Voltando a Ser Humano escrita por Marry Black


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Estávamos alheios em nosso momento em família que mal percebemos a comemoração de nossos familiares, nem a partida dos lobos e da família Denali, estávamos desfrutando de nossa felicidade, nossa família estava sã e salva, para sempre.

-Desculpem a demora. – A voz doce de Clara soou em nossos ouvidos fazendo com que todos parassem suas atividades e se voltassem para ela.

A jovem era definitivamente outra pessoa, trajava um vestido leve de alça, o comprimento não passando da metade das coxas, branco, com uma fita preta dividindo o fator busto e o restante do corpo. Seus cabelos estavam soltos, com apenas duas mechas presas lateralmente, no pé uma sandália aberta de salto alto, preta. A maquiagem carregada havia sumido, dando vazão apenas a um pó e uma sombra leve, acompanhados de um batom rosa, harmonizando com perfeição as poucas jóias que trajava.

Não apenas eu, mas todos estavam visivelmente surpresos com a mudança drástica da aparência da guardiã, como poderia uma jovem passar de dominadora ao ser mais frágil do mundo em apenas alguns segundos? Clara parecia ter um ar natural de delicadeza, muito embora sua liderança e poder já houvessem ficado mais do que claro.

Me aproximei e tomei suas mãos, beijando-as com devoção. - Mais uma vez eu não tenho palavras para agradecê-la. – agradeci colocando toda minha gratidão em minhas palavras, mais que minha própria vida, eu devia-lhe a vida de minha família.

Clara sorriu ternamente, observando aquela moça graciosa e frágil era impossível se dizer que era a mesma guardiã de instantes atrás. – Não há o que agradecer, eu fiz o que era certo. – ela sorriu graciosamente e encarou a todos. – Os Volturi não irão mais atormentá-los. – declarou com confiança.

-Estamos em débito com você. – Declarou Carlisle mais uma vez. – Espero que possamos um dia retribuir o favor.

Clara sorriu novamente. – Se vocês me permitirem passar um café para mim, já estaria muito bem pago o “favor”. – sua declaração novamente nos pegou de surpresa, ela estava pedindo... Café? Como se pudesse ler nossos pensamentos ou nossas expressões a guardiã riu abertamente. – Ora, eu não sou uma vampira comum, eu como uma humana qualquer.

-Você... Você o que...? – Jasper era o mais atordoado em toda essa situação, ele sabia o sacrifício que era trocar o sangue humano pelo animal, mas Clara estava dizendo que trocava o sangue pela comida humana? Isso... Isso não era possível...

Ninguém soube reagir diante de um pedido tão... Diferente? Clara comia comida humana? Por quê? Pra que? Isso era... Repulsivo. Bella, mais humana que todos, foi a primeira a reagir, sorrindo e tomando Clara pela mão.

-Eu me sentirei honrada em lhe oferecer um pouco de café. – Clara sorriu e provavelmente perceber todas as nossas silenciosas indagações e riu.

-Ora, acho que já ficou claro que eu não sou uma vampira comum não é mesmo? – E de uma maneira travessa ela piscou e acompanhou Bella até a cozinha.

Minha família e eu nos entreolhamos por alguns instantes, confusos, aturdidos, questões queimando em nossas mentes, clamando por respostas, por explicações.

-Nunca saberemos se não perguntarmos. – declarou Alice por fim, puxando Jasper para a cozinha. Demorou mais alguns instantes para todos começarem a segui-la, Renesmee a essa altura já esfregava os olhinhos de sono e achei prudente levava para meu quarto antes de seguir minha família.

Não foi preciso cantar mais que uma música para que minha pequena caísse no sono, retirei seus sapatinhos e seu agasalho, cobri-a devidamente e coloquei almofadas entorno de si, evitando uma possível queda em meio ao sono e segui para a cozinha.

A conversa entre todos e a misteriosa guardiã ainda era puramente social, talvez estivessem me esperando, talvez ninguém havia criado coragem o suficiente para perguntar alguma coisa. Minha Bella havia servido Clara com um café preto e alguns biscoitos e bolos geralmente destinados a Renesmee.

-Ah, Edward, que bom que chegou. – Clara sorriu para mim e tomou um gole de seu café, assenti em resposta e me aproximei de Bella, envolvendo-a em um abraço enquanto me apoiava na pia atrás de nós. – Bom, melhor eu começar a explicar, não posso me demorar muito mais por aqui. – Clara olhou rapidamente para o relógio na parede, um silêncio pesado se seguiu antes da própria guardiã quebrá-lo. – Muito bem, o que desejam saber?

