Exame Ômega escrita por NMCMsama


Capítulo 4
Primeiro teste: Culinária




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— Droga, comi demais... — Reclamou enquanto descia as escadas, tinha passado a noite anterior fazendo visitas frequentes ao “trono” no banheiro, quase se sentia um verdadeiro rei, sendo o seu reinado restrito ao território do sanitário. Não era um reino pra lá de glorioso... Isso era consequência de sua gula impulsionada por sua querida mamãe ômega que insista em dar mais um pedaço de torta de limão.

— Oh! Bom dia! — Mariah já estava toda animada. Era engraçado ver a ômega transbordando de tamanha energia. Era quase como ver um hamster correndo alegremente em sua roda de exercícios.

— Eu já fiz seu café da manhã. Arrumei suas roupas cerimônias. Quer outro pedaço de torta de limão?

— Er...Melhor não. — Já tinha melhorado um pouco, mas seria imprudente se deixar pela a gula dominasse seus sentidos novamente. Podia não ter chance na competição ômega, mas ser desqualificação devido a diarreia ou problemas de gases? Não seria algo que gostaria de ter como lembrança.

— Roupas cerimônias? — Questionou enquanto se servia de uma xícara de chá — Confesso que não pesquisei a fundo sobre todas as tradições do Exame...Tenho que vestir uma roupa especial?

— Lógico que sim! — Mariah exclamou em um tom de indignação — Eu tive que visitar o seu avô-ômega, para pedir as suas vestimentas...

— Hã? O meu avô? Mas por quê?

— Pois as roupas são passadas de uma geração para outra. E bem, minha roupa não iria caber em você...

Mikhail tinha de concordar com isso, já que sua mãe além de ser mais baixinha que ele (1,58) também era meio que gordinha. Micha preferia denominá-la como fofinha. Ainda mais, por ser uma ômega mulher, era bem possível que o modelo de roupa não caberia nele, afinal...Ele não dispunha dos fartos seios como a sua mãe.

— Seu avô teve que comprar uma roupa para mim para o meu Exame, mas no seu caso, vai caber direitinho! — Ela disse isso enquanto colocava uma caixa com tampa de madeira sobre a mesa da cozinha, em seu interior, havia uma roupa cuidadosamente guardada.

— Nossa...Esse negócio é sério. — Murmurou retirando a camisa branca da caixa. Podia sentir que o material do tecido era de alta qualidade.

Mariah assentiu.

— Se vista para que possamos tirar selfies! — Mandou.

Micha fez uma careta.

— Mãe, você sabe que...Se seu desejo era só me ver vestido com isso era só pedir. Não precisava me envolver no Exame ou algo do tipo...

— Oh! Não! Você só pode vestir isso para os Exames! Dá azar vestir as roupas cerimônias sem estar relacionadas ao Exame, você não sabia? Coisas horríveis ocorrem...Como ficar solteiro para sempre. Ou mesmo ter uma doença incurável. Ou desenvolver hemorroidas. Urticária. Piolho. Bicho de pé ...

— Já entendi. — Cortou com delicadeza, Micha. Sua família sempre foi supersticiosa, na verdade grande parte da sociedade detinha sua parcela de ideias fantasiosas. Como o fato de Alfas terem que marcar os ômegas no pescoço. Uma mordida sobre a glândula de feromônios localizada sobre a pele na parte detrás do pescoço. Havia uma lenda que dizia que ao ser marcado o ômega e o alfa estariam eternamente ligados. O que era uma grande mentira. A verdade é que a marca podia ser uma forma de assinalar que o ômega possuia um parceiro, já que o seu cheiro muda depois do ato...Mas se a marca não for reposta (ou seja, se não houver mais mordidas!) o efeito logo iria sumir. Infelizmente, muitos ômegas acham que a marca seria sinônimo de casamento e comprometimento eterno. Romantizando um ato puramente instinto, pois alfas são possessivos por natureza e desejam marcar seus parceiros como uma forma de demarcação o de território. Em outras palavras, objetificando o ômega.

Micha analisou a camisa, dava para ver estava bem conservada. Seu avô deveria ter tomado bastante cuidado para manter aquela peça. Apesar de achar toda aquela história de Exame uma grande babaquice, tinha que respeitar a tradição familiar e os sentimentos dos seus parentes ômegas.

— O branco significa a pureza e virgindade. — Mariah começou a explicar.

— Mamãe eu nem sou virgem. — Resmungou Micha.

— Ah! Você, não é? — A sua mãe corou.

— Er... — Ops, talvez não devesse revelar sobre suas aventuras na capital.

— Querida, esse negócio de ômegas se guardarem para o casamento é meio ultrapassado. — Comentou seu pai, que acabara de chegar na cozinha, bocejando.

— Bem, concordo. — Mariah assentiu — Mas você usou proteção, não é? E quem era? Era bonito? Ele te tratou bem? Doeu? Será que teremos que conversar sobre abelhas e flores? Tenho preservativos, podemos treinar com bananas, só para garantir que você sabe o básico...

— Mãe... — Agora era a vez de Micha corar — Falemos disso depois, ok? Você estava falando da camisa...

