Aquele maldito sorriso escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Aquele maldito sorriso




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Toshinori Yagi tinha um sorriso de um milhão estampado em seu rosto. Ele olhava para a janela, como se lá fora algo incrível estivesse acontecendo. Enquanto isso, Enji tentava evitar olhar e se deparar com aquela felicidade toda a sua frente.

Ele não entendia por que o colega de sala sorria sempre. Em todos os momentos, mesmo quando era advertido pela diretoria do colégio, mesmo quando chamavam sua atenção, mesmo quando faziam piada sobre seu cabelo loiro ridículo. Ele nunca deixava de sorrir, nunca.

Aquele maldito sorriso.

— Qual o seu problema? — Perguntou, sussurrando, enquanto fazia anotações no caderno. Sentava-se atrás de Toshinori desde o primeiro ano na U.A. High, e isso acontecia todos os dias. Yagi olhava para a janela com cara de idiota, sorrindo. Não havia absolutamente nada lá fora de tão emocionante assim. Enji poderia provar, já que se sentava também ao lado da janela.

— Você é engraçado. — Era o que ele se dignava a responder e isso irritava profundamente Todoroki. Seria possível que a escola tivesse admitido Yagi apenas para compor algum tipo de cota para gente lerda?

— Cala a boca. — Enji falou baixo, mas irritado.

— Hey! Todoroki, você não acha que o dia está bonito também?

E lá vinha ele com aquele papo, pensava Enji.

Era sempre assim, Toshinori falava sobre o tempo, sobre o céu, sobre as nuvens, sobre a beleza da vida. Dizia-se fascinado com a chuva, com os raios e trovões. Ele simplesmente gostava de tudo. E se isso já não fosse irritante o bastante, Toshinori também era popular com as pessoas e todos achavam ele fofo, gentil e divertido. Predicados que a família Todoroki via como fraqueza. E com isso, Enji não demonstrava sua fraqueza falando do dia ensolarado ou de como a chuva ajuda as flores a crescer. Esse era simplesmente o ciclo da vida e ele seguiria os dois querendo ou não, então porque raios Toshinori sorria tanto para o céu azul? Que importância tem isso? É claro que para um herói estar familiarizado com a meteorologia e os acidentes naturais era um requisito básico, inclusive havia aulas de sobrevivência e salvamento em diversos cenários como terremotos, enchentes ou incêndios florestais.

Para ele, a natureza provia, o homem mantinha a medida do possível e os heróis protegiam. Então não perdia o seu tempo olhando para o céu e sorrindo como idiota.

— Você parece um retardado. — Enji resmungou, ouvindo a risadinha baixa de Yagi.

— Não sei como não pode ver beleza no que seus olhos veem.

— Está dizendo que sou incapaz de ver algo?

A risada de Toshinori soou mais alta, fazendo Enji trincar os dentes e quebrar o lápis ao meio tamanha raiva que sentia.

— Estou dizendo que há coisas na vida mais valiosas do que você pode imaginar.

— Ah! É mesmo? O que por exemplo?

O sorriso de Toshinori se intensificou, fazendo suas bochechas corarem, ele tinha os olhos fechados e o corpo inclinado para o lado, virado para a janela, enquanto a cabeça virava na direção da carteira em que Enji estava sentado.

— Enquanto você vê apenas meios de sobrevivência, eu vejo possibilidades.

— Quais possibilidades? — Enji já estava farto daquela conversa, mas havia recebido duas advertências naquele dia e na terceira advertência ele teria que limpar o vestiário. E limpar um vestiário de estudantes era muito pior do que discutir com Yagi. Poderia fazer um esforço e não queimar nada.

— Posso te mostrar depois da aula. — E assim ele virou o corpo para frente, quando o professor entrou na sala.

— Prestem atenção, todos. — O professor falou diante da classe. — Esse trabalho vale dois pontos, alguns de vocês estão me devendo exatos dois pontos, então espero que sejam no mínimo excelentes.

Todoroki Enji continuou olhando para a cabeleira loira a sua frente, ele sentia o peito queimar e não era culpa do seu dom. Ele não queria admitir, mas seus pensamentos estavam em ebulição naquele momento.

Merda.

Quando a aula acabou, Enji recolheu seu material e enfiou dentro da mochila. Faltava sete meses para a formatura e eles ainda estavam perdendo tempo naquelas aulas dentro da sala, quando poderiam estar já em ação. Contudo, o trabalho de dois pontos que o professor falou era direcionado para ele. Isso só aconteceu porque Enji se desentendeu com alguns colegas e perdeu aulas, ficou cinco dias fora. Quando retornou, havia perdido provas, trabalhos importantes e orientações que ele precisava recuperar. E parecia que os professores faziam de propósito apenas para ele se ferrar mesmo.

— Podemos ir? — Toshinori falou, se aproximando dele quando deixaram a sala. Enji já havia esquecido.

