A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 8
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Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um!! E então? Como vocês estão? Como falei, a semana foi bem corrida, mas já estou de volta com outro capítulo! Os leitores que estavam ansiosos por momentos do casal mais amado de Nárnia podem ficar felizes, pois teremos Suspian!!
Boa leitura!



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No dia seguinte...

Pedro Pevensie

Apesar de o mensageiro do rei Naim ter avisado que sua comitiva se aproximava, quem chegou primeiro foi a corte do duque de Galma. O homem, segundo Caspian, era um senhor de meia idade bastante enérgico que fizera questão de oferecer um torneio em sua honra quando viajavam no Peregrino da Alvorada. Ele nos avisou que o duque tentaria nos empurrar sua filha em matrimônio, embora a garota detestasse a situação. É, não escolhemos os nossos pais. Eu ficaria grato de ter os meus vivos.

— Vossa Majestade! – O duque exclamou quando passou os portões do castelo, o sorriso largo cercado por uma longa barba grisalha.

— Lorde Macrino – Caspian esperou que o duque fizesse sua exagerada reverência – Não nos vemos desde o torneio.

— E que torneio! – Macrino exclamou – Galma nunca vibrou tanto!

— Deixei-me apresentar – Caspian virou-se para a estrela, que segurava seu braço – Esta é Liliandil, minha noiva – O duque tentou disfarçar a decepção ao ver que ele não estava mais solteiro, mas não conseguiu. Caspian e Liliandil abriram espaço para mim e meus irmãos – Já deve ter ouvido as histórias dos grandes reis e rainhas do passado.

O duque pensou um pouco enquanto nos encarava, até assumiu um semblante extremamente surpreso.

— É uma honra estar diante de verdadeiras lendas! – Ele nos fez outra reverência e Susana segurou um riso ao meu lado. Eu comprimi os lábios para não cair na tentação por causa dela.

— Sou o rei Pedro, o Magnífico – Apresentei-me – E estes são Edmundo, o Justo; Lúcia, a destemida e Susana, a gentil.

— Você não larga o título, não é? – Susana murmurou para mim.

— Tão quanto ou mais bela quanto nas lendas! – O duque estendeu a mão a Susana para beijá-la. Não gostei do jeito que ele a olhou. Susana escondeu o desconforto com educação, mas recusou-se a deixar que a beijasse.

Macrino pigarreou.

— Bem, deixe que eu também faça as apresentações – Ele abriu espaço para duas mulheres e dois rapazes. – Esta é minha adorável esposa, a duquesa Herênia. – A mulher fez uma reverência mais discreta que a do marido bajulador – E estes três são meus filhos: Maximino, meu primogênito; Licínia, a segunda mais velha e Dídio, o mais moço.

Os três eram parecidos com o duque, apesar dos cabelos ruivos serem da mãe. O mais velho era o de maior harmonia facial. A garota tinha olhos muito próximos e tantas sardas que nem a maquiagem exagerada era capaz de apagá-las. Já o tal Dídio era um tanto desengonçado, talvez por conta do biotipo magro demais.

— É um prazer revê-los – Caspian disse. Eu sabia que cinco anos já tinham se passado em Nárnia desde que eu o tinha visto, mas era estranho vê-lo falar e se comportar tão formalmente. Ele adquirira muita segurança, apesar do pouco tempo de governo. Isso me fazia realmente acreditar que ele estava no lugar certo: no trono de Nárnia. – Bem, há aposentos preparados para todos. O doutor Cornelius irá guiá-los pelas dependências do castelo.

A comitiva de Galma não era tão grande, afinal era apenas um ducado, então logo passaram pela entrada e seguiram castelo adentro.

— Que desconfortável – Susana relaxou os ombros ao falar.

Virei-me para Caspian.

— Como suportou passar uma semana no palácio desse cara? – Perguntei e ele sorriu de imediato.

— Do mesmo jeito que suportei ele barganhar a filha como uma tapeçaria. Viu o jeito que ele olhou para sua irmã?

— Com a esposa do lado— Lúcia acrescentou.

Encarei meu punho fechado.

