Capítulo 01- Proteção

 "O que você vai fazer?" Jared perguntou olhando boquiaberto para o lobo a sua frente.

 "Nada, o que eu poderia fazer?"

 "Você tem que contar a ela" Sam disse enquanto os três lobos caminhavam de volta para La Push.

 A mente dos dois lobos foi invadida pelas lembranças de Paul.

 —Onde você pensa que vai? -O homem embriagado gritou para a mulher que colocava suas roupas em uma mala.

 —Eu vou embora, eu não aguento mais isso, estou de saco cheio de você. -A mulher gritou jogando o abajur na direção do homem.

 —Papai, você não vai bater na mamãe de novo. -O garotinho de sete anos gritou quando o homem se encaminhou raivoso para a mulher de cabelos de longos.

 —Paul, o que nós combinamos? Você não vai mais se meter nas nossas brigas. -A mulher se abaixou e pegou o garotinho em seus braços.

 —Mas ele vai bater em você de novo mamãe. -Ele disse com grossas lágrimas escorrendo por suas bochechas rosadas.

 —Olha, a mamãe vai sair certo? Mas a mamãe volta pra te buscar. Nunca se esqueça que a mamãe te ama tá? -A mulher o colocou no chão e depositou um beijo em sua testa.

 Ela saiu pela porta e o homem saiu em seu encalço, deixando o pequeno garoto chorando sozinho em casa. Horas depois, a polícia chegou para leva-lo, seu pai estava preso e sua mãe morta.

 "Paul..." Sam começou a falar, mas foi interrompido pelo lobo.

 "Eu não quero ouvir Sam, eu nem deveria ter mostrado isso pra vocês, vou estar em casa caso precise de mim"

 Sam observou quando Paul voltou para sua forma humana e caminhou de volta pra sua própria casa. O alfa podia ver o quanto o imprinting havia mexido com ele, ele podia sentir o medo e o desespero de Paul.

 "Ele vai mesmo tentar fugir da marca?" Jared perguntou, um leve tom de descrença na voz.

 "Ao que parece sim" Sam respondeu voltando a sua forma humana, Jared o seguindo.

 Sam e Jared caminharam até a casa vermelha na orla da floresta, onde Emily e Kim os esperavam sentadas no sofá.

 –Conseguiram achar a garota? -Emily perguntou enquanto se aconchegava no colo de Sam.

 –Sim, Paul a encontrou. -Ele respondeu beijando o rosto cicatrizado da garota.

 –Então porque estão com essa cara? -Kim questionou enquanto se agarrava ao corpo quente de Jared.

 –Paul imprimiu em Bella, mas ele está relutante em aceitar a marca. -Jared respondeu.

 –Isso vai ser ruim pro bando né? Ele vai se tornar ainda mais ranzinza do que já é. -Emily disse suspirando.

 –As emoções dele estavam fora de controle, ele deixou escapar as lembranças daquela noite. -Sam falou passando uma das mãos pelo rosto.

 –Ele era tão pequeno... Eu podia sentir o desespero dele. -Jared disse com um suspiro pesado.

 –Eu preparei o jantar, venham, sentem-se pra comer. -Emily disse tentando mudar de assunto. -Quem vai ficar de patrulha até meia noite?

 –Jared e depois eu assumo até as seis. -Sam respondeu enquanto se sentava a mesa.

 Eles comeram em um silêncio desconfortável, todos com medo do futuro que agurdava a matilha.

*~*~*~*

 Paul estava sentado no chão de sua casa, os poucos móveis que ele tinha estavam virados, as folhas de seus desenhos espalhadas pelo chão.

 Ele estava frustrado, toda sua vida fora um caos, e ele não queria envolver mais ninguém na sua bola de merda. Paul desprezava o imprinting mais do que desprezava ser um metamorfo, ele odiava o fato de estar eternamente preso a aldeia, de estar preso ao local que tantas lembranças guardava.

 De seu lugar no chão ele puxou um caderno e um lápis do meio da bagunça e começou a desenhar. Primeiro, o contorno de um rosto, os dois olhos grandes, o nariz fino e bem angulado e então os lábios finos curvados em um sorriso. Ele agradecia por sua memória fotográfica por nunca deixar ele se esquecer de seu rosto e do sorriso que sempre estava em seus lábios.

 Paul abraçou os joelhos, a cabeça jogada para trás de encontro a parede, lágrimas rolando por suas bochechas, como sempre acontecia depois que ele fazia um desenho sobre ela... Ele não foi capaz de protege-la, ele deixou sua mãe morrer porque era um garotinho assustado...

 –Hey Paul, tudo bem. -A voz de Emily chegou aos seus ouvidos. Ele aceitou o abraço da jovem mulher e chorou copiosamente em seu ombro.

 –Porque eu não pude protege-la Emy? -Ele perguntou se afastando do abraço.

 –Você era uma criança Paul, você não tem culpa. -Emily disse puxando uma sacola em direção a ele. -Aqui, trouxe seu jantar.

 –Sam já te disse né? -Ele disse entre garfadas.

 –Sim, e eu acho que você não deveria se afastar.

 –Ela não merece alguém como eu. Ela merece alguém melhor, ela merece alguém que não tenha uma vida de bosta como a minha.

 –Você sabe que não vai dar certo né? Sam tentou, e resultou nisso. -Ela falou levando uma das mãos de Paul à suas cicatrizes.

 O pensamento de machucar sua marca, fez Paul rosnar, um tremor passando por seu corpo.

 –Você sabe como eu sou instável Emy, isso é apenas mais um motivo para eu me manter distante. -Ele disse se levantando. -Vou correr, obrigado pelo jantar.

 Paul caminhou até a floresta e se despiu, se transformando no lobo gigante em seguida.

 "Paul?" Sam questionou quando sentiu outro lobo se conectando.

 "Sim chefe, apenas dando uma corrida. Finja que não estou aqui" Ele disse deixando seu lobo dominar seus sentidos.

 Paul correu pela floresta, sem saber realmente onde ele ia e quando deu por si estava na floresta aos fundos da casa dos Swan. Ele respirou profundamente, absorvendo os odores da casa, ele sentiu o cheiro áspero de Charlie e o cheiro amadeirado de Billy no andar de baixo da casa, o cheiro adocicado de Bella vinha do andar de cima da casa.

 Ele absorveu os odores, pensando no quão diferente as três pessoas cheiravam... Enquanto Billy cheirava a madeira, praia e terra, Charlie cheirava a pólvora, café e colônia. O cheiro que vinha do andar de cima era o que mais lhe chamava atenção,  Bella cheirava a pêssegos, amaciante de roupas e vampiro...

 Paul balançou a cabeça lupina e se deitou entre as árvores, ele sabia que não seria fácil para seu lobo se manter distante, mas ele faria isso! Ele sabia que ele era instável, e ele precisava protege-la, inclusive de si próprio.