Neo Kalos escrita por Sir Naponielli


Capítulo 1
Capítulo 1 - Saudades de Aquacorde


Notas iniciais do capítulo

Agradeço aí ao pessoal de um certo grupo do Discord, que me motivou a voltar a escrever em diversas ocasiões.



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Os raios solares invadem o cômodo. O quarto fica bem iluminado com a luz do astro amarelo. A iluminação toma conta do lugar, como se ali fosse sua morada. E alguns feixes de luz batem no rosto de uma pessoa que se encontrava deitada em sua cama.

Ele não estava acostumado a dormir até aquela hora, definitivamente não estava. Os músculos duros e doídos pelo tempo excessivo na cama não era algo que ele apreciasse, mas o que poderia fazer? As horas anteriores não podiam ser pegas de volta, então tudo que restava para ele era levantar e encarar este novo dia. Logo ele se levanta, e se senta na beirada da cama, tentando alcançar algum nível de maior sobriedade.

Os olhos logo mostram uma luz de consciência e o rapaz se levanta lentamente, para se dirigir a uma cômoda, e pegar algumas mudas de roupa para se trocar.

...

Os cabelos castanhos do rapaz descem até a altura do queixo, e o rosto  sério, mas com traços finos lhe davam um ar diferente, uma atmosfera refrescante e jovial. As roupas eram a simples combinação de uma jaqueta azul com detalhes em branco, e uma calça jeans daquelas que se punha para ir a todo lugar. No mais, ele coloca suas meias no pé e calça um par de botas pretas de cano médio.

Ele com algum cuidado sai dos seus aposentos, evitando fazer barulhos altos. De seu quarto ele chega a um corredor, e ao fim deste ele desce uma escada num passo mais ligeiro. O que ele vê ao descer do último degrau é um pequeno salão, composto por um balcão de madeira clara, piso em tábuas corridas e paredes em tom musgo,  além de uma porta que levava para fora dali. Os únicos enfeites do local eram dois vasos grandes, um de cada lado do balcão , e continham samambaias duma variedade de terras distantes.

O jovem sai do salão e se depara com as ruas da cidade, sendo elas de um estilo bem antigo, com vários tijolinhos marrons, beges e alguns avermelhados servindo como calçamento. As casas e estabelecimentos  que compunham a cidade tinham um estilo remetente a época das colônias, sendo característica da cidade as paredes delas terem um tom bege, telhados num tom azul escuro, e, além disso, serem construções de médio porte, como pequenos prédios de dois ou três andares.

— Com licença, poderia me dizer que horas são? – o rapaz pergunta para um transeunte.

— Claro, por que não? – e a pessoa para e olha para um relógio em seu pulso. – São onze horas.

— Agradeço imensamente.

Ele fica aliviado, parecia não estar atrasado, pelo contrário, estava até um pouco adiantado em relação ao horário combinado.  Não tarda e o rapaz se pões na passagem principal da pequena cidade, e desce um lance de escadas chegando ao primeiro nível do pequeno e pacato município, e logo chega a uma pequena praça, com uma fonte ao centro, e um caminho de ladrilhos que circula a tal. Ao redor do caminho, um tapete de grama lustrosa, limitada por um meio-fio de estilo correspondente ao da cidade.

Na praça algumas pessoas conversam tranquilamente, seja sentadas em bancos públicos, em pé ao lado da fonte, ou mesmo deitadas na grama. O jovem então localiza um grupo de pessoas, e se aproxima, fazendo com que sua presença seja percebida em poucos instantes.

— Ei, Xavier! Vem cá, poxa! Achamos que não vinha mais! – grita uma garota com pele cor de caramelo, cabelos  de um castanho suave em longas marias-chiquinhas e brilhantes grandes olhos verdes.

O jovem parece não gostar muito do comentário, e uma carranca aparece em seu rosto.

— Vocês combinaram onze e meia! Ainda falta algum tempo pra isso. Eu até cheguei antes do combinado! – Xavier reclama e gesticula com os braços.

— Sem drama, Xavier. – fala um garoto baixo e franzino, com cabelos laranja em “capacete” e olhos acinzentados. – Não tem motivos pra reclamar, você sabe que sempre chegamos uns dez minutos mais cedo.

Xavier assume então uma postura mais consistente e pergunta:

— E onde é que está o Tierno? Não vejo ele por aqui.

— Seria difícil não ver se ele estivesse aqui. – responde a garota. – Ele disse que esperaria a gente no café, não é, Trevor? – pergunta pro ruivo.

