Capturada escrita por Bia Santos


Capítulo 6
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo.



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O corpo de Annie havia congelado. Seus membros estavam mais duros do que uma pedra.

Ela permaneceu como uma estátua quando dedos frios roçaram levemente contra seu pescoço e depois agarram a parte de trás de seu cabelo.

Depois disso, três coisas aconteceram ao mesmo tempo: Primeiro ela ouviu o som de pés correndo.

Em seguida a venda caiu de seu rosto.

E por ultimo a figura de um homem alto de cabelo longo, loiro, e mal tratados surgiu a sua frente.

Annie piscou duas vezes, então viu o taco de madeira que ele carregava na mão direita.

Um sorriso feio se desenhou no rosto nojento dele, e depois ele disse olhando em sua direção:

—Achei que depois da surra que te dei não ia ver sua cara por um bom tempo.

Foi nesse momento que Annie entendeu que não era com ela que ele falava.

Um rosnado de ódio soou tão perto de seu ouvido que seu corpo inteiro se arrepiou.

 —O que?- Ele sorriu— Nada de covarde, monstro e o blá-blá-blá de sempre? —O sorriso sumiu de seu rosto— Ótimo, porque já estou cheio desse seu discursinho.

Ele ergueu o taco.

—Agora vou devolver um dos presentinhos que você me deu hoje— Ele abriu a mão e algo pequeno e amarelado rolou de sua palma para o chão.

Quando Annie olhou novamente para ele descobriu o que era.

No sorriso horroroso do homem faltava um dente.

Annie sentiu o corpo atrás do seu se afastar.

Um segundo depois o homem avançou e desceu o taco em sua direção.

Annie gritou e se encolheu quando a madeira quase acertou sua cabeça.

O homem fez a volta em seu corpo, e depois Annie ouviu o barulho do taco acertando alguma coisa solida. Provavelmente a parede.

Em seguida um rosnado e um gemido masculino veio de trás, seguido do som de punhos se chocando contra carne.

Annie virou o pescoço rapidamente para ver o que estava acontecendo, e o que viu fez seus olhos se arregalarem e seu coração falhar uma batida.

O homem estava caído no chão, o taco de madeira partido estava caído a alguns metros de distancia. E em cima do homem, socando seu rosto sem parar estava Isabella.

Os cabelos dourados voavam ao redor da jovem a cada movimento que ela fazia antes de descer o punho fechado contra o rosto do homem.

Abaixo dela, com o rosto irreconhecível pelo sangue, o homem tentava se livrar de Bella.

E diante dos olhos assombrados de Annie ele agarrou o braço de Isabella e a jogou de costas contra o chão com um baque que Annie sentiu reverberar em seu próprio corpo.

A boca da jovem se abriu em um grito mudo.

—Garota maldita! — Ele rosnou enquanto se levantava— Já devia ter te matado há muito tempo. Mas não seja por isso, vamos resolver esse problema agora!

Ele se aproximou de Isabella com um sorriso horroroso estampado no rosto. Mas havia algo diferente nele, algo mais escuro, mais podre.

Annie forçou novamente as cordas que prendiam seus braços e suas pernas, grunhindo pelo esforço. Sem sucesso e em desespero pela promessa que via no rosto do homem, começou a se arrastar pelo chão.

E então gritou– o som mais alto que achou ter emitido em toda sua vida até aquele momento– quando ele ergueu o pé e pisou sob o punho estendido de Isabella soltando todo o peso do corpo.

O grito que saiu pela boca da garota e o som do osso se partindo embrulharam o estômago de Annie.

E então o maldito pisou mais uma vez, e mais uma, e mais uma ultima vez. Até que Isabella se encolhesse em volta do braço e não tivesse mais força para gritar.

—Pare! Seu monstro!— Annie gritou desesperada.

Ele olhou em sua direção.

—Acho que nossa amiga quer brincar também— Ele sorriu para Isabella e voltou o olhar para Annie— Não se preocupe princesa, terá toda minha atenção quando terminarmos de resolver nossos problemas de família, não é mesmo filha?

Annie congelou.

Filha.

Havia uma criança... Ele quebrou o braço dela só porque perdeu um maldito jogo de cartas...

Meu deus. Isabella era filha daquele monstro.

Uma sucessão de lembranças veio à mente de Annie, desde a primeira vez que havia visto Isabella, o modo silencioso da jovem e o comportamento que havia julgado como estranho...

A culpa penicou seu peito, mas o ódio que sentiu naquele momento era maior, era frio, cruel.

 —Você é pior do que um monstro, você é podre — Ela rosnou olhando para o homem. Era coisa mais verdadeira que já dissera em toda sua vida.

Ele olhou em sua direção, não havia sorriso dessa vez. Talvez a ausência do medo na voz de Annie tirasse toda a graça da situação.

—Parece que vou ter que resolver esse probleminha primeiro.

—Não se aproxime dela— Isabella disse com a voz surpreendente firme do chão.

—O que? — Ele perguntou e então franziu as sobrancelhas. Olhou para Annie e então de volta para Isabella. Em seguida compreensão brilhou em seus olhos escuros.

