A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 7
A estrela, a gentil e o perdido


Notas iniciais do capítulo

Eaeeee! Cheguei com mais um capítulo!!
Quero agradecer a Ra Jones pela recomendação e dizer que estou cada vez mais feliz com os comentários e o feedback de vocês! Continuem falando comigo pelos comentários! Isso me ajuda muito!

Não se esqueçam de ler as notas finais e boa leitura!!



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Edmundo Pevensie

O dia terminou monótono. Susana passara todo o tempo livre que conseguia na biblioteca. A magia de Coriakin era de uma ajuda inestimável, mas somente olhos humanos poderiam julgar qual informação era necessária ou não, prolongando o trabalho manual e visual.

— Lúcia – Chamei quando a encontrei no corredor, depois de tomar banho e me trocar para o jantar. Ela se virou para mim no ato, o vestido verde com branco farfalhando – Está indo para o salão?

— Sim – Assentiu – Mas acho que vou passar na biblioteca. Não encontrei Susana no quarto, então deve estar enfiada nos livros desde a tarde.

— Eu vou com você – Concluí.

Lúcia esperou que eu me aproximasse para seguir adiante no corredor. Logo alcançamos as escadas.

— Liliandil disse – Falou – que Lorde Argos veio falar da reforma de Cair Paravel e trouxe mais livros antigos, que encontraram na nossa sala de tesouros.

— Eram seus? – De todos nós, Lúcia é quem mais tinha o hábito de leitura. Nem sei como fora Susana quem se oferecera para ajudar o tutor de Caspian e o mago na pesquisa.

— A maioria eram, mas não reconheci alguns – Deu de ombros. Chegamos ao último degrau – Os narnianos podem ter escondido lá depois que fomos embora.

— Espero que ajudem em alguma coisa – Franzi o cenho – Não quero ter que ver Nárnia definhar para descobrir como quebrar esse feitiço.

Encontramos o corredor que dava para a sala do doutor Cornelius. O castelo estava mais agitado do que mais cedo, eu não saberia dizer o motivo. Os empregados e empregadas levavam bandejas, lençóis e até móveis de um lado para o outro, forçando Lúcia e eu pararmos pelo caminho diversas vezes para deixá-los passarem.

— Acho que vamos receber visitas – Lúcia observou – Será que os convidados para o baile estão chegando?

— Baile? – Repeti, erguendo as sobrancelhas. Não era período festivo ainda, afinal ninguém nem sabia se haveria colheita.

— O noivado, Ed – Explicou. – Caspian vai dar uma festa para anunciar o noivado. Vai acontecer em breve.

— Hum – Resmunguei, encarando o caminho adiante.

Susana não devia estar nem um pouco feliz com isso. Ela era forte, disfarçava bem, vestia a máscara de indiferença, a armadura de conformada, mas nós sabíamos quando estava magoada. Eu não tinha falado com ela sobre isso ainda, nem sei se Pedro ou Lúcia o haviam feito.

Chegamos ao escritório – e biblioteca particular – do tutor e encontramos Susana cochilando sentada numa cadeira com um livro na mão. A cabeça pendia para o lado e a boca estava entreaberta, mas ela não roncava – uma pena, eu tiraria sarro da cara dela pelo resto da vida se descobrisse que ela roncava.

— Susana – Lúcia chamou com a delicadeza que eu nem sonharia em ter. Nossa irmã acordou num espasmo – Tudo bem, somos nós.

— Hum – Resmungou piscando algumas vezes – Já é hora do jantar? – Reconheceu ao nos ver vestidos para tal.

— Devemos estar alguns minutos atrasados – Avisei – O trabalho por aqui está tão chato assim?

Ela riu.

— Não, não é isso – Fechou o livro que estava quase caindo do colo e o colocou na mesa – Não tenho dormido bem.

— Pesadelos? – Lúcia indagou e Susana assentiu – Eu posso perguntar a Liliandil se ela tem alguma receita de chá para isso.

— Não precisa incomodá-la com isso – Talvez não fosse intencional, mas Susana foi um pouco ríspida, talvez fosse efeito do sono – Bem, vamos jantar? Não vamos deixar os outros esperando.

Susana foi na frente e Lúcia e eu nos entreolhamos antes de segui-la.

[...]

— O mensageiro do rei Naim – Falava Caspian quando chegamos – Veio esta tarde para avisar que a comitiva da Arquelândia chega amanhã.

— Dizem que a princesa Neriah é muito bela – Trumpkin comentou a Pedro – Talvez o senhor, ou o rei Edmundo se interessem por ela.