— Em meu mundo, ele estaria com um desses na fuça há muito tempo – Falei a Caspian, que prendeu um sorriso – Mas não quero arranjar problema para você. – Susana rolou os olhos – É isso mesmo, mocinha. Acha que está crescida demais para que eu a defenda?

— Acredite – Disse Caspian – Infidelidade é mais comum para esses senhores do que imagina.

— Espero que não aprenda com eles – Liliandil alfinetou de brincadeira, mas Lúcia foi a primeira a erguer as sobrancelhas como se ouvisse um aviso. Nenhum de nós sabia se Liliandil sabia dos sentimentos entre o noivo e minha irmã.

— Não, claro que não – Caspian baixou o rosto ao responder, para logo depois trocar um olhar rápido com Susana. Cheguei a pensar na possibilidade de eles estarem juntos às escondidas, mas não acreditava nisso. Susana jamais faria algo assim e eu não duvidava da índole de Caspian.

— Acha que o rei da Arquelândia chega ainda pela manhã? – Susana tomou a palavra, mudando de assunto com naturalidade – Trumpkin falou tanto da princesa Neriah que até eu fiquei curiosa.

— Também estou estranhando a demora – Respondeu Caspian.

Edmundo soltou o ar em riso.

— Quer saber se ela é mais bonita que você? – Alfinetou ele ao empurrar Susana levemente com o ombro. Ela retribuiu com uma tapinha.

— Sabe que eu não ligo para isso, bobo! – Retrucava ela.

— Queria tê-los conhecido antes – Liliandil disse a Caspian. Lúcia, Edmundo e Susana estavam distraídos demais entre si para ouvir – São tão diferentes do que eu pensei. Não é à toa que tem tanta afeição por eles.

Perguntei-me se Caspian falava tanto assim de nós para ela. Eu poderia ter me esforçado para confiar mais nele no começo ao invés de estarmos sempre entrando em desacordo. Talvez fosse a hora de concertar as coisas, de ser amigo de Caspian tanto quanto Edmundo se tornara.

— Com licença, majestades – Uma mulher da comitiva de Macrino surgiu atrás de nós. – Perdoe-me, mas não sei a quem recorrer.

— Qual o problema, Lady Orestila? – Caspian conhecia a mulher.

— O senhor se recorda que contei que meus sobrinhos vieram para Nárnia? – A menção fez Caspian ponderar um momento – Acontece que perguntei por eles ao doutor e ele disse que não os conhece.

— Quem são seus sobrinhos? – Edmundo perguntou com o cenho franzido.

— Rilian e Erlian de Galma – Os nomes não me lembraram de ninguém.

— O rapaz da taverna! – Lúcia disse. Era verdade; a dona do local chamou o loiro problemático de Rilian.

— Ele estava aqui o tempo todo – Caspian lamentou. – Vou enviar Garvis para trazê-los aqui.

— Eles realmente vieram? – A tal Orestila perguntou.

— Aparentemente sim, mas não se apresentaram ao castelo. Seus nomes devem estar no censo, mas não como migrantes de Galma. – Caspian foi interrompido pelas trombetas que anunciando a chegada de mais convidados, provavelmente a corte de Arquelândia. – Não se preocupe, a senhora os verá em breve.

— Sou imensamente grata pela vossa compreensão, majestade – Ela fez uma reverência – Com licença – E nos deixou.

— Quem é ela? – Lúcia perguntou em seguida.

— Irmã da esposa de Macrino – Explicou Caspian – Herênia é a mais velha, seguida de Orestila. A mais nova já é falecida, Messalina. Quando ancoramos em Galma, Orestila mencionou que os filhos de Messalina foram para Nárnia, mas sequer me recordava de tê-los conhecido.

— Eu sugeri – Disse Liliandil – que talvez tivessem ido para Arquelândia ou Calormânia, já que estavam tão ávidos por aventuras.

— É, mas Rilian devia ter uns treze anos quando me tornei rei – Discordou – Algo nessa história está errado.

Horas depois...

Susana Pevensie

A tarde chegou rápido. O calor aumentava a cada dia e eu já me via obrigada a andar com um leque a tira colo.

Passei duas horas após o almoço procurando nos livros informações sobre a profecia, rendendo Coriakin, que não parou a manhã inteira. Foi quando uma criada responsável pela mordomia da princesa Neriah veio me dar um recado dela, convidando-me para um chá.

