Capturada escrita por Bia Santos


Capítulo 5
Capítulo V




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Annie foi deixada sozinha com o sequestrador mais jovem depois que a ligação terminou.

Até aquele momento o homem estava em silencio, apenas a respiração ruidosa e a sensação de que havia alguém lhe observando informava a Annie sobre sua presença.

Pareceu se passar muito tempo até que o homem perguntasse em voz baixa:

—Seu nome é Annie, não é?

Annie concordou com a cabeça lentamente.

—Então Annie,— Ele pausou por um instante como se estivesse pensando nas palavras que iria dizer— Espero de verdade que o seu pai vá sozinho. Será melhor para todos.

Annie ficou em silencio. O que ele queria que ela dissesse? Mal pudera falar com pai.

—Não digo isso só porque quero o dinheiro— Outra pausa— Bom, eu quero, mas... Olha só, a única coisa que você precisa saber é que se hoje à noite tudo não ocorrer de acordo com o plano, as coisas vão ficar feias para seu lado, entendeu?

Annie se controlou para se manter indiferente e em silencio, por mais que seu desejo fosse implorar para que ele a ajudasse a fugir. Mas havia uma parede muito grande que a impedia de fazer isso. Ele era mais um deles, porque a ajudaria?

—Aquele homem é um monstro— A voz dele havia ficado mais baixa —Já vi fazer coisas terríveis, coisas que ainda me assombram antes de conseguir pegar no sono— Annie permaneceu em silencio, ouvindo— Ele... Juro que eu mesmo tenho vontade de matar esse desgraçado.

  Cada palavra que saia da boca do homem fazia o medo de Annie avançar a um novo patamar, mais algumas palavras e ela não iriam conseguir mais segurá-lo em silencio.

Se aquele homem que trabalhava com Ele tinha medo – porque era isso que Annie ouvia no fim da cada palavra pronunciada por ele– o que ela deveria esperar ou sentir?

—Havia uma criança há alguns anos atrás... Ele quebrou o braço dela só porque havia perdido a porcaria de um jogo de cartas. Aquele maldito!

Uma criança.

Annie tentou limpar a mente e começou a procurar uma maneira de usar a historia dele contra ele. Depois daquilo estava óbvio para ela que o homem odiava trabalhar com outro. Ela só precisava usar o ódio dele ao seu favor.

Era arriscado, sabia disso, mas precisava sair dali. Principalmente depois de seu primeiro contato com ele e das palavras nojentas que ele havia sussurrada para ela. Annie não estava certa de que ele cumpriria com o próprio acordo.

—Se não concorda com as coisas que ele faz então me ajude a fugir —Annie sussurrou baixinho- Não seja como ele.

— Preciso do dinheiro—Ele respondeu imediatamente— Depois que eu receber minha parte hoje a noite, vou embora daqui. Nunca mais precisarei ver a cara desse imundo.

Annie ficou em silencio. Se era dinheiro que ele queria, ela podia dar a ele.

 —Se for apenas pelo dinheiro... Posso te dar a mesma quantia —Annie o deixou absorver as palavras- Você só precisa me ajudar a fugir.

Podia estar fazendo a maior burrada da sua vida, mas quem lhe garantia que depois de receberem não iriam matá-la ou mesmo pegar seu pai?

Dez segundos de completo silencio se seguiram até que Annie ouviu os pés de uma cadeira de metal ser arrastada pelo chão e depois passos pesados caminharam em sua direção.

Annie prendeu a respiração. Havia sido idiota, muito idiota.

Os passos pararam a sua frente e a respiração quente e pesada do homem bateu contra seu rosto.

Então Annie fechou os olhos, mesmo estando vendada.

*****

Henry afastou um galho fino com o braço.

Estava andando a mais de duas horas no meio da mata, e ate aquele momento não havia achado nenhuma pista de Annie.

Não tinha aguentado esperar sentado enquanto a policia esperava uma ligação do sequestrador e os cães farejadores chegarem de outra cidade que ficava a horas de distancia dali.

Teve que esperar Clara dormir para poder sair escondido pelos fundos da pousada. A jovem parecia determinada a não deixar mais nenhum de seus amigos desaparecerem, havia grudado em Lara e nele desde que haviam voltado da delegacia.

E pensar que se fosse outra ocasião teria sido tão bom ter Clara por perto.

Henry suspirou e desviou o caminho para a direita. Havia começado do mesmo lugar em que deixara Annie, achava mais provável que alguém a tivesse arrastado para o meio do mato do que seguido as trilhas. Já havia até mesmo se afastado do local onde a própria policia tinha procurado.

Henry estava a ponto de socar uma das árvores de raiva quando o ronco de um carro vindo da direita chegou ate seus ouvidos.

Era estranho. Estava com o mapa da mata, e se estivesse mesmo onde acreditava estar, não deveria haver nenhuma estada ali.

Acelerando o passo, Henry seguiu o som ate sair em uma estradinha de terra mal tratada, que mal tinha a largura suficiente para um carro passar. 

Henry olhou para os dois lados, não havia sinal do carro, apenas marcas de pneus na terra.

Mais uma olhada para a estrada, o fez presumir que o lado direito levava de volta para a cidade, e definitivamente não era isso que Henry queria. Só sairia dali quando encontrasse Annie, ou pelo menos algo que indicasse seu paradeiro.

Talvez se seguisse a estrada encontrasse alguém, poderia perguntar... O que? O que iria perguntar?

Não importava.

Ele olhou novamente para a esquerda. Era como se um imã o puxasse, a mesma força que sempre havia ligado ele e Annie desde o nascimento.

Talvez estivesse imaginando coisas, mas quais eram suas outras opções?

Henry desejou que sua mente não estivesse brincando com ele, e então se virou para a esquerda e começou a correr por dentro da mata seguindo a estrada.

*****

—Escute Annie— A voz do homem era uma brisa calma em seu ouvido ao contrario da explosão que Annie esperava— Não ache que me faz feliz te manter presa aqui, ate pedi para me deixarem dar pelo menos um copo de água a você, mas não deixaram.

Ele fez uma pausa. Annie nem respirava, havia perdido essa capacidade no momento em que ele havia se aproximado tanto de seu rosto que podia sentir os fios de barba do homem penicar sua bochecha.

—Eu realmente gostaria de dizer “sim” a sua proposta, seria muito mais simples. Mas se fizer isso provavelmente vão achar meu corpo jogado em uma vala daqui a dois dias. Se quiser sair viva daqui esqueça essa maluquice e nem pense em fazer essa proposta novamente para ninguém, por que...

Ele parou de falar e se afastou.

Annie ficou em silencio tentando entender o motivo de ele ter se calado. Um segundo depois ela entendeu.

Um grito abafado veio de algum lugar a cima de sua cabeça e depois objetos se quebraram.

—O que foi isso? — O homem perguntou.

Mais barulhos, e então um grito horrendo masculino que fez Annie se arrepiar dos pés a cabeça.

—Que droga! Vou ver o que esta acontecendo.

Annie tentou escutar alguma voz ou qualquer coisa que indicasse que fosse a policia que tivesse vindo para resgatá-la. Mas os barulhos haviam parado.

Até que um gemido curto soou vindo da sua direita e então o som inconfundível de um corpo caindo pesadamente contra o chão.

Passos leves começaram a avançar em sua direção.

Não era a policia. Eles teriam avisado.

Assustada Annie tentou forçar as mão contra as cordas para tentar se soltar.

Os passos se apressaram e então passaram ao seu lado.

Em seguida uma respiração fria e ofegante bateu contra sua nuca.


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