Emma não entendia por que aquilo a incomodava tanto.

Ela não sabia nem como ou quando tinha passado a perceber e se incomodar com aquele tipo de coisa.

Só sabia que toda vez que Ray tocava na cabeça das outras crianças, em um sinal de carinho, algo que sempre fazia com ela — algo que ela pensava que ele fazia só com ela, aliás —, Emma ficava extremamente incomodada.

Não tinha nada demais naquele ato.

Ele só acariciava o topo da cabeça dos menores e sorria quando estavam conversando ou quando simplesmente passavam por ele.

Mas Emma nunca tinha reparado isso antes e agora não entendia por que tinha começado a notar e a se sentir irritada com isso.

Certo, ela pensava que era uma coisa só deles.

Ela pensava que ele fazia aquilo só com ela, porque ele era seu melhor amigo, seu Ray.

E que aquilo era algo deles.

Mas pelo visto não.

Ah, ela era tão boba por pensar aquelas coisas.

— Qual o problema, Emma? — Ray perguntou certa noite, quando todos tinham ido dormir e Norman já tinha se afastado para resolver algum assunto sério que só Norman seria capaz de resolver.

Pelo menos Ray não tocava na cabeça de Norman também.

Mas esse pensamento em nada aliviou a irritação de Emma.

— Não tem problema nenhum. — Ela respondeu, forçando um sorriso.

Ray ergueu a sobrancelha, claramente não acreditando.

Emma suspirou. Nunca adiantava mentir para ele, Ray sempre sentia quando tinha alguma coisa errada com ela.

— Por que você acaricia a cabeça dos outros também? Achei que só fazia isso comigo! — Confessou então, fazendo um beicinho, irritada.

Era nítida a expressão de surpresa no rosto de Ray ao ouvir sua reclamação.

Ele sabia que ela tinha algum problema, mas não fazia ideia que o problema era ele. Que era aquilo.

E então, depois da reação inicial de surpresa, o garoto abaixou a cabeça, rindo.

— É com isso que você tá preocupada?

E Emma não gostou nada disso.

— Ah, deixa pra lá! — Ela exclamou, virando de costas e se afastando dele.

Mas não foi longe o bastante, parando de andar quando sentiu a mão do garoto no topo de sua cabeça.

— Se você quiser… eu paro de fazer isso com os outros — Ray murmurou, agradecendo pela garota estar de costas e não ver seu rosto levemente avermelhado.

Ele não entendia muito bem o motivo dela se sentir incomodada, mas não é como se precisava entender.

No fim das contas, Ray sempre faria tudo o que ela quisesse, mesmo que fosse estranho.

— Eles gostam de você, não posso pedir isso — Emma respondeu, virando-se para ele, mas sem encará-lo nos olhos — Eu só… me sinto incomodada, nem eu sei o motivo, tá legal?

Ray deu um longo suspiro, abaixando a mão da cabeça da garota e segurando sua mão, puxando-a para mais perto dele, a envolvendo em um abraço meio desajeitado, mas ainda assim um abraço que Emma correspondeu lentamente, surpresa.

— Ray…?

— Pronto — Ele disse, ainda sem se separar dela — Isso eu só vou fazer com você. Tá bom assim?

Emma ficou ainda mais surpresa com a fala dele, mas por fim afundando o rosto na curvatura do pescoço de Ray, sorrindo de leve.

— Sim, tá perfeito.