Quarto de Azulejos escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 1
Sonhos partidos


Notas iniciais do capítulo

Eu já perdi a conta das vezes que eu tentei publicar essa fanfic desde ontem, e espero que dê tudo certo dessa vez rs'

Eu não sei se deveria estar publicando isso aqui, visto que é baseado em um sonho espiritual que eu tive na noite de domingo para segunda e que me deixou todo arrepiado de medo, mas que eu achei que seria interessante explorar como um plot.

Essa é a minha primeira experiência com uma proposta de terror, pelo simples fato de que eu tenho completo CAGAÇO de assombrações e coisas do gênero. Mas, vamos que vamos kkk'

Enfim, espero sinceramente que vocês gostem dessa proposta de enredo!



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— Como você está se sentindo hoje?

Aquela pergunta havia se tornado mais comum para Jung Hoseok do que ele um dia imaginou que pudesse se tornar. Todos os dias era obrigado a ter uma pequena sessão de interrogatório, cortesia dos diferentes médicos que o atendiam desde o dia em que foi internado naquele hospital psiquiátrico após ter um episódio depressivo tão forte que o fez tentar cometer suicídio.

No entanto, naquele momento em específico não estava se sentindo desconfortável com aquela pergunta. Afinal, não era mais um dos médicos ou dos enfermeiros que estavam ali na sua frente com um sorriso amigável. Quem estava ali, na verdade, era a única pessoa com quem podia contar desde que foi internado. A única pessoa que o fazia ter o mínimo de motivação para melhorar.

Kwan Min Jee, uma linda mulher em seus vinte e poucos anos, com seus longos cabelos pretos caídos por toda a extensão de suas costas, a franja bem cortada que desenhava o seu rosto oval, tão adorável quanto sua personalidade. Min Jee era o brilho dos olhos de Hoseok.

— O mesmo de sempre, meu amor. - Respondeu, forçando um breve sorriso para tentar acalmar a mulher, sem muito sucesso. - Eu ainda estou me acostumando com a ideia de ser um louco.

— Hoseok, amor, você não é louco. - Min Jee comentou, levando uma das mãos ao rosto de seu amado, que fechou os olhos e suspirou pelo toque carinhoso. - Você não precisa encarar as coisas dessa forma. Você só está aqui pois precisa de ajuda, e eu tenho certeza que logo sairá daqui também.

— É mais fácil falar do que fazer, Min Jee. - Hoseok comentou desanimado, virando o rosto para conseguir beijar a palma da mão de sua namorada. - Mas eu irei me esforçar, por você.

Min Jee sorriu, e como Hoseok amava aquele sorriso. Sentia-se o homem mais forte do mundo apenas por ter o privilégio de ter aquele sorrso exclusivamente para si.

— Agora me diga, como foi passar essa primeira semana aqui? - Ela perguntou, segurando agora ambas as mãos de Hoseok, que mordeu o lábio inferior de leve antes de continuar.

— Se eu disser que foi fácil estarei mentindo. - Ele começou. - Eles não tinham um quarto preparado para mim, então eu tive que dividir com um dos pacientes daqui e... Não foi uma experiência muito agradável para mim.

— Por que? - Min Jee franziu o cenho sem entender, e Hoseok suspirou, debruçando-se sobre a mesa levemente para confidenciar algo à namorada.

— Meu colega de quarto era Kim Namjoon. Esse cara é pirado! - Continuou, ainda com o tom de voz baixo. - Ele matou os pais, e sabe-se lá quem mais ele não teria matado se a polícia não tivesse encontrado ele!

— Sério Hobi? - Min Jee parecia um pouco preocupada em saber disso. Naquele momento Hoseok olhou em volta por breves momentos, os olhos castanhos finalmente caindo sobre o corpo de um homem alto que estava sentado em uma das mesas ali, que usava o mesmo uniforme esverdeado que todos os internos ali usavam.

— É aquele ali. - O Jung apontou com a cabeça e Min Jee voltou os olhos com cautela, contemplando o homem que ali estava sentado. Namjoon estava lendo um livro que a mulher não conseguiu identificar, e teve a atenção tomada pela aproximação de um rapaz, também com o uniforme esverdeado. Mais do que depressa o semblante de Namjoon mudou para um repleto de alegria, o sorriso se destacando no rosto bonito quando o rapaz de cabelos pretos de aproximou.

