That Kiss escrita por Ellen Freitas


Capítulo 1
Before That Kiss || Felicity


Notas iniciais do capítulo

Olá!!
E aqui estou eu, postando em plena madrugada no meio da semana, mas tão logo terminei, já quis compartilhar com vocês.
Espero que gostem dessa história fofinha de amor e amizade.
Primeiro capítulo narrado plea nossa Lis.
Bos leitura e até as notas finais. Bjs*



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A história da nossa amizade daria um filme. Não ganharia um Oscar nem nada, mas talvez fizesse algum sucesso como aquelas comédias românticas da Netflix. Quem não gosta de um bom clichê de garota conhece garoto, ficam amigos, então se apaixonam? Talvez uma ex atriz da Disney me representasse, quão legal seria isso? Miley toparia? Não, acho que não. Só não consigo pensar em ninguém para fazer Oliver, ele é tão ele que...

Bom, estou divagando. Ele me diz que sempre faço isso, é incorrigível.

De todo jeito, estou pulando uma década de história. Vamos voltar há dez anos atrás, quando vampiros eram a febre do momento, Hollywood redescobriu a Índia com Quem Quer Ser um Milionário, e até quem não assumia, esticava o pescoço e soltava a voz enquanto tentava acompanhar Beyoncé em Halo, o interessante ano de 2009.

2009

Eu andava pelos corredores, meu rabo de cavalo balançava com meu caminhar, sempre mantendo os livros grudados em meu corpo, quase como um escudo. Eu tinha acabado de sair da minha vergonhosa fase emo, então ainda me acostumava com o cabelo loiro e as lentes dos óculos.

Era uma escola bem chique, sem dúvida uma das melhores da cidade, na qual eu não estudaria se meu pai não trabalhasse agora para um figurão de Star City, por isso acabei por aqui. Uma cidade nova, escola nova, ruim, mas eu daria uma chance. Consultei meu cronograma de aulas e franzi o nariz.

Literatura.

Eu não gostava de algo tão subjetivo como poemas ou romances. Nada melhor que a exatidão da física ou matemática, ou até mesmo a biologia e química, com suas teorias devidamente testadas em laboratório.

― Garota nova! ― Ah, claro. Não seria o ensino médio se não tivesse pelo menos um babaca. Ok, talvez eu estivesse me precipitando, eu nem conhecia o garoto. ― Ainda não nos conhecemos.

Ele nem era feio. Olhos claros, acho que verdes, um palmo de altura a mais que eu, cabelo castanho e usava uma camisa xadrez por cima de uma camiseta com estampa de herói. Acontece que eu não estava mesmo a fim de conversar com garotos agora, ou sequer tentar algo, ainda sofria pela falta do meu amor platônico, quem tive de deixar para trás quando nos mudamos. Ai, que saudades do meu nerd-Allen!

― Vamos manter assim. ― Comecei a me afastar para evitar conflito.

― Ei, espera. ― Ele segurou meu braço. ― Gatinha selvagem, uh? Sou Cooper. ― Se apresentou e sorriu como se aguardasse que eu falasse algo. ― Não vai me dizer seu nome?

― Já teria dito, se quisesse ― falei, rolando olhos. Sim, eu estava impaciente e mau humorada. Isso acontece quando você é colocada em um lugar estranho e um imbecil vem lhe encher o saco nos primeiros cinco minutos. ― Agora dá pra me soltar?

― Sheldon, solta a menina ― outra voz se fez presente.

― Cai fora, cara ― o tal Cooper respondeu com desgosto, ele parecia detestar o recém-chegado, que ainda era mantido fora do meu campo de visão por causa do garoto. ― Estamos conversando.

Só então pude dar uma boa olhada no garoto que chegou. Era um pouco mais alto que Cooper, cabelos loiros um pouco compridos demais pro meu gosto emolduravam seu rosto quadrado, seus olhos azuis se destacando do restante.

― Ele está te incomodando? ― Quem perguntou foi outro garoto, moreno de topete, olhos azuis e sorriso gentil.

Meus dois “salvadores” não passavam de dois típicos garotos de ensino médio, com as jaquetas verdes e cinzas de algum time, que andavam por aí se achando os heróis, e provavelmente, pegando todas as garotas do colégio. Eu não precisava da ajuda de ninguém, muito menos desse tipo.

― Não, valeu, posso me cuidar. ― O moreno sorriu mais amplamente achando minha atitude engraçada, enquanto o loiro franziu as sobrancelhas intrigado. ― Tchau para os três. ― Virei as costas indo na direção oposta à que deveria, apenas para me livrar daquela situação, quando senti novamente a mão em meu braço, me impedindo de ir adiante.

― Espera, gatinha.

― Cara, me deixa!

Em um impulso, me voltei para o primeiro cara eu estava me detendo, o punho fechado indo direto para a cara magra dele, atingindo em cheio seu nariz, o pobre coitado caindo no chão arrancando um suspiro coletivo de surpresa de quem estava por perto. Meu pai era segurança pessoal, e me ensinou algumas coisas, mas com certeza não ficaria nada feliz quando soubesse que eu usava isso no corredor da escola nova.

― Merda! ― Levei a mão à boca. ― Que não tenha quebrado, que não tenha quebrado... ― repeti para mim mesma, olhando para o sangue escorrer do nariz do menino.

― Caramba! Garota você é tipo a Supergirl! Quer ser minha amiga e andar comigo no recreio? ― O moreno de olhos azuis falava animado, quase saltitando.

― Eu tenho que ir pra minha aula. Por favor, não fala por aí que te bati ― pedi para Cooper, que ainda estava no chão, mesmo sabendo que seria inútil. Eu o havia rejeitado, então socado. Garotos não costumam perdoar isso.

― Ele não vai falar ― o loiro disse mais para Cooper do que para mim, quase em tom de advertência. ― E da próxima vez que eu te ver atormentando as garotas de novo, faço pior que ela. ― Dessa vez, a ameaça não foi nada velada, mas não fiquei para ver o que aconteceria a seguir.

✨✨✨

Ainda em 2009

Thomas Merlyn estava se mostrando um daqueles mofos que se acumulam no chuveiro e você não consegue ignorar. Aparentemente, o episódio com Cooper Sheldon no primeiro dia o havia impressionado, e não largava mais do meu pé, mesmo que só tivéssemos duas matérias juntos.

Desde que descobriu meu esconderijo nas arquibancadas do campo de lacrosse na hora do almoço, ficava sempre por lá comigo nos últimos dois meses. O moreno falava demais, o tempo todo, nunca vi alguém ter tanto assunto e histórias para contar. O outro cara, o amigo loiro dele, Oliver Queen, aparecia às vezes, mas não era de falar.

Um dos assuntos preferidos de Tommy (e provocação predileta ao melhor amigo) era enumerar para mim as garotas que Oliver ficava, que eram muitas, por sinal, mas quase ninguém sabia disso, só o fofoqueiro em questão, que era indiscreto o bastante para comentar sobre.

Um galinha comportado, quem diria.

Descobri também que ambos eram herdeiros milionários. Os Merlyn e os Queen dominavam metade do PIB da cidade, e por coincidência, Robert Queen era o chefe do meu pai e quem bancava meus estudos nessa escola de gente rica que para minha sorte não envolviam uniformes como em Gossip Girl.

A coisa inesperada era que o tempo estava fazendo eu me acostumar com Tommy. Apesar de muito tagarela, mas era divertido e sempre bem-humorado também, sem falar que fazia um bem danado para meu ego nerd ter um carrapato tão bonito em meus calcanhares.

Naquele dia, sentei em meu lugar de sempre e abri o saco pardo do Billy Belly Burger, tirando de dentro os dois x-tudo, dois refris e um pacote grande de batatas. Tommy tinha tendência a querer roubar meus lanches, então ou eu pedia para minha mãe fazer meus lanches em dobro, ou ficava com fome, já que também precisava das minhas calorias diárias.

"Vou me atrasar um pouco, não come meu almoço, sua esfomeada. T. M."

Ótimo, ele se atrasou. Terei silêncio.

Agora não, estou ocupado. ― A voz de Oliver se fez presente antes que eu sequer o visse se aproximar.

Poxa, Deus! E meu silêncio? Droga, já era.

Ollie, por favor... ― Uma garota desconhecida de longos cabelos castanhos e lisos o acompanhava. ― Faz tempo que você não me dá atenção.

Ah, não! Oliver Queen não ia mesmo mover seu abatedouro pessoal da sala do treinador para o meu lugar! Maldito Tommy que o trouxe aqui aquelas vezes!

Pra onde estamos indo?

Nós não estamos indo a lugar algum, eu estou ― ele a corrigiu, foi quando finalmente entrou em meu campo de visão, mas jamais me preparei para o que ele diria a seguir. ― Ah, ali está ela. Vim encontrar minha namorada, Felicity. ― Se ele não tivesse usado meu nome com todas as letras, não acreditaria que falava de mim.

Parei com o sanduíche na metade do caminho e fiquei em pé sem motivo algum, talvez de susto.

― Oi, coração. ― Pisquei mais de uma dezena de vezes seguidas, o assistindo atônita subir dois degraus até parar ao meu lado, passando o braço por minha cintura. Quase derrubei o hambúrguer.

― O que está fazendo, doido? ― perguntei baixinho. A gente mal se falava, e agora essa.

― Me salva dessa ― murmurou sorrindo, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me olhava como se dissesse um apaixonado "eu te amo".

― Eu não... ― comecei a negar, nem entendendo de verdade para onde aquilo ia. Como assim salvar de... Ah, entendi.

― Você não disse que estava namorando.

― É recente. ― Deu de ombros. ― Olha isso, tão clássico você, Lis. ― Oliver passou o polegar em um ponto no meu rosto, então lambeu.

― Tem molho na minha cara?

