Exame Ômega escrita por NMCMsama


Capítulo 5
Segundo teste: Limpeza (Parte 1)




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— Escutem com atenção, irei ler o nome dos ômegas que passaram para o próximo teste... — Anunciou Michael, o ômega estava posicionado na entrada da cozinha, segurando uma prancheta com a listagem dos participantes do Exame. Todos esperavam ansiosos, alguns detinham um ar confidente, talvez se sustentando nos seus cursos especializados.

— Bem, já vou indo... — Sussurrou Mikhail para Rodrigo que, por sua vez, cruzava dos dedos e parecia fazer uma prece. O rapaz queria mesmo passar...

— M-mas...Você não vai ouvir os resultados? — Uma expressão de tristeza dominou o rosto arredondado de Rodrigo.

— Eu fiz cereal...Acha mesmo que irei passar?

— Desculpe, eu devia ter te ajudado...Talvez dado um dos meus ovos.

E o que eu iria fazer com ele? Só se for ovo cozido ou mexido, no final daria no mesmo: nenhum prato refinado. Pensou, mas não expressou em voz alta. Ainda mais, porque a verdade era que já queimou muito ovo mexido em sua vida e chegou a explodir ovos cozidos...Cereal era uma garantia de que não iria causar um mini incêndio na cozinha. Além disso, não se podia esquecer que a cozinha onde se encontrava era do tipo elegante e cara, algo que Mikhail não poderia pagar caso gerasse danos...

— Está tudo bem! — Sorriu tentando tranquilizar o outro ômega, não queria que ele se sentisse culpado, ademais, Rodrigo não tinha que ajudá-lo, era uma competição. — Eu não imaginei que iria avançar muito neste Exame. Alias, não concordo muito com toda essa ideia de Exame Ômega. Não sabemos nem quem é esse alfa. Tipo, como saberemos se o cara é legal ou um verdadeiro pé no saco? Somos avaliados, mas esse alfa não deveria ser avaliado também?

— Mikhail? Onde está o senhor Mikhail? — Micha franziu o cenho, alguém o chamava. Também notou que não era só Rodrigo que o encarava com atenção. Não, todos os ômegas o observavam, um misto de expressões críticas, de repugnância e de surpresa. Pelo visto, eles todos tinham ouvido a sua opinião sobre o Exame. Perfeito!

— Er... Eu. — Levantou a mão — Sou Mikhail.

Michael o mirou, se os seus olhos tivessem a capacidade de lançarem raios lasers Micha já teria sido destruído ali mesmo. Teria virado pó. Entretanto, os deuses não haviam conferido terríveis podereis aos adoráveis ômegas.

— Você passou. — Falou isso rangendo os dentes.

— Hã? — Micha franziu o cenho — Desculpe, acho que não ouvi direito...Pareceu que você disse que eu tinha passado.

— Você escutou muito bem, Mikhail...Você passou.

Micha não sabia do que dizer. Aquele resultado não era esperado. Não por ele nem pelos ômegas que ali estavam. Podia sentir a mudança no ambiente, não só na expressão furiosa dos outros concorrentes, como também o cheiro...Os feromônios eram um aviso de perigo. Ômegas irritados podiam ser vingativos e ainda mais competitivos. Mikhail sentia que tinha sido lançada diante de uma arena do coliseu aonde estava prestes a enfrentar raivosos gladiadores

— Mas, você pode desistir, sabe? — Michael continuou falando — Afinal, você parece não concordar com o Exame, não é mesmo? Fez um prato meia-boca e ainda desmerece as tradições. Obviamente aceitou o convite para a competição como uma forma de brincadeira. Meu filho não precisa de ômegas do seu tipo.

Sim, Micha podia desistir, mas não desta maneira. Não quando assumem que ele só estava brincando. Ainda mais, quando criticam a sua forma de ser. Não era menos ômega que os outros ali, só por não saber preparar pratos grã-finos.

