A Volta da Raposa escrita por Claen
Menos de meia hora depois, o velho Xamã Takoda da tribo Quechan estava na Fazenda De La Vega acompanhado de Bernardo. Ele trazia uma bolsa de couro com remédios de seu povo e vinha ajudar a Diego de bom grado, pois o rapaz, assim como os demais membros da família De La Vega, sempre tinham sido bons e generosos com os índios, diferentemente de tantos que os viam apenas como selvagens ou escravos.
— Obrigado por ter vindo, Xamã Takoda! – agradeceu Don Alejandro – Meu filho está descansando no quarto e eu só peço uma coisa: por favor seja discreto quanto a sua visita a nossa fazenda.
— Não se preocupe Don Alejandro, eu entendo que se vocês não procuraram um médico dos homens brancos é porque precisam de segredo. Eu não quero saber o que aconteceu e nem direi a ninguém o motivo de minha visita. – respondeu o velho índio sábia e calmamente, já compreendendo seu propósito ali.
Don Alejandro agradeceu com um sorriso e acompanhou-o até o quarto do filho.
— Diego, acorde. – disse ele enquanto tocava no braço do filho. - Acorde filho, o Xamã Takoda está aqui.
Diego despertou e sorriu ao ver o velho índio a quem conhecia desde a infância. Com o auxílio de Don Alejandro ele se sentou na cama para receber melhor seu convidado.
— Olá, Xamã Takoda. Obrigado por ter vindo tão rapidamente.
— Sempre será uma honra poder ajudar a um membro da família De La Vega.
Pai e filho sorriram ao ouvir as palavras sinceras do sábio Takoda. Don Alejandro se retirou deixando Diego aos cuidados do velho índio e de Bernardo.
Assim que o dono da casa deixou o quarto, o índio abriu sua bolsa de couro e tirou de lá um pilão e um socador de madeira, assim como diversas ervas. Ele misturou várias delas junto com sementes de abóbora, mel, óleo, babosa e outras coisas que Diego não conseguiu identificar e começou a socar, fazendo uma pasta. Enquanto misturava tudo no socador, o índio entoava alguns cânticos incompreensíveis àqueles que não falavam a língua indígena e parecia bastante concentrado em sua tarefa, quase em transe, enquanto Diego e Bernardo o observavam com curiosidade.
Diego desabotoou a camisa e com a ajuda de Bernardo tirou o braço direito de dentro da manga deixando o ferimento exposto. O criado tirou o curativo feito anteriormente e viu que já não sangrava mais.
Poucos minutos depois, o Xamã parecia satisfeito com a qualidade de seu remédio e começou a espalhar o unguento nos ferimentos da bala, tanto no de entrada quanto no de saída, e com a ajuda de Bernardo, enfaixou cuidadosamente.
— Pronto, meu filho. Agora lembre-se de trocar os curativos a cada seis horas e passar esse unguento todas as vezes. Eu fiz bastante e acho que vai durar uns três dias. Daqui a pouco você vai começar a sentir os efeitos. A dor vai diminuir, mas você vai ficar um pouco sonolento.
— Acho até que já estou melhor. – brincou Diego – Muito obrigado por ter vindo, Xamã.
O velho índio se aproximou de Diego e colocou as duas mãos carinhosamente no rosto do rapaz e olhou fundo em seus olhos verdes.
— Tem muito mais em você do que os olhos conseguem ver, Diego de la Vega. Eu vejo um homem forte e corajoso, que por algum motivo precisa esconder isso do mundo, mas lembre-se, os deuses estão do seu lado e se for necessário mostrar ao mundo tudo o que você é capaz, não hesite, eles o protegerão em sua jornada.
Diego não entendeu exatamente o que o índio quis dizer, mas se sentiu estranhamente confortado por suas palavras e agradeceu.
— Agora descanse, meu rapaz. Uma boa noite de sono vai fazer muito bem.
— Muito obrigado, Xamã. Que os deuses o guiem de volta a sua tribo em segurança.
— Que assim seja.
Bernardo acompanhou o curandeiro até a saída e voltou poucos minutos depois. Assim que entrou no quarto percebeu que o remédio do velho índio já havia mostrado seus efeitos colaterais e o sono previsto pelo Xamã, já tinha se abatido sobre Diego. O rapaz dormia profundamente e ele achou melhor não incomodar. Apagou as velas que iluminavam o quarto e saiu silenciosamente.
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