As Crônicas de Ainsworth escrita por Fore Project


Capítulo 4
Capítulo 03




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É algo que ele jamais aceitará, não é? — lembrou-se Raleigh, parado em frente as portas da sala. Isso me parece ser um grande pé no saco, mas um acordo é um acordo ­— coçou a parte de trás da cabeça antes de entrar.

Assim que adentrou a sala, a primeira coisa que sentiu foi o total silêncio que recaiu sobre o lugar. Quando ainda estava do lado de fora, ele escutou vozes conversando, mas assim que os olhos preenchidos de desconfiança e hostilidade recaíram sobre ele, o lugar foi tomado por um silêncio mortal.

Raleigh sabia bem, ele conhecia bem. Após todos aqueles anos nos campos de batalha ele já havia se deparado com aqueles mesmos olhos mais vezes do que podia contar. Era isso o que significava perder totalmente sua fé e confiança em alguém ou alguma coisa – olhos obscurecidos por descrença, desconfiança, raiva e ódio. Uma mistura de sentimentos negativos, os quais já houvera testemunhado inúmeras vezes nas faces daqueles que lutavam ao seu lado, assim como daqueles que lutavam do lado oposto.

— Entendo – sorriu com ironia, aceitando toda aquela hostilidade sobre ele. – Uma alma quebrada que jamais irá abrir seu coração para os outros novamente.

Ele os encarou com as mãos nos bolsos de seu casaco.

— Eu admito... Realmente fizeram um ótimo trabalho com vocês, não é? Mas, vocês sabiam? Às vezes, quando se olha muito tempo para uma única direção, você se torna incapaz de ver o que acontece nas direções que deixou de olhar.

Disse enquanto escrevia no quadro negro de forma rápida e ágil, como uma máquina. Ele foi tão veloz que levou menos que três segundos para escrever seu nome completo.

Os alunos começaram a se entreolhar numa tentativa de entender o que ele estava planejando ao dizer aquelas palavras. Alguns cochichavam de maneira que não chegasse aos ouvidos de Raleigh ainda virado para o quadro negro, outros se distraíam com a visão da paisagem do lado de fora da sala, e haviam aqueles que não ousaram tirar seus olhos dele por um único momento.

Três... Não, quatro — observou, ainda de costas para os alunos.

Ele esperava que pelo menos metade daquela turma entendesse o que ele acabou de dizer, mas para sua decepção, apenas quatro deles pareceram ter notado – talvez houvessem mais, já que alguns acentos estavam vagos. Entretanto, isso não quer dizer que a situação tenha mudado.

— Nesse caso, que tal deixarmos uma coisa bem clara. Eu não quero a confiança de vocês, não preciso que abram seus corações pra mim, e não tenho interesse no que pretendem fazer de agora em diante – sua voz era calma, mas ao mesmo tempo... vazia. – Meu único propósito aqui é lhes ensinar e lhes guiar até que decidam por qual caminho desejam percorrer.

Seus olhos estavam preenchidos por uma frieza descomunal que fez com que todos ali sentissem um frio lhes preencher o estômago, juntamente com um arrepio que lhes percorreu pela espinha. Era completamente diferente dos outros que vieram antes. Ele não procurava ganhar a confiança deles, não pretendia tentar se aproximar deles, ele sequer... tinha algum interesse em qualquer um ali.

Quando foi?

Quando foi que eles sentiram tamanha frieza? Talvez nunca tenham sentindo, talvez nem sequer tenham imaginado que alguém como ele pudesse existir. Alguém com olhos desprovidos de qualquer vida... qualquer emoção.

Nem mesmo Charles, que possuía olhos repletos de desinteresse, possui tamanha apatia assim.

Já estavam acostumados a sorrisos falsos cobertos por uma máscara de interesses e segundas intenções que não buscavam ajudá-los, mas sim iludi-los e prejudicá-los com palavras bonitas e falsas promessas. Entretanto, aquilo era algo com o qual ainda não haviam se deparado antes, fazendo com o que o tempo corresse tão lentamente deixando todos ali com expressões receosas no rosto.

Emoções confusas e sentimentos de apreensões preencheram os corações daqueles alunos.

— Certo, por ora, que tal nos apresentarmos e seguirmos com a aula. Até onde eu fui informado, parece que vocês foram muito prejudicados durante esses últimos messes que se passaram.