— O meu tipo? — Ergueu o queixo, estufando o peito com soberba — Me corrija se eu tiver errado, quem me escolheu para passar para a próxima etapa do Exame? Foi você?

Michael nada disse, não precisa responder, pois todos sabiam a resposta.

— Pois é, foi seu filho. Isso significa que o meu tipo deve agradá-lo de alguma forma. Sim, tenho diversas críticas quanto ao modelo de Exame, mas não vou desistir unicamente por minha presença incomode vocês. Irei ficar até o final, ou melhor, até o alfa me desqualificar. Até lá, vocês terão que me engolir!

Michael abriu e fechou a boca, seu rosto ficou vermelho e Micha tinha certeza que não era uma vermelhidão causada por vergonha...Não. Era fúria. Michael era a personificação de um vulcão prestes a entrar em erupção.  

— Bem, ele está certo. — Uma nova voz por trás de Michael se pronunciou, mais um ômega, cabelos negros, pele cor de porcelana e expressivos olhos verdes — Se eu me recordo bem das regras, papa, um ômega só pode sair do Exame quando desistir ou for desqualificado pelo o Alfa, não é mesmo?

— Albert... — Parecia que o ômega mais velho estava prestes a rosnar, só que isso seria impossível.

— Então, como ele mesmo disse, teremos que engoli-lo. — O tal Albert disse em um tom tão sério que realmente parecia de fato Micha seria engolido. Aquilo, de certa forma, não soou muito bem.

— Que seja... Ele não irá durar mesmo. O próximo teste levará em consideração a dedicação do ômega. Responsabilidade e força de vontade. Qualidades essenciais para um ômega de verdade.

Ouch. Sinto como estivesse sendo insultado de forma indireta. Micha sentia que tinha que se provar de alguma forma. Não queria abandonar a competição fazendo, desta forma, com que as críticas lançadas pelo tal de Michael fossem verdadeiras. Não seria covarde...Iria competir e do seu modo.

— A competição de amanhã será de limpeza. — Anunciou Michael com um sorriso satisfeito no rosto.

Droga. Onde eu acabei me metendo? Se criticou, afinal, não tinha planejado chegar na próxima fase, tão pouco esperava ter passado.

Mas o alfa me escolheu. Ainda não sabia dizer muito bem o que aquilo significava. Havia duas possibilidades: 1) o alfa estava brincando ou tentando se rebelar de algum modo infantil, assim, usaria Mikhail como forma de bode expiatório. Um brinquedo para causar irritação aos pais. 2) o alfa realmente se interessou pelo seu prato pelo o que ele representava.

Duvido muito que seja a segunda opção. Concluiu sem aprofundar muito nesse raciocínio. Afinal, se o pai ômega deste Alfa Andrey já demonstrar claramente sua antipatia, era bem provável que Micha não teria muitas chances de passar nos testes seguintes. Ainda mais, não deveria se importar com esse tal Alfa. Não entrara na competição para conhecê-lo e tão pouco devia se interessar por ele!

Bem, agora já tinha se comprometido e não era o tipo de pessoa que dava para trás diante de um desafio. Se o próximo teste era limpeza...Ele iria se tornar um verdadeiro guerreiro da faxina! Um cavaleiro do esfregão! Um samurai da vassoura! Um ninja do sabão em pó! Enfim, seria uma batalha épica!

~***~

— EH? Você passou?

— Não pareçam tão surpresos... — Resmungou Mikhail quando chegou em casa. Seus pais tinham preparado uma festa para “comemorar” a sua derrota. Realmente não era algo muito convencional ...Mas seus progenitores acharam que seriam uma boa ideia. Até tinham convidados seus avós para a festinha familiar.

— O primeiro teste era culinário, não é? —  Questionou seu avô-ômega, Giovani. Mikhail tinha herdado muito dele, principalmente em relação a sua fisionomia. Ambos eram delgados, cabelos negros acinzentados (pois apesar da idade, Giovani ainda não apresentava cabelos brancos) e olhos de igual coloração — Você sempre foi uma bosta como cozinheiro... Em outras palavras, você só cozinha merda.