— Os reis mal chegaram e você já está falando de mulher! – O Texugo reclamou e o anão ergueu as sobrancelhas com um sorriso – Não ligue para ele, majestade! Desde que arranjou uma namorada, está todo romântico!

— Namorada? – Lúcia pegou Trumpkin de surpresa – Você não me contou isso!

— É uma fauna do exército, Cresiela é o seu nome – O Texugo recebeu um olhar bastante irritado do anão.

— Achei que era minha tarefa apresentar minha namorada!

Não pudemos evitar a gargalhada.

Durante o jantar, lembrei as palavras de Susana: “Não precisa incomodá-la com isso”. Pus-me a observar Liliandil. A relação entre ela e Caspian parecia bastante amigável, a estrela procurava ajudá-lo no que podia, sempre pedindo sua aprovação e recebendo seus agradecimentos sinceros.

Recordei Liliandil descendo dos céus como uma estrela cadente, tomando forma diante de nós na escuridão da noite na ilha de Ramandu. Caspian tecera elogios a ela de primeira e Lúcia comentou ter ficado tão envergonhada quanto no momento que Susana o beijou. Mas foi lembrando disso que notei que todos os homens ali ficaram admirados. Todos, inclusive eu.

Eu estava me acostumando a Liliandil todos os dias, a estranheza de vislumbrar tanta luz e beleza se apaziguando conforme os dias passavam. Mas lembro de me sentir diante de alguma divindade ou coisa parecida quando a conheci.

— A comida vai esfriar se continuar olhando a estrela desse jeito – Pedro me despertou com uma alfinetada cruel. Quando me dei conta, as bochechas esquentaram na hora. Meu irmão gargalhou – Sua sorte é que Caspian está preocupado demais para ter notado.

— Eu não... quis fazer isso – Procurei Liliandil rapidamente e ela estava de cabeça baixa, corada, porém séria. Eu sou muito idiota.

 

Rilian

Pus a mão no bolso de novo. Eram poucas moedas, mas devia dar para um copo de cerveja pelo menos. Não dava para apostar, no entanto. Todos estariam lá, jogando as cartas e tentando a sorte. Eu não ia conseguir passar nem perto, não depois da confusão da manhã.

— Você não aprende, não é garoto? – Ralhou Arisia quando entrei. Ela estava atrás do balcão, enxugando um copo com um pano surrado.

— Vai me expulsar de novo? – Falei com tédio. Se ela o fosse, eu daria meia volta sem pestanejar. Estava dolorido demais para resistir.

— Não estou falando de mim – Ela jogou os olhos para a esquerda, indicando o desgraçado que roubou no jogo. Quando fui tirar satisfação, descobri sua mão pesada.

— Só quero uma cerveja – Assegurei – Vou embora depois.

Arisia suspirou, parou por um instante ao encarar a madeira do balcão e foi guardar o copo recém lavado antes de me trazer a cerveja que pedi. Dei a ela as moedas.

— E o Erlian, está bem? – Perguntou ao colocar as moedas na caixa.

— Está – Falei depois do merecido primeiro gole – Passou o dia bem feliz depois de você ter levado o almoço dele.

— Sabe que deveria cuidar melhor do seu irmão, não sabe? – Arisia apoiou os braços no balcão, falando comigo num tom baixo, coisa que a vi fazer poucas vezes. Seus gritos eram de ensurdecer um.

— Não começa, Ari – Retruquei, tomando um bom gole depois.

— O garoto só tem onze anos, Rilian! – O tom de voz já estava aumentando. Era a hora de vazar. – Tenha santa paciência!

— Depois a gente se fala – Bebi o restante do conteúdo do copo e o abandonei no balcão. Arisia bufou de raiva como um touro e eu ri com o gesto.

Deixei a taverna e agradeci por nenhum dos mau encarados que espreitavam suas paredes tenham me deixado em paz.

— Rilian de Galma? – Uma voz feminina chamou na calada da noite.

Girei em torno de mim mesmo e procurei sua dona. Seu rosto estava encoberto pelo capuz do manto azul escuro.

A rua estava levemente deserta. Era a hora do jantar, as pessoas estavam reunidas com suas famílias, não perambulando pelas ruas como um idiota bêbado. Como eu.

— O que deseja? – Pus as mãos nos bolsos, aguardando a resposta.

— Acho que tenho uma informação para você – A mulher misteriosa jogou a cabeça para o lado, indicando uma rua à direita da taverna.

Olhei em volta, ninguém nos observava – não que meus reflexos alterados pelo álcool fossem ser suficientes para perceber alguma coisa.