— Ele não parece o tipo de pessoa que faria mal a alguém... - Min Jee comentou, suspirando brevemente quando o rapaz de cabelos pretos se sentou ao lado de Namjoon, que lhe deu um beijo no rosto. - Quem é aquele?

— Kim Seokjin. Acho que é o namorado do Namjoon, ou algo assim. - Hoseok deu de ombros, voltando os olhos para a mulher. - Mas o que me consola é que hoje eu já vou poder dormir com um pouco de paz em um quarto só meu.

Min Jee sorriu aliviada ao saber daquilo, se aproximando do amado para beijá-lo brevemente, em um selinho carinhoso.

— Eu fico feliz em saber disso, amor. - Ela disse quando se afastou, ainda acariciando o rosto de Hoseok com carinho. - Eu te garanto que você vai se sentir muito melhor depois que tiver uma noite apenas sua.

O Jung suspirou pesadamente.

— Eu espero que sim.

[...]

Ao cair a noite Hoseok foi obrigado a se despedir de Min Jee e voltar para o interior do hospital psiquiátrico, onde teve o seu jantar servido no refeitório e precisou comer ao lado de Namjoon e Seokjin pela falta de espaço. Ao contrário de Namjoon, Seokjin era uma pessoa muito mais fácil de se lidar, talvez por Hoseok ter encontrado muito de si mesmo no rapaz que também estava ali para conter os seus surtos depressivos e de auto-mutilação. Por breves momentos Hoseok se colocava a imaginar o tamanho do sofrimento que Seokjin guardava dentro de si para ser capaz de atacar a si mesmo daquela forma, os ferimentos sendo tão graves que deixaram cicatrizes evidentes em seu rosto bonito.

— Então você vai ter o seu próprio quarto agora? - Seokjin comentou com um sorriso fraco, as cicatrizes de suas bochechas saltando levemente com aquilo.

— Sim, minhas coisas já estão lá, aliás. - Hoseok respondeu, dando algumas garfadas na comida. - Pelo menos agora o Namjoon não vai mais precisar aturar os meus roncos noturnos...

— Eu nunca disse que não gostava da sua companhia. - Namjoon se pronunciou finalmente, erguendo os olhos naturalmente gélidos para um Hoseok que engoliu em seco. - Na verdade eu vou sentir a sua falta.

— Huh? - O Jung piscou algumas vezes com aquele comentário. - É sério?

Namjoon balançou a cabeça positivamente enquanto mastigava, continuando em seguida:

— Além do Jin você foi o único que conseguiu me suportar por pelo menos uma semana. - Fez uma pausa, erguendo o olhar novamente para Hoseok. - Era muito divertido ver você se cagando de medo sempre que eu chegava perto da sua cama.

Seokjin acabou rindo da forma como Hoseok ficou vermelho, o Jung logo abaixando a cabeça encabulado enquanto ainda era observado friamente por um Namjoon que mantinha o semblante sério.

— Eu imagino o que se passava na sua cabeça. Talvez estivesse com medo de que eu te estrangulasse enquanto dormia? - Namjoon deixou um sorriso de lado escapar com a expressão assustada do outro. - Calma Jung Hoseok, eu não machuco as pessoas que eu gosto.

— Acho que você já assustou ele demais por uma noite, Nam. - Seokjin comentou, os olhos castanhos de Namjoon sendo atraídos para o belo rosto cheio de cicatrizes de seu amado, que lhe deu um selinho demorado. - Para qual quarto você vai, Hoseok?

— Para um vago no final do corredor. - Respondeu, e mais do que depressa a expressão no rosto dos Kim se alterou, Namjoon ficando mais sério do que o normal. - O que foi?

— O quarto dos azulejos? - Seokjin comentou e Hoseok balançou a cabeça positivamente, confirmando. Em seguida os olhos dos Kim se encontraram mais uma vez, o que fez um breve arrepio percorrer a espinha do Jung.

— O que tem aquele quarto? - Perguntou e Seokjin iria falar, se Namjoon  não tivesse segurado em seu braço com certa fora, meneando a cabeça negativamente para o suposto namorado. - O que?

— Não quero estragar a surpresa. - Namjoon disse, em seguida lançando-lhe um sorriso tão assustador que com certeza todas as gerações de Jung Hoseok conseguiriam sentir o terror que passou pelo seu corpo naquele momento.

Estava começando a achar que mudar de quarto não era uma boa ideia.

[...]