Bem, quanto a personalidade...Seu avô tinha uma tremenda boca suja.

— E-ei... Não cozinho tão ruim assim, vovô! — Corou envergonhado.

— Eu me recordo quando você fez aqueles biscoitos. Eu ainda os tenho em casa. Uso como peso para as portas. Você fez a 10 anos atrás...E o biscoito ainda se mantem duro como uma pedra.

— Giovani, querido... — Seu outro avô era um alfa de estatura baixa, muitas vezes era confundido com um beta. Alias, ele parecia o total oposto do que um alfa deveria agir. Sem falar que sua glândula de feromônio parecia não funcionar direito, por isso não detinha a dominância característica do seu tipo. Era assim classificado como alfa recessivo. Muitos destes eram excluídos da sociedade, por não se enquadrarem no padrão previsto... O destino de um recessivo era incerto e obscuro. Mesmo assim, Giovani escolheu o alfa baixinho, aquele que qualquer ômega iria rejeitar.

— O que? Estou mentido?

—Não devemos destacar os defeitos de nosso neto. Além disso, você também não cozinha muito bem...Queimou até água para fazer o chá.

— Hunf! Você tem um coração muito mole, Cezar. E eu cozinho maravilhosamente bem! Só prefiro pedir comidas via telefone por se mais prático, só isso! — Falou enquanto comia um grande pedaço de torta de limão e fazia biquinho nos lábios.

— Mas mesmo sendo ruim, você foi capaz de passar no primeiro teste. — Seu pai parecia admirado — Acho que devo lhe dar os parabéns!

— Meu filhinho! Estou tão feliz por você! — Declarou Mariah puxando Mikhail para um abraço apertado — Vamos comemorar!

— Isso! Vamos abrir uma garrafa de champanhe! Vamos nos embebedar! — Falou Giovani todo animado.

— M-mas...Lembrem que Micha deve levantar-se cedo para o segundo teste... — Recordou Cezar, mas os ômegas não estavam ouvindo, estava mais interessado em retirar as garrafas de vinho e champanhe da despensa.

~***~

— O armazém? — Questionou Micha que estava com uma tremenda dor de cabeça. Tinha vindo para a competição do segundo dia com óculos escuros. A luz do sol, mesmo que atenuada pelas nuvens, incomodava. Sabia que não devia ter se deixado levar por seu avô e mãe. Afinal, se ainda gostaria de competir era melhor que não estivesse sofrendo de ressaca, não é mesmo? Mas, desde quando escutava a voz da razão? Se a escutasse não teriam entrado naquele Exame para começo de conversa...

— Sim. — Anuiu Michael com um sorriso nada cordial exposto em seus lábios — Você terá até a hora do jantar para arrumar.

— Mas...Isso é tipo...Grande! — Era um galpão localizado fora da residência. Pelo visto, era destinado para entulhar troçadas. E grande era o perfeito adjetivo para descrevê-lo.

— Vai desistir? — Michael inqueriu em um claro de provocação.

— Não vou. — Ajeitou os óculos escuros que insistiam escorregar sobre o nariz. Sabia que tinha oferecido o trabalho mais pesado. Rodrigo, que tinha conseguido passar para o segundo dia, tinha ficado responsável por limpar a cozinha...E ele não faria sozinho, havia mais um ômega designado para a tarefa. Muitos dos que passaram foram designados para limpar a residência principal. Aquele galpão era uma tarefa injusta, mas Micha não iria desistir. Talvez fosse impossível, mas iria lutar até o final.

— Então, ao trabalho! — O ômega mais velho bateu palmas como um sinal para que iniciasse sua tarefa.