Ele se dirigiu a mesa do professor que estava no canto da sala, tirou o casaco desgasto e esfarrapado que usava e o pendurou na cadeira. Puxou ela para o centro da sala, a girou e sentou de forma que pudesse apoiar os braços sobre a cabeceira e tivesse uma ampla visão de todos ali. Pegou um cigarro e o colocou na boca, mas não o acendeu, apenas ficou brincando com ele entre os lábios antes que pudesse começar a dizer qualquer coisa.

— Como podem ver, meu nome é Raleigh Rivaille. Podem me chamar da forma que acharem melhor, mas como serei responsável por essa turma de agora em diante, creio que passarão a me chamar de “professor”. Meus passatempos... bom, eu não tenho nenhum atualmente...

— Por que não desiste logo de continuar com isso?

Raleigh ficou em silêncio, observando calmamente a garota que estava de pé e que o havia interrompido.

Seus cabelos vermelhos certamente a destacariam em uma multidão, e assim como os outros, seus olhos cinzas estavam preenchidos por certa hostilidade e descrença. Ela era uma garota bonita, mas a expressão calma em seu rosto parecia que cederia a qualquer momento e explodiria numa fúria sem fim, além da voz forte, que contrariava completamente a imagem de uma bela garota estudiosa e comportada.

— Caso não tenha notado, está bem evidente que ninguém aqui tem interesse nos seus gostos e passatempos.

— Cabelos carmesins, é...? – Raleigh se dirigiu a ela, a observando com os olhos afiados. – Interessante.

Os olhos da garota se arregalaram diante de tal expressão que parecia vasculhar e remexer o fundo de sua alma. Raleigh a observou fixamente com aqueles olhos – parecendo um predador cercando sua presa antes de devorá-la por completo sem qualquer misericórdia.

— Se me lembro bem, não existem mais muitos de vocês hoje em dia, correto?

A cor havia desaparecido do rosto de Evangeline, que agora estava tomada por uma expressão pasma. Um sentimento ruim e desconfortável havia preenchido seu coração de tal maneira que suas mãos começaram a tremer antes mesmo que se desse conta disso. Ela sentiu que desabaria sobre as próprias pernas caso vacilasse um pouco, se esforçando ao máximo para não transparecer o que sentia naquele momento.

Ao ver a expressão no rosto dela, Arthur se irritou. Ele podia não saber ou conhecer bem pelo que ela havia passado ou sofrido antes de se conhecerem naquela academia, mas reconhecia aquela expressão de sofrimento muito bem e se sentiu indignado com o homem que a deixou daquele jeito.

Estava prestes a protestar, mas logo foi interrompido por Raleigh antes que sequer pudesse se levantar.

— Ah, eu realmente lamento por isso. Não era minha intenção ofendê-la.

Raleigh desculpou-se com um sorriso formal que apagou qualquer rastro daquele olhar que havia em rosto até alguns segundos atrás.

Evangeline, após respirar e se acalmar, pretendia lhe dar uma resposta, mas as palavras travaram em sua garganta e ela hesitou. Teve um pressentimento ruim de que se respondesse o que estava pensando naquela hora, ela estaria fazendo exatamente o que Raleigh queria. E então, após recuperar sua compostura, continuou:

— Peço desculpas pela minha falta de educação, mas é que eu não consigo suportar sua voz. Ela parece forçada demais, como alguém tentando impor sua amizade e intimidade para aqueles ao seu redor, não percebendo quando está sendo inconivente e apenas um estorvo – respondeu, tentando irritá-lo, fazendo-o entrar no próprio jogo que esteve fazendo com ela.

— Bom, é algo que vai se acostumar com o tempo já que vamos ter um longo caminho pela frente – respondeu ele, ignorando a tentativa dela de irritá-lo com tal comentário. – Aproveitando a oportunidade já que se ofereceu, vamos começar por você. Diga-me um pouco mais sobre você.

— Eu me recuso. Não vejo motivo algum para ter que dizer alguma coisa ao meu respeito para um estranho.

— Bem, é uma pena – sorriu, sem se importar muito. – Agora, que tal você aí, loirinho? Por que não se apresenta?

— Eu me recuso.

— Certo... E você aí, com o penteado esquisito? Quer tentar?

— Não, eu passo.

— Garota com os olhos fechados. Nada? O carinha com a cara emburrada. Também não?

