Capítulo 16 - Medos 

Bella se mexeu na cama e soltou um gemido desconfortável. Paul, que estava se preparando para ir pra ronda, se aproximou e ajoelhou na frente dela. 

—Hey, querida. -Ele sussurrou beijando a bochecha dela. -Está tudo bem? 

Bella abriu os olhos e suspirou pesadamente. 

—Não... Parece que eu vou... -Ela não conseguiu terminar de falar. 

Empurrando Paul pro lado, ela correu pro banheiro e se ajoelhou na frente da privada, colocando todo o jantar da noite anterior pra fora. Paul entrou no banheiro e segurou os cabelos dela fora do caminho.

—Sabe, gosto de segurar seu cabelo assim... Mas normalmente você tá em outra posição.

—Pare de ser ridículo. -Ela disse enquanto se levantava, puxava a descarga e caminhava até a pia para escovar os dentes. 

—Eu vou precisar ir na mecânica depois da ronda, recebemos dois carros e os vidros pra sua caminhonete chegaram. -Ele disse ajudando Bella a voltar para a cama.

—Tá bom, eu vou ficar bem. -Ela resmungou enquanto se enrolava na coberta. 

—Vou ver se a Emy pode vir ficar com você, certo? -Paul questionou mas não obteve respostas. Bella já dormia novamente. 

Ele se aproximou, deu um beijo na testa dela e saiu de casa. Ele caminhou até a casa de Sam e sorriu ao sentir o cheiro de muffins de chocolate, Emily sempre foi uma madrugadora. 

—Hey Emy. -Ele chamou levemente ao entrar na sala vazia. 

—Na cozinha. -A voz de Emily veio pela porta entreaberta. 

Uma melodia suave tocava no rádio e Emily tirava uma fornada de bolinhos do forno. 

—Olá Paul, está tudo certo? -Ela questionou enquanto jogava um muffin na direção dele. 

—Mais ou menos. -Ele respondeu depois de engolir um pedaço do doce. -Bella passou mal, colocou o jantar todo pra fora. 

—Será que foi algo que ela comeu? -Emily perguntou se sentando e se servindo de uma xícara de chá. 

—Não sei se algo, mas talvez a quantidade. -Paul respondeu pegando outro muffin. -Ela tem comido que nem doida.

Emily tinha uma ideia se formando em sua mente, mas ela deixaria para falar sobre isso com Bella.

—Você acha que poderia ficar com ela?

—Claro, eu não tenho muito o que fazer por aqui mesmo. -Ela respondeu e Paul sorriu. 

—Você é incrível, Emy. -Ele disse beijando a bochecha dela. -Obrigado pelos muffins.

Emily observou Paul correr pela porta dos fundos e se embrenhar na floresta. Ela suspirou e caminhou até o banheiro, ela abriu a última gaveta e tirou dois testes de gravidez que ela mantinha ali. Poderia ser loucura, mas eram os sintomas não eram? Aumento de apetite,     náuseas e vômito matinal...

Ela colocou os testes em uma sacola, vestiu o casaco e rabiscou um bilhete para Sam, saindo de casa em seguida. Emily chegou rapidamente na casa de Paul e viu Bella dormindo pesadamente enrolada na coberta.

Emily sorriu e foi pra cozinha, ela deixou a sacola na mesa e ligou o rádio, uma música antiga estava tocando. Ela abriu os armários e viu que estavam bem abastecidos, Bella estava mudando a vida de Paul...

Ela conseguiu achar ingredientes para biscoitos e começou a prepara-los, cantarolando a música que tocava.

Ω.Ω.Ω.Ω

Bella se mexeu na cama e abriu os olhos, o cheiro que ela sentia era magnífico e doce, como as tardes de domingo com a mãe.

—A Bella adormecida acordou. -A voz de Emily chegou até seus ouvidos.

—Hey Emy, tudo bem? -Bella disse se sentando.

—Tudo sim e você, está se sentindo melhor? Paul me disse que você passou mal...

—Estou bem, foi só um mal estar. -Ela respondeu se levantando. -Você assou biscoitos?

—Sim, toma um chá comigo? -Emily sorriu.

As duas se sentaram em volta da mesa e Emily serviu uma xícara de chá de camomila para cada uma.

—Sabe Bells, eu estava pensando... -Emily começou casualmente. -Você passou mal, seu apetite tem aumentado, tem alguma chance de você estar... Você sabe, grávida?

—Isso foi só um mal estar, claro que... -Mas então ela parou. Na noite de 24 de dezembro, eles haviam se esquecido do preservativo, mas foi só uma vez, não tinha como... -Deixamos de usar preservativos só uma vez, isso não é possível.