A mulher me levou à rua pouco iluminada e se colocou a andar ao meu lado. Eu ainda não conseguia ver seu rosto, não que fosse sua intenção revelá-lo, mas eu nunca ouvira aquela voz na cidade, possivelmente ela não era dali.

— O que quer comigo?

— Há algum tempo, você chegou a esta cidade com uma criança de seis anos procurando por um homem – Ela fez uma pausa dramática, pausa que suspeitou que eu precisava para digerir aquelas palavras. Mesmo turvos por causa do álcool e da ressaca da bebedeira da manhã, meus pensamentos me levaram a aquela cena de imediato. – Perguntou a todos pelo filho mais novo de Caspian VIII, que solicitara tropas a Galma pouco depois de tornar-se rei, cinco anos atrás.

— Vai contar a história da minha vida, ou... – Tropecei numa pedra e me interrompi. Ela riu na hora e por pouco eu não caí.

— É o jeito calormano de contar histórias – Explicou. O que uma calormana fazia em Nárnia? – Como eu dizia, você veio aqui atrás do rei Miraz.

— É, mas ele morreu – Retruquei emburrado. Devia ir embora dali, devia voltar para casa e colocar Erlian para dormir.

— Disseram-te como ele morreu? – Finalmente decidiu parar com as histórias para fauno dormir.

— De que isso importa? – Bradei com raiva. Minha mãe sempre nos dizia que Miraz nos traria para Nárnia quando ele conseguisse tomar o trono. Ela prometera isso a Erlian e a mim, prometera uma vida farta e feliz. E quando ela morreu, a minha esperança era que ele nos recebesse aqui. Mas ele nada poderia fazer de seu túmulo.

— Importa se você tiver a chance de se vingar de quem tirou a vida dele – A mulher parou de andar e ficou de frente para mim. Ela usava um lenço que cobria o rosto, ele estava preso a alguma coisa atrás de suas orelhas e solto no comprimento, de forma que sua voz não parecia abafada. Seus olhos castanhos dourados brilhavam de um jeito anormal.

— O que você pretende com isso? – Questionei, sentindo o sangue ferver. Miraz morrera na guerra contra os narnianos, contra o sobrinho que teve o direito ao trono roubado, usurpado por ele.

Ela se aproximou de mim devagar. Pensei em recuar, mas não queria ser frouxo. A mulher colocou os olhos ao redor do meu pescoço e me fez olhar em seus olhos.

— Eu ganharia muito... se você se vingasse.

E então eu vi. Vi em seus olhos, vi o que precisava ver.

Miraz sendo retirado do campo de batalha por um outro homem, levando-o de volta para o lado de seu exército, até a flecha vermelha lhe atingir pelas costas. Uma garota de armadura e saia vermelha, do alto do monte segurava o arco. A assassina de Miraz.

Senti uma pontada violenta na cabeça e afastei a mulher de mim na hora, colocando a mão na testa.

— O que você é? – Falei, a cabeça ainda doendo muito.

— Sou uma espécie de... vidente – Seus olhos brilhavam menos, mas a malícia e a maldade ainda estavam ali. – Ninguém importante. Haverá uma festa no castelo em poucos dias. A assassina do rei Miraz estará lá. Não terá oportunidade melhor que essa.

A mulher me deu as costas sem cerimônia e eu não fiz questão de segui-la. As imagens que ela me mostrou ainda rondavam a minha mente. Miraz estava visivelmente debilitado, sua vida fora poupada pelo rei Caspian, apenas para que ele fosse morto pela garota de mira perfeita.

“Ele vai vir nos buscar, filho! Ele virá nos buscar!”

Foram as últimas palavras da minha mãe. Meu irmãozinho chorava copiosamente ao segurar sua mão caída, já sem vida na cama.

Ele era tio do novo rei. Mesmo que fosse mantido longe de todo o governo, o rei Caspian não o teria condenado a uma prisão imunda. Era bondoso demais para isso. Ele teria conseguido... teria conseguido nos buscar em Galma.

 

Edmundo Pevensie

Coragem, Edmundo, coragem. Ela não é um monstro.

Eu estava parado na porta do gabinete de Caspian, que ele dividia com Liliandil. Ela estava lá dentro, organizando os últimos detalhes para a festa de noivado provavelmente. Noivado... a única pessoa que estava feliz com ele devia ser Ramandu, não era possível!

— Quanto tempo vai ficar parado aí fora? – A estrela me deu um susto tão grande quanto o de Pedro no jantar. Além de fazer lordes dormirem, ela também via atrás das portas?

Abri a porta devagar, as dobradiças reclamando baixo.

— Sabia que era eu? – Perguntei assim que entrei, eu precisava saber com quem estava lidando. Vai que ela lia mentes também.

