Capturada escrita por Bia Santos


Capítulo 2
Capítulo II




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O guia havia dito: árvores centenárias, animais silvestres, ar puro e sete cachoeiras incríveis.

Até aquele momento Annie só havia visto árvores magricelas, subido uma subida dos infernos e ouvido zumbidos de insetos que tinha certeza que eram carnívoros. Nada de sete cachoeiras e nada de árvores vovozinhas.

Annie era a ultima da fila de turistas junto com Henry. Assim como ela, o irmão gêmeo também não parecia nada feliz em ter acordado às cinco e meia da manhã para fazer trilha.

Clara e Lara estavam logo atrás dos guias, a primeira a cada cinco minutos olhava para trás para ter certeza de que Annie não tinha nenhum livro na mão. A garota só não sabia como Clara achava que ela iria arranjar um livro no meio do mato. Achava que ela iria pedir um emprestado dos índios? Ou quem sabe para um macaco?

— Eu não aguento mais!— Henry resmungou e parou para se apoiar em uma das árvores que ladeavam o caminho— De quem foi essa ideia maluca?

 —De você e daquelas duas traidoras ali na frente.

Henry fez uma careta como se tivesse se lembrado do momento e o estivesse amaldiçoando.

Annie suspirou e pegou a garrafa de água na lateral da mochila do irmão e bebeu um gole.

—O que você acha que Isabella esta fazendo aqui na cidade?— Henry perguntou depois de alguns segundos com os olhos perdidos nas costas de Clara- Você viu a cara que ela fez quando viu a gente? Ela estava estranha.

—Você acha? —Annie arqueou uma sobrancelha— Porque para mim aquele é o comportamento normal dela.

Henry riu sem fôlego:

—Você não presta.

Annie deu de ombros e o rosto de Henry ficou mais serio.

 —Mas sério, a garota parecia assustada. Tentei ouvir o que dizia para Lara, mas não consegui.

Annie olhou para Henry com uma sobrancelha arqueada:

 —Você que ouve a conversa dos outros e sou eu que não presto. —Henry piscou para ela— De qualquer forma, não me importo. Não tenho curiosidade nenhuma no que aquela garota diz ou deixa de dizer.

—Toda essa simpatia só porque ela perdeu seu livro no ultimo ano?

—Era meu livro favorito! —Annie exclamou revoltada— Era autografado e tudo!

— É, e já faz quase três anos!

 —Não me importo! — Annie expirou irritada e então olhou desconfiada para o irmão— E porque você anda tão interessado nela?

—Não estou interessado nela. —Henry franziu as sobrancelhas — Ela é gata e tudo mais, mas não tem nada haver. ­­ Primeiro que eu gosto de outra pessoa, — Os olhos claros do irmão se desviaram e se fixaram nas costas de Clara, um suspiro cheio de significados escapou dele. Mas menos de um segundo depois ele se voltou para Annie com um sorrisinho— E até onde eu sei, não é em mim que Bella está interessada.

Annie revirou os olhos.

— Não começa.

—Mas é verdade!

—Cale a boca Henry!

Annie bufou e voltou a caminhar. Andar feito uma condenada parecia melhor do que ouvir as idiotices de Henry.

*****

 Annie contou mais de uma hora e meia de trilha até finalmente chegarem às benditas cachoeiras.

Teve que admitir que eram bonitas. Eram sete quedas de água separadas por alguns metros uma da outra, e todas caiam em um imenso lago a sua frente. O que Annie achou mais bonito era como a cor azul safira da água contratava com as árvores de flores amarelas ao redor.

Mas se ela tinha achado que a caminhada valia aquela vista maravilhosa?

Não mesmo. Suas coxas e panturrilhas estavam moídas, e suas costas estavam doendo como tivesse carregado cinco quilos por quilômetros. Isso só confirmou sua suspeita de que havia sido uma boa idéia não ter trazido a mochila, e ter colocado o repelente e a garrafa de água na mochila do irmão.

Todos os turistas tinham parado para fazer um lanchinho à beira do lago para recuperar as forças. Os amigos de Annie tinham escolhido uma pedra grande a sombras de uma das árvores cheias de flores, e começaram a retirar os sanduíche da mochila.

Annie se arrastou até eles e se esparramou de barriga para cima sobre a rocha.

—Essa cor de amarelo me lembra as cortinas da casa da minha avó—Clara comentou depois de alguns minutos, e Annie tombou a cabeça para o lado para ver a amiga olhando para as flores com um brilho nos olhos.

—As flores me lembram ouro, muito ouro — Lara disse, e em seguida olhou para Clara e acrescentou:

— Gosto mais do meu pensamento.

A garota revirou os olhos e Annie escondeu um sorriso.

—Pra mim, parece uma árvore toda purpurinada— Henry disse com o cenho franzido, depois se virou para Lara- Sabe, também gosto mais do seu pensamento.

A garota riu e piscou um olho para ele.

—O que lembra a você Annie? —Clara perguntou.

A jovem olhou para cima com as sobrancelhas franzidas. Um segundo depois um passarinho pequeno de peito vermelho assentou sobre um dos galhos.

Vermelho. A imagem de um pequeno corte quase escondido por fios de cabelo dourados, que eram quase do mesmo tom das flores a cima, apareceu na sua mente, e em seguida íris tão azuis quanto às águas do lago ao seu lado.

O rosto de Isabella apareceu em sua mente.

Annie fez uma careta.

—Annie?

—Me lembram chocolate. A embalagem do ouro branco— Mentiu.

As risadas de seus amigos encheram seus ouvidos ao mesmo tempo em que acompanhava com os olhos o passarinho levantar voou em direção ao lago.

*****

As únicas coisas que animaram Annie na caminhada de volta foram o banho e a cama confortável que a esperavam na pousada.

Do mesmo modo que havia sido na ida, Annie e Henry eram os ultimo da fila novamente. Dez minutos depois de começarem a caminhar, Henry começou a reclamar.

Primeiro seus pés estavam doendo. Depois tentou fazer com que Annie carregasse sua mochila, dessa vez a garota gargalhou alto e quando ele tentou fazê-la se sentir culpada por estar carregando as coisas dela também, Annie fez um gesto obsceno envolvendo um dedo para ele, depois se virou e continuou a caminhar.

—Droga!

— O que foi agora? —Annie olhou sem vontade para o irmão.

—Preciso ir ao banheiro— Henry choramingou com as mãos na barriga.

— Segura.

 —Não dá! — O rosto dele se contorceu em uma careta— Acho que foi o queijo.

— Henry...

—Não consigo— Ele gemeu mais alto e então disparou para o meio das árvores.

—Me espera! —Gritou a alguns metros de distancia.

Annie chutou um galho com raiva. Era só o que faltava para completar seu dia. Nunca iria entender porque Henry insistia em comer coisas que não podia!

Ela se virou com uma carranca para avisar as amigas, mas percebeu com frustração que todos já tinham desaparecido na curva à frente. Teria que correr para alcançá-las. Aquele dia só ficava melhor.

Mas antes que se movesse um galho estalou às suas costas.

—Foi mais rápido do que imagi... — Não conseguiu terminar a frase. Porque um braço forte envolveu seu tronco por trás, prendendo seus braços ao lado de seu próprio corpo. Completamente apavorada a garota abriu a boca para gritar, mas antes que conseguisse emitir qualquer som um pano úmido foi pressionado contra seu nariz.

O medo gritou e rasgou Annie por dentro à medida que a trilha a sua frente e as vozes dos outros foram sumindo.

Um último pensamento lhe ocorreu antes de apagar por completo: A partir daquele momento podia se considerar uma pessoa morta. 


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