O quarto na verdade não era ruim como começou a imaginar que seria depois da conversa que teve com Seokjin e Namjoon. Na verdade era bem espaçoso, com uma cama de casal apenas para ele e um armário duplo onde as suas coisas já estavam guardadas e muito bem organizadas. Além disso, o quarto contava com um banheiro privativo com uma pequena banheira que Hoseok iria aproveitar muito bem quando estivesse passando por mais um dia estressante ou quando estivesse assustado demais com a personalidade peculiar de Namjoon.

A única coisa que o incomodava um pouco era a meia parede de azulejos brancos que circulava todo o quarto, alguns brilhantes e outros opacos, mas aparentemente era apenas algo que deveria se acostumar, assim como fez com toda a rotina daquele hospital psiquiátrico.

Não sabia que horas eram naquele momento, mas não podia sair mais de seus aposentos, pois precisava respeitar o toque de recolher. Com isso em mente, resolveu apagar as luzes e se acomodar na grande cama de casal que era iluminada pela luz do luar que invadia o cômodo pela pequena janela ao seu lado. E então, suspirou pesadamente, sentindo um enorme peso em seu peito.

— Não vejo a hora de sair desse lugar... - Comentou consigo mesmo, fechando os olhos enquanto tentava relaxar o corpo. Pensar que há uma semana atrás estava em sua casa, ao lado de sua namorada o fazia ficar realmente triste por não ser capaz de se controlar sozinho. Mas faria um esforço, tudo o que mais queria era melhorar para que pudesse ter uma vida normal ao lado de Min Jee.

E foi com a mulher em mente que, com um sorriso nos lábios, começou a adormecer aos poucos. Porém, quando estava quase pegando no sono, ouviu o som de uma risada perto de seu ouvido e que o fez acordar.

Hoseok levantou brevemente, os olhos já acostumados com a escuridão olhando em volta. Ouviu mais uma vez o som de uma risada, mais nítida, porém mais distante do que a primeira.

— Parece uma criança... - Comentou consigo mesmo. Aquilo era estranho, afinal, não haviam pacientes infantis naquele hospital.

Balançou a cabeça negativamente, voltando a se deitar e fechando os olhos. "Relaxa Hoseok, deve ser mais uma das suas vozes internas querendo te perturbar de novo" pensou consigo mesmo, virando-se de frente para a janela e assim ficando até finalmente adormecer.

Jung Hoseok não era um homem que costumava ter sonhos à noite. Normalmente dormia e acordava lembrando-se apenas da escuridão de quando havia fechado os olhos. No entanto, naquela noite havia sido diferente.

Demorou para que Hoseok entendesse que estava sonhando, afinal, ainda estava no quarto do hospital psiquiátrico. Os azulejos brilhavam com a luz da lua e o silêncio ensurdecedor era cortado por uma voz que fez o Jung franzir o cenho. Era exatamente a mesma voz que havia ouvido com a risada antes de dormir, porém que naquele momento estava cantarolando, repetindo diversas vezes "hmm..." conforme a melodia começava a ter o seu ritmo. Além disso, a voz daquela vez vinha do lado de fora do quarto, e Hoseok não sabia explicar o motivo, mas simplesmente não conseguia controlar o próprio corpo naquele momento, que havia se levantado da cama e agora caminhava até a porta do quarto.

Assim que abriu, ao invés de se deparar com o longo corredor de quartos que já estava habituado a percorrer, havia entrado em um outro cômodo sem janelas e iluminado apenas por uma única lâmpada amarela de centro. Porém, era o suficiente para que Hoseok pudesse enxergar perfeitamente o que havia naquelas paredes.

Em um primeiro momento não passavam de desenhos sem conexão e palavras sem sentido. O Jung foi se aproximando de uma das paredes, tocando brevemente a superfície áspera. Definitivamente não fazia ideia do que aqueles desenhos e palavras significavam.

No entanto, foi tirado de seus pensamentos quando a voz infantil voltou a cantarolar, como se estivesse dentro da sua cabeça dessa vez, ao mesmo tempo que o som rangido da porta atrás de si também se fazia presente. Hoseok se voltou para ela em tempo o suficiente de ver que a mesma havia se fechado.

"Mas o que..." pensou, aproximando-se. Porém, quando tentou pegar na maçaneta, percebeu que a mesma havia desaparecido, bem como a porta, em seu lugar ficando apenas um desenho feito em giz de cera. Hoseok ficou olhando para aquele desenho por longos minutos, a voz infantil ficando cada vez mais alta em sua mente na medida em que tentava procurar por respostas.

