A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 34
No Quartel




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Se os moradores do povoado de Los Angeles não estivessem vendo a cena com seus próprios olhos, eles jamais acreditariam no que estava acontecendo naquela manhã quente de agosto: alguns dos fazendeiros mais poderosos da cidade, passavam enfileirados e amarrados uns aos outros como criminosos, e eram praticamente arrastados pelos soldados, em direção ao quartel.

Rapidamente a fila de soldados e prisioneiros chegou ao seu destino e logo em seguida os portões foram trancados, deixando apenas dois soldados de guarda do lado de fora. Todos se perguntavam o que estaria acontecendo e não havia ninguém disposto a lhes dar essa resposta, no entanto, todos tinham certeza de que coisa boa não era.

Assim que entraram, os prisioneiros foram desamarrados e levados à sala do Capitão para serem interrogados. Os demais prisioneiros, que já enchiam as celas, também observavam o reboliço na entrada do quartel, mas da distância em que se encontravam, não podiam ver muito bem e ficaram aguardando por novidades.

Em sua sala, Monastário sentia um prazer indescritível ao ver todos aqueles homens poderosos presos, porque sabia que mataria dois coelhos com uma cajadada só. Sabia que tiraria de seu pé as pessoas mais perigosas da cidade e de quebra, atrairia seu maior inimigo, pois tinha em seu poder a melhor isca de todas.

— Bem, cavalheiros, eu não esperava receber tantos prisioneiros de uma só vez, por isso não tenho cadeiras para todos, mas quero De La Vega e Robles sentados bem aqui na minha frente, porque sei que são os mentores dessa conspiração.

Os dois se sentaram com ódio nos olhos, mas ficaram em silêncio.

— Eu disse que esse seria um interrogatório, mas na realidade, os senhores não precisam me contar nada, pois já sei de tudo. Acharam que poderiam pedir a ajuda do Governador para me tirar daqui, não é mesmo? Pois saibam que o seu plano fracassou. O empregado de Don Rafael me contou tudo depois de algum... – o Capitão parou por alguns segundos tentando encontrar a palavra certa para usar - incentivo.

— Eu vi o “incentivo” estampado no rosto dele. – retrucou Don Alejandro.

— Isso é o que os traidores merecem, Don Alejandro. Os senhores e suas famílias merecem muito mais. Mas Don Miguel já sabe o que é ter um filho atrás das grades, não é mesmo? – alfinetou Monastário.

— Deixe a Lupita ir, seu desgraçado! Agora você já tem a mim! – exaltou-se Don Miguel.

— De maneira nenhuma, Don Miguel. Sua filha está pagando por seus próprios crimes, mas logo vocês estarão juntos novamente. Reuniões de família são tão emocionantes! – zombou Monastário - E não se preocupe Don Alejandro, porque em breve o senhor e seu filho também estarão reunidos, só não sei bem se ainda vai ser nessa vida ou na próxima. – ameaçou.

— Não cante vitória antes do tempo, Monastário. – advertiu Don Alejandro – Você sabe que o que está fazendo é um crime hediondo e que não tem motivos para manter todos esses inocentes presos, ainda mais castigando-os da forma que vem fazendo. O governador vai saber disso e seu reinado de horror vai acabar!

— Infelizmente, para os senhores, e felizmente, para mim, nós conseguimos interceptar o criado de Don Rafael antes que ele pudesse falar com o Governador, então receio que ele só vai conhecer o meu lado da história. Aquele em que eu prendi sete cidadãos californianos traidores que estavam armando uma revolta contra o exército e seus governantes.

Todos queriam se manter confiantes, mas era difícil depois de ouvir a declaração de Monastário. Se ao menos o empregado de Don Rafael tivesse conseguido chegar até o Governador, talvez eles ainda tivessem alguma chance, mas parecia que o plano havia fracassado miseravelmente.

— Vejo pelas suas caras que os senhores não sabiam que tínhamos capturado seu mensageiro antes de ele dar o recado. Ele foi preso na praça da cidade, bem pertinho do escritório do Governador. Eu admito que foi um bom plano e os senhores chegaram bem perto de me causar alguns problemas, contudo, acabaram só conseguindo ser presos e vou fazer de tudo para que sejam condenados à forca, porque essa é a punição para traidores.

— Não tenha tanta certeza disso, Capitão. Zorro está por aí e garanto que ele virá nos ajudar! – disse Don Alejandro, tentando manter a confiança.

— Pois ele que venha, Don Alejandro! Estou contando com isso! – bradou Monastário enquanto se levantava abruptamente e batia com os punhos cerrados contra a mesa, deixando todo o cinismo de lado e mostrando sua verdadeira face. – Que venha, porque isso é tudo o que eu mais quero! Garcia!

O soldado entrou assim que ouviu o chamado de seu comandante.

— Jogue esses homens nas celas um e dois.

— Mas estas celas já estão bastante cheias, meu Capitão. Não seria melhor coloca-los na cela três? – perguntou Garcia inocentemente.

— Não! Os traidores devem ficar juntos e quanto mais desconfortável, melhor.

— Sim, meu Capitão. – respondeu Garcia entristecido batendo continência – Podem vir comigo, senhores? Por favor?

Todos atenderam ao pedido do sargento e o seguiram para fora da sala em direção as celas já superlotadas.

— Entrem, por favor. Eu sei que estão meio cheias, mas ordens são ordens...

— Sargento, - chamou Don Miguel – posso ao menos ficar na cela de minha filha?

— Claro, Don Miguel. – acatou o pedido enquanto abria a cela. - Acho que cabem mais uns três aqui. Os outros entrem na cela dois. O prisioneiro ferido também.

Curioso para saber o motivo da prisão daqueles homens tão importantes, Garcia resolveu perguntar para Don Alejandro, que foi o último a entrar na cela.

— Don Alejandro?

— Sim, Sargento?

— Posso perguntar por que os senhores foram presos? O Capitão Monastário nos disse que foi um caso de alta traição. O que os senhores fizeram?

— Nós fizemos o que foi preciso para acabar com a tirania dele, mas infelizmente nosso plano não saiu como imaginávamos. Eu sei que o senhor é um homem bom, Sargento, e que só segue ordens, mas será que poderia me fazer um favor?

— Qual, Don Alejandro? – perguntou bem baixinho enquanto olhava para os lados garantindo que ninguém os observava.

— Pode ir à fazenda e dizer a Diego que estou bem e que tudo vai dar certo?

— Acho que o Capitão me mataria se me pegasse indo até lá, Don Alejandro, mas vou ver o que posso fazer. – respondeu o sargento bonachão com uma piscadela não muito discreta.

— Muito obrigado, Sargento! – agradeceu Don Alejandro com um caloroso aperto de mão.

Logo em seguida Garcia trancou as celas e deixou os prisioneiros tentando se acomodar.


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