Eu encontrara um livro promissor na segunda pilha do dia. Ele mencionava coisas estranhas que aconteciam no Grande Deserto, como miragem de poços, oásis, tempestades de areia se aproximando, coisas do tipo. O autor parecia acreditar que a sede e o cansaço faziam a mente pregar peças nos viajantes, apesar dos peregrinos afirmarem que seria obra dos deuses querendo testá-los.

— Ah, Susana – Caspian disse ao entrar na sala do tutor de repente – Eu estava procurando o professor.

— Ele saiu um pouco depois de Coriakin – Expliquei. Deixei o livro de lado, não sem antes marcar a página onde tinha parado – É muito importante?

— Não, não – Ele caminhou até mim devagar, descendo o pequeno lance de escadas até a mesa onde eu estava – Só queria conversar um pouco. Bom, algum progresso nas pesquisas?

— Nada muito promissor – Lamentei – Acho que só Aslam pode traduzir essa profecia. – Um momento de silêncio – Bem, e como foi a conversa com o rei Naim?

— Foi muito boa – Seu semblante se alegrou um pouco. Ele se encostou na mesa e cruzou os braços – Sua forma de governo é parecida com a nossa, de modo que é bem mais fácil negociar com ele, até mesmo pela amizade que temos estabelecido nos últimos anos.

— É, acho que não pode dizer o mesmo da Calormânia – Ergui as sobrancelhas.

— Sim – Ele concordou – Bem, e sobre lorde Macrino? Teve mais algum problema com ele?

— Não, não – Assegurei – Sequer cruzei com ele nas últimas horas, ainda bem.

Ele hesitou em continuar falando.

— Perdoe a indiscrição, mas... – Fiquei curiosa ao ouvi-lo – É tão normal assim ser... tão assediada?

Segurei-me para não sorrir. Era impressão minha ou ele estava com... ciúmes? Não que lorde Macrino fosse ser um candidato a ser considerado, mas mesmo assim...

— Eu não diria “normal” – Corrigi – Eu diria “corriqueiro”. Tem vezes que faz bem à autoestima, mas costuma ser bastante desconfortável.

Caspian assentiu, aparentemente ponderando. Outro momento de silêncio nos cercou. Cogitei voltar a ler o livro, mas ter Caspian tão perto me deixava nervosa. Eu não conseguiria ler uma mísera frase.

— Susana, você... – Começou e eu ergui o olhar para ele na mesma hora – Tem algum tipo de reserva... quanto a mim? Pelo que... conversamos?

A pergunta me atingiu como uma flecha no peito. Sua resposta era óbvia, mas como eu a poria em palavras?

Levantei da cadeira e caminhei devagar até a estante. Aquele livro não ia ajudar muito mais mesmo. Coloquei-o na prateleira e, de costas para Caspian, respondi.

— Não estaria sendo sincera se dissesse que não – Virei-me devagar apenas para encarar sua expressão de tristeza, de culpa - Mas eu respeito a sua decisão e... como eu disse, não causarei problemas.

— Eu sei que jamais me faria mal – Ele caminhou até mim devagar, mantendo o contato visual a todo instante. Senti as pernas tremularem levemente. Ele não deveria estar tão próximo – Eu gostaria que as coisas fossem diferentes – Sua mão tocou a minha e meu coração acelerou sobremaneira – Esse impasse é agoniante; estar tão feliz por tê-la de volta e não poder...

— Caspian, por favor... – Pedi, fechando os olhos. Eu não suportaria ouvi-lo falar daquela forma por muito mais tempo – Não torne mais difícil. – Desviei o rosto de seu olhar e com muita força de vontade saí do espaço entre seu corpo e a estante, caminhando até a porta. A vontade de abraçá-lo e ignorar tudo o que nos envolvia. Mas eu não podia. – Vou me arrumar para o chá com a princesa. Com licença.

Saí da sala por fim.

[...]

A princesa Neriah era uma jovem pouco mais velha que eu e seu comportamento condizia com o de uma verdadeira princesa. A graça e elegância do andar, a postura ereta, o falar pausadamente e os passos ritmados. Ela faria inveja fácil à princesa Elizabeth do Reino Unido.

