Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 5
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Já está revelada a maior surpresa da história, eu espero que estejam gostando, mas outras virão. Sempre que eu escrevo uma fanfic, gosto de manter um mínimo da essência do personagem. Sei que Heri está numa fase bem diferente do que ele se mostrava na novela, mas logo...



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***
Antonieta decidiu esperar que a raiva de Victoria passasse para voltar a falar. Eram amigas há tempos demais para que ela não entendesse quando algo alterava Victoria. E eram poucas as coisas que o faziam, mas nenhuma como Heriberto. Ela jamais permanecia inerte à simples menção do nome dele, nunca havia sido diferente.

Jamais havia se conformado que Heriberto havia escolhido se tornar padre depois de ser o primeiro homem da vida dela. Era como uma traição, uma humilhação à que Victoria jamais havia sido capaz de superar. Depois de pedir que Lucy lhes servisse um chá, e dar alguns minutos para que Victoria se acalmasse, ela voltou a falar sem muito medo de sua reação.

— Você sabe se ele voltou para ficar?

— Não sei nada! — Respondeu ríspida reassumindo sua posição de rainha naquela cadeira onde se sentia melhor acomodada.

— Em algum momento, eu me lembro que você contratou um detetive para investigar a vida dele, saber de seus passos de suas obras de caridade.

— Foi uma fraqueza! — Sentenciou. — Eu dizia para mim mesma, dia após dia Antonieta que havia superado esse homem. Mas tantas dúvidas se acumulavam dentro de mim. Estive com sua mãe, em certa ocasião, e essa mulher perversa me insinuou que ele talvez até pudesse ter escolhido não seguir a carreira do seminário se não fosse eu a estar com ele naquela noite.

— Me surpreende que você tenha se deixado afetar por esta mulher. Logo você, Victoria. Pelo que você me contou ela é uma bruxa. E odiou que você pôs em risco os planos dela. Por que você imaginou que o que ela te disse é verdade? Por que você não procura esclarecer as coisas com o filho dela?

— Jamais! — Alterou-se. — Antonieta, você tem noção da humilhação que seria conversar com Heriberto sobre as razões pelas quais ele me deixou depois de ter plantado a semente da ilusão dentro de mim. Você é mulher, você sabe o que a primeira vez significa e que é praticamente impossível não sonhar que aquele homem a quem você se entrega é o príncipe que vai realizar os mais incríveis sonhos românticos que toda menina possui. Foi assim com você, comigo, com minha filha Fernanda, com qualquer mulher!

— Sim, você tem razão. Mas anos se passaram Victoria. E nem você é mais aquela menina e nem ele. Você também foi a primeira mulher na vida dele e talvez...

— Você tem razão! Anos já se passaram e essa conversa é completamente inútil às vésperas do lançamento de nossa coleção mais importante. Vamos voltar ao trabalho, é o melhor que fazemos porque nesse campo os sonhos não valem de nada sem dedicação. — Encerrou o assunto muito mexida.

***

— Você está bem? — Indagou Luiz ao adentrar à sala de Heriberto e encontrá-lo intensamente distraído em sua cadeira.

— Sim, bem. — Respondeu Heriberto sem praticamente tomar conhecimento de sua presença.

— Tem certeza? Porque eu bati em sua porta por dois minutos e você parece que não se deu conta disso. Além disso, está pálido. Quer que eu te examine? — Ofereceu-se.

— Eu estou bem, Luiz, simplesmente não me recuperei do impacto de reencontrar uma pessoa. — Finalmente dirigiu sua atenção ao amigo.

— Quem? — Interessou-se Luiz sentando-se na cadeira à sua frente.

— Ela! — Simplificou.

— Ela? — A interrogação não estava só em seu tom, senão também em sua impressão.

— A mulher de que te falei outro dia. Ela estava aqui, naquele evento promovido pela empresa de tecidos para entregar e atrair mais donativos para a ONG.

— Wow! E vejo que sua presença foi realmente impactante para você. Eu nunca te vi assim.

— Assim... tomado de dúvidas? — A pergunta era também uma resposta. — Confidenciando-me contigo, Luiz, eu sempre estive assim. Nunca tive certeza da minha vocação. Cresci com minha mãe me dizendo que eu era um milagre. Que eu quase morri quando bebê e só me recuperei quando ela prometeu à Deus que eu seria um padre. Mas eu sempre quis mesmo foi ser médico. Ela então me convenceu a conciliar as carreiras. "Você pode servir a Deus e ser médico", eram suas palavras.

— E as dúvidas existiam antes dessa mulher?

— Nunca tão intensamente como naquela noite. Naquela única noite que me marcou irreversivelmente. Eu havia ido para casa antes de me internar de vez no seminário quando a conheci. Sua tia era empregada na casa de minha mãe e Victoria... esse é o seu nome... Victoria estava lá. Tão sorridente, tão jovial, tão segura de si. Eu tinha 17 anos. Nesses três meses nos tornamos amigos e depois...

— O que aconteceu?

— Eu fui um canalha! Um fraco! Não resisti à tudo o que ela representava e passei a minha última noite com ela. Eu não queria ir para o seminário na manhã seguinte, mas minha mãe... Ela me prometeu levar Victoria para me ver para que conversássemos e eu acalentasse minhas dúvidas, mas... Ela só levou aquela carta. Uma carta na qual Victoria dizia que esperava nunca mais voltar a me ver e que não me queria em sua vida.

— Você nunca a havia voltado a ver?

— Há alguns anos. Casada, com dois filhos, feliz e realizada. Eu teria abandonado o sacerdócio naquela ocasião se ela não tivesse uma família. Mas que direito eu poderia ter? Que direito eu tenho agora?

— Eu não sou padre, Heriberto. Trabalho com alguns, mas antes de ser um padre, você é meu amigo. Você não acha que já dedicou tempo demais à Deus nessa carreira que é mais que claro que você jamais escolheu?

— Não é tão simples assim, Luiz. Além disso, não posso ter nenhuma certeza de que vou ser feliz com ela. Sinto que se eu deixar o sacerdócio, vou estar deixando uma parte de mim.

— E ao abrir mão do amor você também não passou mais de 20 anos sem uma parte sua? Porque para mim está muito claro que ela ainda mexe com você. É desumano sufocar isso, Heriberto.

— Talvez você tenha razão. — Concordou Heriberto. — A questão é que eu não sei se sou um homem muito mais forte do que aquele rapaz que a abandonou. Se eu abandonar o sacerdócio para sanar essas dúvidas, tenho certeza que dúvidas ainda maiores nascerão em meu âmago.

— É o dilema de todo ser humano, meu amigo. Vivemos nos equilibrando entre nossas dúvidas e as consequências de nossas decisões, não há outro caminho. Você tem uma escolha, Heriberto, você sempre teve uma escolha. Vai seguir permitindo que outras pessoas tomem suas decisões por você?

***


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