― Não mais, amor. ― Corei forte. Mas que merda, isso é o que dá, comer como se o mundo fosse acabar em cinco minutos. O sorriso dele ampliou-se ainda mais se possível. ― Mais alguma coisa, Samantha? ― perguntou à garota, mas ainda sem desviar os olhos dos meus.

Assisti ela bufar e sair pisando firme para longe dali.

― Tira as mãos de mim. ― Me abaixei para colocar o sanduíche pela metade de volta ao pacote. ― No que estava pensando?

― Valeu por ajudar.

― Eu parecia uma pessoa que estava sabendo o que acontecia? Deus, nem somos amigos! ― Joguei as mãos ao alto e dei dois passos para longe dele.

― Podemos ser. ― A medida que ele se aproximava, eu me afastava, andando para trás.

― Eu, hein? O que tá fazendo? ― Tive que espalmar as mãos em seu peito quando a grade lateral da arquibancada limitou minha fuga.

― Agradecendo uma amiga por me ajudar a me livrar de uma lunática.

― Quê?

Não controlei o impulso seguinte, e como havia acontecido antes com Cooper, tão logo o loiro aproximou o rosto do meu, fechei meu punho e já direcionei o soco para a cara dele. Ok, talvez eu precisasse de alguma terapia de controle da raiva ou conseguiria uma prisão por agressão antes de fazer dezesseis, mas isso era assunto para depois. Mas ao contrário do que aconteceu na última vez, Oliver segurou meu antebraço antes que eu conseguisse esmurrá-lo.

― Você ia me bater? ― questionou curioso, divertido até. ― Você gosta de socar pessoas ― assentiu, como se explicasse algo para si mesmo.

― Só aqueles idiotas que tentam me beijar sem consentimento. ― Puxei meu braço de volta e nem precisei de muito esforço para fazer ele me soltar. ― No que estava pensando?

― Que era isso que você queria ― explicou. ― Tava me encarando.

― Sim, eu estava te encarando porque você é o maluco que não fala comigo e do nada sai contando por aí que sou sua namorada! ― quase gritei. ― Olha, eu não me importo quão bonitão seja...

― Me acha bonitão? ― perguntou prepotente, mas o ignorei.

― Ou se seu pai manda no meu, ou...

― Seu pai trabalha na QC?

― Ou se todas as suas "amigas" acham que agradecimentos apropriados sejam beijos! Não, não comigo! ― Quando terminei estava levemente ofegante do meu discurso acalorado.

― Ah, me desculpe. Achei mesmo que você queria... Foi mal.

― Tudo bem, só não faz de novo ou não vou errar o soco. ― Voltei a me sentar para voltar ao meu almoço, contudo me surpreendi quando Oliver sentou no degrau de baixo do que eu estava nas arquibancadas, perto dos meus pés, os próprios cruzados um sobre o outro numa pose relaxada.

― Não sabia que seu pai trabalhava na QC, e olha que Tommy só tem falado sobre você nas últimas semanas ― começou a falar depois de alguns minutos de silêncio.

― É um fofoqueiro. ― Rolei olhos, tentando evitar corar de vergonha só em pensar em ter virado algum tipo de assunto entre eles. ― Mas não, ele não trabalha na empresa. Meu pai é segurança pessoal do seu.

― Sério? Seu pai é o Noah Kuttler? ― Oliver se virou para mim surpreso.

― Anrã ― murmurei chupando o canudinho do meu refrigerante.

― Tá explicado toda a coisa da Supergirl com a violência gratuita com socos e chutes.

― Eu nem chutei você, seu coisa! ― rebati. Eu estava mesmo tendo uma conversa normal com aquele ser? Quem diria que sequer era possível. ― E se acha isso estranho, nem me pergunte o que passa na minha cabeça quando você diz que suas amigas preferem seus beijos ao invés de um simples "obrigado".

― Eu não disse isso ― refutou. ― Mas de verdade, confesso que não sei como agir direito, não tenho amigas. Ou muitos amigos, no geral.

― Vai me dizer que o capitão do time de lacrosse é no fundo um solitário em busca de compreensão? ― Tentei amenizar com humor o pequeno discurso de pobre menino rico de Oliver. No fundo, era bem triste.

― Não sou solitário, tenho Tommy, ele é meu irmão. ― Eu até podia achar aquilo deprimente, mas Oliver parecia mais do que satisfeito em chamar apenas Tommy Merlyn de irmão. E aquilo me deixou no mínimo intrigada.

― Bom, eu também não tenho amigos aqui, se você não considerar como o seu se declarou o meu também.

Estendi minhas batatinhas para ele. Na minha cabeça, comida curava e melhorava humor melhor que muita coisa no mundo, e como passamos de um quase beijo roubado para falar sobre solidão, amizade e irmandade, não faço ideia. Oliver aceitou com um sorriso.

― Então, qual a história com a garota que tentava te assediar?

― Oh, a Samantha. ― Ele fez uma careta de desgosto. ― Tenho quase certeza que ela queria dar um golpe da barriga na minha família.

― Você não é muito novo para levar esse tipo golpe não? ― questionei chocada. Tudo bem que ele parecia ter bem mais que seus dezesseis anos, mas aquilo era exagero.

― Diz isso pras outras duas antes dela.

― Eu particularmente acho que elas são doidas. Quer dizer, será que vale mesmo a pena estar ligada a duas crianças pelo resto da vida? ― Oliver parou uma batata a caminho da boca, e estreitou os olhos para mim.

― Tá me chamando de infantil? ― fingiu estar ofendido. ― Você me paga! ― Oliver pegou a batata, passou no molho rosé e então na minha bochecha.

― Ei!

Ao invés de parar, também peguei uma batata e sujei a cara dele. Ficamos com nossa mini lutinha de comida, entre gargalhadas, até que comecei a perder feio, já estava com a cara imunda e mal conseguia chegar nele.

― Parou, não quero mais brincar ― declarei pegando uns lenços de papel e estendendo outros para ele.

― Só porque tá perdendo, perdedora.

― Cala a boca, Oliver.

― Ficou... Ficou sujo aí. ― Apontou para algum lugar do meu rosto.

― Por que isso continua acontecendo comigo quando você tá perto? ― reclamei enquanto tentava limpar um lugar na minha bochecha.

― Não, do outro lado. Deixa que eu... ― Oliver subiu um degrau e sentou ao meu lado e começou a limpar meu queixo.

― Onde? ― Tentei roubar o lenço dele.

― Fica parada, Felicity!

― Tá bom! ― retruquei teimosa, mas fiquei quieta.

Os olhos de Oliver eram com certeza algo de se notar. Eram azuis como os meus e de Tommy, mas diferentes de algum modo, únicos de algum modo, ainda mais quando estavam concentrados em algo.

― Tá encarando de novo ― comentou, e como ele sabia disso já que não estava olhando diretamente para meus olhos, eu não fazia ideia.

― Você é diferente do que achei que era, Oliver Queen. ― Ele olhou para cima, os olhos encarando os meus.

― Percebeu isso quando?

― Agora. ― O loiro tombou a cabeça levemente para o lado e sorriu.

Que sorriso bonito do caramba!

― O que tá rolando aqui? ― Tommy se fez presente e rebati para longe com um tapa a mão de Oliver na mesma hora.

― Ai, preciso dessa mão pra jogar, Felicity ― reclamou balançando os dedos no ar. Exagerado, nem tinha batido tão forte.

― Oliver precisava de ajuda com uma coisa ― expliquei indicando o loiro com o polegar.

― Ele precisava? ― A voz de Tommy subiu uma oitava e ele olhava de mim para Oliver, vindo em nossa direção.

― Tinha uma garota forçando a barra.

― Ah, tinha?

― Daí começamos uma guerrinha besta com batatinhas.

― Começaram? ― Cada vez que ele chegava mais perto, sua voz ficava mais aguda e ele parecia se divertir com a coisa toda.

― Ele estava ajudando a limpar o molho na minha cara. Com lenços de papel, nada mais, só com lenços. De papel.

― Tão prestativo. ― Acho que minha pele nunca chegou em níveis tão altos de vermelhidão. Todas as perguntinhas estavam me enlouquecendo.

― Ok, Tommy, já chega, você a está enlouquecendo, e sua voz insinuante parece de uma cantora de ópera com faringite. ― Tommy fez beicinho, mas se calou. Quem diria que só era preciso um pouco de autoridade e ofensas em retorno pra fazer o tagarela calar a boca. Anotado. ― Na verdade, eu estava te procurando, achei que estivesse aqui com ela ― Oliver continuou. ― Esqueceu que me prometeu ajudar a encontrar o novo jogador que vai substituir o Andrew? Temos jogo em duas semanas, é meio que urgente, onde você estava?

― Ah, estava nas minhas "aulas extras" de biologia, se é que vocês me entendem. ― Tommy tinha um sorriso sacana no rosto quando fez o sinal de aspas.

― Cara...

― Todo mundo sempre entende, Merlyn. ― Oliver e eu ainda espelhávamos uma careta de nojo. ― E você ainda vai conseguir que a professora seja demitida. Ou presa. ― O moreno fez uma cara de que não dava a mínima para o perigo da situação.

― Tanto faz. E, Ollie, não tem ninguém apto para entrar no time. São todos uns fracotes, ou medrosos, ou descoordenados. Quando você achar alguém forte o bastante para te dar um soco na cara, chama ele.

Oliver e eu pensamos a mesma coisa ao mesmo tempo, mas as reações foram o total oposto. Enquanto eu temia apenas a ideia, o outro parecia ter descoberto a cura do câncer ou algo assim.

― Não ― neguei quando Oliver me olhou pidão.

― Por que não? Seria perfeito.

― Perfeito? Seria um desastre.

― Ok, tô boiando aqui ― Tommy falou com a mão erguida. ― O que eu perdi?

― Oliver, essa ideia é absurda.

― Não é não, já foi feito várias vezes.