Nos entreolhamos receosos, sem saber ao certo o que perguntar, e em um acordo silencioso, concordamos que Carlisle era o mais indicado para ser o porta-voz de todos, meu pai pareceu compreender tal decisão e tomou a palavra. – O que exatamente, é um guardião? – A voz de Carlisle era firme, contudo muito respeitosa. – Ouvi falar sobre seus poderes e sua autoridade, mas nunca consegui compreender a fundo o que eram...

Clara assentiu, tomando uma postura seria para si. – O mundo inteiro pode ser considerado como o perfeito caos; sempre existiram os bons e ruins, os certos e errados, os fáceis e difíceis, e mesmo sendo rivais por natureza, eles convivem, a sua maneira, harmonicamente. Uma organização dentro da grande confusão.

- Entretanto, esse perfeito caos, nunca funciona perfeitamente por muito tempo, sempre existem tolos a se acharem maiores e melhores, a almejarem o poder sobre os demais, a qualquer custo... – um suspiro triste escapou dos lábios da doce guardiã. – Alguns são visíveis na história, outros nem tanto... Qual era a grande diferença entre Hitler e os judeus? Os negros e os senhores de escravos? Os Tutsis e os Hutus?  - ela deu de ombros. – Nenhuma realmente... Sempre foram todos iguais...

-E assim é feita a natureza, composta de diferentes seres iguais... Complexos em toda a sua estrutura, puros em sua essência, mas corruptos e gananciosos em sua superfície, e com finas linhas separando suas concepções de certo e errado, acabando por misturar idéias distintas, desejos diferentes, valores distorcidos.

-E assim como os humanos, todas as criaturas possuem seu caos, suas ganâncias, sua cede de liderança, de poder se faz presente e no inicio, é fácil concertar um erro tão pequeno, mas a medida que o tempo passa, só um poder maior pode trazer a paz para este inferno criado pelo desejos diabólicos, e em meio a todas as criaturas, é enviado um escolhido para trazer o caos a sua forma perfeita. Cada raça, cada criatura tem sua própria concepção de “salvador”, alguns acreditam ser anjos, outros bruxos, há ainda aqueles que acreditam ser o filho de Deus, como os humanos hoje crêem.

-Jesus Cristo? – indagou Bella com a testa franzida, Clara assentiu séria.

-Para os humanos em especifico, se pode encontrar diversos nomes... Jesus Cristo, Buda, Messias, Javé... – um riso fraco escapou dos lábios da guardiã. – Há quem diga Kurt Cobain e Chuck Norris, mas estes eu não estou bem certa se eram mesmo ou não. – todos nós rimos diante do descontraído comentário. Clara esperou todos nós nos acalmarmos e voltou a ficar séria. – Enfim, para os vampiros, esses escolhidos são chamados de “guardiões”.

-E como se torna um guardião? – indagou Jasper, sua mente queimava em meio a muitas questões, mesmo em meio a todos aqueles anos de lutas e guerras ele jamais ouvira falar dos guardiões e isso o perturbava.

O olhar de Clara perdeu o foco, ela olhou alem da janela, perdida em seus próprios pensamentos. – Reza a lenda que um guardião, para os vampiros, nascera em meio ao caos desfigurado, ele será fruto de uma provação descomunal e crescerá não com sede de vingança, mas justiça, coisas totalmente diferentes.

-Como você foi criada? – indagou Rosalie, curiosa, cuidadosa.

Clara se levantou e caminhou até a janela, fitando a paisagem lá fora. - Eu tinha a vida perfeita, uma família linda, amorosa, doce... Eu não poderia desejar nada mais. Em uma noite tranquila, a morte visitou minha casa e levou meu pai nos braços, enquanto dormia... Ele nada sofreu, mas seu sofrimento foi sentido dez vezes aumentado por nós que ficamos. – Um sorriso triste surgiu em seus lábios. – Nós aprendemos a superar, a aceitar a perda de alguém tão querido. Se era a vontade de Deus, quem éramos nós para contradizer? – ela deu de ombros.

A face de Jasper se distorceu em uma dor descomunal, ele sentia a dor da guardiã, ele sabia enxergar exatamente a dor que a moça tentava nos ocultar. – Nós nos reerguemos, seguimos nossa vida da melhor maneira possível. Foi então que aconteceu... – Clara fechou os olhos e chorou, sem soluços nem desespero, mas chorou, lagrimas silenciosas e traiçoeiras, acertando a cada um de nós com uma piedade descomunal, sem nos permitir o direito a intervir, era seu momento, sua dor.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!
Desculpem a demora!