As chamas da lareira da sala de estar crepitavam, formando um conjunto de sons harmoniosos com as gotas de chuva que batiam no telhado da casa e ressoavam nos ouvidos aguçados do vampiro ali presente. 

Acomodado no sofá, com os seus olhos dourados fixos na madeira queimando dentro da lareira e com o copo de conhaque na mão, Jasper Cullen - há muito tempo Whitlock - aproveitava o silêncio estabelecido pela casa. 
Era muito difícil ter momentos como aquele, onde a quietude e tranquilidade eram permitidas por um tempo maior do que um piscar de olhos. Seus irmãos eram adeptos a agitação: estavam sempre andando de lá para cá, assistindo televisão no último volume ou simplesmente rindo de alguma coisa engraçada que muitas das vezes Emmet falava. 

Jasper poderia parecer um ranzinza por apontar aqueles fatos e não gostar deles, mas não se importava. Gostava do silêncio. De ficar quieto em seu canto. De estar sozinho com seus pensamentos. E abençoadamente, naquela noite ele estava.     Sua família havia saído para caçar aquele final de semana, programação que ele declinara. Não sentia fome e também não estava com disposição para uma caçada só por esporte, o que era incomum para um vampiro, mesmo vegetariano. Na verdade, não tinha disposição para nada ultimamente, apenas desejava ficar sozinho e descansar, o que havia levantado a preocupação de Alice.

Alice.

Ele amava a sua companheira, é claro. Sentia-se sortudo e abençoado por te-la encontrado em um período sombrio de sua vida como imortal, e mais ainda por terem juntos, encontrado os Cullen. Mas Jasper não podia negar para si mesmo que já há muito, não sentia-se da mesma maneira que costumava se sentir quando estava com a vampira que mais parecia uma fada.

Era feliz ao seu lado, gostava dela, era grato e formavam um belo par. Sim, tudo aquilo era verdade. Mas ainda assim, existia a espécie de um buraco em seu peito, onde seu coração se encontrava. Como se estivesse... morto. O que era bastante irônico, visto que ele estava morto. Era um imortal. Um vampiro. E embora soubesse daquilo, não tinha certeza se aquela sensação de vazio se dava por aquilo.

Jasper suspirou profundamente, um hábito humano que nunca abandonara. Lá estava ele se sentindo miserável e deprimido novamente. Para alguém que conseguia controlar as emoções dos outros, ele estava indo de mal a pior consigo mesmo.
Seus olhos se fixaram no copo de conhaque em sua mão e ele o levou até os lábios, onde virou a bebida em um único gole. O líquido desceu como água por sua garganta, o que sempre o decepcionava. 

O vampiro suspirou outra vez e jogou a cabeça para trás contra o estofado do sofá. E então fechou os olhos. A sinfonia harmoniosa do crepitar da lareira e da chuva contra o telhado chamou sua atenção e aos poucos, Jasper foi relaxando. Mas isso sempre era uma má ideia, pois toda vez que se deixava relaxar, toda vez que perdia a concentração e abaixava sua guarda, as lembranças o atacavam. 
E daquela vez não foi diferente.

Uma enxurrada de flashes encheram sua mente antes que ele pudesse refreá-los. E logo, o tomaram o controle.

Houve um tempo, em séculos passados, em que o mundo de Jasper Whitlock era escuro e solitário. No entanto, isso mudou quando ele a conheceu, em uma situação inesperada para a época, e tudo mudou. 

Quando conheceu Elle. 

Quando conheceu a luz do sol em meio as sombras de sua existência.

Quando a amou. 

E naquela noite chuvosa, sentado no sofá da sala de estar, solitário, as lembranças tragaram Jasper de volta para o passado, para a época que queria, mas nunca poderia, esquecer.