― Sério, gente. Tô me sentindo excluído, alguém me fala do que estão falando.

― Tommy me disse que você jogava na outra escola.

― Sim, num time feminino.

― Não é tão diferente.

― Como não, vocês têm o dobro do meu tamanho!

― Espera, você quer a Supergirl no time? ― Tommy finalmente entendeu o rumo da conversa, então sorriu. ― Acho que aprovo.

― Você não tem que aprovar nada, criatura, nem se mete.

― É sério. Tommy falou que você disse que era rápida no outro time, e tem força o bastante para quebrar um nariz, nós dois vimos. ― Tommy balançava a cabeça como uma foca adestrada concordando com o amigo.

― Não é uma opção. ― Como um sinal divino, o sinal do fim do intervalo tocou. ― Eu vou pra aula, parem de ter ideias malucas e favoritistas.

― Só faz o teste ― Oliver apelou uma última vez, descendo as arquibancadas atrás de mim. Recolhi o que sobrou do almoço para jogar fora, acabei nem comendo direito por causa da coisa toda. ― Tommy tem razão, os candidatos são ruins, se você for melhor, saberá que não foi favoritismo se te escolhermos.

Não confirmei, mas também não neguei. Eu gostava de jogar, só não gostava de ter meus ossos quebrados em um violento jogo de lacrosse misto.

― Vocês não vêm?

― Pode ir na frente, tenho que bater um papo com meu amigão aqui. ― Tommy deu um tapa nas costas de Oliver, que o olhou de cara feia.

― Ok, então.

Dei de ombros e segui andando. Não iria perder mais meu tempo com aqueles dois malucos, não é como se eu fosse fazer parte do time de qualquer modo, ou se fôssemos ser amigos de verdade algum dia.

✨✨✨

2010

― Imbecil, imbecil, imbecil! ― gritei andando de um lado a outro da sala de emergência. A senhorita Collins já tinha perdido a paciência conosco e digitava ao celular, sentada na poltrona.

― Dá pra parar, Felicity, sua voz tá fazendo minha cabeça latejar. ― Oliver segurava um tecido ensanguentado contra a testa e franzia o cenho numa careta.

― Não, queridinho, o que está fazendo sua cabeça latejar é todo esse sangue escapando dela por esse buraco gigantesco.

― Você está fazendo tempestade em copo d’água.

― Eu? ― minha voz subiu uma oitava. ― Você poderia ter conseguido um traumatismo craniano porque tinha que ser o machão naquele maldito jogo. Eu vou contar uma novidade pra você, Oliver, eu não sou uma princesa em perigo e você está bem longe de ser um cavaleiro de armadura.

― Silêncio, meninos ― Collins pediu com a voz entediada, o que eu não entendi. Ela era a enfermeira da escola, não deveria estar mais preocupada?

― Eu estava te defendendo, criatura! ― Oliver ignorou o pedido dela. ― Aquele machista idiota não tinha o direito de falar daquele jeito com você ou qualquer outra garota. Você era melhor que maioria do time dele, e o babaca só não conseguia lidar com isso.

― E isso lá justifica você jogar seu capacete nele? Além de ter aceitado a provocação, ficou vulnerável.

― Nada disso teria acontecido se Tommy não estivesse doente e ficado em casa. ― Deu de ombros como se aquilo não tivesse sido nada de mais.

― Pare de culpar a todos menos você, Ollie! Lacrosse é violento, você poderia estar em coma, ou pior... ― Oliver entortou a cabeça, analisando meu rosto, parecendo me levar a sério pela primeira vez, foi quando percebi a ardência em meus olhos.

Lágrimas. Merda.

― Lis... ― Ele estendeu a mão livre em minha direção, foi quando a porta se abriu e uma médica em seus quarenta anos entrou, me fazendo ficar de costas para eles passando a mão rapidamente pelo rosto.

― Boa noite, sou a doutora Argov. Então, esse é nosso lutador do campo de lacrosse? Tem certeza que está no esporte correto, meu jovem? ― Me virei a tempo de ver Oliver sorrir para a mulher e ela pegar a ficha de admissão que já havíamos preenchido na chegada. ― Ok, vamos ver, Oliver Jonas... Opa. Oliver Jonas Queen.

― Conhece minha família?

― Atendi sua irmã anos atrás, queda de cavalo, eu acho. Pensei que vocês andassem com seguranças para evitar esse tipo de coisa.

― É, mas os seguranças não andam com eles dentro do campo. ― Me aproximei dos dois. ― Doutora, pode dizer para esse imbecil quão grave isso poderia ter se tornado?

― Pode dizer a ela como está exagerando?

― Não, sua namorada está certa, ser atingido na cabeça com um bastão sempre pode ser grave, mas felizmente não me parece o caso. ― Uma onda de alívio me atingiu, foi quando pude perceber toda a frase.

― Obrigada por concordar comigo, mas eu lá tenho cara de desesperada, doutora? ― Comecei a rir, e Oliver rolou olhos.

― Eu disse algo errado?

― Ela é a exagerada da minha melhor amiga, doutora, não namoramos.

Melhor amiga.

Ninguém nunca tinha se referido a mim daquele jeito, nem Tommy ou Barry. Parei para pensar sobre por alguns segundos. Eu e Oliver estávamos de fato bem próximos no último ano. As matérias na escola, mais os treinos depois do time, e ainda todas as festas que ele e Tommy frequentavam semanalmente e me arrastavam junto. Era bom conversar com ele, tinha respostas honestas e diretas e não vinha com as piadinhas ou todo carinho excessivo de Tommy. É, talvez fôssemos melhores amigos, e ele dizer isso, mesmo inconscientemente, me amansou. Mas só um pouquinho.

― Então vamos dar uma olhada nisso aqui, garoto. ― Enquanto eu divagava, a médica tinha limpado o ferimento e se atentava ao corte feio na testa dele. ― É, vai precisar de uns pontos.

― Vai doer? ― Como uma criança assustada, Oliver encarou a médica.

― Diz que vai, só assim ele não faz de novo ― provoquei.

― Felicity! ― ralhou comigo, então voltou a olhar todo pedante para a médica. ― Não é melhor só colocar um curativo e tal?

― Ficaria uma cicatriz bem feia pro resto da sua vida.

― Garotas gostam de cicatrizes. Acham sexy. ― Balançou os ombros, testando um daqueles sorrisos matadores para a médica, que rolou olhos.

― Entendi seu ponto, garota. ― Sorri junto com ela, ao que Oliver fechou a cara. ― Relaxe, darei uma anestesia, não irá sentir nada.

Sentei na cadeira próxima enquanto ela trabalhava e puxei meu celular do bolso. Contei a Tommy do acontecido, avisei minha mãe que ficaria com Oliver até tudo se resolver. A enfermeira da escola se despediu de nós e aproveitei para encontrar Diggle lá fora, que me informou que os Queen já estavam a caminho também.

Toda essa comoção consequência das piadinhas de um idiota do outro time para mim durante o jogo. Ignorei tudo com sucesso, mas Oliver não, o que havia nos colocado no hospital. Quando voltei à sala, ela já estava terminando os pontos.

― Viu? Já terminei. ― Oliver mantinha a cara emburrada como se tivesse sido enganado e a sutura tivesse doído sim, mas não podia admitir. Ótimo. ― Vou pedir uma tomografia e te deixar de repouso aqui essa noite, Oliver. Foi uma pancada bem feia.

― Nada disso, quero ir pra casa! ― refutou a orientação na hora.

― Você vai. Amanhã.

― Não, quero ir agora. ― Balancei a cabeça em negativa. Garoto inacreditável.

― Pare de agir como um bebê, você vai fazer exatamente o que médica está dizendo, se ela te mandar pra sala de cirurgia, você vai caladinho, ok? ― Oliver soltou um suspiro alto.

― Você não manda em mim, Felicity, eu hein?!

― Oliver, você desmaiou com a pancada, e veio pra cá numa ambulância. Droga, você me matou de susto lá, então a menos que consiga passar por mim e Dig, vai ficar quieto e obedecer, sim. Estamos entendidos? ― Ele bufou e cruzou os braços, mas pelo menos pareceu aceitar.

― Quando posso voltar a jogar? ― Doutora Argov que nos olhava estranho, balançou a cabeça voltando o foco à prancheta em suas mãos.

― Sem lacrosse por um mês. Vou te deixar mais dois dias de repouso em casa, então já pode voltar à escola.

― Então preciso esperar um mês pra jogar, mas já posso voltar à escola na segunda, e ainda passar o fim de semana preso em casa? Isso é tão injusto!

― Acostume-se, querido. ― Ela deu dois tapinhas do ombro dele, se preparando pra sair. ― Uma enfermeira vem te buscar para o exame e passo mais tarde para te ver.

― Bem feito, teimoso. ― Dei um tapinha de leve na parte de trás de sua cabeça.

― Ei, doutora, isso aqui pode? Ela está me espancando! ― reclamou, acariciando o local. Exagerado.

― Normal se preocupar com quem a gente ama. ― Deu de ombros como se não tivesse dito nada de mais. Como é?! ― Comportem-se, crianças.

― Então... Felicity, pode vir aqui? ― Percebi que estava parada olhando para a porta fechada a tempo demais quando Oliver me chamou. Mas aquela médica era doida, de onde ela havia tirado aquilo? Eu não amava Oliver!

― Hm? ― murmurei me aproximando, ainda evitando seus olhos.

― Eu preciso te pedir desculpas. ― O pedido inédito me fez encará-lo.

― Quê?

― Ok, talvez você estivesse certa e eu não deveria puxar tantas brigas, mas em minha defesa, não achei que ele seria covarde ao ponto de juntar os amigos nessa. De todo jeito, me desculpe por tudo isso. ― Como eu apenas o olhava abasbacada, ele resolveu continuar. ― Não vai dizer nada?

― Foi mal, ainda estou processando o "me desculpe" e o "você está certa" falados em uma única frase por Oliver-nunca-erro-Queen.

