender, e apenas a ideia de que ali poderia estar todas as respostas por trás do mistério envolvendo Reila fazia o seu coração palpitar disparado em ansiedade, ao mesmo tempo em que uma enorme insegurança tomava conta de seu corpo, imaginando que poderiam se decepcionar com o que encontrariam.

Além disso, outra coisa o estava deixando curioso naquele momento, e que fez com que voltasse os olhos minimamente na direção de Namjoon mais uma vez. Estava curioso do real motivo do rapaz ao seu lado ter feito tanto mistério em revelar o sonho que tivera com Jungkook na noite em que dormiram juntos e que acabaram acordando vomitando aquela água podre. Até mesmo percebeu o quão tenso o rapaz estava mais cedo naquele dia enquanto contava com riqueza de detalhes o que havia presenciado no sonho.

Principalmente o fato de ter detalhado a maneira como Jungkook o tratou naquele momento.

Jung Hoseok era um homem curioso, e até mesmo sentia um pouco de coceira enquanto decidia se deveria questionar o Kim sobre aquilo. Mas ao mesmo tempo, o temor de estar invadindo um espaço pessoal demais do mesmo se apossava de seu corpo e o impedia de tomar alguma iniciativa.

Mas, como se estivesse lendo seus pensamentos, Namjoon voltou os olhos escuros para si de repente, dizendo:

— Você está com cara de quem quer falar algo atrevido.

Hoseok piscou algumas vezes, surpreso, e até mesmo forçou um sorriso desconfortável.

— É que... Bem, eu não sei se deveria fazer esse tipo de pergunta. – Disse, respirando fundo enquanto Namjoon erguia uma das sobrancelhas. Porém, o rapaz mais do que depressa abriu um sorriso, aproximando o rosto do de Hoseok brevemente.

— Hm... E que tipo de pergunta seria essa? Pode fazer. – Respondeu, fitando o Jung nos olhos na medida em que aproximava ainda mais o rosto do mesmo. Namjoon apenas abriu um sorriso ainda maior ao ver o constrangimento do outro. – Você fica adorável quando está constrangido assim... Imagino se a pergunta que quer me fazer é relacionada ao fato de querer me beijar em uma noite tão linda como essa.

— O-O-O que?! – O Jung precisou se controlar bastante para que o tom de voz não saísse mais alto do que deveria, sentindo o rosto se esquentar violentamente por conta do constrangimento que sentiu naquele momento. Namjoon, no entanto, apenas soltou uma rouca e baixa, afinal, não devia chamar a atenção para eles, já que estavam escondidos.

— Vamos, diga de uma vez o que quer. – Namjoon disse, porém não se afastou de Hoseok, que engoliu em seco.

— Bom... Eu percebi que você ficou um pouco estranho depois do sonho que teve com o Jungkook. – Começou, fazendo breves pausas, tentando escolher as palavras certas para continuar. Namjoon naquele momento se afastou um pouco para encará-lo melhor. – Eu fiquei me perguntando se... De alguma forma, você se sentiu muito afetado por isso.

Ao contrário do que imaginou, Hoseok apenas contemplou Namjoon soltar um suspiro pesado e então desviar o olhar logo em seguida, o que claramente chamou a atenção do Jung. O mais alto estava com uma expressão pensativa, os olhos escuros iluminados apenas pela fraca luz da lua encarando o nada por breves momentos.

— Você nunca percebeu um padrão nesses sonhos? – Ele perguntou de repente, e Hoseok piscou algumas vezes em confusão.

— Padrão? – Franziu o cenho, e Namjoon assumiu que não tivesse percebido.

— Quais são os seus piores medos e traumas, Jung Hoseok? – A voz de Namjoon saía séria e fria, o que fazia o outro tremer brevemente. – Você tem medo de lugares escuros? Tem medo de se afogar? Tem medo de ser enterrado vivo? Tem medo de ser perseguido?

— Eu... – Hoseok estava com os olhos brevemente arregalados. Sim, aqueles eram alguns dos diversos medos mais profundos de Jung Hoseok, mas em nenhum momento os havia revelado a ninguém, pois até duvidava dos seus medos às vezes. Iria questionar Namjoon sobre aquilo quando finalmente, como em um estalar de dedos, conseguiu entender a sua linha de raciocínio.

Namjoon ao perceber que Hoseok havia finalmente compreendido aonde queria chegar, continuou:

— Tenho quase cem por cento de certeza que Reila conhece os nossos piores traumas e medos, e usa isso a seu favor enquanto dormimos. – O Kim suspirou pesadamente, abaixando a cabeça por breves momentos, sob o olhar atento de Hoseok. – Eu tive essa certeza com esse sonho, onde despertei e com o que Jungkook fez comigo.

— Do que você tem medo, Namjoon? – Perguntou com a voz baixa, aproximando-se mais do corpo do Kim que voltou os olhos para si. Hoseok conseguia ver insegurança ali, e a maneira como o rapaz mordia o lábio inferior indicava que não estava confortável com a maneira como aquele assunto estava sendo conduzido.

Namjoon separou os lábios e Hoseok pensou que o rapaz iria se abrir consigo pela primeira vez. Porém, foram interrompidos por um barulho que vinha do galpão. Os dois voltaram a atenção para o local, vendo a mesma silhueta humana de antes sair e se afastar aos poucos, seguindo o mesmo caminho que fizera antes. Resolveram ficar escondidos ali por mais alguns minutos até finalmente Namjoon fazer o primeiro movimento, segurando na mão de Hoseok para irem juntos ao galpão.