Quanto a aparência, Neriah não era tão branca quanto eu e Lúcia, mas não tinha pele tão dourada e morena quanto um calormano; era um tom mediano. O rosto era oval e imponente, as bochechas levemente salientes e os lábios ligeiramente carnudos. Os olhos eram alongados e verde amarelados. Os cabelos eram castanhos, como chocolate.

— Passei a infância ouvindo as histórias da guerra que trouxe o príncipe Cor de volta a Anvard – Falava ela após um gole de chá. – Sempre mencionavam o encontro dele com os animais falantes e com seu irmão e sua irmã.

— Foi um acontecimento infeliz que trouxe alguns benefícios – Comentei. Não foi sua intenção me lembrar de Rabadash, pelo menos era o que eu acreditava, porém quis encerrar o assunto – Então quer dizer que está noiva?

— Sim, estou – Sorriu ao confirmar. Parecia feliz – Ele é general do exército da Arquelândia, assumiu o posto agora pouco. Acho que foi sorte.

— O que quer dizer?

— Bem, casar-me por amor – Esclareceu, os olhos brilhando ao mencionar o general – Tácito sempre foi um oficial habilidoso, notável, mas em outras cortes, como Calormânia, casar uma princesa com um não príncipe é inaceitável.

— E qual a opinião do seu pai?

Neriah bebericou o chá.

— Ele gostou – Respondeu quando pousou a xícara no pires – Tácito sempre foi um exemplo de conduta e salvou meu pai de um ataque de piratas em alto mar no ano passado. O rei Naim é do tipo que sempre se lembra quando tem uma dívida com alguém, não importa se a pessoa em questão está lá para servi-lo.

— Ah, desculpe! – Licínia, filha de Macrino, apareceu de repente no pátio em frente ao jardim onde estávamos tomando chá – Não sabia que estavam aqui.

— Por que não se junta a nós? – Convidei. – Venha conversar conosco.

— Não sei se é uma boa ideia... – Falou de cabeça baixa. Aquela garota sofria muito. As pessoas não costumavam achá-la bonita e isso era motivo de chacota pelas cortes, enquanto o pai vivia querendo livrar-se dela, casando-a com o primeiro que aparecesse.

— Não se acanhe, venha! – Neriah sorriu e estendeu a mão, chamando-a. Licínia caminhou até nós devagar e se sentou entre nós.

 

Caspian X

— Como assim fomos saqueados? – Sobressaltei-me do trono – Não havia guardas para trazer o carregamento?

Após o encontro com Susana, tive que voltar à sala do trono para mais uma reunião com o conselho.

— O mesmo grupo de sempre, milorde – Será que haveria um só dia em que Lorde Theodor me traria boas notícias? – Isso nunca havia ocorrido! Não sabemos quem fez isso.

— Os telmarinos que vivem aqui não são tão numerosos assim, Theodor – Trumpkin argumentou, tirando as palavras da minha boca – Não sobrou sequer uma testemunha que os aponte?

— Eu quero respostas imediatamente – Exigi – Não estamos em condições de ignorar um roubo de mantimentos. O povo precisa comer e, sobretudo, estar seguro. Eu quero cada um dos presentes colocando seus homens e seus narnianos em busca de respostas para recuperar o carregamento.

Desci os degraus do altar e caminhei pelo salão enquanto os presentes se levantavam em respeito. Minha cabeça fervia, martelava como um ferreiro modelando uma espada, ia explodir a qualquer momento.

— Milorde – Coriakin me abordou no corredor.

Respirei fundo.

— Coriakin, perdoe-me – Falei de antemão – Mas se pretende me dar mais uma notícia ruim, não sei do que sou capaz.

Ele sorriu.

— Talvez eu tenha uma luz ao fundo da caverna – Parei para ouvi-lo - Cornelius, a rainha Susana e eu procuramos entre os livros com referências narnianas, até que ela nos deu a ideia de expandir a busca.

— Livros de outros territórios? – Deduzi.

— Exatamente – Ele abriu o livro na página que marcara com um dos dedos e me mostrou – Encontramos este livro de poesias arquelandesas. – Franzi o cenho – De certo que os famosos por literatura são os calormanos, mas a Arquelândia contou com alguns poetas errantes.