― Talvez estivesse certa ― se corrigiu.

― Desculpas aceitas. ― Entortei meu pescoço para ele, então sorri. ― E me desculpe por exagerar um pouquinho, eu só fiquei...

― Preocupada? É, eu sei. Você me ama ― falou com um sorriso arrogante no rosto. Não esperei o assunto se tocado tão precocemente, Arregalei os olhos na surpresa.

― Imbecil. Imbecil!

― Oh, voltamos aos imbecis. Tudo bem, você me ama, eu entendo. ― Ele estava me provocando apenas encher o saco, mas estava amenizando o clima, na verdade.

― Vou dar na tua cara, Queen! ― Quando comecei a estapeá-lo nos ombros e peito, e ele começou a rir, desviando-se.

― Vai abrir meus pontos, sua doida!

― Você merece pior, babaca.

― Ei! ― Oliver segurou meus pulsos, me impedindo de continuar a bater nele. ― Tá tudo bem, Lis, eu também amo você. ― Ele beijou de leve o dorso da minha mão. Era a primeira vez que fazia isso, e ao mesmo tempo que não parecia em nada com ele, foi tão bonito e natural que não me deixou em nada constrangida. ― Agora você pode chamar Diggle? Tenho certeza que vou precisar de proteção quando minha mãe chegar aqui.

✨✨✨

2011

Meus soluços não estavam mais audíveis, e eu finalmente tinha conseguido parar de vazar água dos olhos como uma torneira com defeitos. Não que a vontade de me debruçar em um travesseiro e chorar até dormir tenha passado, estava maior a cada minuto.

A campainha tocou e eu até quis ignorar, queria mesmo, mas estava sozinha em casa e poderia ser algo importante ou alguma entrega, sei lá.

― Lis! ― Tommy me abraçou forte logo que abri a porta, envolvendo meus ombros e me puxando para si. ― Ficamos sabendo.

― Quando você não apareceu na escola ou no treino do time, procurei meu pai. Ele me contou ― foi Oliver que disse, parado na porta com as mãos nos bolsos do casaco, o semblante consternado. ― Eu sinto muito ― murmurou pesaroso.

Toda a energia que havia reunido para me manter forte, se esvaiu em segundos ao vê-los ali, então apenas abracei Tommy de volta e voltei a chorar, soluçando no peito do moreno.

Aquelas estavam sendo simplesmente as piores 24 horas da minha vida. Não éramos uma família perfeita, mas eu nos considerava felizes, até meu pai simplesmente nos deixar, sem ao menos se despedir de mim. De repente, não éramos mais o bastante. Eu e minha mãe choramos abraçadas durante toda a noite anterior, a sensação de abandono nos atingindo tão forte, a dúvida sobre o que havíamos feito de errado.

Agora ela estava lidando com as coisas à sua própria maneira, gastando o que não tínhamos no shopping, enquanto eu lidava comendo sorvete e vendo jogos de lacrosse na TV, com vergonha de ligar até para meus dois melhores amigos. Mas agora eles estavam aqui, provando que não eram apenas melhores amigos, mas melhores pessoas.

― Como você está? ― Tommy sentou-se do meu lado direito no sofá cama e Oliver do outro lado.

― Que pergunta mais idiota, Tommy! ― Ollie o repreendeu. ― Como você acha?

― Só estou fazendo uma pergunta genérica para introduzir um assunto difícil ― se explicou. ― Se você não entende de mulheres, eu sim, tá bom?

― Não é o momento, Tommy... ― Oliver alertou mais uma vez.

Mas de fato, as piadinhas de Tommy não me incomodavam mais há anos. Eram como um sopro de uma brisa de verão comparado à tempestade que eu estava enfiada. E por isso eu os amava, os dois, como um equilibrava a loucura do outro. Só pude me sentir abençoada por tê-los em minha vida naquele momento.

― Eu amo vocês, sabiam? ― Puxei os dois pelo pescoço para um abraço, mesmo sabendo que Oliver não era de abraçar. Ele que se superasse, eu precisava daquilo agora. Mas ao contrário do que pensei, ele me retribuiu ainda mais forte que Tommy, deixando um beijo em seus cabelos e sussurrando que estava ali por mim e que tudo ia ficar bem.

Eles me deixaram o chorar e não falaram mais nada por quase uma hora inteira, o que estava parecendo um verdadeiro desafio para Tommy, até que eu mesma decidi parar de torturar meu amigo e os convidei a assistir um filme comigo. Agora dois filmes já haviam passado e a tarde estava quase no fim.

― Você vai querer milho em conserva ou azeitona em conserva pro jantar, Supergirl? ― Tommy chegou na sala, segurando os dois potes na frente dos olhos. ― Ah, não, acho que estão vencidos. Ok, estamos oficialmente sem comida! ― declarou. ― Quem vai sair pra comprar? Ollie? ― sugeriu de cara, não dando tempo para que ele argumentasse. ― Quero sushi.

― Não, você vai ― contra argumentou. ― É seu carro lá fora, e não tenho paciência para escolher os seus sushis.

― Querido, eu sou seletivo ― falou com a mão no peito, sentando-se na mesinha de centro, à minha frente. ― Não sou igual você que pega qualquer...

― Shiu! ― Oliver esbravejou o interrompendo.

― ...qualquer peça. Qualquer peça de sushi ― as últimas palavras foram faladas com tanta malícia e duplo sentido, que não puder fazer nada além de rir.

― Não dá corda pra ele, Lis. ― Oliver estava relaxado no sofá comigo, o braço jogado displicente sobre o encosto atrás da minha cabeça.

― Ollie, você não é lá a pessoa mais seletiva do mundo, vamos combinar. É quase como se não conseguisse dizer não. ― Oliver fez uma carranca diante da minha afirmativa. Quando Tommy começou a rir, desviei meu olhar para ele. ― E nem você, bonitinho. ― O moreno quebrou o sorriso na hora.

― Ollie pega o dobro de garotas que eu, só que ele não fica contando.

― Se você fica, é um idiota ― Oliver retrucou.

― E eu só fico pensando o que farei sem esses momentos quando duas garotas conseguirem passar pelo meu exigente crivo até namorar vocês. ― Os dois me deram sorrisos gentis.

― Namora um de nós e você só vai precisar se preocupar em aguentar a namorada do Oliver. ― Tommy segurou minha mão entre as suas e ergueu uma sobrancelha sugestiva. Gargalhei diante da cantada barata e nada discreta de Tommy. Ele vivia dando-as, não que fôssemos além disso. Pelo menos, não mais.

― Merlyn...

― Relaxe, Oliver, é uma brincadeira. Esse caminho não leva a lugar nenhum, acredite. ― Ele soltou minha mão, mas não antes de deixar um beijo no pulso.

Eu ainda estava sorrindo, até sentir Oliver se empertigar atrás de mim, tirando o braço de trás dos meus ombros, sentando na ponta do sofá. Tommy pareceu perceber o deslize ao mesmo tempo que eu, então arregalou os olhos assustado e piscou algumas vezes seguidas, reação bem parecia com a que tive, na verdade. Oh, merda!

― O que disse? ― a voz de Oliver saiu mais como um murmúrio.

― Eu disse que era uma brincadeira e eu nunca vou namorar a Felicity, como você sempre sugeriu violentamente ― falou compassadamente, ignorando toda a parte que o comprometia. Nos comprometia, na verdade.

O que Oliver nem desconfiava até aquele momento é que eu e Tommy tínhamos trocado alguns beijos há uns tempos. Os Queen tinham viajado para esquiar em um feriado qualquer, deixando apenas nós dois por aqui. Foi passageiro, divertido e esclarecedor até. Nunca namoraríamos, assim como nunca contaríamos a Oliver que isso tinha acontecido. Mas seria esperar demais que Tommy seguraria a língua na boca para sempre.

― Vocês dormiram juntos? ― Oliver perguntou com uma calma que não enganava ninguém.

― Não! ― nos apressamos em falar em uníssono.

― Mas se beijaram...

― Não!

― Algumas ve... Não! ― Olhei para Tommy incrédula. Qual é, tínhamos um pacto!

― Tommy! ― briguei.

― Olha aqui, seu... ― Oliver fez menção de levantar, mas segurei seu braço para que sentasse de novo.

― Opa, quietinho, sem drama. Acho que estamos perdendo o foco das coisas aqui. ― Tentei apaziguar a situação.

― Eu falei que ela estava fora dos seus limites! ― Oliver elevou a voz e apontou o dedo na direção de Tommy.

― Só porque você não tem coragem de colocá-la dentro dos seus.

Tommy não tinha jeito, perdia dos dentes, mas não perdia a piada. Dessa vez não consegui mais segurar Oliver, que avançou no amigo, que correu infantilmente ao redor da mesinha de centro até pular no sofá e segurar meus ombros me usando como escudo.

― Me protege, Lis.

― Sai daí, seu covarde!

― Eu não, você vai me bater.

― Pode apostar que sim.

― Ok, já chega. ― Tirei as mãos de Tommy de mim. ― Não vai bater nele, Oliver. ― O loiro abriu a boca surpreso com minhas palavras. ― E você, tinha que falar, né linguarudo?

― Foi mal, escapou! ― se justificou.

― Foi há muito tempo, Oliver, não foi nada. Experiência de adolescente e não mudou em nada nossa amizade, ou mudou?

― E se tivesse...

― Não mudou, isso que importa. Ninguém fala mais disso! ― declarei. Oliver bufou frustrado, mas aceitou, sentando na poltrona.

― Tommy, deixe de ser medroso e vá comprar alguma comida para nós. ― Oliver praticamente ordenou ao amigo que ainda estava atrás de mim.

