A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 33
Uma Visita Inesperada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782118/chapter/33

Já era noite quando Don Alejandro voltou para casa. Assim que entrou, olhou para o alto e viu que o quarto do filho estava às escuras e temeu que ele pudesse ter saído mesmo contra seus conselhos.

Quem também estava preocupado era Bernardo, que não via a hora de seu patrão chegar. Ele não sabia para onde Don Alejandro tinha ido, mas seu coração lhe dizia que ele não tinha cumprido a promessa feita ao filho. Quando finalmente ouviu o barulho do portão se abrindo, sentiu-se aliviado ao ver Don Alejandro de volta, porém seu paradeiro nas últimas quatro horas permanecia um mistério.

Embora Bernardo concordasse que já era hora de eles ajudarem ao Zorro, ele também concordava com Diego, que achava ainda ser preciso um maior planejamento antes de agir novamente e isso deixava sua cabeça fervendo.

Assim que Don Alejandro viu o criado, se apressou em perguntar sobre o filho e ele gesticulou indicando que Diego estava dormindo, o que o deixou mais aliviado.

— É melhor assim, Bernardo. Agora vou me recolher, pois já está tarde.

Bernardo acenou com a cabeça e também se retirou, mas continuava curioso para saber onde o patrão tinha ido naquela tarde e o motivo de tanto segredo. Não lhe agradava o fato de ele ter escondido isso de Diego, mas o criado preferiu acreditar no bom senso de Don Alejandro e parou de imaginar coisas ruins. Quando finalmente deitou a cabeça no travesseiro, dormiu profundamente, esperando que o dia seguinte trouxesse a completa recuperação de seu patrãozinho, assim como boas notícias.

                                                                  ***

O dia amanheceu ensolarado e Diego já se sentia bastante disposto. O unguento preparado pelo velho índio tinha cumprido seu propósito e dentro do prazo estabelecido. O ferimento não doía tanto e o rapaz já se achava em condições de manejar a espada.

Logo após tomar seu café da manhã, foi correndo atrás de Bernardo.

— Bernardo, Bernardo, onde você está? – chamou-o pelo pátio.

Bernardo foi imediatamente achando que algo tivesse acontecido.

— Ah, aí está você! – disse o rapaz de muito bom humor.

Ao perceber que estava tudo bem, o criado também se alegrou ao ver Diego animado. O rapaz estava calçando suas luvas de couro e trazia duas espadas em sua mão. Assim que terminou de calçar as luvas, ele jogou outra espada, sem nenhum aviso, para Bernardo. O pobre criado, surpreendido, quase não conseguiu segurá-la.

En garde! – disse Diego, assumindo sua posição de ataque. – Vamos Bernardo, meu braço esquerdo precisa praticar!

Assim que compreendeu as intenções de Diego, ele pegou o outro par de luvas que estava sobre o banco de madeira e imediatamente assumiu sua posição de esgrima e os dois começaram a duelar.

Don Alejandro, que ainda estava em seu quarto, ouviu o tilintar das espadas se tocando pelo pátio e foi ver o que estava acontecendo. Quando percebeu que o filho já estava bem melhor ficou muito feliz. Ele raramente via Diego manusear a espada, costumava apenas ver o Zorro, mas não Diego. Às vezes nem ele acreditava que era mesmo seu filho por detrás da máscara negra, mas quando podia apreciá-lo em duelo, ficava boquiaberto ao ver suas habilidades como espadachim e não demorou muito para que Bernardo se visse completamente encurralado pelo adversário e se rendesse.

— Bravo, meu filho, bravo! – entusiasmou-se Don Alejandro do alto da escada de onde acompanhava o duelo.

Quando Diego se deu conta da presença do pai, saudou-o com uma reverência.

— Vejo que já está recuperado e isso me deixa muito feliz!

— Ainda dói um pouco, mas não é nada demais. – respondeu Diego enquanto massageava o ombro machucado - O ferimento já está bem cicatrizado e eu acho que o Zorro já pode voltar à ativa. Passei um bom tempo matutando e acho que tenho um plano para libertar os prisioneiros.

— Quanto a isso, filho, eu espero que já não seja mais necessário. Se tudo correr como eu imagino, hoje mesmo Monastário vai deixar o povoado e com grilhões nos pulsos.

— O que o senhor quer dizer? – perguntou Diego confuso.

Don Alejandro nunca teve a intenção de esconder seu plano do filho, ele queria apenas que Diego não o impedisse de pelo menos tentar fazer o que achava certo.

— Diego, ontem eu... – começou a contar, mas suas palavras foram interrompidas por fortes batidas no portão.

— Sabemos que estão aí! Abram imediatamente! – gritou uma voz do lado de fora.