Raleigh apenas suspirou decepcionado por aquela atitude tão infantil que poderia até mesmo gargalhar do quão estúpida era - e ele gargalhou.

Dado o que sabia sobre eles, já esperava por algo similar, mas ainda tinha certa esperança de que eles fossem um pouco mais maduros e mais inteligentes que aquilo. Ele até mesmo se esforçou para ser paciente o suficiente para não demonstrar o tanto de indiferença que sentia por aquelas crianças ou simplesmente sair da sala após passar algum assunto a eles e os mandar pesquisar as respostas nos livros.

Mas estava errado.

Eles se mostraram exatamente como ele esperava que fossem.

E foi por isso que ele deu um longo e profundo suspiro, esvaindo toda sua irritação e incômodo. Se irritar com uma atitude tão infantil e tola quanto aquela não era algo que valeria a pena, já havia aturado e suportado pessoas piores quando ainda estava no exército imperial. Para ele, aquilo não passava da rebeldia de uma criança.

Isso vai ser bem chato, e eu não estou com muita paciência pra lidar com esse bando de pirralhos. Por isso, vamos tentar algo um pouco mais agressivo e efetivo... – pensou coçando a cabeça.

Ele realmente não queria ter de fazer um percurso maior do que aquele que tinha planejado, além de que, seria muito mais trabalhoso do que tentar fazê-los cooperar – mas no fim, percebeu que não havia outra alternativa. Se aquelas crianças não queriam dar ouvidos ao que ele tinha a dizer, só havia uma maneira de fazê-los entender, e não era da maneira mais agradável.

— Certo, vocês parecerem determinados a não me escutar. Tenho quase certeza de que parecem me negar como pessoa também. Mas eu me pergunto: têm certeza de que querem mesmo fazer isso?

Ele os questionou, fazendo com que o silêncio recaísse sobre a sala mais uma vez.

— Acredito que a situação na qual estão nesse momento não seja uma das melhores. E mesmo que não queriam aceitar, eu posso ser a melhor saída que vocês têm para escapar dela atualmente.

— Nós já lidamos com esse tipo de situação várias vezes antes – respondeu Evangeline. – Uma vez a mais não faria nenhuma diferença. Podemos simplesmente utilizar os livros, exatamente como fizemos esse tempo todo. Não é como se esperássemos algo de alguém que acabou de chegar, para início de conversa.

— Você fala por todos vocês?

Raleigh perguntou a encarando no fundo dos olhos, mas logo concluiu que estavam de acordo ao ver que todos cerraram o punho fortemente antes de acenar positivamente com a cabeça. Um claro sinal de que aquela pergunta os incomodou um pouco, dando a confirmação que ele queria.

— Perguntarei mais uma vez: têm certeza disso? – ele repetiu, ainda a encarando no fundo dos olhos.

— Sim.

Aquela havia sido a resposta final que Evangeline deu antes de se sentar novamente e cruzar os braços, esperando pelo próximo passo que Raleigh faria após ser rejeitado por completo por todos eles. Se ele fosse como os outros que vieram antes, ele tentaria persuadi-los com uma proposta que fosse conveniente para eles naquele momento. Ele tentaria se aproximar deles com um falso sorriso cordial ou então... apenas desistiria. Essas foram as três únicas alternativas que Evangeline previu que ele iria escolher após ser rejeitado de tal maneira.

Mas estava enganada.

Ela se enganou de tal maneira que jamais poderia imaginar. Um erro tão grande que nem mesmo poderia ser cogitado por ela ou pelo resto dos alunos. Raleigh não era nada parecido com os outros que vieram antes dele, então porque ele agiria da mesma maneira que eles? Foi por pensar dessa forma que a garota de cabelos vermelhos cometeu seu maior erro naquela situação desesperadora em que a turma se encontrava.

— Entendido...

Ele fechou os olhos e apenas suspirou.

Um longo e profundo suspiro que o deixou em silencio por alguns instantes.

Em seguida, abriu os olhos calmamente e pronunciou em alto e claro:

— Como professor responsável por essa turma e pelo poder concedido a mim pelo Diretor Aurélio, eu declaro agora que todos vocês estão expulsos.