― Eu vou, mas só vou porque... ― ele começou a caminhar de costas em direção à saída até estar com a mão na maçaneta. ― Só vou porque parece que Ollie está querendo ficar sozinho coma Lis para empatar esse jogo! ― Como um moleque birrento ele soltou a frase e já fugiu, a almofada que Oliver jogou quase o atingindo antes de sair.

― Felicity... ― ele começou depois de alguns minutos de silêncio constrangedor.

― Oliver, não! ― o interrompi, levantando para pegar a almofada que estava no chão e encostando a porta que Tommy não havia fechado direito. ― Você não tem esse direito!

― Eu sei, eu sei... ― Ele estava passando as mãos na cabeça em um gesto agoniado.

― Qual essa novidade agora, você nunca deu a mínima pra quem eu beijo ou deixo de beijar! Eu não me meto nos seus esquemas e você não se mete nos meus, é um ótimo acordo.

― É Tommy!

― E daí? ― Caminhei até ele, abrindo os braços em um gesto amplo. ― Qual o problema de beijar nosso amigo?

― Justamente por isso, Lis, ele é nosso amigo! Não se dorme com os amigos!

― Eu não...

― Eu sei, foi jeito de falar! E imagina se fica constrangedor depois, ou se um dos dois descobre que gosta do outro? Pior, se vocês ficam juntos, só pra depois brigarem e nossa parceria se quebrar? Eu posso estar sendo egoísta aqui, Felicity, mas não quero isso!

― Nem eu! ― Sentei ao seu lado, no braço da poltrona. ― Nem eu, Ollie ― falei com mais calma. ― Mas não aconteceu, estamos bem.

― E também... Me magoa vocês escondendo algo de mim ― falou com a voz triste. ― Nossa amizade devia ser transparente.

― Também devia ser resistente. Olha, me desculpa, tá bom?! Mas não é como se tivéssemos mentido, só não te contamos algo que não foi importante. ― Eu sei que era uma justificativa fraca, mas era a única verdade. ― Mas vou te contar agora. Pode perguntar, o que quer saber sobre o que aconteceu?

― Eca, não! Não quero saber! ― Fez uma careta de nojo.

― Ollie, só não quero que ache que ele é mais importante pra mim do que você é. Não quero que ache que não preciso de você, ou que não vai fazer diferença se você simplesmente for embora. ― Mordi o lábio para não chorar.

Eu não estava mais falando de Oliver e eu.

― Ei. ― Sua mão alcançou minha bochecha, me fazendo olhá-lo, quando baixei o rosto com vergonha de chorar de novo na frente dele. ― Eu nunca vou deixar você. ― Seus braços envolveram com força meus ombros, encaixando a cabeça na curva do meu pescoço. ― Nunca ― sussurrou ao meu ouvido.

Oliver não era de abraços, tipo, nunca. Pra ser bem honesta, ele não era de carinhos, ou palavras fofas. Tommy tinha essa necessidade constante de contato físico, acho que até por isso acabamos aos beijos na primeira vez que ficamos só os dois por um longo tempo. Mas Oliver não, ele apenas não era assim. Eu havia me acostumado, até porque também não era muito do tipo de Tommy.

Mas ali, dentro do seu abraço, eu me senti bem, até me perguntando porque não fazíamos isso com mais frequência. Me permiti chorar contra seu pescoço, e com a promessa adorável de que ele não seria como meu pai, ele estaria aqui por mim, mesmo que aquilo não fosse ser possível dali em diante. Por essa última certeza, chorei mais. Meu pai não havia apenas se retirado da minha vida, ele também havia tirado meus dois melhores e únicos amigos por tabela.

― Eu realmente vou sentir sua falta.

― Por que você fica dizendo isso? ― Ele segurou meus ombros, se afastando apenas para me olhar nos olhos. Aproveitei para limpar o rastro das lágrimas do rosto. ― Eu já disse que nunca...

― Ah, Oliver... ― Soltei um suspiro triste. ― Nossa escola é a mais cara da cidade, eu só estudava lá porque seu pai caridosamente pagava, já que meu pai trabalhava para ele. Eu não tenho a ilusão de achar que minha mãe vai conseguir aquela fortuna mensal para...

― Não, nem fala uma coisa assim! ― Oliver segurou meu rosto entre ambas as mãos. ― Você não vai sair de lá!

― Ollie, se acha que vou deixar você simplesmente pagar essa conta... ― Segurei suas mãos, tirando do meu rosto, e me afastando o máximo que dava. ― Nossa amizade nunca foi sobre seu dinheiro ou o de Tommy.

― Você merece aquele lugar mais do que eu e Tommy. Aliás, mais do que qualquer um dos riquinhos que estudam lá. Não se preocupe, vou falar com minha mãe, ela sempre destina uma fortuna de doações todo ano. Você não aceita que paguemos a mensalidade, ok, mas uma bolsa de estudos você vai aceitar! Sem discussão, Smoak!

― Teimoso ― resmunguei.

― Não mais do que você, parceira. ― Deixou um soquinho brincalhão em meu ombro, sorrindo e deixando o clima mais leve. ― Nada vai mudar entre a gente.

― A menos que a gente se beije, segundo sua teoria​ idiota ― comentei rolando olhos, e ele bufou irritado. ― Quanto mel você acha que tem nos lábios que faria eu me apaixonar por você só com um beijo, Queen?

― Não foi o que eu disse.

― Tá bom, vem cá, vamos empatar isso, como Tommy disse. ― Me ajeitei melhor na poltrona, ficando de frente para a ele, o chamando com as mãos. ― Me beija e podemos deixar toda essa história para trás.

― Não tem graça, Lis.

― Porque você tira a diversão das coisas, Oliver Jonas Queen! Sabia que não teria coragem.

Com um puxão no braço, eu estava de novo bem perto, quase em seu colo, o bastante para sentir a ponta de seu nariz roçar no meu e sua respiração bater quente contra meu rosto.

― Coragem nunca foi o problema, Felicity Megan Smoak ― falou baixinho.

Fechei os olhos e esperei por seus lábios nos meus. Esperei. Esperei. Esperei mais um pouco e nada. Quando abri os olhos, ele ainda estava congelado no mesmo lugar.

― E aí, Queen?!

― Foi mal, não consigo. Seria como beijar Thea, não dá!

― Ai, graças a Deus! ― Comecei a gargalhar, encostando a testa em seu peito. Eu também não estava a fim de beijá-lo.

Ouço risadas. ― Quase saltamos de susto ao ouvir a voz de Tommy abafada pela porta. ― Vocês estão vestidos?

― Você não tinha ido comprar comida? ― questionei.

Eu fui, mas quando cheguei no carro, percebi que não sou um homem das cavernas e posso apenas pedir por telefone!

― Muito esperto!

Eu sou.

― Não o bastante para entrar. O que ainda faz aí fora, Tommy?

Sei lá, vai que vocês seguiram meus conselhos e estão aí se beijando.

― Como eu estaria beijando Ollie se estou conversando com você? ― Olhei de relance para Oliver que há tempos tinha perdido o interesse no assunto, assumido um lugar no centro do sofá e mexia em algo no controle da TV.

― Tem razão. ― Ele abriu a porta e entrou com aquele sorrisinho malicioso. ― E aí, galera?

― Deixe de ser mente suja, Merlyn, não aconteceu nada!

― Oliver, meu garoto! ― Tommy deu um tapa nas costas do amigo, que lhe lançou um olhar mortal. ― Você tá fraco, hein, irmão?!

― Tommy, não tente Oliver a quebrar seu nariz... ― avisei.

― Só dizendo... Em outros tempos, Oliver já teria tirado suas roupas.

― Mais uma piada ou um comentário sobre, e quebro seus dentes, beijoqueiro dos infernos! ― Oliver ameaçou e eu só consegui rir na cara de Tommy.

Fato, eu amava aqueles dois.

✨✨✨

2012

― Me deixa em paz, Tommy! ― tive de gritar, já que a fala mansa não estava surtindo resultado algum naquela discussão. Depositei a bandeja com as limonadas na mesinha ao lado da espreguiçadeira que Oliver estava recostado.

― Eu vou te deixar em paz quando você desistir dessa ideia maluca.

― Ainda nesse assunto, Tommy? ― o loiro questionou sem tirar a atenção do celular.

― Felicity quer sair com aquele idiota do Cooper, depois que ela mesmo o socou daquela vez. Eu não posso ser o único aqui a me opor a isso, fala com ela, Ollie!

Cruzei os braços e olhei para Oliver, esperando que posição ele tomaria. Desde que comentei casualmente que havia aceitado o convite pra um cinema com Cooper no domingo, Tommy não me deixava em paz sobre, enquanto Oliver ainda não tinha dito nada. Eu até achei que o moreno tinha desistido de encher o saco quando nos convidou para aproveitar aquele sábado na piscina de sua mansão, mas era só o que ele chamou de “intervenção de amigo”.

Oliver tirou os óculos escuros e olhou um tempo para mim, então para Tommy.

― A Lis sai com quem quiser, é um país livre. ― Deu de ombros, recolocou os óculos e voltou a mexer no celular.

― Obrigada!

― Não, Oliver também não está raciocinando direito! Galera, ele é um babaca!

― Eu sei muito bem me defender, Thomas! Além do que, ele está diferente, mais gente boa, e a gente só vai ver um filme clássico.

― Sabe o que um "filme clássico" significa na língua dos caras? ― Fez sinal de aspas. ― Conta você, Oliver.

― Uma sala escura e vazia o bastante pra fazer sexo ― o outro respondeu sem se alterar, e o olhei chateada.

― Dois contra um? O que aconteceu com "é um país livre"?

Agora eles estavam me ofendendo. Tommy e Oliver achavam mesmo que eu iria perder minha virgindade numa sala de cinema? Não que eu já tivesse conversado com eles sobre isso, mas eles sabiam que eu ainda não tinha feito sexo.

