Providência escrita por Tia Lucy


Capítulo 2
Chegada




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A companhia de navegações Bonnefoy, era a joia da família, a pelo menos, três gerações. O proprietário atual era Francis Bonnefoy, um homem elegante que a muito estava em terra firme, casado e com uma filha, a pequena Lucille de oito anos. Francis caminhou entre as pessoas no porto, vendo World Stars atracando pronto para ser descarregado. Subiu pela rampa até o convés, onde foi recepcionado por alguns dos seus homens, entre eles, Braginsky:

— Algum problema, meu bom Braginsky? — perguntou Francis, vendo a expressão de alguns deles.

— Infelizmente senhor — o russo respondeu tomando a frente. — O capitão Alexander morreu na volta da Itália.

— Pobre homem — se lamentou. — Sabe-se do que ele morreu?

— Febre alta, passou seus últimos momentos delirando — Matthew respondeu, inclinando a cabeça em cumprimento, recebendo um sorriso do senhor Bonnefoy. — Ele pediu para levar o navio pra casa, então considerei que ele quisesse ser enterrado em casa. Então trouxe o seu corpo, para que a família o enterrasse

— Foi uma boa decisão. E como vocês fizeram com a organização?

— Williams cuidou de tudo — respondeu Braginsky, indiferente.

— Bem, eu só disse o que era pra fazer, e os homens fizeram — ele deu de ombros.

— Williams tem o espirito de liderança — o russo sorriu, algo que fazia poucas vezes. — É natural seguir as suas ordens.

— Você fez um bom trabalho, Matthew — Francis sorriu. — Agora Matthew, você poderia me ajudar a descarregar?

— Sim, sem problemas, senhor Bonnefoy.

— E eu? — perguntou Braginsky.

— Você vai até a casa da senhora Alexander, e a ajude com os preparativos do funeral — ordenou Francis.

— O senhor vai ajudar nos custos do enterro? — ele perguntou incrédulo.

— Irei. O capitão Alexander foi muito útil pra mim. É o mínimo que posso fazer por ele, e por sua família.

Nesse momento Matthew sentiu uma pressão nas suas costas, e um braço contornando o seu pescoço:

— Olá senhor Bonnefoy — Gilbert o cumprimentou.

— Olá Beilschmidt — Francis o cumprimentou de volta sorrindo. — Bem, eu vou indo. Não demore muito Matthew.

Williams assentiu e os outros homens se dispersaram, a fim de cumprirem suas respectivas missões:

— Ele está te esperando pra que? — o albino perguntou, ficando de frente para o outro, seu braço ainda envolto do pescoço.

— O senhor Bonnefoy me pediu para ajudá-lo a descarregar o navio.

— Ótimo, eu te ajudo.

— Não precisa — Matthew deu um sorriso amável. — Eu sei o quanto você está ansioso pra ver a sua família.

— É, foram três meses — Gilbert sussurrou. — Você vem me ver quando acabar?

— Irei — ele beijou a sua mão. — Agora vá.

Gilbert assentiu. Antes de ir, ele beijou o rosto de Matthew, correndo em seguida pela rampa, desviando de algumas pessoas que já começavam a descarregar a mercadoria.

Seus passos eram rápidos e firmes durante toda a caminhada de volta pra casa. Gilbert se corroía de saudades do seu velho avô e seu pequeno irmão. Ele não era da França, como o sobrenome denunciava, ele nasceu na Prússia, mas seus primeiros anos de vida lá não foram felizes, com a morte de seu pai e de sua mãe, logo em seguida. Por isso, Frederick pegou seus netos, Gilbert uma criança esperta e agitada de nove anos, e bebê Ludwig de alguns meses de vida e se mudaram. Perambularam por três anos pelos reinos germânicos, até chegarem na França, que não era o melhor lugar no momento, mas era um lugar que poderiam ficar e recomeçar as suas vidas.

Gilbert não escondeu o sorriso ao ver o prédio onde morava. Passou a correr, seus olhos se fixaram na janela do quinto andar, onde um menino loiro acenava entusiasmado. Os irmãos se encontraram nos degraus do terceiro andar. O albino deixou sua sacola cair nos degraus da escada, abraçando o irmão com todo o amor fraternal que possuía. Depois dos abraços e vários beijos contra as bochechas gordas de Ludwig, Gilbert pegou suas coisas e continuou o seu caminho até o apartamento:

— Graças a Deus você está bem — disse o velho com alivio, seus olhos se iluminando ao ver o neto chegar.

— E por que eu não estaria? — Gilbert perguntou o abraçando. — Olha, fiz bons negócios lá.

Ele tirou um saquinho cheio de moedas, adquirido através das vendas das suas esculturas. Entregou o saquinho aveludado para o avô:

— Mas porque a pergunta? Aconteceu algo? — o albino desviou os olhos do avô para o irmão.