Esses testes deveriam não só nos avaliar, mas seriam um reflexo do que deveriam fazer no cotidiano da vida de casado. Aposto que esse tal Michael nunca limpou esse galpão desde que se casou! Pensou enfurecido enquanto abria a porta e foi logo recebido por uma nuvem de fumaça.

— Merda... — A situação era pior do que tinha imaginado.

— Bem...Vamos logo começar com isso... — Resmungou enquanto arregaçava as mangas. Pelo menos limpar era algo que sabia fazer. Não era necessariamente uma disciplina ensinada no instituto, mas era uma tarefa obrigatório a todo ômega. Após as aulas, tinham que limpar a sala. Havia mutirões organizados a cada semana para fazer a limpeza da escola. Não havia zeladores ou qualquer funcionário da limpeza nos centros educacionais para ômegas. Contudo, para Mikhail, essa competência não deveria ser pensava como algo exclusivo dos ômegas. Todos deveriam saber, minimamente, serem higiênicos! Por isso, aquele teste era uma grande idiotice.

— Que seja... — Pegou seu material de limpeza – fornecido gratuitamente por Michael – e adentrou no galpão escuro e empoeirado.

~***~

Alfas deveriam ser corajosos, em outras palavras, não deveriam escapar do perigo. Enfrentariam qualquer obstáculo de cabeça erguida e prontos para lutar com todas as forças contra o inimigo. Andrey sabia dessa suposta qualidade alfa, mas também sabia que era muito mais prudente fugir do que enfrentar situações desconfortáveis, tal como o fato de sua casa ficar repleta de ômegas que desejavam ser seus futuros esposos/esposas. Aonde fosse, podia sentir sendo observado. A regra do Exame os impedia de conversar diretamente com o Alfa, mas não os impedia de tentar usar outras táticas para demonstrar suas qualidades...Como fazerem poses sensuais, por exemplo. Ou o espionarem no banheiro enquanto fazia suas necessidades fisiológicas. O que era muito embaraçoso, ainda mais na presença de seus pais e irmãos.

— Quantos dias falta para terminar essa loucura? — Questionou a ninguém em particular. Tinha conseguido sair de casa, sem ser percebido pelos concorrentes. Deveria ter algum lugar tranquilo e sossegado para se esconder.

— O armazém... — Notou o galpão logo ao fim da propriedade. Seria um local perfeito para passar o tempo. Pelo menos até o jantar. Se aproximou a passos rápidos da edificação e quando abriu a porta...

~***~

Havia caixas, cadeiras quebradas, quadros antigos... E tudo estava coberto por uma película grossa de poeira.

— Se eles são tão ricos assim, deveriam ter contratado alguém para limpar esse...Esse...Lixão! — Usava o espanador como uma verdadeira arma, atacando os objetos inanimados com fervor. Entretanto, uma nuvem de poeira passou a se levantar criando uma verdadeira neblina de sujeira.

— Perfeito! Cof...Cof...Além de não passar neste teste irei sufocar! — Reclamou, tateando, buscando a porta de entrada. Na sua busca as cegas, acaba por tropeçar no balde de água. Caindo rumo ao vazio.

Fechou os olhos, esperando o impacto com o chão áspero, mas ao invés disso. Colidiu sobre algo rígido, mas confortável.

— Mas...O que? — A nuvem de poeira começou a baixar, o suficiente para notar que tinha sim alcançado a porta de entrada, mas que havia caído sobre alguém...Mais precisamente...Um alfa...

— Ômega lutador de kung fu? — Perguntou o alfa, estreitando os olhos, como que não acreditando no que via.

Era o alfa que o tinha “salvado” no trem (não que Mikhail precisava ser salvo!). E o mesmo alfa agora o tinha livrado de uma baita queda...

Ele parece ter um timing perfeito para se intrometer em meus problemas. Pensou contrariado.

Mas espera...O que ele estaria fazendo aqui? Um alfa...Em uma Exame ômega? Não pode ser...Ele é o tal Andrey Phillipe Morgantein?


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