  —Achei que tinha vindo para me matar— Ele disse olhando para a jovem caída no chão- Achei que tinha finalmente criado coragem para isso, mas pelo visto estava enganado. Veio até aqui para resgatá-la? É a coisa mais estúpida que você já fez, e você já fez muita.

Ele se aproximou novamente de Isabella e virou a garota de barriga para cima com um empurrão do pé. O rosto de Isabella estava pálido.

—Vou te fazer um favor de pai, querida— Ele riu baixinho e o estômago de Annie se revirou ao som da palavra pai — Se tivesse conseguido sair, ela iria te agradecer e então nunca mais iria olhar para sua cara. Ela não precisa de você, sua idiota. Aposto que nesse momento os amiguinhos milionários estão esperando por ela com os braços e os cofres abertos. — Ele se virou para Annie— Estou mentindo?

Annie manteve os olhos em Isabella deitada no chão, com os olhos fixos no teto.

—Agora pelo menos você não vai morrer iludida. Porque ninguém vai sair daqui. Não vivo pelo menos —Ele olhou para Annie —Agora, onde paramos?

—Eu disse para não se aproximar dela! — Bella rosnou do chão.

—Cansei disso— Ele suspirou exasperado e olhou para Annie— Apenas um segundo.

Então se virou e olhou para o taco quebrado.

O coração de Annie disparou.

Tinha que fazer alguma coisa. Mas o que? Seus olhos dispararam para os lados procurando alguma saída, alguma coisa que pudesse fazer para impedir o que estava prestes a acontecer. Mas ela estava amarrada, impedida se movimentar.

Não havia tempo.

Isabella tentou se levantar, mas seu tronco mal levantou um centímetro do chão antes de desabar novamente. Os olhos azuis se voltaram para Annie desesperados.

Nunca antes havia visto aqueles olhos tão quebrados.

 A sua frente o homem ergueu o pé para dar o primeiro passo em direção ao taco.

Então Annie gritou. Não um grito de desespero. Mas um bramido onde a raiva, o medo e a dor se misturavam, ao mesmo tempo em que pegou impulso e girou as próprias pernas amarradas com o máximo de força que conseguiu e as chocou com violência contra as pernas dele.

O um grito surpreso e odioso saiu da boca do homem e os olhos arregalados dele se fixavam no rosto de Annie antes de seu corpo atingir o chão com um barulho seco.

—Sua...! —A voz dele sumiu junto com todas as suas palavras imunda quando Isabella se virou e chutou com força a cabeça dele.

Uma vez. Duas vezes. Três vezes.

*****

Passos trôpegos vindos além da porta aberta fizeram Annie ficar tensa e trocar um olhar com Isabella.

Annie manteve os olhos na entrada enquanto Isabella começava a se levantar.

Mas a pessoa que apareceu na porta fez Annie gritar de alegria.

—Meu deus, Annie! — Henry gritou e correu em sua direção, e em seguida a envolveu em um abraço apertado.

As lágrimas escaparam de Annie pela primeira vez desde que havia colocado os pés ali dentro.

Henry retirou um canivete do bolso e cortou as cortas dos punhos e das pernas da irmã. E depois de ver o corpo caído a centímetros de distancia de si, ajudou a irmã a se levantar e se afastou dele arrastando a jovem e lançado um olhar de nojo para o homem.

Quando Annie se virou para Isabela, percebeu que a garota não precisava de ajuda. Já havia se levantado e já caminhava para a porta, apesar de seus movimentos serem lentos e travados. O braço quebrado estava aninhado contra o abdômen.

Annie e Henry a seguiram sem pensar duas vezes.

Quando passaram pela porta se depararam com o corpo do outro sequestrador, havia um pedaço de madeira quebrado ao lado da cabeça dele.

Como Annie havia imaginado ele era jovem, devia ter no máximo trinta anos.

O homem soltou um gemido como se estivesse acordando, e antes que alguma das duas fizesse alguma coisa, Henry se abaixou e bateu com o cabo do canivete contra a lateral da cabeça dele.

—Estou me sentindo um pouco melhor agora— Ele disse.

Annie sorriu quando percebeu o quanto havia sentido falta das idiotices do irmão. Henry retribui com um sorriso tímido.

Annie acabou descobriu que passara todas àquelas horas pressa em um porão nojento.

Quando alcançaram o andar superior a jovem avistou a terceira sequestradora.

Annie reconheceu a mulher apesar de só a ter visto duas vezes. A recepcionista da pousada estava caída na sala com sangue escorrendo de um ferimento na testa.

Annie não olhou uma segunda vez para o corpo, antes de seguir Henry e Isabella para fora.

—Temos que chamar a policia— Henry disse assim que saíram para o jardim da casa, se é que se podia chamar aquilo de jardim.

—Eu avisei antes de entrar— Isabella disse— Devem estar chegando.

Annie olhou para ela. Para o rosto arranhado e para o corte no queixo pálido de onde escorria sangue e manchava a camiseta branca que ela vestia. Depois para o braço que devia estar doendo horrores. Ela precisava de um médico.

O ronco de um carro veio da estrada.

Annie se virou e viu uma viatura da policia vindo na direção deles com a sirene desligada, e então depois outra e mais duas apareceram logo atrás.

Ela suspirou. Iria voltar para casa.


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