Providência escrita por Tia Lucy


Capítulo 3
Velhas gerações, novas gerações


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais do que deveria, mas é culpa da faculdade, sem falar q eu perdi o arquivo do capítulo e tive que reescrever. Mas esta aqui.
Meu tcc ta quase acabando, então talvez eu volte logo com a programação normal.



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Ludwig estava sentado no colo do irmão e Frederick sentado na cadeira ao lado da janela, ambos escutando os relatos de Gilbert. Frederick desviou seus olhos dos netos para olhar na janela por alguns segundos, distraído com a narrativa, quando seus olhos cansados pegou o lampejo do jovem loiro correndo pela rua. Sempre existiu algo em Matthew que não o agradava. Embora Matthew fosse um bom garoto, atencioso, educado, simpático e prestativo, algo realmente o incomodava muito. No fundo, ele sabia bem o que era esse incomodo, era o medo de ser deixado sozinho. Foi assim quando a sua filha conheceu o pai dos meninos, e nãos era diferente agora. Frederick amava Gilbert como a um filho, por isso, ele queria o melhor para seu neto. E Gilbert amava Matthew, então a única coisa que cabia a Frederick, era amar Matthew também:

— Teremos mais novidades — ele interrompeu a narrativa do neto, saindo das suas reflexões. — Matthew vem vindo aí.

Não demorou para se escutar os passos pesados pela escada, e a porta se abrindo. Matthew estava corado, os cachos loros colados na testa suada, e no rosto tinha um sorriso bobo. Largou a sua sacola no chão, fechou a porta, e ficou olhando ora para Gilbert, ora para Frederick respirando pela boca:

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Gilbert, preocupado.

— Anda menino, conta logo — exclamou Frederick impaciente.

— O senhor Bonnefoy — Matthew começou mal conseguindo expressar tais palavras. — Ele me nomeou como capitão do World Stars.

— Matthew? — o albino sussurrou, sentindo seu coração acelerar.

— Ele só pode estar brincando — o velho resmungou.

— Foi o que pensei também — ele falou sorrindo. — Mas o senhor Bonnefoy me garantiu que era verdade. Eu sou o novo capitão.

Frederick foi tomado pela emoção, quando viu Gilbert se levantar depois de tirar seu irmão do colo, e ir abraçar o namorado. Matthew o abraçou de volta forte, meio chorando meio sorrindo. Os olhos do velho se voltaram para o neto mais novo, que estava feliz pela conquista de Matthew:

— Isso merece uma comemoração — ele disse por fim, se levantando e dando dois tapinhas em Matthew. — Vamos homem, a sorte sorriu para você.

— Mas eu estou feliz senhor, muito mesmo.

— Pessoas felizes não choram — o velho rebateu. — Pelo menos eu só vi pessoas tristes chorarem. Não deve fazer bem chorar assim. Ludwig, pegue um pouco de vinho para Matthew, para que ele se recomponha.

Matthew estava tremulo quando tomou a taça de vinho, sentado onde Gilbert estava a poucos minutos atrás. Era inconcebível que alguém como ele, um filho do oceano, criado andando pelas ruas até conseguir um emprego, tomasse uma posição tão importante ainda tão cedo. Ele se perguntava como conseguiu chegar até a casa do albino, porque estava tão emocionado que nem se lembrava do caminho que tomou.

Gilbert se sentou aos seus pés, acariciando a sua mão livre. Ele se sentiu um pouco culpado em saber que a causa da sua felicidade, era a morte de um homem. Mas Matthew compreendia que o ciclo da vida do capitão Alexander, e o próprio capitão ficaria feliz em saber que o seu navio estaria em boas mãos.

Sem que os outros percebessem, um brilho de confiança passou pelos seus olhos violetas. Geralmente Matthew era um homem cauteloso, pensava em todas as implicações em tomar as suas decisões, mas as vezes se dava aos caprichos de ser impulsivo. Tinha chegado a hora, ele pediria Gilbert em casamento.

