Deep End escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 46
Se abrindo




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P.O.V. Kelly.

Eu fui no apartamento dela e ela abriu a porta.

—Oi.

—Oi.

—Entra ai.

Eu entrei e o apartamento era bastante luxuoso, com piso de mármore, estantes de madeira rebuscada cheias de livros antigos que se misturavam com livros de história recentemente publicados, o laptop na mesa, um lindo lustre de cristal. O apartamento era como um mini-palácio.

—Posso te oferecer alguma coisa?

—Não, estou bem.

—Pode sentar se quiser.

Estávamos claramente os dois nervosos.

—Obrigado por me ajudar. Me levar ao hospital, fazer sair tudo de graça.

—De nada, era o mínimo que eu podia fazer. Você saiu do nada, literalmente.

Ela serviu uma dose de uísque e começou a beber.

—Você quer?

—Estou tomando remédio.

—Desculpe. Meu pai me falou disso uma vez, mas nunca entendi o que ele queria dizer até conhecer você.

—O que quer dizer?

Hope virou a bebida e serviu mais.

—Você acha que ser vampiro é bom, imortalidade, a força, a velocidade, mas nem tudo são flores. As emoções ampliadas, a fome e eu tenho um temperamento de lobisomem para vir com o meu super apetite. Ser parte lobisomem torna a fome pior. A raiva, a dor, o luto, a culpa... estão me comendo viva. Eu sempre fui ensinada a como manter o controle, mas está ficando pior desde que eu voltei do Malivore. 

Ela ficava andando em volta como uma leoa presa numa gaiola. Ai ela sentou no sofá.

—Verdade seja dita, nunca aprendi a manter o controle direito. Não sozinha e eu nunca me importei muito com isso. Minha mãe ficava brava comigo, dizendo que eu era melhor do que... Isso. Que eu conseguia. Que eu podia.

—Mas, agora você se importa?

—Sim. Meu pai me disse isso uma vez, mas eu nunca, nunca entendi até conhecer você. Me lembro das palavra dele, estão tocando na minha cabeça até agora. Ele disse: Machucando aqueles que amamos, quer queiramos ou não, é só o que nós fazemos. É o que nós somos.

Disse chorando.

—Eu quero que saiba que eu sinto muito. Quando eu vi que... tinha... quando eu vi você cair, senti o cheiro do seu sangue... eu nunca na minha vida senti tanto desespero. Eu não queria ferir você, foi idiota da minha parte, sou uma hipócrita. Porque eu sou mais monstro do que Millie Harris jamais vai ser. Eu matei pessoas. Sou uma assassina. O povo do bar? Os motoqueiros, traficantes, bandidos, membros de gangues... eu disse pra mim mesma que estava fazendo aquilo porque eles eram maus, mas não era verdade. Estava fazendo porque eu tava puta! Porque eu tava com sede, porque eu podia! Porque eu sou uma Predadora Alfa.

É, eu me lembro disso.

—Eu fiz porque eu queria ferir alguém, queria fazer alguém sofrer como eu, gostei de ouvir eles gritando. Implorando e rastejando. Não sou digna de alguém como você. Porque lá no fundo, eu acho sempre soube que eu era um monstro. 

—Você não é um monstro. E eu matei pessoas também. Sou um caçador. Eu caço Wesen que matam humanos. E você não tem nada a ver com a Millie, absolutamente nada. Seu pai falou isso pra sua mãe uma vez, eu ouvi e ele tinha razão. Você tem esses olhos que podem ver a bondade em alguém por debaixo de toda a porcaria. Vinte por cento anjo, noventa por cento demônio. Uma mulher que não tem medo de sujar as mãos de vez em quando, de ter um pouco de sangue embaixo das unhas.

Disse me aproximando lentamente dela.

—Você podia ter matado a Millie, mas não matou. Podia ter me deixado pra morrer, mas me carregou até o hospital mais próximo, correu vinte quilômetros em dez minutos, fez os médicos cuidarem de mim, de graça. Se a Millie estivesse no seu lugar, duvido que teria feito aquilo. Isso é porque, a Millie Harris, não é a Hope Volturi. Nem de longe.

Eu a beijei. Finalmente a beijei. E ela era intensa. Voraz.

Praticamente pulou encima de mim. Mas, ai ela se segurou.

—Sinto muito. Eu... eu acho que... me empolguei. Está bem? Está machucado?

—Não. Quer sair pra tomar um café?

—Eu... eu não posso tomar café. Mas, tem uma loja de Milk-Shake no fim da rua. Inaugurou antes de ontem, eu soube.

—Então, quer tomar Milk-Shake?

—Tá. Posso lavar o meu rosto e fazer maquiagem?

—Pode.

—Eu não vou demorar, prometo.

E ela realmente não demorou.

P.O.V. Hope.

Lavei meu rosto, respirei fundo. Fiz uma maquiagem bem leve. Sombra iluminadora e brilho labial, penteei meu cabelo, concertei meu penteado, passei mais desodorante e um pouco de perfume.

