Exame Ômega escrita por NMCMsama


Capítulo 3
Andrey, o alfa




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O ômega tinha escapado, nem tivera chance de se explicar. Parcialmente a culpa era do jovem ômega que agora se agarrava em seu braço, tagarelando agradecimentos e soltando evidentes sinais de flerte. Andrey, com educação, tentava se desvencilhar dos braços do adolescente. Sabia, em parte, que o que motivava as atitudes do mais novo era sua própria biologia, os instintos invisíveis que apertavam os botões internos do controle remoto que dominava o corpo do ômega, entretanto, eles (alfas, betas e ômegas) não eram apenas máquinas orgânicas movidas a instintos! Não, eram seres racionais capazes de julgar seus próprios atos e assim impor limites a suas necessidades biológicas.

Andrey ficara curioso com o ômega mais velho, ansiava por oportunidades de conversar com alguém que não agisse como um cachorrinho assustado ou no cio, assim que demonstrava suas qualidades alfas. Para muitos o grau de dominância de um alfa expressa o quão importante e poderosos um alfa era. Desta forma, quanto mais dominante for, maior influência exercerá a todos a sua volta. Outros alfas se submeterão a sua vontade e ômegas praticamente ficarão de quatro aos seus pés, desejando serem copulados e marcados. Aquilo deveria o deixar orgulhoso, mas Andrey tinha uma ideia diferente sobre tudo aquilo. Era inconveniente ser tão dominante. As pessoas o temiam e o tratavam como uma espécie de pop star. Não eram honestas, o vinham apenas como um Alfa dominante e não como Andrey.

Desvantagens de ser poderoso alfa. Pensou ressentindo. De contragosto resolveu acompanhar o adolescente até a plataforma, só para garantir que ele estivesse seguro do “ataque” de outro alfa pedófilo. Ainda mais, sentia que era o seu dever com alfa fazer esse tipo de coisa.

Depois de receber os agradecimentos dos pais do adolescente, sorrateiramente escapou. Temia que eles confundissem sua atitude altruísta como uma forma de corte ao ômega.

Finalmente se viu livre daquela complicação e por fim poderia ir para casa. Contudo, a imagem do ômega que tivera a audácia de enfrentar um alfa estava marcada em sua mente. Se ele tinha descido naquela estação, significava que ele também morava ou estava visitando a cidade Solntse, logo eles poderiam se esbarrar pelas ruas estreitas e pitoresca da cidadezinha. Quem sabe...

~***~

A construção se destacava na paisagem, posicionada sobre a colina, parecia um castelo se erguendo por além das nuvens. Sendo que as nuvens era a cerração típica da região e o dito castelo era uma mansão ao estilo colonial que já tinha um centenário de idade. Aquela edificação devia ser tombada como patrimônio histórico de Solntse.

Andrey apresentava sentimentos contraditórios em relação a sua vinda a sua cidade natal. Em parte, estava feliz em visitar a sua família, por outro lado, sentia que algo não estava certo. Escondiam algo...

Quando bateu na porta de entrada, se surpreendeu em ser recebido por seu irmão ômega.

— Oh! Oi, drey-drey. — Albert possuía imensos olhos cor esmeralda, cabelos sombrios, ambas características se avultam em contraste com sua tez alva como a neve logo após uma nevasca.

— O que você está fazendo aqui? — Andrey indagou com certa preocupação.

— O que? Não posso visitar meu querido irmão mais velho?

Aquela não era uma boa resposta.

— Drey-Drey! — Uma bola de energia se intrometeu na conversa, outro irmão mais novo, desta vez um beta. Cabelos castanhos e olhos cor de mel. Sardas cobriam parte do seu rosto jovial e alegre.

— Alphonse... E o que você está fazendo aqui?

— Não posso visitar o meu querido irmão mais velho?

Perigo! Perigo! Um sinal de alerta foi ativado em sua mente. Albert e Alphonse estavam ali, dando a mesma resposta e agindo de forma suspeita. Sem dúvida sua intuição estava correta: algo estava acontecendo.

Adentrou na casa, suas malas sendo entregues aos criados. Seus irmãos o acompanhavam todos sorridentes até a sala de estar. Andrey tentava engajá-los em uma conversa, mas Alphonse e Albert nada respondiam, apenas trocavam olhares entre si e risadas.

Droga, pressentindo que eu sou a piada.

— Andrey! — Um homem esguiou de longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, vestindo um engomado blêise cor bege e combinava com a suas calças brancas de linho — Meu filho, fico feliz com a sua chegada.