Encontraram uma grande porta de ferro, que foi por onde a figura humanoide havia entrado. Hoseok levou ambas as mãos a uma barra de ferro semelhante a uma maçaneta, empurrando a porta para o lado para dar espaço suficiente para que os dois conseguissem passar. O Jung foi o primeiro, sendo seguido de perto por um Namjoon que estava alerta para o que quer que pudesse vir a acontecer.

O ambiente era escuro, apenas iluminado pela luz da lua que conseguia entrar pelas janelas. Hoseok estava próximo às paredes, tateando o lugar procurando uma forma de se guiar no escuro e não se perder ou esbarrar em algo que pudesse fazer muito barulho. Também procurava por um interruptor onde pudesse ligar a luz, praguejando mentalmente o fato de precisar ficar sem o celular no período em que estivesse no hospital psiquiátrico.

— Mas que porra é essa?! – Namjoon praguejou com a voz baixa, e mesmo com a luz fraca Hoseok conseguiu ver os braços do homem mais alto balançarem no ar, como se estivesse espantando alguma coisa.

Naquele mesmo momento o Jung conseguiu encontrar uma espécie de alavanca que talvez pudesse ser um tipo de interruptor antigo, e então levou as duas mãos até ele, precisando usar um pouco de força para abaixá-la. No mesmo instante, as luzes do ambiente começaram a se acender, revelando o que existia dentro daquele local.

Sinceramente, Hoseok esperava que tivesse algo mais revelador ali dentro. Em meio aos longos corredores feitos de prateleiras de alumínio, Hoseok procurava por algo que pudesse ajuda-los com Reila, qualquer pista ou prova que poderiam usar para montar aquele quebra-cabeça. Havia alguns materiais de carpintaria que repousavam sobre as diversas prateleiras, pás, ancinhos, correntes e cordas penduradas no teto e que desciam até a altura dos olhos do Jung.

Fez um leve biquinho, voltando os olhos pequenos para Namjoon, que não havia comentado nada desde que as luzes se acenderam. No entanto, a visão que teve do rapaz era, no mínimo, preocupante. O Kim encarava o teto repleto de cordas e correntes com os olhos arregalados, os lábios levemente separados formando um “o” em completo espanto. Namjoon havia perdido completamente a cor no rosto, e estava estagnado, congelado e em choque encarando aquilo. Hoseok franziu o cenho, e mais do que depressa se aproximou do rapaz, tocando-lhe o braço.

— Ei, o que aconteceu? Você está bem? – Perguntou, porém não tendo resposta alguma do outro. – Namjoon o que está acontecendo?

Namjoon de repente levou ambas as mãos aos cabelos pretos, trincando os dentes quando lágrimas começaram a nascer nos olhos rasgados. Hoseok não estava entendendo o que estava acontecendo, mas se afastou um pouco, assustado, quando viu Namjoon sair ajoelhado no chão, um grito assustado saindo de seus lábios sem desviar os olhos do teto por nenhum segundo.

O Jung mais do que depressa se abaixou à frente de Namjoon, segurando-o pelos ombros enquanto Namjoon não parava de gritar em agonia, naquele momento finalmente fechando os olhos e abaixando a cabeça enquanto os dedos se emaranhavam nos cabelos lisos e os puxavam com certa força, o corpo tremendo violentamente.

Jung Hoseok não fazia ideia do que fazer naquele momento, os olhos espantados encarando um Namjoon que estava em meio a uma crise que não sabia sequer identificar qual seria.

— Namjoon, por favor, olha para mim! – Pediu quase suplicante, levando as duas mãos ao rosto em formato de coração, mas não o forçou a olhar para si. – Por favor Namjoon... Eu estou aqui com você, está tudo bem...

Tentou suavizar o tom de voz, procurando tranquiliza-lo um pouco, o que pareceu surtir certo efeito. Namjoon já não mais gritava e, aos poucos, ergueu o rosto para Hoseok, o rosto molhado pelas lágrimas que desciam incessantes, os olhos fechados em um aperto forte. A expressão assustada e completamente vulnerável de Namjoon, de certa forma, fez uma dolorosa pontada surgir no peito de Hoseok.

— Namjoon... Abre os olhos... – Pediu com a voz gentil, acariciando suavemente as bochechas do Kim que, visivelmente relutante, começou a abrir os olhos rasgados, o rosto de Jung Hoseok preocupado tomando forma.

Ficaram se encarando daquela forma por um bom tempo, Namjoon ainda trêmulo, aos poucos desfazendo o aperto que fazia nos cabelos e descendo as mãos levemente, o que fez o Jung suspirar aliviado.

No entanto, foi pego completamente desprevenido quando Namjoon de repente se lançou contra o corpo de Jung Hoseok, envolvendo-o em um forte abraço enquanto aninhava a cabeça no peito do rapaz mais baixo, que o encarava incrédulo e sem saber como reagir. Porém, mais uma vez sentiu o aperto no peito voltar ao perceber o quanto Kim Namjoon tremia.

Era a primeira vez que o via tão vulnerável daquele jeito e, sem saber muito o que fazer, Hoseok apenas retribuiu o abraço, acolhendo-o melhor sobre o seu corpo enquanto uma das mãos acariciavam, ainda relutante, os cabelos pretos do Kim, que apenas procurou se confortar melhor sobre o seu corpo.

Naquele momento Jung Hoseok suspirou pesadamente, voltando os olhos castanhos para o teto e encarando as correntes e cordas ali penduradas, lembrando-se, também, das palavras que Namjoon lhe dissera naquela noite. “Tenho quase cem por cento de certeza que Reila conhece os nossos piores traumas e medos”. O que acabou colocando-o pensativo.

Mais do que nunca precisava descobrir sobre o passado de Kim Namjoon se quisesse entender o significado dos jogos de Reila.


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Notas finais do capítulo

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