Coriakin me permitiu ler. Era uma poesia gigante, intitulada Cursos do rio, caminhos do amor. Era uma lírica romântica e eu já estava sem paciência para lê-la completa quando o mago me indicou um trecho que mencionava a morte trágica do vilão do poema após ter sucumbido à ganância de retirar do rio a lança das águas imaculadas.

— Acha que a lança da poesia é a mesma da profecia?

— E ela pode estar em território arquelandês, nas proximidades de algum rio – Completou o mago, fechando o livro, ainda o marcando com um dos dedos – Sorte nossa que o Rei Naim está em Nárnia. Seria uma ótima oportunidade de lhe questionar sobre isso.

— Tenho outra reunião com ele assim que o Tisroc chegar – Mais um problema, aliás.

Calormânia e Nárnia haviam batalhado no Grande Deserto pouco tempo depois que assumi o trono. A hostilidade dos calormanos se voltou contra Nárnia quando os narnianos voltaram a se mostrar, coincidência ou não.

Um ano depois de minha viagem pelos mares orientais, no entanto, o Tisroc Ahadash me mandou um pergaminho com uma oferta de paz. Fiz questão de esclarecer que Nárnia jamais atacou a Calormânia sem um bom motivo e que se a Calormânia pretendia manter a paz, haveria paz, pois guerra nunca foi desejo de Nárnia.

Ainda assim, não confiava em Ahadash ou em sua corte, mas fui aconselhado a convidá-lo para a festa de noivado para mostrar demonstrar boa vontade. A guarda estava reforçada, entretanto. Hospitaleiros, mas cautelosos.

— Seguirei com as pesquisas, alteza – Coriakin me reverenciou e saiu.

— Vai acabar enlouquecendo – Pedro surgiu à minha frente, os cabelos loiros molhados de suor, resultado do treino com Edmundo – se continuar absorvendo os problemas assim.

— Acho que é uma das poucas vezes que concordamos – Massageei a testa. Ele sorriu.

— Sabe que pode contar conosco, não sabe? – Pedro alertou – Não teria ido treinar com Ed se soubesse da reunião. Se estamos aqui, é para dividir a carga com você.

— Eu sei, é só... não quero ficar mal-acostumado – Admiti – Esperar por ajuda todas as vezes em que Nárnia está em apuros.

— Também pensei assim quando lutamos contra os telmarinos. No meu caso, eu não queria esperar por Aslam, achava que conseguia sozinho. E falhei.

Ponderei.

— Terei uma reunião com o rei Naim e com o Tisroc Ahadash quando a corte de Calormânia chegar. Espero você, Edmundo e suas irmãs lá.

— Gostei de ver – Elogiou – Bem que disseram que você aprende rápido.

— A teimosia está no seu sangue, não no meu – Retruquei. Ele sorriu em resposta, afinal não tinha como negar isso.

[...]

O sol se punha no horizonte. Eu admirava o céu alaranjado ser pintado de cor-de-rosa e lilás à medida que o grande astro o deixava.

Fazia muito tempo que não visitava a torre de astronomia, tinha esquecido o ótimo refúgio que ela era. Recordava-me das vezes que doutor Cornelius me levava até lá para contar histórias.

As trombetas tocaram e olhei para o leste. Pelas cores extravagantes dos tecidos que compunham as liteiras, era a corte do Tisroc.

Desci as escadas rapidamente para me preparar. Receber um ex-inimigo ainda sob suspeita requeria um pouco de pompa.

Vesti-me em tons de marrom sépia, com uma capa de tecido grosso e peles em marfim. Medalhas de ouro adornavam o peitoral, bem como o cinto que abrigava a espada de Pedro. Era estranho usá-la quando seu antigo dono estava em Nárnia.

A coroa findou a preparação.

Ao chegar ao pátio, todos já me esperavam, devidamente vestidos para a ocasião. Aquele luxo era pura politicagem, mas era uma estratégia que reis tradicionais reconheciam como demonstração de poder.

Susana me fitou quando cheguei, o semblante sério e apreensivo que não era dirigido a mim, percebi. Imaginei que a Calormânia não lhe trazia boas lembranças.