— Isso mesmo, Shauna. Naquele de sempre, no lado oeste da cidade.

Xavier olha para os dois amigos,  que pareciam estar esperando algo.

— Então vamos lá. – e os outros dois acenam com a cabeça, em confirmação.

...

Um punhado de mesas circulares de madeira ligeiramente rosada se punham no calçadão a frente de um pequeno estabelecimento comercial, e algumas pessoas se situavam sentadas em cadeiras ao redor das mesmas, enquanto outras simplesmente estavam de passagem por ali. Xavier e seus dois companheiros observam o entorno numa tentativa de encontrar Tierno, o que não tarda muito.

Os três então fazem seu caminho até uma mesa mais isolada, onde um garoto gorducho e bastante alto bebericava algo de uma xícara e punha seu braço em cima de uma grade, o rosto virado para trás, observando com uma visão privilegiada  o movimento diário da pacata cidade. O rosto em formato de pêra e o cabelo bem curto, mas com três elevações anormais faziam com que ele fosse bastante fácil de se localizar.

Xavier, Trevor e Shauna se sentam nas cadeiras vagas desta mesa, mas o jovem recém encontrado não parece perceber a chegada dos mesmos. Ele continua olhando atentamente aquele lugar, e as pessoas que ali passavam.

O silêncio prossegue por alguns segundos.

— Vai dar saudade, não vai? – Tierno pergunta, sem se virar, mostrando que ao contrário do que aparentava, sabia da chegada dos amigos. – Essa cidade, essas pessoas, o tipo de movimentação... Até o chá que eu bebo... Vou ter saudades daqui, saudades de Aquacorde.  Eu estou aqui já faz algum tempo, e não é fácil me acostumar com o fato de que vou ter de deixar este lugar. Vivi muita coisa aqui... – e contempla o horizonte, pensativo.

Xavier solta um suspiro, e um claro desânimo aparece em seu rosto. Trevor e Shauna seguem sem grandes reações, mas também pensativos.

— Tierno, me sinto do mesmo modo. – Xavier se põe a falar, num tom com um quê de tristeza. – Já estou vivendo nesta cidade faz três anos. Três anos de estadia, três anos de amizades, de rotinas, e de estudo. E três anos... Para o meu diploma. – e olha para os amigos, que lhe escutavam com certa atenção. – Nestes três anos de estudo no Instituto Regional do Sul de Kalos, eu tive a oportunidade de reencontrar vocês, que eu não via desde a infância. Quando encontrei o Tierno no mesmo campus que eu, eu não acreditei no que via. E depois ele me levou até vocês, Trevor e Shauna, e eu acabei recriando esse vínculo de amizade. Eu tenho muito a agradecer pra esta cidade...

Os quatro amigos então sorriem singelamente uns pros outros, sem palavras por alguns segundos. Naquele momento, o silêncio dos quatro e os pequenos sorrisos eram como um “obrigado” para aquela cidade que os reuniu.

Deles, a primeira a falar algo após o breve período de falta de palavras foi Shauna.

— Ei, sabiam que eu acho muito injusto isso? – ela fala, com um olhar de raiva, claramente fingido. – É muito injusto que você e o Tierno tenham cursado uma universidade só porque nasceram antes de nós!

Trevor neste momento vê sua chance de entrada.

— Realmente, porque o governo mudou as regras do Vestibular Regional de Kalos no ano seguinte ao exame de vocês? Frustrou gente como nós, que tínhamos apenas um mísero ano de diferença. Não é injusto, Shauna?

— Muito injusto! – a garota toma a deixa. – Os governantes não sabem o que perderam ao deixar talentos como eu e você serem desperdiçados numa simples Escola de Treinadores de Santalune. Como pode isso ocorrer pra uma diva como eu? – e faz uma careta de raiva, vira o rosto e joga as costas de sua mão numa mecha de cabelo, que cai para trás do ombro, completando o gesto teatral.

Tierno olha para Xavier, e os dois então gargalham da palhaçada dos mais novos, que também pareciam se divertir com aquilo.

— Até hoje vocês estão com isso? – Xavier fala. – Pô, que culpa eu tenho de nascer um pouco antes de vocês?

— Vá pastar, Xavier! – Trevor e Shauna respondem em uníssono.

Enquanto eles se divertem com a conversa casual, um garçom se aproxima da mesa.

— Vão querer alguma coisa?  - ele pergunta.