— Papa... —Disse acenando, atrás do seu pai ômega, seu outro pai Alfa estava sentando em uma poltrona enquanto lia o jornal. Ao notar a sua presença, abaixou o referido jornal e piscou de forma cordial.

— A viagem foi tranquila? Se alimentou? Você parece tão magrinho! Vou pedir para a cozinheira preparar um jantar... — Como sempre seu papa tinha ativado o seu modo papai coruja. Como poderia estar magro se era puro músculo? Sabia que estava dentro da sua média de peso. Alias, alfas eram caracterizados pelo o seu grande apetite o que estava atrelado a seu grande nível de atividade metabólica o que demandava consumo de altas doses de calorias diárias. Um alfa entrando de dieta era mesma coisa que assinar o seu atestado de óbito. Por isso, mesmo não estando com tanta fome assim, Andrey preferiu não contradizer o seu papa; toda a comida era benvinda. 

— Papa, o que está acontecendo? Você me pediu para te visitar pois papai estava doente e precisava do meu apoio. — Falando isso mirou o seu progenitor alfa que no momento estava acendendo o seu estimado cachimbo, ao perceber que era o foco da atenção do seu filho acaba por queimar o dedo com o fósforo que segurava e solta uma lista de xingamentos — Pelo visto, papai está muito bem.

— Ele está? — Uma coisa Andrey tinha total certeza em relação ao seu papa, ele nunca seria um bom ator — Querido, você está bem?

— Cof! Cof! — Fingiu tossir apesar de ainda fumar o seu cachimbo— Acho que peguei um resfriado. Você sabe como eu fico quando a umidade começa a aumentar. Meus pulmões não são como eram antigamente.

— Oh! Coitadinho! Viu? Ele está resfriado e precisa de cuidado!

— Sim, preciso de cuidados!

Seu pai e papa se mereciam mesmo, pois ambos eram péssimos atores.

— Aham... Sei. — Andrey franziu o cenho — Por que não dizem logo o motivo de me trazerem aqui? Não esqueça que tenho um trabalho e responsabilidades na capital, não posso vir aqui socorrê-los quando não tem nada a ser socorrido!

— Ora, que filho alfa desalmado! — Choramingou papa retirando um lenço de sedo do bolso e enxugando as lágrimas inexistentes — Só queríamos a sua presença para um momento em família, ou esqueceu que somos a sua família?

Andrey rolou os olhos com aquele drama.

— Papai. — Arriscou com o seu alfa-pai — A verdade.

— Bem... — Pigarreou — Estamos pensando, seu papa e eu, como você está solitário... E você sabe o velho ditado: Um alfa sozinho é um alfa infeliz.

— Ah, não! — Cortou Andrey já sabendo aonde aquele papo iria chegar.

— Ah! Sim! — Papa colocou as mãos em sua fina cintura e lançou o seu melhor olhar mortal, que era o suficiente para fazer Andrey se calar. Papa podia ser ômega, mas as vezes tinha tanta dominância quanto um alfa — Você anda escapando de suas responsabilidades como o futuro líder da família. Você sabe muito bem que os negócios da família devem ser herdados para o próximo Alfa na linha sucessória, mas esse mesmo Alfa deve estar casado.

— Papa, eu sei sobre a tradição de...

— Eu ainda não acabei de falar, Andrey Philippe Morgantein.

Falou o nome completo, estava mesmo encrencado.

— E o que são os negócios da família? A fazenda de oliveiras! E você sabia que seu primo Brian se casou na semana passada? Se seu pai tivesse alguma coisa, não que ele tenha algo além do resfriado que informamos anteriormente, sabe quem herdaria o negócio?

Papa esperou, então não se tratava de uma pergunta retórica, teria que responder.

— Brian?

— Exatamente, o Bobalhão do Brian!

Andrey tentou controlar a vontade de rolar os olhos. Brian podia ser tudo, menos um fazendeiro. Pouco ligaria para a herança da família.

— E qual seria a solução? — Enfiou as mãos no bolso, já temendo a resposta.

— Um Exame Ômega! — Desta vez papa falou aquilo em um tom alegre, como estivesse anunciando uma festa divertida.

— Eu não preciso disso...

— Não precisa? Quando foi a última vez que se relacionou.

— Papa, não acho que desejo falar da minha vida sexual com você.

— Não me importo com sua vida sexual e sim com a matrimonial! Seus irmãos já se casaram e eles são mais novos!

— Verdade Drey-drey. Você irá ficar para titio. — Comentou Alphonse todo risonho.

—Tarde demais, ele já é titio. — Lembrou Albert que segurava um bebê choroso nos braços.

— Pois é... — Gargalhou o seu irmão beta ao ponto de chorar.