—Toma, vamos acabar com essa dúvida. -Emily entregou os dois testes de gravidez para ela.

—Eu... Eu não sei, Emy. -Bella disse subitamente nervosa.

—Oh, vamos Bells. Eu estou ansiosa pra saber se teremos um novo membro na matilha.

Bella suspirou e foi até o banheiro, ela fez xixi nos dois palitinhos e se sentou na privada para esperar os três minutos necessários. Os minutos pareciam se arrastar e com eles as dúvidas, se ela estivesse grávida, como Paul reagiria? Como seu pai reagiria? Ela conseguiria terminar a escola? O que seus colegas da escola pensariam?

Ela olhou as horas no celular, mais um minuto e ela poderia ver se sua vida iria ou não mudar drasticamente. Ela esperou o minuto passar e se levantou para olhar os testes...

Dois riscos. Positivo. Ela estava grávida. De um pequeno deslize, uma nova vida estava se formando.

—Bella, tudo bem? -A voz de Emily chegou aos seus ouvidos.

Ela abriu a porta e se jogou nos braços de Emily, lágrimas rolando por suas bochechas.

—Hey, parece que deu positivo, então? -Emily disse afagando as costas dela.

—Merda, Emy. -Bella disse se sentando no sofá ao lado de Emily. -Meu pai vai pirar.

—Ele vai entender, Bells. -A garota mais velha disse limpando as lágrimas da bochecha de Bella. -Um bebê, um bebezinho pra matilha mimar e cuidar.

A animação de Emily era tanta, que Bella achou impossível não se animar também. Ela e Paul dariam o primeiro filhote da matilha.

—Posso ligar pras meninas? Elas vão ficar tão feliz... -Emily disse animada.

Bella concordou. Vinte minutos mais tarde, as quatro garotas estavam sentadas no sofá, enroladas em um cobertor, tomando chocolate quente e comendo biscoitos amanteigados.

—Será que o bebê vai se parecer com Bella ou com Paul? -Leah perguntou.

—Quero que tenha os olhos dele. -Bella suspirou ao pensar em um bebê com profundos olhos negros, como os de Paul.

—Eu vou ser a tia mais babona desse mundo inteiro. -Kim disse suspirando. -Ainda mais se for uma menininha.

Bella sorriu, ela amaria aquela criança mais que tudo, mas também ficaria feliz se fosse uma menininha.

A manhã passou rapidamente, Emily concordou em deixar os garotos sem almoço por hoje e preparou sanduíches para o almoço delas.

Por volta das três da tarde, Paul entrou pela porta dos fundos e parou na soleira da porta que dava acesso à sala. Bella, Emily, Leah e Kim dividiam um pote de sorvete de abacaxi, enquanto assistiam um filme.

—Sabe, ainda é inverno, vocês vão ficar gripadas. -Ele disse sorrindo para as quatro garotas.

—Hey Paul. -Kim disse sorrindo. -Que bom que você está por aqui, Bella tem uma novidade pra te contar.

—Novidade é?

—Sim, novidade. -Emily disse se levantando. -Vamos deixar vocês sozinhos pra conversar.

As três garotas vestiram os casacos e as botas e saíram da casa.

—Que novidade você tem pra me contar, Srtª Swan? -Paul disse se sentando ao lado dela e pegando uma grande colherada do sorvete.

Bella não disse nada, apenas se levantou e foi até o banheiro, voltando segundos depois com os dois testes. Ela os entregou para Paul, que observou confuso.

—O que é isso? -Ele ergueu os dois palitos e os observou, não poderia ser o que ele estava pensando, poderia?

—Teste de gravidez, dois testes de gravidez. -Ela respirou fundo e continuou. -Dois testes de gravidez que deram positivo, eu estou grávida Paul.

A reação de Paul foi inesperada. Ele olhou para Bella com um olhar que beirava o desespero.

—Isso é brincadeira né? Esses testes são de uma das meninas, talvez da Emy. -Ele praticamente implorou para Bella dizer que tudo aquilo não passava de uma pegadinha.

Quando ela balançou a cabeça negativamente, Paul se levantou e olhou pra ela. Os olhos dele continham medo, muito medo.

Ele estava divido entre abraçar Bella e dizer que tudo ficaria bem, ou correr pra floresta e se transformar.

—E-eu sinto muito. -Ele disse ao correr pra porta dos fundos.

Ele escolheu a segunda opção, fugir. Se embrenhar na floresta e se esconder.

Ele estava assustado, muito assustado. Lembranças de seu pai o agredindo, sua mãe com o rosto marcado, os gritos de seu pai chegando em casa bêbado... Ele não conseguia parar as lembranças e nem o medo de ser um pai como seu pai havia sido.