Já em seu escritório, Monastário ofereceu-lhes duas cadeiras.

— Sou todo ouvidos. O que desejam?

— Acabamos de saber a respeito da nova cobrança de impostos... – começou a moça.

— Ah, já estão sabendo! Mas tenho certeza de que isso não será nenhum problema para a família Robles e muito menos para a família De La Vega.

— Não estamos aqui por nossas famílias, mas sim pelos moradores do povoado! – disse ela, elevando um pouco o tom de voz.

— Muito nobre da parte de vocês, mas infelizmente não há nada que eu possa fazer. Precisamos capturar o Zorro e esse é um preço pequeno a ser pago para se obter a paz e a ordem em nosso povoado.

— Mas...

— Sinto muito senhorita. Zorro é nossa prioridade nesse momento.

— Diego! Não fique aí calado! – disse ela já enraivecida com Diego, por parecer ser a única que estava verdadeiramente tentando fazer alguma coisa.

— Eu sabia que não adiantaria nada. Está claro que o único objetivo do Capitão é capturar o Zorro e não importa que isso custe mais sofrimento aos inocentes. – disse Diego, calmamente.

— Quem não se importa com os inocentes é esse bandido. – retrucou Monastário - Se ele se importasse, não teria tentado assassinar o Governador, pois ele sabia que isso traria problemas para aqueles miseráveis que sempre o ajudam.

— Mas afinal de contas quem é esse Zorro? – perguntou Lupita, que, por ter vivido muito tempo fora, sabia pouquíssimas coisas sobre o tal bandido.

— Ele é um fora da lei, que luta contra a tirania e a opressão e isso obviamente inclui nosso estimado Capitão aqui. Por isso é que não acredito que ele tenha tentado tirar a vida do Governador. – respondeu Diego, sem se importar com a reação de Monastário.

— Pois se é assim, eu também apoio esse Zorro! Agora eu vejo que estava enganada a seu respeito Capitão... e ao seu também, Diego. – E saiu entristecida e irritada pela porta.

— Até mais, Capitão. – despediu-se Diego com uma feição bastante séria enquanto Monastário já não conseguia esconder um sorriso desafiador.

Assim que Diego cruzou a porta, viu que Lupita andava muito rapidamente e já passava do portão do quartel.

— Espere, Lupita! – gritou ele, mas a moça seguia em direção à carruagem, onde Bernardo os esperava. Diego precisou correr atrás dela.

— Lupita! – disse o rapaz, finalmente alcançando-a – Não fique brava.

— Como não ficar brava? – exaltou-se a moça. – Não acredito que logo você, o menino que eu conheci, que sempre brincava de ser herói, não mexeu um dedo para tentar mudar a situação! O que aconteceu com aquele menino?

— Aquele menino cresceu e viu que a vida real não é como aquela que imaginamos quando somos crianças. Entenda que as coisas com o Capitão Monastário não são tão simples de se resolver. Eu o conheço e sei que nada o fará mudar de ideia. Seu único objetivo é acabar com o Zorro e ele não vai parar enquanto isso não acontecer.

— Eu sei que a vida de adulto é bem diferente da nossa fértil imaginação infantil, mas sei que o que somos verdadeiramente por dentro jamais muda. Pelo menos, eu não mudei...

— Percebi isso no segundo em que você começou a falar com o Capitão! – riu Diego, tentando amenizar o clima – Nossas brincadeiras nem tinham graça, porque quando o herói ia salvar a mocinha, ela praticamente já tinha se salvado sozinha! Eu vi aquela menina decidida lá na sala do Capitão. Achei até que você ia bater nele!

— Se eu tivesse ficado lá por mais um segundo, acho que teria batido mesmo! – riu também Lupita, já deixando a irritação um pouco de lado.

—Venha, vamos até a taverna. Precisamos espairecer um pouco. Depois, com a cabeça mais fria, pensaremos em algo para ajudar as pessoas do povoado.

Dessa forma, Diego conseguiu convencer Lupita a acompanha-lo e os dois finalmente puderam fazer o que tinham em mente: colocar a conversa em dia e se distraírem um pouco. Eles passearam pelo povoado e a moça comprou alguns presentes para o pai e para a irmã e só voltaram para a casa depois de almoçarem. Diego a deixou em sua fazenda e logo depois seguiu para casa, bastante silencioso. Bernardo, que o conhecia tão bem, sabia que seu patrão apesar de tentar demonstrar tranquilidade na frente da moça, estava muito preocupado.