— Um crepe de banana e um cappuccino, por favor. – Trevor pede.

— Eu vou querer uma porção pequena de fritas e um refrigerante, moço. – Shauna fala sorridente e com as pernas inquietas.

— Apenas um chá de jasmim, por gentileza. – Tierno pede num tom lento.

— O de sempre, Robert. – por fim, Xavier fala, completando os pedidos do grupo.

O garçom anota os pedidos numa caderneta e segue para algumas outras mesas. Shauna neste momento já parecia ter engatilhado algum assunto em sua cabeça, ao julgar por sua expressão.

— Você não se cansa de pedir sempre a mesma coisa? – a garota questiona Xavier. – É sempre o tal de Croque Monsieur! Não sabe pedir outra coisa não?

— Realmente não é lá muito saudável isso, Xavier. – Tierno fala com o rapaz. – Até onde sei isso é uma bomba calórica, e não é lá muito nutritiva. Pra quê sempre pede isso?

— Pô, se juntando com ela pra ir contra mim Tierno? Poxa, tu sabe que meu cardápio no resto do dia é mais variado! – Xavier reclama, um olhar de “indignação” no rosto. – Trevor, você jantou lá em casa ontem, diz aí, o que eu preparei? – pergunta para o ruivo.

— Não me meta nisso. – fala o outro desviando os olhos.

E a discussão continua, os lanches chegam, e a conversa prossegue variando enquanto aproveitam a comida.

...

Pratos e copos na mesa, talheres em v dentro dos primeiros, e a conversa volta a atingir um tom mais sério.

— Bem, acho melhor pararmos de enrolar pra falar do principal assunto, e o principal motivo também, de estarmos aqui hoje. – Xavier fala, num ritmo constante. – O que vocês irão fazer agora? Shauna e Trevor acabaram de se formar na Escola de Treinadores, enquanto eu e o Tierno nos formamos em nossos respectivos cursos. E agora? O que irão fazer?

Uma atmosfera fria paira no ar, e o grupo antes falante abafa sua voz, até ela não sair mais. O que iriam fazer? Para onde iriam? Voltar para suas casas? Procurar por um emprego? Eles não sabiam, e tinham de achar um caminho. E rápido.

— Xavier, não cursei Dança sem motivos. – Tierno responde. – Desde que tenho consciência de mim mesmo, sei que eu nasci pra dançar. E meus passos até aqui foram para isso, e se eu quero ser reconhecido por tal, eu devo me utilizar de todos os meios necessários. Já decidi que o melhor que faço é seguir andando por esta região, me apresentando nos mais variados meios, sejam em batalhas pokémon, vídeos ou mesmo apresentações de rua . Farei de tudo um pouco. – ele termina, e respira fundo.

— B-bem, acho que é minha vez agora... – Trevor fala com certa timidez, diferente do habitual. – Na verdade... Já há um certo tempo ando discutindo o tema com minha mentora na escola, a Sra. Viola, sobre o que eu tenho desejo de fazer... A verdade é que meu sonho é ser fotografo, e me espelho bastante no trabalho dela. A questão é que quando perguntei a ela o que fazer , ela me disse pra viajar e fotografar  momentos únicos em locais diferentes, sempre ter novas fotos e experiências. Ela me falou que começou assim, e desde algum tempo atrás eu venho pensando nisso. Depois de ouvir o que o Tierno disse, tenho a confiança de que é o que devo fazer. – dito isto, os olhos do ruivo brilham com um fogo tão ardente quanto a cor de seus cabelos.

A única garota do grupo olha para os três amigos, dá um sorriso animado, e diz:

— Eu não sei bem o que quero fazer, ainda não descobri quem eu sou. Mas sair numa jornada não parece uma má idéia. Eu posso acabar me descobrindo no caminho, acho que só por isso já vale o esforço. Não?

Os amigos acenam em aprovação. Parece que embora por motivos diferentes, eles trilhariam caminhos parecidos por algum tempo.

— E você, Xavier? Se me lembro bem você pode continuar a viver tranquilamente aqui. – Tierno fala de forma solene. – Seu pai te deixou um apartamento aqui, e não acho que as editoras locais vão deixar um revisor passar em branco.

— É mesmo, Xavier, acabei de me lembrar de algo... Seu pai não tentou lhe contatar nem uma vez nos últimos anos? – Shauna pergunta, com um olhar de claro de preocupação.

O rapaz questionado cruza os braços, e mantendo a seriedade anterior, se põe a responder os companheiros.