 

◊◊◊

 

— Estou surpresa – disse Helena, recolhendo seus óculos do chão

À sua frente, havia uma esfera de cristal onde estava refletida a imagem de Raleigh exibindo em tempo real o que ele estava fazendo naquele exato momento. Quando ouviu o que ele acabou de dizer, tudo o que fez foi ficar estática enquanto seus óculos escorregavam por seu nariz e caíam sobre o carpete vermelho que enfeitava o chão da sala.

— Não pensei que ele fosse perder sua paciência tão cedo.

— Não – negou Aurélio, sem desviar sua atenção da esfera. – Dos dois, ele é o mais paciente entre eles.

Lançou seu olhar por sobre a esfera de cristal, encarando a convidada que apreciava seu chá recém servido no sofá de veludo vermelho.

— Você teria expulso todos eles no mesmo instante em que colocasse os pés naquela sala, não é mesmo?

Ela não se deu o trabalho de lhe responder, já que não havia necessidade de uma resposta para aquela pergunta.

— Então o senhor já esperava por algo assim?

— Eu tinha um palpite.

Helena esperava por uma resposta mais explicativa, mas logo percebeu que o diretor não parecia ter interesse ou vontade alguma de explicar a ela. Ele não parecia estar preocupado com a confusão que ela demonstrava em seu rosto, estava mais atencioso ao que se passava na esfera.

— Ele pretende mesmo expulsar esses alunos? –  questionou ela depois de aceitar que não receberia uma resposta explicativa. – Ele tem autoridade suficiente para algo assim?

— Digamos que no momento, sim. Como concordamos mais cedo, ele faria isso do jeito que achasse melhor – Aurélio sorriu. – É exatamente por isso que não irei interferir. Quero ver o que ele pretende fazer para lidar com essas crianças, cujos corações se trancaram para os outros.

Embora houvesse dito aquilo, Aurélio não conseguiu esconder a expressão que estava estampada em seu rosto naquele momento. Seus lábios se curvaram num sorriso sorrateiro, os olhos ganharam um brilho obscuro e tenebroso, exatamente como se estivesse... se divertindo com aquilo.

Helena engoliu em seco.

Para alguém que mantinha um sorriso enigmático e agia como se soubesse de tudo o tempo todo, Aurélio vezes ou outras mostrava uma expressão vazia – entediada, como se não houvesse qualquer coisa no mundo que pudesse lhe providenciar algum divertimento ou excitação. Exibir tal expressão diante de uma situação como aquela foi algo que Helena presenciou pela primeira vez mesmo após passar quase o tempo todo ao seu lado.

— Essa expressão de apreciação pela desgraça alheia continua tão repugnante como sempre – comentou a convidada, colocando a xícara no pires sobre a mesa. – Vejo que ainda continua com esse péssimo gosto de manipular as pessoas para fazerem o que você quer.

— Bem, para alguém que não possui qualquer interesse nas pessoas e odeia multidões, você falou bastante sobre ele quando o indicou ao cargo – rebateu Aurélio, cruzando as mãos em frente ao rosto. – Por acaso se apegou a ele? – sorriu com ironia. – Ele o lembra o Hans, Corona?

A mulher de longos cabelos acajus e vestido negro lhe lançou um olhar afiado, mesmo sua expressão calma se mantendo completamente inalterada. Helena não conseguiu notar um único traço de irritação naquele rosto, mas a intenção assassina que seus olhos eram capazes de transmitir a fizeram ter dificuldades para respirar em meio àquela enorme pressão que havia surgido no ar.

— Aurélio, diferente daquele pirralho, eu não dou a mínima para as consequências de meus atos. Isso significa que nada me impedirá de arrancar esses olhos de raposa traiçoeira da sua cara se tentar me provocar ainda mais – o ameaçou.

— Está bem, está bem. Eu sinto muito por isso, não era minha intenção ofendê-la – desculpou-se ele, mas não havia um único traço de sinceridade ou arrependimento em sua voz. – Vamos deixar as brincadeiras de lado e ir ao que realmente interessa.

De repente, foi o ar em volta do homem que mudou completamente, ele agora tinha uma expressão séria e rígida. O fato de Corona estar ali só podia significar uma única coisa: o resultado que ele menos desejava escutar. Mas era exatamente por ela estar ali que ele pôde confirmar todas as suspeitas que tinha até então, finalmente podendo dar prosseguimento aos planos de contingência que havia formulado e todas as estratégias que preparou antecipadamente.