— Eu tenho esse trabalho para fazer. — Disse, sincero, estava calculando mentalmente as matérias que precisava de notas boas. Era isso ou seu pai arrancaria sua pele.

— Posso te ajudar depois, vem comigo.

E com isso Toshinori o pegou pela mão, correndo pelo corredor da U.A. High, ignorando que todos os estudantes olhavam para eles dois.

Enji queria golpeá-lo com as duas pernas em suas costas, para que não ousasse mais puxar ele pela mão na frente dos outros. Mas não o fez. O toque da mão de Toshinori era quente, não queimava como seu poder de fogo que se alastrava pelo corpo todo, mas quente pelo contato, pela aspereza, pela força que o segurava. E nem precisava dizer o quanto isso deixou-o descontente, apenas pelo fato de reconhecer que havia gostado do contato direto.

Quando deixaram as dependências da escola, Toshinori soltou a mão de Enji e virou-se com um sorriso. Não era do mesmo tipo de sorriso de quando ele olhava para a chuva ou para uma borboleta, era algo que Enji conhecia bem.

— Vamos ver quem chega primeiro naquela árvore? — Perguntou, conforme o cabelo loiro movia com o vento.

Enji olhou a árvore no topo de um morro e riu de maneira ousada. Eles eram rivais, afinal.

Os dois correram numa velocidade impressionante e quando chegaram na árvore, cada um tocou o tronco dela com a mão.

— Eu venci. — Todoroki se gabou.

— Nós dois chegamos juntos.

— Tem como provar? — Ele rangeu os dentes.

— E você pode provar que venceu? — Toshinori gargalhou.

— Idiota, se eu disse que venci é porque eu venci. Está me chamando de mentiroso?

— Não, você que não aceita muito bem ser o segundo lugar.

Enji queria arrancar aquele sorriso com um soco. Ele piscou, balançando a cabeça. Precisava estudar, precisava das melhores notas, e de nenhuma advertência nova, então não iria cair naquela ladainha. Ele virou as costas e começou a andar.

Toshinori correu atrás dele, pedindo desculpas. Não havia por que ele fazer isso, mesmo assim ele fez. Depois falou que o ajudaria mesmo no trabalho, já que ele também precisava de uma nota boa.

— Então por que me arrastou até aqui? — Enji perguntou ríspido.

— Você falou que queria saber quais as possibilidades que eu vejo, então eu decidi te trazer no meu lugar especial. — ele falou com o peito estufado.

— O que você é? Uma garota de doze anos?

— Todo mundo tem um lugar especial. — Toshinori falou ofendido. — Qual o seu?

— Não tenho algo desse tipo.

— Não acredito.

Enji bufou, mas acabou cedendo.

— Eu gosto de ficar no dojo treinando.

— Ah! Sim, viu? Todo mundo tem um lugar especial.

— Eu vou embora, isso não está levando a lugar algum.

— Espera. — Toshinori o segurou pelo braço, mas soltou logo em seguida. — Venha, sente-se aqui comigo, vou falar o que eu vejo.

Enji queria ir embora, ele sentia com todas as moléculas de seu corpo de que aquela era a hora de se afastar de Yagi de uma vez por todas e ignorar o que seu coração acelerado dizia. Mas ele ficou, e depois se sentou ao lado dele na grama. Ficaram em silêncio por um tempo, enquanto Toshinori fechava os olhos e respirava o ar puro.

— Sabe, meu sonho era entrar nessa escola, eu sempre quis ser herói. E quando eu conseguir entrar, prometi para mim mesmo que apreciaria todos os dias como se fosse o mais importante da minha vida. E no final das contas, todos os dias são importantes, e depois de eu sair daqui, quero poder retribuir a sociedade as coisas boas que aconteceram comigo. As possibilidades que eu vejo é de que hoje eu estou aqui, mas no futuro será um outro jovem com o mesmo sonho, entende? E que ele possa realizar esse sonho assim como eu estou conseguindo.

Enji o olhava seriamente, Toshinori sorria enquanto falava. E naquele momento ele não achou o sorriso dele idiota. Ele ficou em silêncio, depois desviou o olhar para o horizonte, era possível ver o distrito com muitas casas e alguns prédios, além de um parque arborizado. Pensou em seus sonhos, queria ser o herói número um. Provar para o pai que era capaz, e que seria muito melhor do que um dia seu irmão mais velho, já falecido, foi. Ele almejava o topo, o poder e não permitiria que nada passasse por cima de seus sonhos.

E apesar de ser um sonho compreensível, Toshinori e ele eram diferentes, porque a ambição dos dois era movida por forças opostas.

Nesse instante, Enji sentiu a mão de Yagi tocar a sua e entrelaçar os dedos. Ele nada disse, olhou para as mãos unidas e depois para o sorriso idiota estampado no rosto do colega.

Aquele maldito sorriso.


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Notas finais do capítulo

Curtinho e divertido só para descontrair, converse comigo hehe
Beijos



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