― Eu não disse que não deveria ir, Felicity. ― Finalmente Oliver deixou o celular de lado para nos dar sua atenção. ― Sou totalmente a favor das mulheres e a liberdade para seus corpos, e você também deveria ser, Tommy. Só assim conseguimos nossas transas ocasionais.

― Eu tenho uma namorada.

― Só assim você consegue sexo com sua namorada então, tanto faz. Você não ia querer que Sara tivesse um irmão chato a regulando ― argumentei. ― E eu não vou transar com ele no cinema, tenho nojo daquelas cadeiras.

― Eu não entendo você, Ollie. Quis me bater quando soube que a gente tinha dado uns beijinhos inocentes, e agora não se importa. Eu sou um cara legal, Cooper não.

― Eu não devia ter me metido naquela época, então não vou me meter agora. Confio nas decisões da Lis e na capacidade dela de dar uns bons socos. Se der certo, ótimo, se não, vou ficar feliz em desentortar o nariz dele. ― Sorri para Oliver, realmente feliz com aquela atitude da parte dele.

― Quer saber, vou pegar alguns sanduíches. Vocês dois estão me dando nos nervos.

Tommy marchou para dentro de casa e eu me ocupei em deitar de bruços numa espreguiçadeira ao lado da de Oliver para tomar algum sol. Dias assim eram tão raros em Star City, que tinha que aproveitar, quem sabe até conseguir algum bronzeado.

Coloquei os óculos escuros e fechei os olhos, foi quando um sinal de alerta que veio do celular de Oliver chamou minha atenção. Toda a falação de Tommy tinha me impedido de ouvir antes, mas agora estava claro.

― Você tá no Badoo, Ollie? ― Ele ergueu o rosto do aparelho e olhou para mim, claramente sendo pego no flagra.

― Não?

― Tá me perguntando? ― Me coloquei sentada, bem surpresa na verdade. ― Oliver Queen recorrendo a aplicativos de namoro... ― comentei reflexiva. ― Um, você não precisa. Dois, é patético. Três, quase todo mundo da escola está, você vai ser descoberto e então voltamos ao item dois.

― Quis testar, ok?! ― se defendeu. ― Mas espera aí, como sabe que quase todo mundo da escola está? ― Oliver tirou os óculos escuros e me olhou desconfiado. ― Felicity Smoak recorrendo a aplicativos de namoro?

― Eu hackeei uma vez por curiosidade, tá bom?! Fiquei feliz de não achar nenhum dos meus amigos patetas, mas agora... Decepcionante. ― Balancei a cabeça em uma encenação encenada.

― Eu não te julgo, não me julgue também. ― Apontou o indicador para mim, e voltou a deitar.

― Não estou, é só que você realmente não precisa. ― Ergui as palmas em rendição. ― Onde estão todas as doidas que vivem se arrastando para um encontro?

― Não queria essas "doidas", só alguém legal que não tenha medo da reputação que Tommy espalha sobre mim ou esteja interessada na popularidade e atenção que meu sobrenome traz. E tinha curiosidade também!

― Ok, afasta pra lá, vou te ensinar uma coisa. ― Chutei as pernas dele para fora da cadeira e sentei ao seu lado. ― Vou te ensinar um flerte menos descarado com esse aplicativo novo, e ainda... Ollie, acho que conheço alguém para você, me dá seu celular.

― O que vai fazer?

― Confia em mim. ― Ele me estendeu o aparelho, então logo baixei o Instagram, criando uma conta rapidamente em seguida. ― Agora precisamos de uma foto. Sorria.

― Quê? ― Apontei a câmera para ele e capturei a imagem.

― Maldito, não precisa nem de pose! ― falei comigo mesma. O garoto saiu parecendo um ator de filmes em um dia normal na piscina da mansão. ― Postado com a legenda "Olá, Instagram!" Agora uma divulgação, enquanto isso, que tal uma massagem nos pés? ― Coloquei minhas pernas em seu colo dele esperar aprovação.

Peguei meu celular que estava logado no Instagram do time e postei uma das minhas fotos preferidas de Oliver. Ele estava nos ombros de alguns garotos, erguendo o bastão com a rede ao alto e rindo logo após uma vitória. Postei essa e marquei ele na foto.

― Lis, eu não deveria entender o que está fazendo?

― Calma, gafanhoto. Agora você vai seguir pessoas, algumas poucas, incluindo Mackenna Hall, ela é da minha turma de química. É bonita, inteligente, gente boa e está solteira.

― Como isso é diferente do Badoo?

― É discreto. Você agora curtiu as três últimas fotos dela e duas mais antigas. E a mágica está feita. ― Lhe devolvi o celular.

― Ahn?

― Espera só mais um pouco, e... ― O celular apitou.

― Ela me mandou mensagem ― falou de queixo caído. ― Como fez isso?

― Tecnologia, baby. ― Dei de ombros. ― Mas aí, o que estão conversando? ― Tentei olhar por cima do seu ombro para ver o que ele digitava.

― Deixa essa parte comigo, Lis.

― Eu te levei até a ponta do arco-íris, não vai me deixar nem ver o pote de ouro?

― Não.

― Me dá isso aqui.

Me aproveitei da distração e roubei o celular de suas mãos, correndo em volta da piscina tentando ler algo antes que ele me alcançasse.

― Que mentiroso, Oliver, disse que gostou das fotos porque achou bem enquadradas! Você nem viu elas antes que eu as curtisse.

― Me dá o telefone, Felicity!

― Tenta pegar, bonitão. ― Coloquei minhas mãos para trás com o aparelho, que ele continuava a tentar pegar, passando os braços por baixo dos meus, em um semi abraço torto e esquisito.

― Ai, minha santinha casamenteira, acabei de ter a ideia mais fantástica do mundo! ― Tommy deu uma palma alta. Ele tinha chegado a Deus sabe quanto tempo e nos olhava com os olhos brilhando. ― Ollie namora a Felicity, nos livramos de Cooper e podemos ter encontros duplos!

― Pare de ser inconveniente ― Oliver bufou e se afastou. Devolvi o celular pra ele.

― Cara, vocês nem notam a tensão sexual, não é?! Pelo amor de Deus, mal esperaram ficar seminus e já estavam aí se agarrando. Não se dão conta?

― Nada disso, porque somos amigos, nós três.

― E nem é a primeira vez que flagro uma coisa assim, lembram de mais de dois anos atrás na arquibancada? Vocês são apaixonados um pelo outro, é tão claro agora e resolve todos os meus problemas.

― Os seus problemas?

Era só o que me faltava essa história de novo. Eu não era cega, Oliver estava cada dia mais lindo. E sim, passávamos muito tempo junto, daí a intimidade, mas eu não tinha sentimentos assim por ele de jeito nenhum, e nem ele também, considerando a última vez que tocamos no assunto. Tommy era doido, eu estava ali arrumando encontros para Oliver e ele me apoiando em sair com Cooper.

― Namorar te deixou ainda mais idiota, Merlyn. Eu não vejo Felicity desse jeito, ela é minha amiga, você sabe disso. E ela sente o mesmo.

― Com certeza ― confirmei. ― Onde estão os sanduíches que você foi buscar? Você quer? ― perguntei a Oliver.

― Dois.

― Já sei, é porque não se beijaram ainda, só ficaram no quase algumas vezes ― continuou a divagar em sua teoria maluca, estalando os dedos para a “descoberta”. ― Eu não sabia o quanto gostava de Sara até estar com a língua na garganta dela. ― Ele nunca ia conseguir medir palavras e parar de nos arrancar caretas de nojo? ― Se beijem agora.

― Você está me irritando ― cantarolei.

― Por que estou certo?

― Não, porque é irritante por natureza, estragou uma maravilhosa tarde de sol e eu estou fora. ― Oliver colocou a camisa de volta e pegou as chaves e celular. ― Quer carona, Felicity?

― Partiu. ― Coloquei meu vestido por cima do biquíni, e calcei meus chinelos. ― Tire isso da cabeça, não vai rolar.

Deixamos ele com uma cara contrariada, seguindo para fora. Era só o que me faltava, mais essa agora.

Acabou que meu encontro com Cooper foi péssimo. Os meninos estavam certos, ele tinha sim intenções que não envolviam desfrutar da maravilha que era um filme antigo, mas eu também não estava errada. Soube desviar de todas as suas investidas mais ousadas e lhe dar um belo de um fora no fim da noite. E era isso que eu estava contando a Oliver bem agora, na hora do almoço.

― Por “mais ousadas” você quer dizer algo ousado o bastante para me fazer quebrá-lo? Por favor, Lis, me dá essa alegria ― implorou com as mãos em prece e eu ri.

― Ninguém quebra ninguém na minha gestão, Ollie. Só eu. ― Coloquei umas duas colheradas da minha salada de frutas na boca. ― Só não fala pro Tommy, não quero ele enchendo meu saco. E sobre a Mackenna?

― Sei lá, a gente tem se falado, ela é legal, mas ainda não marcamos nada. Não queria chamar ela para um encontro oficial logo de cara, vai que não rola? Queria algo mais casual, com mais gente, entende?

― Um encontro que não pareça um encontro. ― Pensei sobre. ― Tipo uma festa?

― É, tipo uma festa que não seja minha.

― É uma boa ideia.

― O que é uma boa ideia? ― Tommy chegou com Sara já sentando em nossa mesa. ― Vocês dois namorarem? Concordo.

― Vou procurar a Mackenna ― Oliver sussurrou apenas para mim e saiu da mesa sem ao menos terminar o próprio almoço ou dirigir mais alguma palavra ao casal que tinha chegado.

― O que você fez? ― Sara deu um tapa no braço do namorado.

― Ai. Não fiz nada.

― E por que seu amigo não falou com você e sua amiga tá te olhando como se fosse te bater?

― Eu não fiz nada de mais, a irritação deles é problema deles.

― Tommy fica forçando a barra pra que eu e Oliver namoremos só porque é um ciumento idiota que não sabe lidar com minhas escolhas de encontro.