— Onde está Matthew?

— Com o senhor Bonnefoy. Ele está ajudando a descarregar o navio.

— Eu tive um pesadelo — o velho segurou no braço de Gilbert, o conduzindo até se sentarem à mesa, a única que tinha na pequena sala. — Uma tempestade, e vocês estavam navegando. Matthew em algum momento caiu no mar, e quando você ia mergulhar para tentar encontra-lo, eu acordei. Você sabe que sempre que sonho com tempestade, não é coisa boa.

Gilbert balançou a cabeça, Frederick sonhou com uma tempestade pouco antes da mãe morrer:

— Bem, ouve uma morte no navio — ele disse pensativo. — O capitão Alexander morreu por conta de uma febre muito alta. Fiquei com ele até a sua morte. Matthew tomou o controle do World Stars.

— Pode ter sido isso, então — o velho abriu o saquinho e despejou algumas moedas na mão. — Isso já vai dar pra adiantar algumas contas. Matthew vem jantar com a gente?

— Ele disse que vinha.

— Certo — ele recolocou as moedas no saquinho. — Eu vou dar uma olhada na dispensa, depois vou comprar alguma coisa pro jantar. Tem uma garrafa de vinho ali em cima, pega um pouco.

Frederick saiu para a cozinha. Gilbert esticou os braços tentando relaxar os músculos, voltando as atenções para seu irmão, que escutava tudo atentamente:

— E você West? Como vai os seus estudos.

— Indo bem, eu acho — Ludwig deu de ombros, se aproximando. — Você me trouxe?

— Pega a minha sacola — o albino apontou para a sacola no chão, que seu irmão prontamente pegou e o entregou nas mãos. Ele revirou a sacola, sua expressão se tornando séria. — Acho que esqueci de comprar.

— Você estava ocupado né — o menino disse, tentando esconder a sua decepção.

— Eu estava brincando — Gilbert riu, tirando de lá um livrinho de capa de couro, com inscrições italianas em dourado.

Os olhos de Ludwig brilharam ao ver o livro, e Gilbert sorriu, bagunçando os cabelos loiros do irmão, satisfeito com a sua reação.

Assim como Gilbert, Matthew não teve estudos, mas era rápido em aprender. Por isso, o senhor Bonnefoy nunca hesitou a dar um trabalho para Williams, por mais que fosse complicado. O jovem Matthew, era um homem calmo e cauteloso, levando tempo para tomar grandes decisões. Às vezes, só as vezes, ele era impulsivo, o que levava a algumas confusões. Como agora, que Matthew foi convocado para a sala de Francis:

— Foi verdade o que o Braginsky contou? Você assumiu o lugar de capitão na ausência do capitão Alexander? — perguntou Francis, sentado na sua mesa, o olhando por cima dos óculos de leitura.

— Sim — ele respondeu pensativo.

— E os homens te seguiram sem pensar duas vezes?

Williams assentiu:

— Braginsky está certo, você tem um espirito de liderança nato — Francis assinou algo, depois tirou os óculos e sorriu. — Foi uma pena a morte do capitão, mas sinto que não fiquei desamparado. Matthew, você agora será o novo capitão do World Stars.

Conforme as palavras iam saindo da boca de Francis, Matthew arregalava os olhos, confuso e embasbacado com que ouvia:

— Me desculpe, eu não ouvi bem. O senhor disse que eu sou o novo o capitão?

— Exato, capitão Williams — ele sorriu em resposta.

— O senhor está brincando — Matthew o olhou seriamente. — Não posso ser o capitão, sou muito novo pra isso.

— Você já navega a bons anos. E isso não foi um problema para os homens.

— Quem garante que eles vão me ouvir depois?

— Eles te ouviram antes, não foi? — rebateu Bonnefoy. — É essa a garantia de que eles vão te escutar.

— Oh, senhor Bonnefoy, não sei o que dizer... Não sei o que pensar — Matthew estava incrédulo, os olhos perdidos e as mãos ansiosas se esfregando.

— Mas eu sei — ele apoiou a mão no rosto. — Agora você pode pedir Gilbert em casamento.

Os olhos de Matthew brilharam por de trás dos óculos, contemplando essa possibilidade:

— Todos nós sabemos, inclusive o próprio Gilbert, que era só uma questão de oportunidade — Bonnefoy sorriu. — E aqui está ela.

— Eu não sei como agradecer o senhor — Matthew sussurrou, seus olhos estavam marejados e suas mãos tremulas.

— É simples. Entregue minha mercadoria em dia, me convide para ser o padrinho e seja feliz. Você merece isso.

Matthew respirou fundo, limpando as lagrimas do rosto e tentando contê-las, mas sem muito sucesso. Bonnefoy o abraçou, como um bom pai abraça um bom filho. Em seguida o mandou para casa do seu futuro noivo, para contar-lhe a novidade.


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