—Pareço apresentável?

—Parece ótima.

Nós fomos até o estacionamento do prédio.

—Porque estamos no estacionamento?

—Para pegar o meu carro.

—Mas, o restaurante é no fim da rua. Podemos andar até lá. Não são vinte quilômetros. Á menos que você não consiga ou não possa.

—Pensei que ficaria mais confortável no carro. 

—Vamos andar. Não teletransportar, andar.

—Andar está bom.

Nós andamos até a lanchonete no fim da rua. Pegamos uma mesa e ela olhou o cardápio por cinco segundos até decidir o que queria.

—Já escolheu?

—Já. Isso pode te chocar um pouco.

—Isso o que?

Ela pediu três milk-shakes grandes, um de chocolate, um de morango e um de explosão de pasta de amendoim com chantili no fundo. E, cara ela bebeu tudo. Até o fim!

—Caramba!

—Fome e necessidade insaciáveis.

—Eu vi os pinturas na sua casa. Os quadros. Você pintou?

—Pintei. Pintar é uma metáfora pra controle, um jeito de extravasar sem matar ou torturar ou sedar.

—Sedar?

—Tenho um poder que herdei do meu pai. É uma névoa que te causa a ilusão de estar cego, surdo e sem tato, mas você está ciente de estar totalmente indefeso.

Falou ela e eu respondi mais para mim mesmo do que pra ela:

—Como qualquer pessoa comum.

Então falei:

—Mas, eu vi a pintura da garotinha sozinha olhando para o luar. 

—Viu a minha alma negra e profunda?

—Eu vi o quanto é perturbada e talvez, eu possa me identificar.

—Você é a pessoa mais calma, mais centrada, mais controlada e boazinha que eu já conheci. E eu sou tudo... menos isso. Sou impulsiva, esquentada, explosiva, chorona, carente, quebrada em milhão de pedaços e provavelmente um pouco louca.

—Gostei do provavelmente.

—Isso vai soar muita loucura e vai remover o provavelmente da equação. Mas, gosto de ficar perto de você. Me deixa calma. Me ajuda a não pensar em certas coisas e a não ouvir o que os outros pensam.

—Você não deveria ligar muito para o que os outros pensam.

—Eu não disse ligar, eu disse ouvir. Posso ouvir os pensamentos de todos os indivíduos deste recinto. Menos você. Acho que você é um escudo.

—Um escudo?

—Dons puramente defensivos são chamados de escudos. Eu sou um e a minha vó e a minha mãe era. Herdei da minha mãe, que herdou da minha vó. Disse ela... casualmente.

—Ouve os pensamentos de todos menos os meus?!

—E os da minha vó, mas o efeito Kelly não funciona quando estou perto da minha vó.

Efeito Kelly?

—Efeito Kelly? O que é o efeito Kelly?

—Não sei explicar direito. Me faz ser menos.... monstro. Eu esqueço que sou uma aberração/ show de horrores Tribrido quando estou perto de você. Nem preciso me esforçar para não ouvir os outros. É como um botão de desliga. E eu devia pedir outra coisa, para eu comer e assim sou obrigada a parar de falar.

Eu ri.

—Você quer parar de falar?

—Quero. Quando eu fico nervosa, eu falo muito. Falo muita besteira.

—Então, eu te deixo nervosa?

As bochechas dela ficaram rosa. E ela ficou tamborilando com as unhas na mesa.

—Vou tomar o seu silêncio como um sim.

O cabelo dela estava sempre arrumado, mas parecia não estar exatamente no lugar. Sempre haviam alguns fios soltos, uns fios rebeldes, isso dava a ela uma aparência meio selvagem, mas sexy. Não como a Millie que estava sempre com o cabelo perfeitamente liso chapinado, bem penteado, se saísse um fio fora do lugar ela já surtava. Hope usa jaquetas de couro, botas de cano curto, salto quadrado, ás vezes coturnos. A Millie só usava roupa de marca, salto alto fino e acabava sempre no fim do dia com o sapato na mão, reclamando de como os pés estavam doendo.

—Acho que devemos voltar. Tá ficando tarde.

—Tudo bem.

Millie demorava para se arrumar, quando combinávamos de sair ás dez, eu chegava á meia noite e ainda ficava plantado esperando.

Não que as roupas de Hope não combinem, elas combinam, mas não é o exagero que a Millie era.

Então, notei que já era noite e era lua cheia.

—Lua cheia. Devo me preocupar?

—Eu fico mais estressada sim, mas eu sou uma híbrida. Tenho sangue de vampiro então eu consigo controlar quando eu mudo. Só híbridos podem fazer isso. Posso me transformar no meio do dia se eu quiser.

—E como é?

—Doloroso. No dia em que meu pai descobriu que eu existia e visse versa, eu ativei a minha maldição.

—Maldição?

—É como a maldição do lobisomem funciona. Não é ativada até o portador do gene tirar uma vida humana. Porque a bruxa que criou a maldição a empoderou com a energia de sua própria morte.