— Hoseok...

Uma voz familiar o chamou, vindo imediatamente atrás do corpo do Jung, que se virou de repente ao mesmo passo em que arregalou os olhos com a visão medonha que teve de Seokjin, que havia aparecido ali de repente e que agora estava sendo puxado para dentro da parede pelos desenhos de giz de cera que estavam sobre ela.

Hoseok... É você? - A voz de Seokjin era suplicante, e Hoseok não sabia explicar porque o seu corpo estava completamente paralisado naquele momento. - Me ajuda Hoseok... Por favor...

O Jung separou os lábios em completo horror, levando as duas mãos às orelhas quando um grito ensurdecedor escapou dos lábios de Seokjin na medida em que era completamente puxado para o interior da parede. Porém, por mais que Hoseok tentasse, não conseguia abafar os gritos insistentes do Kim, que faziam o seu corpo inteiro tremer.

E foi com esses gritos e a voz infantil que ainda cantarolava em sua mente que Jung Hoseok, de repente, viu-se completamente sem chão, como se estivesse caindo em direção ao nada. Aos poucos a escuridão começou a tomar conta de sua visão, e a única coisa que conseguia fazer era apertar cada vez mais forte as mãos contra as orelhas em uma falha tentativa de abafar aquelas vozes insistentes dentro de sua cabeça.

E então, tão de repente quanto, Hoseok despertou daquele sonho no mínimo apavorante. Porém, a sessão de horror ainda não havia terminado. O Jung moveu os olhos, percebendo que estava em segurança em seu quarto novamente, no entanto, não conseguiu se mover quando tentou.

"O que está acontecendo?" pensou. Estava deitado de barriga para cima, a cabeça voltada para o teto escuro e a única coisa que conseguia fazer era mover os olhos. Hoseok piscava fortemente vez ou outra, e foi em uma dessas piscadas que percebeu que havia algo errado. Mais especificamente que havia alguém ao seu lado na cama.

Os olhos castanhos de Hoseok caíram para o seu lado direito e logo em seguida se arregalaram ao perceber uma presença ali. Era uma pessoa, que usava um vestido branco liso e tinha os cabelos em um tom levemente alaranjado, encaracolados e compridos. Não conseguia ver o seu rosto, mas conseguiu identificar pela baixa estatura que se tratava de uma menina, talvez na casa de seus doze anos.

E, como se não fosse o suficiente, Hoseok viu quando a menina começou a se mover, apoiando as duas mãos sobre o colchão para ter apoio para subir na cama, o Jung conseguindo sentir cada movimento que a menina fazia até a mesma se colocar por cima de seu corpo, a cabeça levemente abaixada, os cabelos cobrindo o seu rosto.

Mesmo se pudesse falar ou se mover naquele momento, Hoseok sabia que não seria capaz de fazê-lo por estar completamente paralisado de medo. Todavia não imaginou que aquela situação pudesse ficar ainda pior quando a menina, em um movimento rápido, ergueu a cabeça para si, o rosto branco, os olhos pretos arregalados para si e um sorriso de dentes pontudos se abrindo em uma proporção que poderia ser tudo, menos humana.

Foi então que Hoseok conseguiu fazer alguma coisa, e essa coisa foi gritar. Um grito tão alto que tinha certeza que poderia acordar qualquer pessoa naquele corredor. E foi apenas naquele momento, também, que Jung Hoseok finalmente despertou por completo dando um grande salto na cama ao mesmo tempo em que gritava alto. O peito subindo e descendo pela respiração descompassada e a camisa esverdeada levemente grudada ao corpo pelo suor.

Os olhos rasgados percorreram o quarto, que estava mais iluminado do que gostaria, e então sua atenção foi tomada pela janela, por onde os raios de sol entravam, agradáveis. Já havia amanhecido.

— Mas que porra aconteceu aqui?! - Perguntou para si mesmo, levando uma das mãos ao peito e sentindo o coração bater descompassado enquanto as imagens daquele sonho perturbador passavam em sua mente como um filme em alta definição. Tudo parecia tão real...

No entanto, Hoseok não teve tempo de se recuperar do pesadelo, pois, do outro lado do corredor, um grito desesperado de Kim Namjoon o fez saltar da cama de uma única vez.


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Notas finais do capítulo

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