— Eles são uma pequena organização secreta nas sombras do submundo – começou ela, pegando a xícara com chá e observando o seu conteúdo. – Seus membros são o pior tipo que a humanidade tem a oferecer. Todos eles possuem a tatuagem de uma cobra devorando a própria cauda com um número no centro na mão direita e costumam andar em duplas.

Helena achou que Corona fosse terminar de beber seu chá, mas ela apenas continuou a observar o líquido vermelho na xícara enquanto informava o que havia conseguido durante o tempo que ficou investigando sobre uma certa organização que conseguiu chamar a atenção de Aurélio nos últimos meses.

— Mesmo após vasculhar profundamente nas entranhas do submundo, são poucos aqueles que possuem algum conhecimento sobre eles, e são menos ainda aqueles que têm qualquer informação relevante. Mas todos eles sempre diziam a mesma coisa sobre essa organização... São todos caçadores de recompensas que quando marcam um alvo, estão dispostos a ir até o fim.

— Caçadores de recompensas, é? – Aurélio sorriu secamente. – É uma função bem presunçosa para uma organização pequena.

— Seus membros são bastante leais e não entregam os companheiros ou revelam qualquer coisa mesmo sob forte tortura.

— Então você conseguiu capturar um deles?

— Sim. Infelizmente ele não disse uma única palavra que traísse os outros até o fim – Corona segurou a orelha da xícara com firmeza, parecendo indignada e frustrada.

— Se nem mesmo você conseguiu arrancar alguma coisa de um deles, isso significa que são extremamente leais.

— A lealdade deles não é o maior problema – ela rebateu de imediato. – São as habilidades.

— Habilidades?

— Um deles usava miniaturas de papel explosivo como arma, enquanto o outro usava um violino. Magos mais experientes diriam que aquelas armas mágicas não eram capazes de causar algum estrago significativo ou, talvez, que as habilidades fossem fracas.

— E o que você diz?

— O que usava as miniaturas de papel podia controlar a força da explosão de acordo com a vontade. Enquanto o que usava o violino podia tocar melodias que manipulavam a mente dos outros fazendo com que se atacassem até a morte.

Ela esperava que houvesse percas na batalha, mas não esperava que fosse ser uma perca tão grande assim. O pior de tudo era o fato de todos serem especialmente escolhidos e selecionados pela própria e, ainda assim, quase não tiveram chance alguma. Não fosse o bastante ter perdido toda sua unidade durante o confronto, muitas pessoas inocentes foram envolvidas e ela foi obrigada a presenciar um massacre sem poder fazer nada para impedir.

— Embora eu tenha conseguido capturar o usuário que manipulava o som, eu perdi toda a unidade que havia levado comigo, inocentes foram envolvidos e uma vila foi completamente destruída. Foi um sacrifício grande demais para algo tão pequeno.

O motivo pelo qual estava frustrada e se arrependia profundamente foi por sua completa impotência. Mesmo enfrentando apenas duas pessoas, seus companheiros tiveram de sacrificar a própria vida para que pudessem lhe dar uma chance de vencer.

— Quando eu o julguei por ser apenas um pirralho covarde, eu não podia imaginar como ele se sentiu ao enfrentar um inimigo daquele nível.

Corona lançou seu olhar para a esfera onde a imagem estática de Raleigh se mantinha.

— Agora eu entendo, ele viu o próprio inferno – confessou, com certo arrependimento em sua voz. – Espero que um dia ele possa me perdoar...

— E como devemos prosseguir agora que suas suspeitas foram confirmadas? – perguntou Helena ao diretor.

— Continuaremos investigando, mas evitaremos nos envolver demais dessa vez – respondeu ele olhando para a bolsa de couro que Helena trouxe mais cedo. – Não há sentindo algum em continuar sacrificando vidas desnecessariamente quando não temos noção do poder ou armas que o inimigo possui.

— E quanto aquela princesa mimada? – questionou Corona

Ela ainda continuava olhando fixamente para o conteúdo de sua xícara de chá. Ela tinha uma expressão apática em seu belo rosto, aparentando estar profundamente perdida em seus próprios pensamentos.

— Ela é uma peça fundamental – Aurélio sorriu, olhando a imagem estática de Raleigh na esfera. – Vamos deixar ela se mover livremente por enquanto, já que a partir de agora ela será um fator decisivo para que ele decida agir por vontade própria.


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