― Não é verdade, estou forçando a barra porque vocês se gostam e precisam de um empurrãozinho, eu sou ótimo com empurrãozinhos. ― Apontou os dois polegares para si. ― Eddie e Iris só ficaram juntos porque eu me meti.

― Então você admite que está forçando?

― Claro que sim, se depender do Ollie essa friendzone não acaba nunca.

― Desculpa ele, Lis, Tommy não sabe quando parar.

― Eu nem me importo com esse chato, somos melhores amigos, mas é só isso. ― Dei de ombros. ― Só acho imprudente ele continuar a estressar o Oliver, vai acabar levando um soco.

― E eu acho que se ele não gostasse de você, não ficaria tão puto com minhas piadinhas inocentes.

― Piadinhas inocentes? Você passou o fim de semana todo mandando a gente transar e perguntando se já tínhamos feito.

― E funcionou?

― Cala a boca!

― Querem saber, vou falar com Ollie agora. ― Ficou de pé em um pulo. ― Soube que ele tá de papo com aquela pipoca amassada da Mackenna, preciso acabar com isso antes que vá pra frente.

― Vai apanhar... ― avisei, mas como sempre, ele me ignorou e seguiu com seu plano. Mas eu não iria mesmo cuidar dos machucados quando a coisa ficasse feia.

― Então... O quanto disso é verdade? ― Franzi a testa e encarei Sara, que mantinha as mãos unidas embaixo do queixo me olhando esquisito. ― Tommy tem alguma razão?

― Você também?

― É só uma pergunta inocente, sem insinuação ou pretensão alguma. Me diz que você e Oliver nunca deram nem uns beijinhos? Sei que com Tommy já rolou.

― Não, e nem vai. Amo Oliver, mas ele é um irmão para mim, uma das pessoas mais importantes da minha vida, mas tenho medo do que essa ideia de Tommy possa fazer com nossa amizade.

― Desculpa, Lis, mas você dizer exatamente isso não fortalece seu caso.

― Ollie não é como Tommy, ele não lida bem com exposições desse tipo e pode se afastar de mim apenas para provar que Tommy está errado. Não gosto da ideia.

― Ok, vou te ajudar, tentar dar um limite para meu namorado.

― Valeu, você é demais, Sara!

Não sei o que ela fez, mas Tommy não tocou mais no assunto, e ainda resolveu ele mesmo dar a festa que Oliver queria, mesmo que esse último não estivesse mesmo disposto a participar ou sequer acreditar na mudança repentina de comportamento.

― Por que estamos aqui mesmo? ― Oliver me questionou quando estacionou na frente da mansão de Tommy na sexta à noite.

― Porque quando nosso melhor amigo dá uma festa, a gente comparece ― respondi casualmente.

― E quando esse melhor amigo é um babaca que vem me estressando a semana toda? ― retrucou mal humorado.

― Oliver, ele já parou. E também, Tommy é como uma criança, quando faz pirraça devemos ignorar e tratá-lo igual ou ele nunca vai parar.

― Eu compraria um brinquedo caro ou daria viagens para a Disney para a tal criança calar a boca e não encher mais meu saco.

― Você vai ser um pai tão bom ― ironizei, dando dois tapinhas em seu peito. Ainda peguei sua risada antes de sair do carro.

― Ei, espera. ― Oliver quase correu para me acompanhar antes de chegar à porta, depois de entregar a chave ao manobrista. Sim, uma festinha comum de Tommy exigia manobrista. Eu nunca me acostumaria com tanto dinheiro.

― Hm?

― Devemos conversar sobre isso? Não, né?

― Sobre nós juntos juntos? ― Franzi o nariz. ― Já conversamos há um tempo, por mim aquela vez valeu.

― Então ainda estamos de acordo, o que é ótimo.

― Super de acordo ― confirmei. ― Não deixe ele te irritar, ok? Mackenna vem?

― Sim, com umas amigas. ― Quando abrimos a porta, a casa toda mais parecia uma boate com todas aquelas luzes e pessoas dançando. Talvez Tommy devesse investir no ramo, com certeza era excelente nisso.

― Vá encontrar sua garota ― o incentivei, o empurrando em direção às pessoas.

― Tudo bem ficar só?

― Vou achar Tommy e Sara. Boa sorte. ― Oliver sorriu para mim e sumiu na multidão.

Não demorou muito para que eu achasse meus amigos, já que, sendo a festa deles ou não, o casal sempre acabava se tornando o centro das atenções, seja pelo jeito maluco de dançar, pelas histórias engraçadas, as piadas bobas ou risadas altas.

― Isso é sério, Sara? ― perguntei rindo quase ao ponto das lágrimas escorrerem.

― Ah, ela queria cortar faz tempo, só dei um incentivo.

― Você colou chiclete no cabelo da sua irmã. Ela deve te odiar até hoje.

― Nem tanto. ― Deu de ombros. ― Desde que ela se mudou para a Europa para o intercâmbio, somos melhores amigas.

― Distância saudável, saquei ― assenti, bebendo meu suco.

― Olha só quem eu achei. ― Tommy chegou animado com Oliver. E sem Mackenna. ― Felicity, conhece meu amigo Oliver? Está solteiro. ― O moreno ergueu as sobrancelhas duas vezes num gesto insinuante. Rolei olhos. Agora via que a falsa trégua era uma estratégia para nos atrair até aqui. Bastardo.

― Cara, você disse que precisava de ajuda com algumas caixas de bebidas.

― Era mentira. ― Tommy piscou para o amigo, subindo no balcão do bar nada mini em que eu e Sara estávamos encostadas, e fazendo sinal para o DJ diminuir a música. ― Atenção galera! Dez mil dólares para a pessoa aqui que convencer meus amigos cabeças-duras Oliver e Felicity a se beijarem. Valendo agora.

― Quê? ― quase gritei. Ele tinha perdido o juízo, e em segundos perderia dos dentes, considerando o olhar com que Oliver o fulminava. ― Para isso agora, garoto! ― ordenei, quando a multidão gritava “beija, beija” e alguns mais corajosos me empurravam na direção do meu amigo.

― Não, não, não ― negou, descendo do balcão. ― Se não consigo sozinho, preciso de uns minions. Vamos lá, galera! Beija, beija!

― Merlyn, eu juro por Deus que... ― Oliver avançou na direção dele, mas havia muita gente no caminho.

― Dez mil para cada um aqui quando eles se beijarem. ― O coro só ficou mais alto.

― Tommy, para ― Sara também pediu, segurando seu braço.

― Estou ajudando eles aqui, amor. Vão me agradecer depois.

― Não tem mais graça, Tommy.

Uma coisa era ele não nos deixar em paz quando estávamos só os três, outra bem diferente era forçar isso para tanta gente, nossos amigos da escola, numa festa que Oliver estava acompanhado. Ele tinha razão, não devíamos ter vindo.

― Escutem aqui, todo mundo! ― Oliver subiu em uma das gigantes mesas que tinham ali perto. ― Se vocês ainda querem ter vida social na escola quando voltarem para a aula na segunda, vão calar a droga da boca agora! ― gritou.

Por um instante, um silêncio absoluto preencheu o lugar, quase dava para ouvir os barulhinhos dos grilos. Uau.

― Vinte mil para cada! ― Tommy ergueu a voz e dois dedos ao alto, então a balbúrdia ficou mais alta do que nunca.

Fato, ele não ia para até conseguir o que queria.

― Por Deus, Tommy, só pare de encher o saco!

Subi em uma cadeira, e depois na mesa em que Oliver estava, segurando a gola de sua jaqueta e sua nuca, chocando meus lábios nos seus.

Eu o conhecia o suficiente para saber que ele estava surpreso, muito surpreso, na verdade, até pelo tempo de resposta. A algazarra que toda a festa começou a fazer me fez perder o momento que Oliver segurou minha cintura e encaixou melhor nossas bocas, movimentando a dele apenas um pouco para envolver meu lábio inferior pelos dele, minha coluna inclinando para trás ao sentir seu corpo sobre o meu.

Mas assim como eu comecei o showzinho, tive que parar. Se esses adolescentes pervertidos queriam ver um pornô, que o fizessem em seus próprios quartos. Segurei seus ombros para o afastar, e ainda demorei alguns segundos para abrir os olhos.

Eu tinha que confessar que senti medo. Medo de olhá-lo agora e as coisas serem diferentes. Medo que minha impulsividade em me livrar da pressão de todas aquelas pessoas tenha nos colocado em uma situação que eu perderia meu melhor amigo.

Suspirei de alívio ao olhar para aquelas íris azuis que me encaravam apreensivas e tudo ser exatamente igual. Havia sido só um beijo no fim das contas. Um beijo bom, rápido e decisivo, que me fez lamentar por não te acabado com o suspense antes.

― Viu? ― Girei meu corpo para ficar de costas para Oliver e encarar Tommy, que tinha um sorriso que ia de orelha a orelha. ― Nada! Ninguém se apaixonou aqui, não é?! ― Dei uma cotovelada brincalhona nas costelas de Oliver.

Mas Tommy não pareceu estar satisfeito. O moreno levou o indicador ao queixo, parecendo não ter gostado nada do resultado de sua experiência, e já pensando em como conseguir um resultado diferente.

― Esse beijo não teve língua. ― Rolei meus olhos com impaciência. ― Façam de novo, agora de verdade.

Ele não ia desistir mesmo. Se eu beijasse Oliver "de verdade", logo Tommy estaria exigindo sexo, apenas para provar seu ponto, e, quando eu menos esperasse, já estava casada e com dois filhos. Não, não!

― Já chega, Tommy! Essa brincadeira acabou. ― Oliver desceu da mesa com um salto. ― Vem comigo! ― O loiro arrastou Mackenna, que tinha chegado ali em algum momento, para fora da festa, e a pobre coitada mal conseguia acompanhar os passos dele.

