Deep End escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 31
Sibéria


Notas iniciais do capítulo

https://youtu.be/Q0cXdixe_Jc-Genevieve e Henry.



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P.O.V. Bozer.

Nós temos gelo e neve e vento e mais gelo!

—Estou congelando! Não sinto os dedos dos pés!

—Pare de reclamar.

Então fomos atacados. Pela vó maluca da Hope.

E fomos salvos por uma Hope.

P.O.V. MacGyver.

A última coisa da qual eu me lembro é uma briga de bruxa. Magia voando pra tudo o que é lado e agora...

—O que houve?

—Você está num hospital. Sabe, aquele lugar com os médicos e as drogas?

—Hope. Ainda está viva.

—É. Eu sou um vaso muito ruim.

—Estamos na Sibéria?

—É. Mas, o Henry sumiu. Acho que minha vó pegou ele.

P.O.V. Henry.

Estou acorrentado. Minhas mãos estão acorrentadas. E estou em um Castelo? Um Castelo com certeza. Mas, está em ruínas, tem teias de aranha por todos os lados. Velas acesas em candelabros e uma mesa, uma mesa comprida de madeira. Uma távola.

Cheia de pratos e comida.

—Aqui, coma.

—Você é a vó da Hope. Genevieve.

—Sou. Coma, comida sempre me faz sentir melhor. Ou será que você prefere frango ao invés de porco?

—Porque está fazendo isso?

—Deve comer ou vai desaparecer. Ou desmaiar.

—Você é maluca.

—Eu pensei que isso seria agradável. Imagino que esteja com fome. Após passar dias perambulando por esta paisagem inóspita. Eu sei que eu estaria. Passar dias trancada numa cela, sozinha e faminta. E com frio. Com bolas de ferro nos pés e correntes nas mãos. Você pode se mover, pode ver, pode comer.

—Você espera que eu seja grato por você ter me sequestrado?

—Eu sofri também, garoto. Mais do que você pode começar a imaginar. Passei dois anos vivendo na escuridão, numa masmorra, com bolas de ferro amarradas nos pés, correntes nas mãos, sem comida ou água. Sendo açoitada, torturada. E depois mais dois anos acorrentada ao fundo de uma ravina! Dentro dum poço que parecia não ter fundo.

Fiquei chocado.

—Você não sabia? Eu teria realmente vendido a minha alma á alguém que me demonstrasse gentileza como esta. Mas, se quiser que eu te leve para as masmorras e te deixe para apodrecer... é com você.

Decidi botar meu treinamento para funcionar. Jogar o jogo dela.

—Mas, isso foi a mil anos atrás.

—Para mim foi ontem. Eu fui dormir e quando acordei, mil duzentos e vinte e sete anos haviam se passado. Eu tinha uma neta e minha filha estava morta. Assassinada pela sua gente. Quando minha filha foi tirada de mim, a minha única filha! Bem, você não consegue imaginar a dor á menos que tenha perdido um filho. Eu preferiria apodrecer, para sempre com fome e com frio no fundo de uma ravina do que permitir que alguém causasse algum dano aos meus filhos. Eu os alimentei do meu próprio seio, cuidei deles. Protegi eles. Mas, eu entendo. 

—Sério?

—A maior honra para uma bruxa. É trazer novos bruxinhos e bruxinhas para este mundo. Perpetuar a linhagem, ensiná-los a fazer feitiços. Eu entendo o seu medo. Meus gêmeos sempre foram difíceis. Teimosos como o inferno. Mesmo quando nasceram, eu fiquei em trabalho de parto por um dia e meio para trazê-los para este mundo. Eu gritei tão alto que tinha certeza de que os nobres que viviam nesta palácio podiam me ouvir.

—Onde estamos exatamente?

—Num lugar que existia muito antes de mim e muito antes de você. Deve pensar que sou um monstro. Talvez. Mas, nem sempre fui tão monstruosa. Já fui como Hope uma vez. Jovem e tola em pensar que os humanos seriam capazes de me aceitar. Eu era parteira. Trouxe crianças humanas para este mundo. Muitas delas. Inclusive as crianças nojentas que espancaram a minha filha no bosque, que a arrastaram e os aldeões asquerosos que condenaram as minhas crianças á queimar. Vê? Eu me lembro do quão grata Elisa ficou quando consegui salvar o seu filho. Elijah. Elijah MacCarty. Fedelho infeliz!

MacCarty. Como eu.

—Então isso é vingança?

—Eu pessoalmente nunca amei o meu marido. Ele era um homem bruto e com o gene de lobisomem, vem agressão e violência. Eu nunca amei Percival. Mas, eu amei os filhos dele. Meus filhos. E aprendi do jeito difícil que não deveria amar ninguém além dos meus filhos. Minha família. Neste quesito uma mãe não tem escolha.

Duma forma eu sentia pena dela. Realmente não consigo nem imaginar o que ela passou. Ser mantida em cativeiro sem comida, sem água, acorrentada numa masmorra de pedra gelada. Ser submetida a tortura e estuprada, espancada. Assassinada.

—Mas, porque querer me matar?

—Não estou fazendo isso por você. Vê, minha neta é uma alminha tão bondosa, tão inocente e pura. Ela acredita que você e seu irmão e o seu povo um dia vão nos aceitar. Vão ser gratos, vão deixar de nos ferir. E ela te ama e o seu irmão também. Doce e inocente garotinha. Não ame ninguém além dos seus filhos, quando você ama alguém, vai fazer coisas por eles que sabe que não deveria fazer. Vai fingir-se de tola, fazer vista grossa para fazê-los felizes, para mantê-los á salvo. Vai cometer atrocidades para protegê-los.

Eu acabei comendo e não havia nada além de comida naquilo.

—Onde estamos?

—Num Castelo. Eu era criada neste lugar. Esvaziava penicos, lavava pratos, fazia camas, cozinhava, vestia uma Lady.

—Já pensou em fazer terapia?

—O que é terapia?

Certo. Ela não sabe o que é. Expliquei pra ela.

—Soa estranho.

P.O.V. Hope.

Meus feitiços de rastreio não funcionam direito. Mas nos trouxe para a Inglaterra. Bem no meio de quatrocentos e cinquenta acres de floresta. Subindo uma montanha.

—Uau! É enorme.

—É. Já estamos chegando ao topo.

—O que? Eu tava falando do Castelo.

—Que Castelo?

—Deve ser algum tipo de feitiço de ocultação. Eu posso ver o feitiço e posso ver o que está por baixo. Vamos, estamos quase lá.

P.O.V. Henry.

Ela me contou praticamente toda a vida dela.

—Você quer que eu acredite que matou trezentas e trinta e três pessoas porque ama sua filha?

—Sim. Eu nunca conheci minha mãe, ela morreu dando á luz á mim. Eu nunca tive uma mãe, mas Jane teve. Ela é a minha favorita. Ela sempre foi a minha favorita. Eu sei, eu sei. Não deveríamos ter favoritos, mas ainda assim... nós amamos quem amamos.

Eu podia entender de onde essa... loucura veio. A paranoia, o ódio que ela tinha para com humanos. E de um jeito deturpado ela realmente queria proteger a Hope.


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