Neve.
Lembrava-se do natal com neve, adorava a neve no natal, mesmo que o verão fosse obviamente sua estação favorita. Mas natal combinava com neve, o clima mais ameno, a cidade com luzes diferentes, embora todos os dias a luz incidisse fortemente a cada viela, não deixando nada mais nas trevas como a revolução os havia obrigado por tantos anos.
Kiba gostava da neve, mesmo que odiasse se encapuzar e se esconder sob pilhas de edredons macios e quentinhos, termoaquecidos. Tinha 10 anos quando ganhou o melhor presente de Natal. Um sorteio fez de sua mãe a ganhadora de um excelentíssimo modelo de andróide. Kiba o encontrou na árvore de natal, apressado em desembrulhar a caixa que tinha quase duas vezes seu tamanho.
Sentado apreciando a neve cair, lembrava-se bem dos detalhes. Da textura da fita de seda nos dedos ao puxar o laço da caixa, sua surpresa genuína ao ver o que tinha dentro. Tão lindo, mas assustador. As marcas no rosto pareciam entalhes que davam ao andróide a seriedade necessária à um robô de última geração. Os cílios pareciam tão reais, os cabelos também. Kiba recordava-se muito bem de puxar a cadeira para vê-lo de perto, e ainda assim não o alcançava em altura. Mas notava cada peculiaridade que compunha o que viria a ser o seu melhor presente; os cílios, o cabelo, a tez lisinha da testa, o nariz reto e bem desenhado, o lábio superior parecia feito de carne e pele real, o inferior era de um material em carbono, isso dizia o manual. Os entalhes no rosto mostravam o interior mecânico. Não havia nenhum som que indicasse “vida”, ou o equivalente à vida para um robô.
Sorriu ao pensar em como sua vida mudou daquele natal em diante. De como passou a ter companhia quando sua mãe e irmã ausentavam-se à trabalho, riu também ao lembrar de seu desespero ao ver a primeira vez o andróide ligado. A luz em um fraco, porém neon, azul que cortava o rosto muito belo.
“Ele precisará de um nome!” Hana comentou, “FVNH-3000 não serve.”
“Pode ser… Tamaki”, Tsume propôs.