Liliandil e eu nos colocamos ao centro, ela à minha esquerda. Edmundo na ponta esquerda, Pedro ao lado de Liliandil, Susana ao meu e Lúcia na ponta direita.

— Não precisava ter vindo – Falei a Susana em tom baixo – Dá para perceber que os calormanos não a deixam confortável.

— Não se preocupe – Pediu calmamente. Ela encarava os portões, os olhos azuis fixos na multidão que se aproximava – Rabadash está morto. Seus descendentes não me assustam.

— Mesmo assim – Ela finalmente me olhou – Sinta-se à vontade para sair se precisar.

Ela assentiu. Não havia muitos registros sobre o que exatamente acontecera na corte de Rabadash quando Susana e Edmundo foram à Tashbaan. Era de comum acordo entre os escribas que Rabadash não aceitaria a recusa de casamento de Susana e ela se viu obrigada a navegar de volta a Nárnia sem avisar. O que houve de ruim entre ela e Rabadash, isso ninguém sabia.

— Aí vem! – Anunciou o arauto na torre da entrada – Tisroc Ahadash e a corte de Calormânia!

— Que ele viva para sempre! – Gritaram todos aqueles que vinham com ele. Era um pouco irritante ouvi-los falar isso todas as vezes que seu rei era mencionado.

Os escravos puseram as liteiras no chão. Os tecidos eram chamativos, seda e tafetá em tons de laranja, vermelho e púrpura.

Ahadash mantinha a aparência da qual eu me lembrava. Ele devia ter cinquenta e cinco anos, tinha olhos maliciosos e a experiência estampava seu rosto.

Sua primeira esposa Drusa, que por ser a primeira era a considerada rainha, era pouco mais jovem que ele. Tinha uma beleza madura e brutal. Sua expressão era de puro desdém, como se estivesse visitando uma terra inferior, não que eu esperasse menos dos calormanos.

Quando se puseram diante de nós, com alguns rapazes e moças que deveriam ser os filhos de Ahadash, trocamos reverências entre nossas cortes.

— Já faz muito tempo, rei Caspian – Foi sua forma de cumprimento – Desde o campo de batalha.

— Faz realmente um tempo significativo – Respondi. Senti Liliandil apertar meu braço, tensa. Ela era uma estrela, sentia as más intenções no coração dos homens bem de longe. Seu aperto era um alerta. – Imagino que a viagem deve ter sido cansativa. Podemos deixar as apresentações para o jantar.

— Cinco ou dez minutos não irá nos atrasar – Discordou – Permita-me conhecer a vossa corte.

— Muito bem – Olhei para a esquerda – Estes são alguns de meus lordes de confiança: Trumpkin, o valente anão; o Texugo, um excelente conselheiro; Glenstorm, meu bravo general; Garvis, o leal chefe da guarda. – Cada um deles fez uma reverência ao Tisroc – Esta é minha noiva, Liliandil. – Ela fez uma reverência graciosa – E presumo que vossos antepassados tenham conhecido os quatro reis de Cair Paravel: Rei Edmundo, Rei Pedro, Rainha Susana e Rainha Lúcia.

A confusão perpassou pelo rosto da maioria dos calormanos, mas o rei e sua esposa, mestres na atuação, a disfarçaram bem.

— É um ensejo esplêndido conhecer figuras tão ilustres – Seus olhos malditos se demoraram em Susana e eu podia quase ler sua mente quando lembrou o que ela representava para seu povo – Bem, deixei que eu faça as apresentações.

E ele assim o fez, seu olhar astuto procurando os de Susana de tempos em tempos. Pedro estava visivelmente irritado, não muito diferente dos irmãos ou de mim. Não era um olhar de desejo, era uma intenção muito mais maligna.

Reforçaria a guarda em torno de Susana, isso se ela não tivesse objeções e eu rezava para que não. Seja lá o que Ahadash estivesse planejando, não a usaria. Eu não permitiria isso.


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Notas finais do capítulo

Eai?? Gostaram? Os convidados chegaram e logo o baile vai acontecer! Podem esperar por fortes emoções!!
Beijos e continuem lendo! Vejo vocês nos comentários!



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