— Oh! Sim! Branco é a pureza. A laço negro que você usara na gola, tal como uma gravata, representa o comprometimento com o Exame e a natureza ômega. As calças também são brancas, como pode ver...

— Hum... Só espero que eu não suje essa roupa, parece bem cara. Todos os ômegas irão vestir isso?

— Aham! Trata-se da roupa padrão para os Exames.

Micha soltou um suspiro, aquele modelo não fazia muito bem o seu estilo. Preferia algo mais dark. Com logotipos de chamas e caveiras. Vestindo aquilo sentia que estava usando uma espécie de uniforme escolar.

— Se vista logo! Quero tirar os selfies! Seu avô também quer fotos!

— Certo... — Novamente soltou um suspiro, melhor acabar logo com isso...

~***~

Pronto. Estava vestido. Tinha feito uma sessão de fotos com seus pais, com direitos a poses e tudo mais. Seu avos deveriam estar muitos feliz ao receberem as mais de 100 fotos tiradas por Mariah. Agora era o momento do Exame!

— Ricaço... — Analisou Mikhail quando por fim chegou na mansão Morgantein, no alto da colina mais alta da cidade. Já havia um grupo de ômegas na frente, todos vestidos com suas camisas da pureza e gravatas da servidão ômega. O humor de Micha começou a decair...

Talvez devesse ter comido mais umas tortas de limão, comida sempre o animava e o ajudaria a suportar aquele martírio.

— ...Estou planejando fazer uma torrada de salmão defumado.

— Parece legal, mas tenho certeza que minhas fritadas de legumes irão ser apreciadas pelo paladar do meu alfa.

— Você não está se achando, não é mesmo? Usando o pronome possessivo meu? Só por que fez o curso de culinário especializada para Exames Ômegas? Não pense que o curso irá te salvar!

—...Vou utilizar as receitas ancestrais da minha família. Elas são praticamente mágicas para conquistar os Alfas pelo o paladar.

Micha franziu o cenho, por que eles todos estão falando sobre culinária agora?

Os testes. Recordou praguejando internamente. Era uma das avaliações do Exame... Culinária era uma das bases do estereótipo ômega. Muitos diziam que um ômega que não sabe cozinhar não era adequado para o casamento. Isso, para Mikhail, seria um grande problema.

— Atenção! Todos os participantes. — Anunciou um ômega de cabelos negros, batendo palmas para chamar atenção da multidão que se formava na frente da residência. — Eu serei o responsável por guiá-los ao longo deste Exame. E quem sou eu? Me chamo Michael Morgantein, sou o ômega e esposo do alfa líder desta família. Meu dever é garantir que vocês sejam avaliados de forma justa e igualitária. Bem que, meu filho que dará a palavra final em cada teste. Como vocês todos devem saber o primeiro teste será a avaliação de suas competências culinárias. Algo básico para qualquer ômega...

Bem eu sei fazer café, afinal, eu sou um Barista. Pensou com relutância. Sabia fazer café...Mas somente isso. Suas notas no Instituto eram as piores naquela matéria. Estava literalmente lascado.

—... Bem, o que estão esperando? Minha cozinha está à disposição de vocês. Me sigam.

Ao falar isso os ômegas, de forma ordenada, acompanharam o tal de Michael. Micha ainda hesitava em segui-los. Pelo visto, seria mesmo desqualificado no primeiro teste.

Será que macarrão instantâneo poderia ser utilizado? Era quase um expert em Miojo...

— Nervoso? — Alguém falou ao seu lado. Micha se sobressaltou e virou para lado, quase trombando no ômega que o havia perguntado.

— Ah! Desculpe! — Falou rapidamente para o garoto de pelo morena e ligeiramente acima do peso. Ele era do tipo ômega fofinho ao estilo de sua mãe.

— Não. Eu estou acostumado a não...Ser notado.

Mikhail não gostou do tom apático do garoto.

— Eu não te vi por estar muito submerso em pensamento! Tipo, nervoso? Pode-se dizer que sim! — Riu e deu uma leve tapinha no ombro do ômega.

— Também não sabe o que fazer? Eu estudei várias técnicas e pratos, na noite anterior...Mas ainda estou muito inseguro...Todos parecem serem tão talentosos.

Bem, eu estava meio ocupado indo ao banheiro com dor de barriga na noite passada. Pensou, verdade era que nem sabia qual seria os testes a serem feitos.

— Er...Que tal irmos? Aposto que você irá se sair bem!

— Sério? Você acha mesmo? — Os olhos azuis do ômega brilhavam com o incentivo, bem possível que ele não ouvisse tais coisas com frequência.

— Pode ter certeza! Me chamo Mikhail, alias...

— Sou R-Rodrigo...É um prazer te conhecer.

— Prazer é meu!

Micha esperava que pelo menos Rodrigo passasse para o próximo teste...

~***~

 Bem, o que fazer?

A cozinha da mansão era imensa. Tinha espaço o suficiente para os ômegas, mesmo assim eles lutavam uns contra os outros. Trombando de propósito. Fazendo ingredientes caírem. Derrubando panelas. Eles eram tão infantis. O Exame parecia mais uma batalha de feras selvagens do que dóceis e recatados ômegas.