—Você matou alguém quando conheceu seu pai?

—Era um passeio da escola, fomos visitar o Castelo de São Marcus e os Volturi começaram a se alimentar dos meus colegas, tentaram se alimentar de mim e minha magia foi destrancada naquele momento, as memórias que minha mãe tinha suprimido voltaram. Sobre eu ser vampira, ser lobisomem e bruxa. E eu tentei me defender. Eu estava mirando no Dimitre, mas ele desviou, o feitiço acertou a Melissa e ai ela... morreu.

—Sinto muito.

—Eu também. Então, você dirige um Camaro? Estou impressionada e feliz que é um Camaro preto e não um amarelo.

—Não gosta de amarelo?

—Eu não vejo o mundo como você. Você acha que o arco-íris tem sete cores, mas na verdade tem oito. Cores vibrantes causam uma espécie de sobrecarga sensorial. Se causam estresse num ser humano, num lobisomem é pior, vampiros não se incomodam tanto, eles são mais... frios.

Nós rimos.

—E além do mais, um Camaro Amarelo é o cúmulo do brega. Não que eu não goste do Transformer. Eu o adoro, ele é uma graça e hilário.

—Você gosta de Transformers?

—Gosto. O primeiro e o segundo, depois eu meio que enjoei. Velozes e Furiosos eu assisti até o sete eu acho, depois eu enjoei.

—Gosta de carros?!

—Minha mãe namorou um mecânico quando eu era criança. O nome dele era Declan.

—Era?

—Ele não morreu, eles só terminaram. Não podíamos ficar em um lugar só por muito tempo. Sabe, ela era... imortal e eu era... bem, eu era normal naquela época. Eu não sabia, mas minha mãe estava me escondendo do Aro, dos Volturi. Por isso ela suprimiu meus poderes e apagou minhas memórias. Queria me manter segura, que eu pudesse viver sem medo.

—Você sente falta dela não sente?

—Sim. Alguns dias são melhores do que outros.

—Sei o que quer dizer. Perdi a minha mãe também.

—Lamento. Você parece com ela?

—Não exatamente. Diana parece mais com ela do que eu.

—Papo leve. Super legal para um primeiro encontro.

—Encontro?

—Á menos que não seja um encontro e eu tenha estragado. Clássico eu.

—Pode ser um encontro. Eu quero que seja um encontro.

—Sério?

—Sério.

P.O.V. Hope.

Ele me convidou á entrar no seu apartamento.

—Não. Eu não vou transar com você ainda e especialmente não na lua cheia.

—Eu não disse nada sobre transar.

—Nem precisava. Mas, acho que você devia entrar nessa de olhos bem abertos. Não quero te enganar.

—Que tal uma bebida? Eu tenho uísque.

—Isso ajudaria muito.

Eu entrei e ele me serviu um copo. Fiquei olhando a cara que ele fazia, não precisava ler a mente dele para saber o que estava pensando.

—Apenas pergunte.

—Como consegue beber tanto?

—É muito raro eu ficar bêbada. O fator sobrenatural de cura pode ser uma merda de vez em quando. Mas, o álcool, as porcarias, ajudam com os desejos.

—Desejos?

—Sabe, a vontade de pular no seu pescoço e te drenar até a morte? Porque, pode crer que ela é real. Existe.

Coitado, ele ficou pálido.

—Não estou tentando te assustar. Só quero que saiba que eu sou o que eu sou. Agora e para sempre. Eu sou uma predadora. Que se alimenta de sangue e tem um mau temperamento. Não se engane, nós somos criaturas predatórias. Vampiros são atraídos pelo cheiro do sangue, pela matança, lobisomens não podem se controlar no seu estado primal e bruxas... bruxas quando provocadas? Foram responsáveis por algumas das piores atrocidades da história.

P.O.V. Kelly.

É. Desta vez eu me superei. Ela é "A Encrenqueira."

—Choquei você, lindinho? Não, sério... você é muito lindo. 

Ela começou a se aproximar.

—Olhos azuis, adoro olhos azuis. Azul é uma cor maravilhosa.

—É?

—É.

Então, ela se refreou e meio que pirou.

—Tá. Hormônios de lobisomem. Ruim. Eu tenho que sair daqui antes que acabe transando com você e te matando no processo, isso seria... muito ruim. Tchau Kelly, boa noite.

Ela saiu correndo e meio que bateu a porta na minha cara.

—Tchau Hope, boa noite. Bem, ninguém é perfeito.

P.O.V. Hope.

Que primeiro encontro doido! Foi... esquisito e um fiasco! Nem consegui dar um beijo de boa noite nele. Cara, ele é ótimo em beijar. Eu quero muito transar com ele. Loucamente.

—Para Hope. Para! Pense em coelhinhos e músicas infantis. Coisas não excitantes. Oh, uma fantasia de coelhinha da Playboy. Eu ficaria linda numa daquelas. Para Hope!

É. É realmente noite de lua cheia. Os meus sentidos estão indo á loucura!


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