— Não – Sorriu – Mas sua sombra inquieta me deu aflição. O que o traz aqui?

O que era mesmo?

— Er, eu... – Pigarreei – Vim pedir um favor. – Franzi o cenho, tentando evitar os pensamentos de como eu estava patético – Minha irmã, Susana, está com problemas para dormir. Ela tem tido muitos pesadelos e... vim perguntar se você conhece algum tônico que... possa ajudar, não sei.

A estrela sorriu de canto.

— Receio que Caspian tenha passado pelo mesmo problema – Ela se levantou da cadeira atrás da mesa e caminhou para um armário baixo na parede oeste – Infelizmente nada que eu tenha oferecido a ele surtiu efeito. – Ela vasculhou entre papéis, antiguidades e coisas que tinham em uma das prateleiras até encontrar um frasco de vidro – Pode ser que a ajude, mas não dou certeza.

Ela me entregou o frasco, a mão gelada tocando a minha.

— Não está com frio? – As noites estavam mais geladas que o normal, já que Nárnia agora estava destinada a ser um deserto.

— Eu receio ter esquecido de pegar um agasalho antes de vir para cá – Maneou com a cabeça – Vou dormir em breve, então, não tem com o que se preocupar.

— Bem, então, eu... já vou indo – Olhei em seus olhos enquanto falava, esquecendo-me completamente do que viera fazer ali.

— Antes disso, me permite pedir um favor? – Liliandil me ofereceu um sorriso brincalhão, como o de uma criança que barganha um doce.

— Se eu puder ajudar... – Dei de ombros e ela indicou a mesa.

— Lorde Argos veio tratar de Cair Paravel – Aquela não era uma novidade – Dispomos de algumas pinturas antigas e descrições da fachada do castelo, o telhado de vidro, da sala dos quatro tronos, mas há alguns ambientes que não sabemos quase nada. Caspian gostaria de uma restauração bem fiel.

— Quer que eu ajude com o que lembro? – Deduzi, já vasculhando a memória em busca de referências da minha casa em Nárnia por quinze anos inesquecíveis.

— Seria maravilhoso se conseguisse – A estrela sorriu maravilhada com a possibilidade, estava empolgada com o projeto.

— Eu me arriscaria a desenhar se tivesse essa habilidade.

— Posso resolver esse problema para você – Ela procurou entre os papeis na mesa um em especial. Era um esboço da sala dos quatro tronos, como o projeto de um arquiteto. Liliandil era brilhante, estava quase perfeito.

Analisei seus traços, a proporção entre as formas... de certo que alguns detalhes ficariam melhores quando postos em prática, outras coisas poderiam ser concertadas com as minhas memórias, porém era um esboço ímpar.

— Está incrível – Elogiei embasbacado. Pisquei um par de vezes – Bom, eu posso vir aqui amanhã e... veremos do que me lembro.

— Combinado, então – Inclinou a cabeça, sorrindo gentilmente.

— Boa noite, Liliandil.

— Boa noite, Edmundo.

Dei as costas devagar e passei a caminhar até a porta. Eu deveria me desculpar pelo jantar, não devia tê-la olhado daquele jeito. Ela estava sendo simpática naquele momento, mas eu a deixara desconfortável.

Parei quando a mão já estava na maçaneta.

— Liliandil – Chamei, virando o corpo um pouco, o suficiente para vê-la. A estrela havia voltado para a cadeira, o papel com o esboço já em cima da mesa – Me perdoe pelo jantar. – Ela entreabriu os lábios – Sei que a fiz sentir mal.

— Está tudo bem – Assegurei. – Eu deveria estar acostumada ao... olhar exagerado dos humanos.

— Não quando isso a constrange – Discordei. Não sei o que poderiam ter ensinado a ela, que ser olhada era símbolo de admiração, de desejo e que ela deveria se sentir bem com isso, mas estava errado. – Bem, era isso. Boa noite.

Deixei o ambiente após ouvir o “boa noite” dela. Estava me sentindo mais leve, o coração mais... limpo. Os rapazes do meu bairro não costumavam ter respeito pelas moças mais pobres, era seu passatempo soltar piadinhas para elas. Aquela falta de consciência sempre me enojou, então eu não ia começar a tratar as mulheres que eu conhecia daquela forma.

Deparei-me com Caspian no pátio que se abria ao sair pelo corredor do gabinete. Ele estava sentado num dos degraus da escadaria. Passei pela série de arcos que antecediam o pátio e fui até ele.

— Quer dizer que a vigília vai ser aqui dessa vez? – Brinquei e ele finalmente se tocou que eu estava ali. Sorriu sem mostrar os dentes, como por educação.