Viu, sem sentimentos românticos aqui ou lá!

― Isso não é possível. ― Tommy me estendeu a mão, me ajudando a descer, as pessoas já se dispersando, felizes pelo dinheiro fácil que iam ganhar. ― Eu estava errado?

― Sim, chocando um total de zero pessoas, meu bem. ― Sara o abraçou pela cintura. ― Desculpa o circo todo, Felicity, Tommy não sabe quando parar.

― Sem problemas, foi bom finalmente me livrar desses comentários. ― Fiz uma careta.

― Eu estava errado? Eu tinha tanta certeza ― Tommy ainda murmurava incrédulo, sendo levado para longe por Sara.

Olhei ao redor, procurando algo que pudesse me divertir, mas aquela festa já tinha saturado para mim. Oliver havia me abandonado, Tommy e Sara também. Eu poderia ter ficado mais um pouco e dado pelo menos uns beijos em algum garoto bonito, mas minha cota de beijos em garotos bonitos já tinha sido o bastante para a noite, com toda aquele show em cima da mesa. Resolvi ir para casa e adiantar o assunto da matéria para a prova de segunda, o que me deixaria com o fim de semana mais livre.

Acordei num susto, consultando o relógio do meu celular para ver que já eram quase três da madrugada. Minha bochecha estava amassada por ter dormido com a cara no livro e minha coluna doía um pouco pela posição ruim na cadeira.

Cocei os olhos e caminhei a passos lentos para o banheiro, tomando um banho rápido, escovando meus dentes e vestindo meu pijama confortável, um blusão de moletom, shorts e meias.

A casa era um completo silêncio quando cheguei à cozinha para beber um copo de água, e quando já voltava ao quarto, ouvi barulhos de passos na varanda.

Todas as regras de segurança diziam que devíamos voltar para um lugar seguro, então ligar para a polícia e deixar que eles cuidassem do suposto ladrão, mas, sem razão aparente, me esgueirei até a janela da frente, franzindo o cenho para o carro de Oliver estacionado na calçada da minha casa.

― Ué. ― Abri a cortina, até vê-lo em minha varanda, andando de um lado a outro. ― O que faz aqui, cara? ― Ele se assustou ao me ver parada ali na porta. ― Aconteceu alguma coisa? ― Seus olhos estavam escuros por conta da pouca iluminação, mas eu conseguia lê-los com clareza. Oliver me parecia nervoso, confuso, em algum conflito que só ele conhecia.

― Aconteceu ― sua voz saiu triste e taciturna, quase apenas um murmúrio.

― O que foi? ― De repente, eu estava preocupada também. ― Entra, vamos conversar lá dentro, aqui tá congelando ― observei quando o vento gelado arrepiou minhas pernas descobertas.

Mas ao contrário do que propus, ele sentou no primeiro degrau da escada da varanda, os dedos enfiando-se nos cabelos. Se eu já estava preocupada, agora tinha certeza que algo estava errado.

― Ei, o que foi? ― Sentei ao seu lado. ― Eu sei que não somos muito de falar, mas pode me contar, Ollie.

― Eu senti. ― Seus olhos fixaram-se nos meus.

― "Eu senti?" Tá me matando de preocupação aqui e essa é a única resposta que tem pra mim? ― Tentei sorrir, mas como ele ainda me encarava sério, fiquei assim também. ― O que quer dizer?

― Há dois anos, Tommy começou a achar que estava a fim de você, lembra, antes até de vocês ficarem? Você estava ganhando curvas e bem, ele não deixou de notar isso.

― E daí, Oliver?

― Eu disse que ele não investisse e te deixasse em paz. Nós três éramos amigos e ele estragaria tudo com essa paixonite.

― Sim, foi quando ele começou aquela história chata de que você estava com ciúmes ― recordei rolando olhos. ― Mas ele nos deixou em paz logo.

― E nós dois conversamos ― ele continuou. ― Acho que foi uma das poucas vezes que falamos dos nossos sentimentos, esclarecendo que o que tínhamos era só amizade. ― Eu quase tinha me esquecido daquela conversa. Mas as coisas comigo e Oliver sempre foram assim, às claras. Depois teve aquele lance quando meu pai foi embora, mas foi apenas mais esclarecimentos de que nunca ia rolar nada.

― Eu me lembro. Daí a gente prometeu que se algum de nós sentisse algo diferente de amizade algum dia, o outro seria o primeiro a... ― Minha frase parou no ar, quando finalmente entendi. ― Oh! ― Levei a mão a boca em total choque.

― Eu sinto, Lis ― Oliver repetiu o que havia dito no início. ― Mas você não, o que é uma merda. ― Seu olhar foi do meu para as próprias mãos.

― Eu... ― Mordi minha língua, pensando no que falar. ― Eu não sei o que te dizer agora.

― "Tommy estava certo?" ― A risada dele saiu anasalada e sem humor.

― Você é meu melhor amigo, Ollie. ― Se tinha alguém que eu não queria magoar, era Oliver, mas não sabia o que dizer diante daquela confissão.

― E você é minha melhor amiga. Também não imaginei que isso fosse acontecer um dia, não depois de tantos anos. Era pra ter sido só um beijo, me desculpe.

― Não precisa se desculpar, não é o fim do mundo ou da nossa amizade, Oliver. Você fez o que prometemos, obrigada por ser tão honesto.

― Então é isso, seguimos daqui pra frente, certo? Sem momentos constrangedores, sem tocar nesse assunto de novo, principalmente para Tommy. ― Tão rápido como ele começou, encerrou o assunto. De fato, éramos os piores para falar de sentimentos.

― Sim, é um bom plano.

― Então fechou, parceira. ― Oliver me estendeu o punho fechado, que logo toquei com o meu. ― Melhor eu ir. Desculpa ter vindo aqui de madrugada atrapalhar seu sono.

― De boas. ― Dei de ombros, mordendo o lábio num gesto nervoso. Oliver, que já ia levantar para ir embora, pareceu desistir.

― Só uma coisa, se eu puder te pedir.

― Claro. Manda aí.

― Posso te beijar, só mais uma vez? ― Não contive meu suspiro surpreso, já sentindo meu rosto enrubescer.

― Oliver... ― o chamei em tom de aviso. ― Tem certeza que é uma boa ideia?

― Eu não me tornei o capitão do time por desistir das coisas sem ao menos tentar mais uma vez.

― Tente então. ― Foi minha resposta idiota. Eu sei que deveria ter dito não, seria uma covardia da minha parte aceitar algo que poderia machucá-lo ainda mais, mas não consegui negar qualquer coisa para meu amigo naquele momento.

Oliver umedeceu os lábios com a língua antes de segurar meu rosto com ambas as mãos, chegando mais perto. Meu coração batia como louco e meu cérebro gritava péssima ideia, mas era tarde demais para parar agora.

Seus lábios tocaram os meus de leve, suaves como a brisa da madrugada e foi bom, um calorzinho agradável naquela noite gelada. Suspirei quando seus lábios envolveram o meu inferior, o sugando com delicadeza, e tive de segurar em seus braços quando a língua dele acariciou a entrada da minha boca, pedindo passagem entre meus dentes.

Suas mãos angularam minha cabeça quando o beijo foi aprofundado de fato. Era a primeira vez que eu experimentava o gosto da língua mais comentada do Star City High, e um arrepio percorreu toda minha coluna, se espalhando para o resto do corpo.

Oliver afastou a boca da minha por apenas alguns milésimos de segundos, puxando uma respiração apenas para me beijar de novo, agora com mais vontade, de modo quase faminto, suas mãos descendo para minha cintura e pernas, me apertando contra ele. Puxei seus cabelos com força, arranhando de leve sua nuca, empregando toda minha energia em retribuir aquele que estava sendo, de longe, o melhor beijo da minha vida.

Um beijo de verdade.

― É melhor não... ― Foi o loiro que parou o beijo.

Eu estava praticamente em seu colo, Deus sabe como parei ali, respirando ruidosamente, contra seu rosto. Dessa vez, meus olhos se abriram rápido, eu havia o beijado há algumas horas, não haveria surpresa.

Puta merda!, xinguei mentalmente.

Oliver me olhava apreensivo, com aquela cara de "então, ainda se sente igual?", ao que apenas neguei covardemente com a cabeça.

― Nada mudou, me desculpe. ― Seu semblante entristeceu, seus ombros caíram e Oliver tirou as mãos de mim.

Mas o que ele não sabia era que eu estava agora mentindo na cara dura. Tudo havia mudado quando abri meus olhos e vi os seus. Meu coração estava descompassado e meu estômago revirava como se eu estivesse com algo grave, mas não era doença. Era ele.

― Me desculpe também. ― Ele ficou de pé, batendo a poeira das roupas. Também me ergui. ― Agora eu já vou.

― Não quer entrar? ― sugeri, torcendo que ele negasse, mas seria o que eu faria se não tivesse sentido também. ― Sua casa é longe e você sabe que minha mãe não se incomoda que você durma no sofá.

― Melhor não ficar numa mesma casa que você agora, Lis ― explicou, e senti meu coração afundar. Ele tinha ficado tão magoado assim? ― Não sou tão bom em autocontrole quanto parece e não quero te magoar. ― Seus olhos me varreram de cima a baixo pela última vez, então se afastou, indo embora.

Sempre achei Oliver honesto e corajoso, mas agora eu o admirava mais do que nunca. Ele teve honestidade para falar o que sentia e coragem o bastante para cumprir nossa promessa de anos atrás. Eu, ao contrário, estava ali parada no frio, negando para mim mesma o que sentia. Depois daquele beijo eu estava me apaixonando pelo meu melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

Por enquanto é isso, pessoal!!
Próximo capítulo já é o último, narrado pelo nosso lindinho Ollie, completando esses dez anos de história.
Me digam o que estão achando desse não-casal tão fofo.
Até mais... Bjs*



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