— O que você pretende fazer? — Perguntou Rodrigo que graça aos deuses conseguira pegar uma frigideira para si e alguns ovos.

— Hum... — Pelo o que tinha visto, a maior parte dos ingredientes tinham sido conquistados pelos outros competidores.

— Vou fazer algo simples. — Revelou com um sorriso.

Rodrigo parecia que queria dizer algo, talvez uma crítica, mas o tímido ômega apenas assentiu, incentivando Micha, de certa forma.

Que seja, não estou aqui para vencer. Ainda mais, não vou fingir ser algo que não sou.

Estava decidido, estendo o braço e pegou uma caixa de cereais...

~***~

— São mais de 20 inscritos... — Andrey olhou a lista de ômegas de seu Exame, só em ver a quantidade já sentia um frio na barriga. Como iria avaliar todos? Ou melhor, como iria dispensar todos? Teria vários ômegas raivoso e vingativos em suas costas.

— Será um tremendo café da manhã! Será que posso comer também? — Alphonse estava já se sentando na mesa, lógico que seu irmão comilão iria se divertir com aquele teste.

— Você não estava ouvindo? Se são mais de 20 inscritos significa dizer que são mais de 20 pratos! — Frisou Andrey.

— E...?

— Ninguém aqui tem estomago de buraco negro!

— Quiçá, o mundo é feito de probabilidades... — Comentou Albert — Eu acredito que existe uma grande possibilidade que nosso irmão caçula pode ter uma região no seu abdômen da qual nada, nem mesmo partículas que se movem à velocidade da luz, podem escapar...Um corpo infinitamente denso, produzindo um campo gravitacional tão intenso que nem mesmo a luz consegue escapar de dentro dele.

— Hehe! — Riu o beta, como se o que seu irmão ômega tinha acabado de dizer fosse uma espécie de elogio. E talvez realmente fosse.

— Além disso, não esqueçam que é Andrey que deve avaliar os pratos, sem saber a quem pertencem... — Informou seu pai alfa.

Eu irei morrer...Mesmo com o apetite alfa não será possível comer tantos pratos e ser capaz de julgar qual é bom e qual é o ruim? Apesar de não ter comido nada ainda, já se sentia enjoado. Ainda mais, quando sabia que a maioria dos pratos seriam requintados e estilizado, muitas vezes eram mais bonitos de se ver do que gostosos. Esse era o padrão ensinado nas escolas e institutos de formação ômega.

— Os pratos irão começar a ser servidos. — Anunciou seu papa todo sorridente, sim, ele estava se divertindo muito organizado todo aquele Exame. Parecia uma criança no dia de Natal.

— Que seja... — Andrey preparou o estomago.

E os pratos foram servidos. Como tinha imaginando, eram requintados, muitos até pareciam serem retirados de um restaurante fino. Restaurantes esses que Andrey sempre evitava de visitar. Por que ninguém faziam algo simples?

— Mas o que é isso? — Seu papa inqueriu com claro desprezo na fala — Só pode ser brincadeira...

Andrey focou no prato que chamara a atenção do seu papa...Uma tigela de cereais e leite, acompanhando por uma caneca de café. Aquilo era um tipo de coisa que não esperava ver em um Exame tradicional ômega.

— Alguém deve ter confundido objetivo do teste...

— Não, papa...Eu quero esse prato.

Seu papa o mirou com descrença como se Andrey estivesse também participando desta brincadeira.

— Mas...

— Eu como cereais e café todos o dia. Esse Exame, mais necessariamente, esse teste, era para provar que o ômega compactue com a minha preferência, não é mesmo? Eu não sou um alfa exigente, papa...Não tenho tempo para cafés da manhã que parecem saídos de uma propaganda da Tv. Sou prático.

— Drey-Drey... Mas, isso não prova que esse ômega pode ser satisfatório. Pode significar desleixo e falta de comprometimento.

— Papa, desculpe te interromper. Mas sou eu que devo dar a palavra final da avaliação, não é mesmo?

Papa mordeu o lábio inferior e de contragosto assentiu.

— Pois muito bem... — Andrey pegou a caneca de café e bebeu. Logo que o gosto paradoxal do líquido, amargo e doce, verteu em sua boca, Andrey sentiu suas papilas gustativas cantarem. Seu papa estava errado... Não havia desleixo naquele prato. O ômega que o fez apenas demonstrou quem ele realmente é. Optou por ser verdadeiro e não se ocultar por trás de receitas tradicionais e designer chiques. Era como um cartão de apresentação expondo sua personalidade e características.

Andrey sorriu.

— Passou.

— Hã? — Papa indagou, franzindo o cenho.

— Quem quer que seja o ômega que fez esse prato...Passou para a próxima fase do teste.

Se papa concordava ou não com aquela avaliação, não falou abertamente. Pegou a prancheta que tinha em mãos e rabiscou algo na lista. Iria saber quem era o responsável por aquele prato ridículo e prestar maior atenção nesse individuo nos testes seguintes.


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