— Não vai dormir, Edmundo? – Perguntou, afastando-se do centro do degrau para que eu me sentasse ao seu lado.

— Vou daqui a pouco – Respondi. O olhar de Caspian se perdeu em meio ao nada de novo – Tem certeza que é só a seca que está preocupando você? Tem alguma coisa que não nos contou?

Caspian não me olhou, mas me ouviu bem. Trouxe o olhar para si, encarando as mãos apoiadas nos joelhos e ponderou antes de responder.

— Estou me perguntando se foi uma boa ideia ter convidado a corte de Calormânia para o baile – Não compreendi de início e franzi o cenho – Há algumas semanas, quando enviei o convite, o fiz como uma oferta de paz. – Ele suspirou – Estou me questionando se o Tisroc não tem algo a ver com isso tudo.

Parei por um momento.

— O que acha que ele pode ter feito? – Não entendi como o Tisroc poderia fazer algo contra o solo e o clima de Nárnia. – Eles não são feiticeiros nem nada.

— É, pelo contrário – Reconheceu – Sempre abominaram a Magia Profunda e a habilidade de falar dos animais daqui. – Colocou a mão na testa – Acho que estou caçando culpados no lugar errado...

— Está lutando pelo seu povo, Caspian – Corrigi, enfatizando com as mãos – Você mesmo disse que ganhou um reino, um povo e prometeu a Aslam que seria um rei melhor. – Ele balançou a cabeça em negativa levemente. Devia estar pensando que não estava cumprindo a promessa – E está sendo! Ninguém aqui duvida disso.

Ele sorriu levemente de novo e me deu uma tapinha nas costas.

— Obrigado pela força – Foi sincero ao dizê-lo.

Ficamos em silêncio. Alguns minutos se passaram.

— E com Susana? – Falei de repente, ele se surpreendeu com a pergunta. – Está tudo bem?

— Eu não tive intenção de magoar sua irmã, Edmundo – Assegurou sério.

— Não estou aqui como o irmão dela, Caspian – Alertei com um sorriso – Estou aqui como seu amigo. Sei que jamais conseguiria abertura para falar disso com Pedro e você não parece ter muitos amigos íntimos por aqui.

— Nisso você tem razão – Ele finalmente sorriu, depois respirou fundo. – Eu gosto da sua irmã. A coragem e a gentileza dela valiam por todas as moças bonitas a quem Miraz já havia me apresentado um dia, não que ela mesma já não seja linda. – Fez uma pausa, preparando o “porém”. – Não consigo entender por que Aslam nos deixou sentir isso.

Dei de ombros.

— Talvez ele quisesse que tivessem fé. Que acreditassem que estariam juntos um dia, não importasse como. – Caspian me observou falar, atento a cada palavra – Sabe que ele não faz as coisas por acaso. Ele nos trouxe aqui para aprender lições. – Sorri – Você lembra de como o Eustáquio era chato ao chegar em Nárnia?

Ele soltou o ar ao sorrir.

— Lembro sim. Ripchip e ele trocavam farpas a cada oportunidade.

— É porque você não me conheceu antes. Eu era igualzinho a ele: mimado, malcriado, desobediente. Tudo isso me levou a trair Aslam mesmo antes de o conhecer. Os otimistas me veem como o Justo, já que ele pagou a minha dívida e eu fui justificado. Mas como acha que os pessimistas se lembram de mim?

A resposta era óbvia.

— Aquele que traiu Aslam – Eu sentia que ele não queria pronunciar as palavras, talvez não querendo me ofender – Então você acha que eu tenho que ser otimista?

— De certa forma, sim. Acho que está prestes a aprender mais uma lição, seja ela qual for. Talvez não seja seu destino ficar com Susana. Mas esteja atento aos sinais. Aslam vai te mostrar o caminho certo.

Eu me levantei do degrau já bocejando.

— Quando foi que ficou tão sábio? – Caspian perguntou, o sorriso maroto se desenhando em seu rosto.

— Acho que não cheguei nesse ponto – Confessei.

— Obrigado pelos conselhos – Ele se levantou – E pela sua amizade.

— Não foi você que disse que eu era um irmão para você? – Dei um sorriso largo para ele. – Irmãos servem para isso.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Bom, o que eu tenho pra falar com vocês é só um aviso rápido de que eu postei esse capítulo mais perto do outro porque estou sentindo que essa semana (8-14/09) vai ser muito agitada na faculdade, aí deixei vocês com um novo agora que estou com um tempinho.
Talvez eu só consiga postar mais um lá pra sábado ou domingo, então me perdoem please kkkkk
Beijos e até a próxima!



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