Braginsky voltou a presença do senhor Bonnefoy algumas horas depois, para dar os detalhes sobre os gastos do funeral. Ele realmente ficou comovido com tal ato da parte do seu empregador. Até aquele momento, não tinha visto  ninguém World Stars morrer, e ter sido logo o capitão foi um bague e tanto. Embora o choque maior com certeza foi o da família. Para ele, um homem endurecido pelos anos e o frio do seu país, foi quase impossível conter suas emoções diante de uma esposa enlutada e os filhos abandonados a sorte divina. Era provável que o senhor Bonnefoy dessa alguma quantia, para ajudar a família, mas dinheiro não era tudo. O capitão Alexander jamais retornaria, e dinheiro nenhum no mundo mudaria isso.

O russo bateu a porta do escritório antes de entrar, se deparando com Francis sentado, checando os livros de contabilidade. Assim que reparou na sua presença, ele o cumprimentou com um aceno de cabeça, e o convidou para se sentar:

— E então?

— Não se preocupe, eu mesmo fiz todos os preparativos — Braginsky — O capitão Alexander vai ser enterrado ao pôr do Sol, com um lindo uniforme de capitão.

— Ótimo — Francis sorriu. — E sua família?

— Inconsoláveis, mas a senhora Alexander é muito forte.

— Eu imagino — ele escreveu algo no caderno a sua frente. — Diga a ela que vou pagar uma quantia mensal, para os gastos com as crianças, pelos serviços prestados pelo capitão.

Braginsky sorriu, suas suposições se tornando reais:

— Senhor — ele se inclinou na cadeira. — Eu sei que ainda é muito cedo, mas em relação ao novo capitão...

— Já está resolvido isso — Bonnefoy sorriu ao anunciar. — Matthew Williams será o novo capitão.

— O Williams? — o russo exclamou surpreso. — Mas por quê? Quer dizer, ele é tão novo, não tem experiencia nenhuma como capitão.

— Ele acabou de ter com essa viagem — Bonnefoy justificou sua escolha. — Matthew é jovem, mas inteligente e os homens, como você mesmo disse, a tripulação foi muito fiel a ele.

Braginsky franziu o cenho, apertando as mãos, tentando não deixar o seu nervosismo transparecer:

— Não se preocupe. Eu conheço Matthew a anos, ele é muito responsável. World Stars esta em boas mãos — ele garantiu. — Além do mais... um posto e um salário mais altos era o empurrãozinho que Matthew precisava para enfim se casar com Gilbert.

— Oh, sim, eu imagino — falou o russo, em uma emoção precisa.

— Você deve estar cansado. Amanhã você vem pegar o seu pagamento — Bonnefoy riu. — Eu sei que vocês costumam fazer longe dos meus olhos, então julgo que isso não será problema, e você tem algum dinheiro consigo.

— Eu tenho.

— Ótimo, então nos vemos amanhã.

Braginsky assentiu e deixou a sala, sorriu amavelmente para a pequena Lucille no corredor, mas voltou aos seus pensamentos quando se viu sozinho. Não era justo Matthew conquistar a felicidade através do sofrimento alheio. Mesmo sendo o melhor capitão que pisou na terra, ele definitivamente não tinha esse direito.

O russo se sentia injustiçado. Matthew não era o único homem naquele navio. Todos os homens cumpriam fielmente as suas funções, mesmo sem suas ordens. Nenhum deles ganhou uma palavra de incentivo pela parte do senhor Bonnefoy. Mesmo Gilbert que cuidou do capitão Alexander até a morte, não ganhou tais palavras, embora tenha ganhado mais do que isso no final. Gilbert ganhara um marido, as custas do marido da senhora Alexander. Então era essa a justiça divina? A recompensa de alguns as custas do sofrimento dos outros.

Como Bonnefoy afirmou, Braginsky tinha dinheiro extra com ele, por isso não pensou em passar pela pensão em que costumava ficar, quando estava em terra. Foi direto para a taverna mais próxima, a fim de descarregar esse ódio e esquecer dos gritos desesperados da viúva e o choro das crianças orfãns.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler :)
Bjss tia Lucy



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