A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 27
Recuperação




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O sol já brilhava forte quando, para a alegria de Bernardo, Diego finalmente acordou.

— Ber... Bernardo? – disse o rapaz, ainda fraco e com a vista embaçada, sem ter certeza de quem estava vendo naquele momento.

Ao ouvir a voz do patrão, Bernardo levantou-se imediatamente da cadeira onde tinha passado a noite e correu ao seu encontro, já com lágrimas nos olhos de tanta alegria.

— O que é isso, Bernardo... você está chorando? – perguntou Diego esboçando um sorriso enquanto tentava, com algum esforço, se sentar na cama.

O criado secou os olhos com a manga do casaco e sorriu, indicando, sem sucesso, que não estava chorando. Em seguida, foi ajudar Diego a se levantar e aproveitou para lhe dar um forte abraço. Tão apertado que quase o fez desmaiar novamente de dor.

— Calma aí, amigo.  – pediu Diego, quase sem ar - Eu ainda não estou em condições de receber demonstrações de afeto tão calorosas.

O mudo se afastou imediatamente cheio de pedidos de desculpa, mas sua alegria era tanta em ver Diego consciente novamente, que acabou não conseguindo se controlar.

— Tudo bem Bernardo, não se preocupe, eu estou bem. Obrigado por cuidar de mim.

Diego certamente precisaria de um bom tempo para se recuperar completamente, mas o que importava de verdade, era que ele estava vivo. Assim que a euforia de ver seu patrão acordado passou, Bernardo precisava saber o que tinha acontecido e o rapaz apressou-se em contar.

— Bem, Bernardo, nós já sabíamos que Monastário poderia ter preparado alguma armadilha e tínhamos razão. – o criado balançou a cabeça concordando, sem expressar nenhuma surpresa com o fato. – Mesmo que as coisas não saíssem exatamente como o planejado, eu pretendia resgatar o maior número possível de prisioneiros e quase consegui. Só não contava com a eficiência do Sargento Garcia e do Cabo Reyes.

Bernardo não entendeu.

— Foi o Sargento Garcia quem me acertou! – revelou Diego enquanto gargalhava e sentia dor.

Essa nova informação deixou Bernardo ainda mais confuso e Diego achou graça de sua expressão desconcertada.

— Eu explico. No meio da confusão de prisioneiros tentando fugir e soldados tentando detê-los, o Cabo tropeçou e derrubou o Sargento, que sem querer, conseguiu fazer o que tentou durante tantos anos: acertar o Zorro!

Bernardo, mesmo preocupado, não pode deixar de achar graça do acontecimento tão inusitado e os dois começaram a rir.  

Depois de algum tempo, e tendo certeza de que, apesar de tudo, Diego estava bem, Bernardo saiu para buscar alguma coisa para seu patrão comer e começar a recuperar suas forças. Ele precisava voltar para casa ou então os outros criados começariam a estranhar. Aproveitou e pegou uma muda de roupa limpa para o rapaz.

Diego se vestiu com um pouco de dificuldade, mas depois de tomar o café da manhã reforçado trazido por Bernardo, encontrou forças para se levantar e a primeira coisa que fez, foi ir ao encontro de Tornado.

O animal comia tranquilamente, mas assim que viu seu dono, foi em sua direção e encostou a cabeça em seu peito. Diego retribuiu o carinho, acariciando sua crina brilhante.

— Muito obrigado por ter me trazido de volta, Tornado. – disse ele bem baixinho. Não era possível explicar o carinho e o entendimento entre os dois, era algo que apenas poderia ser sentido.

Diego permaneceu alguns minutos ali com Tornado, mas decidiu que já era hora de voltar para casa. Seria bom que fosse visto pelos criados, mas precisava pensar em uma desculpa para seu ferimento, porque dificilmente conseguiria esconder o fato de todos.

Ele queria ir ver Lupita no quartel, mas achou prudente não sair de casa naquele dia, porque ainda estava longe de se sentir recuperado. Permaneceu em seu quarto com a desculpa de havia se machucado depois de cair do cavalo durante a noite, porém, isso não o impediu de receber a visita de Don Miguel, que ainda estava desolado com a prisão da filha, mas aliviado por saber que vários de seus homens tinham conseguido escapar.

— Boa tarde, Diego. Vim saber se você tinha pensado em alguma forma de libertarmos Lupita, mas vejo que não se sente bem...

— Não é nada, Don Miguel, apenas uma ligeira indisposição. Fiquei sabendo que o quartel foi invadido pelo Zorro ontem à noite e que alguns de seus homens conseguiram escapar.

— Sim, Diego! Também soube da notícia e me alegro, mesmo sabendo que eles precisarão ficar um tempo escondidos até a poeira abaixar. Contudo, Zorro não teve a chance de chegar até Lupita. Disseram que ele foi ferido pelo Sargento Garcia, mas graças a Deus, conseguiu fugir. Rogo para que esteja bem!

— Pelo Sargento Garcia? Quem diria! – exclamou fingindo surpresa. – O Sargento deve estar muito orgulhoso de ter sido o primeiro soldado a finalmente conseguir parar aquele meliante.

— Não fale assim, Diego! Aquele “meliante”, como você diz, é o único que está tentando acabar com os disparates do Capitão Monastário.

— Eu sei disso, Don Miguel, mas mesmo assim, não podemos negar que ele age como um bandido, escondendo seu rosto e se esgueirando por cantos escuros.

— Eu só o conhecia por sua fama, mas nunca imaginei que um dia o teria do meu lado. Eu o entendo. Entendo por que se esconde. Não mostrar seu rosto parece ser a única maneira de enfrentar aquele tirano de uma forma relativamente segura, pois se fosse de outro jeito, ele com certeza já teria sido preso e enforcado.

— Olhando por esse lado, o senhor tem razão.

— Mas me diga, Diego, pensou em alguma coisa? Eu não tive nenhuma ideia a não ser ir lá e exigir que ele solte a todos, ameaçando recorrer ao governador. Acho que Alejandro poderia nos ajudar nesse quesito.

— Bem, Don Miguel, confesso que acabei não pensando no assunto como prometi, pois realmente, não me sinto muito bem. Sofri uma queda do cavalo e acabei machucando meu ombro. Acho até que estou meio febril. – essa parte era verdade – Mas concordo que meu pai poderia nos ajudar. Nesse instante ele deve estar com o próprio Governador Interino, averiguando o que de fato aconteceu ao Governador Alcazar. Sua viagem será breve e creio que em dois dias ele estará de volta. Eu só peço ao senhor que não se precipite e não aja de cabeça quente, pois isso só vai piorar a situação. Eu sei que o senhor se preocupa com a Lupita e eu também, mas ela é durona e sabe se cuidar muito bem.

— É verdade. Minha filha não é nenhuma menina indefesa. Isso é o que dá ser criada sem uma mãe para aconselhar! – concordou achando graça ao pensar no que a filha seria capaz. – Tudo bem, Diego, prometo não fazer nenhuma besteira. Já que Alejandro está em contato com o Governador, acho sensato esperarmos pelo seu retorno para sabermos se ele trará alguma informação útil. Agora eu vou embora. Vou visitar Lupita e os meus homens para saber como estão, e você se cuida, rapaz!

— Não se preocupe comigo, Don Miguel. Mande meus cumprimentos a todos e diga-lhes que irei vê-los assim que estiver melhor, acho que amanhã estarei lá. Eu só preciso de um pouco de descanso e ficarei novo em folha. Até breve!

Don Miguel se despediu e saiu um pouco mais confortado com as palavras de Diego.


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