— Shauna, não tentou nem uma vez, e eu dou razão a ele. – diz sem flutuações na voz. – Um filho ilegítimo em outra região não é algo que nenhum nobre gostaria que viesse a público, mesmo que o nobre em questão seja apenas um baronete. A mídia não o pouparia, tal como não me pouparia. Já é extraordinário que o nome dele exista em meu registro, e mais ainda que ele tenha me deixado um apartamento. Essas coisas por si só já são um risco... – e para de falar, olhando para longe por um tempo.

Os amigos não falaram nada, não adiantava tentar confortar o rapaz, não teria nem sentido tal ação.

— Tierno...  Você mencionou que eu poderia viver aqui tranquilamente... Mas... Eu não posso fazer isso. – Xavier prossegue após um tempo de silêncio. – Eu fiz uma promessa. E eu devo cumprir essa promessa. Pode parecer estúpido, mas eu vou seguir para longe daqui, porque antes de mais nada, eu, Xavier Deuschamp Tatcher, tenho o dever de cumprir com minha palavra. Ontem chegou uma encomenda que fiz um tempo atrás. E agora nada pode me impedir de ir para onde devo. – olha então, um por um, os amigos. – Vou partir amanhã de manhã.

Todos ficam então, novamente, num momento onde nenhum deles estava disposto a falar muita coisa. Após alguns minutos, Tierno solta uma risada seca, meio sem graça, e quebra o silêncio.

— Se todos nós vamos sair andando por aí, então o melhor é que nos separemos. – ele fala. – Cada um de nós quer se descobrir, se melhorar. Realizar seus desejos. E não conseguiríamos nos focar em termos novas experiências se estivéssemos juntos. É o que acho, pelo menos.

— É realmente melhor assim. – Xavier diz em concordância. – Shauna, Trevor, vocês não tem nenhum problema em relação a isso, certo?

— Absolutamente nenhum. – a garota concorda.

— Nenhum que eu saiba. – o ruivo diz.

— Então está decidido. – Tierno , com certa firmeza.  – E assim será feito.

O grupo acena em confirmação com as cabeças. Trevor então revela uma expressão engraçada.

— Se nós ficarmos tanto tempo sem nos ver, podemos acabar mudando demais, e nos tornarmos pessoas muito diferentes! – Trevor fala, agitado. – Eu acabei de pensar, e tipo, podemos nos encontrar daqui a seis meses na Capital Iluminada, Lumiose!

Os colegas sorriem, parecendo de acordo com a idéia. Ao fim de tudo, a conversa perdura por mais algum tempo, e quando terminam, o sol já se punha, e as pessoas que permaneciam no café eram poucas. Os quatro amigos então se levantam e seguem em diferentes direções, tendo agora um novo objetivo, e uma certeza no peito de que se veriam seis meses depois.

...

A luz do sol entra pela janela de um quarto com poucos itens. Uma figura pula da cama. Os sons de farfalhar de roupas, do fechamento de zíperes e de botas impactando no chão ecoam pelo cômodo. A figura ao fim de tudo para em frente a um espelho, e coloca o boné vermelho que se situava num cabide próximo em sua cabeça, tal como coloca sobre o mesmo os óculos escuros que estavam em cima de uma cômoda.

Xavier olha para sua figura refletida no objeto. Não havia mais espera, era neste dia que iria sair. O rapaz pega uma bolsa bicolor, em tons de azul e preto, e sai do apartamento, mas não sem antes chavear a porta. Em pouco tempo ele já está fora do prédio, e nas ruas pouco movimentadas do início da manhã.

O comércio começava a abrir, e o rapaz compra alguns poucos itens de alguns estabelecimentos, como suprimentos e artefatos de utilidade. Por fim, o rapaz para em frente a uma ponte, esta de tijolos avermelhados, e que cruza um largo canal de um lado a outro. Seus olhos percorrem toda a extensão da mesma. Um certo brilho podia ser identificado em sua expressão.

Ele retira de um bolso uma esfera, e a encara.

— Espero que você tenha valido a pena, pois é você que servirá de base para meus objetivos.

E ele guarda a esfera, encara a ponte, e dá seu primeiro passo pelos seus ladrilhos, sendo não só este o primeiro passo com o objetivo de cruzá-la, mas também o primeiro passo rumo ao mundo. O primeiro passo de uma aventura, o primeiro passo de um novo capítulo de sua história... O primeiro passo, de sua própria jornada.


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