No mesmo instante eles reconheceram a voz do Capitão Monastário. Sem entender o motivo da visita inesperada, Diego tirou as luvas apressadamente e entregou-as a Bernardo, junto da espada.

— Tire isso daqui, Bernardo!

O criado obedeceu rapidamente e desapareceu com as coisas.

Somente após ter certeza de que tudo estava em ordem é que Diego foi atender o portão. Quando o abriu deu de cara com Monastário e um grupo de soldados. Logo atrás, ele pôde ver um homem desconhecido que tinha as mãos amarradas à cela do cavalo de um dos soldados. A corda tinha cerca de um metro e meio de comprimento para que ele pudesse caminhar. Suas roupas estavam sujas de terra e rasgadas, principalmente nas mangas e joelhos. Seu lábio inferior sangrava um pouco e ele tinha um olho roxo, indicando claramente que tinha sido agredido.

— Bom dia, Capitão! – disse Diego da forma mais cordial que conseguiu – A que devo a honra dessa visita matutina? Não me diga que veio avisar que os impostos aumentaram mais uma vez? Ou será que continua com aquela ideia maluca que eu sou o Zorro e veio me prender?

— Nem uma coisa nem outra. Vim prender o seu pai. – respondeu secamente.

Sem entender, Diego se viu indefeso e tendo sua casa invadida por soldados que acorrentavam as mãos de seu pai. Essa foi uma das raras ocasiões em que ele não teve reação imediata. Foram precisos alguns segundos para que pudesse falar alguma coisa.

— Ei! O que estão fazendo? Por que estão prendendo meu pai? De que o acusam?

— Ora, ora, parece que pela primeira vez vejo uma reação genuína vinda do senhor, Don Diego. – divertiu-se Monastário enquanto se aproximava de Don Alejandro que não reagia.

— Então quer dizer que o senhor não contou ao seu filho o que fez ontem, junto de seus amigos fazendeiros?

— Fez o quê? Diga-me, meu pai! – exasperou-se Diego.

Antes que Don Alejandro pudesse responder, Monastário se antecipou.

— Don Alejandro de la Vega está sendo preso pela acusação de conspiração e traição, juntamente de outros fazendeiros que logo estarão lhe fazendo companhia em sua cela.

— O que o senhor fez, pai? – perguntou Diego já aflito e começando a acreditar nas palavras do Capitão.

— Eu fiz o que era preciso, Diego. – foi a única coisa que o velho fazendeiro respondeu.

— Ainda bem que ele não nega! Também nem poderia, porque aquele homem ali fora, empregado de Don Rafael Ortega, já me contou tudo o que eu precisava saber.  – disse Monastário com um sorriso aberto - Homens! Levem esse traidor daqui! – ordenou enquanto saía.

— Espere, Capitão! – pediu Diego.

— O que deseja, Don Diego? – respondeu cinicamente.

— Eu preciso falar com meu pai e saber o que está acontecendo.

— Você poderá falar com ele amanhã. Hoje o prisioneiro ficará incomunicável, porque primeiro precisamos pegar seu depoimento. Se eu fosse o senhor, chamaria um bom advogado, porque o seu pai vai precisar. Ah, e só para que não perca seu tempo, aviso para que não procure estes senhores. – disse Monastário enquanto entregava uma lista de nomes para Diego. – Eles todos estão sendo presos nesse instante. O seu pai, eu fiz questão de vir prender pessoalmente.

Assim que disse isso, deu meia volta, satisfeito por ter conseguido finalmente atingir em cheio seu inimigo, e se retirou com sua tropa e seus prisioneiros.

Desnorteado, Diego se sentou no banco do jardim e começou a ler o papel. Bernardo estava escondido observando a cena também sem entender, mas já imaginando que tivesse algo a ver com a saída misteriosa do dia anterior de Don Alejandro. Ele se aproximou de Diego e começou a ler por sobre seu ombro. O pedaço de papel trazia os nome dos fazendeiros que tinham participado da reunião secreta na Fazenda Robles.

— Não é possível! Don Miguel Robles, Don Rafael Ortega, Don Armando Ruiz, Don Fernando del Bosque, Don Alonso Martín e Don Luíz Córdoba também foram presos! No que foi que eles se meteram, Bernardo?

O criado não sabia a resposta para aquela pergunta, mas desenhou o “Z” do Zorro no ar com o dedo indicador.

— Não, Bernardo. O Zorro ainda não pode agir, até porque, não sei o que meu pai estava tramando. Preciso primeiro conversar com ele e principalmente chamar o Dr. Ávilla, para ver o que podemos fazer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Volta da Raposa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.