Papa encarou de forma crítica sua prole. Pai-alfa fingiu ler o jornal, tentando se distanciar da possível confusão que se formava.

— Se eu concordar com isso, você irá parar de tentar me arrumar um ômega para casar? — Inqueriu Andrey com cautela, afinal não era a primeira vez que seu papa tentava empurrar um ômega goela abaixo para que ele o marcasse, lógico que as táticas anteriores eram mais sutis e não envolviam o Exame Ômega, mesmo assim, tratava-se de práticas recorrentes — Isso significa dizer que posso muito bem recusar o ômega no fim do processo de seleção.

— Hum... — Papa parecia pensar — Será um Exame Ômega tradicional, com direito a todas as normas antigas...

— Sim, pode ser do jeito que você quiser! — Declarou impaciente.

— Perfeito! — Papa sorriu batendo palmas — Ainda bem que eu já adiantei todos os preparativos, os convites já foram mandados, os testes também já foram formulados...Ah! Será tão divertido!

Andrey levou a mão a testa, sentindo-se traído.

~***~

— Vocês dois poderiam ter me avisado... — Resmungava enquanto desfazia as malas acompanhado por seus irmãos — Celulares existem para isso, avisar quando seus pais planejam algo que irá traumatizá-lo pelo resto da vida.

— Não seja dramático, Drey-Drey! — Alphonse disse se jogando da grande cama do irmão, justamente sobre as roupas recém arrumadas.

— Esse evento não irá te traumatizar. — Garantiu Albert embalando o seu bebê nos braços — Aliás, não avisamos, pois, gostaríamos de ver a sua cara...

— ...Quando descobrisse! E pode ter certeza, foi ótima! Até filmei! Irei mandar para o Caleb! — Completou o beta já retirando o seu smartphone do bolso e começando a digitar freneticamente.

— Sim, claro que você filmou minha humilhação. — Continuou resmungando.

— Olha, Drey-Drey, papa só está querendo fazer esse Exame Ômega bobo, do jeito mais maçante e chato possível, ou seja, seguindo a tradição. — Explicou seu irmão ômega — Esse sempre foi um desejo do nosso papa: que um dos seus filhos participasse desse Exame.

— Você participou. — Acusou Andrey.

Albert deu os ombros e sorriu.

— Participei, mas o meu alfa já havia me escolhido antes mesmo do Exame. Na verdade, Alex só fez o Exame para agradar o papa dele e o meu. E convenhamos, conhecendo o Alex, você sabe que o Exame não foi muito convencional...

Alphonse soltou uma gargalhada.

— Foi muito legal! Tipo, o Alex fez com que os ômegas participassem de um programa de pergunta e respostas, sabe? Estilo aqueles da Tv. Quando eles acertavam ganhavam pontos, quando erravam tinham que pagar uma prenda.

— Eu sei disso, Alphonse, eu estava na plateia. — Relembrou Andrey — E o Exame foi injusto desde o começo, afinal, as perguntas envolviam resolução de problemas de mecânica e física quântica.

— Eu achei super fácil. — Admitiu Albert.

— Isso porque você é formado em física. Assim como Alex... Não só formado, possui doutorado!

— Oh! Verdade, não é? — Riu o ômega.

— Bem, papa não gostou muito deste Exame. — Analisou Alphonse — Mesmo que tenha sido muito engraçado. Os ômegas tiveram que usar uniformes de sumô, você sabe, daqueles tipos que os deixam super gordões, e lutar uns contra os outros em uma das prendas, foi hilário! Para completar, o ringue de batalha estava todo melado de óleo!

— Pois é, esse Exame não foi muito tradicional. — Tentou parecer sério, mas recordar das prendas planejadas por Alex (e também Albert, sabia que ele também estava por trás tudo) sempre o fazia querer rir. Nunca vira ômegas tão putos ao fim do Exame, não por terem perdido, mas por terem sido submetidos a tamanhas humilhações. Bem que eles não foram obrigados, podiam ter desistido do Exame a qualquer momento, mas perder a chance de se casar com um dos Alfas mais cobiçados da atualidade e CEO de uma empresa de tecnologia espacial? Não, eles persistiram competindo até o final, com uniformes de sumô e tudo mais.

Albert anuiu com um sorriso satisfeito nos lábios.

— E para completar, Alphonse, sendo um beta, casou-se com um alfa. Vale lembrar que esse alfa fugiu no meio de seu Exame, se casando as escondidas com o nosso irmãozinho.

— Hehe — O beta parecia orgulhoso do feito, ignorando o fato que quase matou seu papa de coração ao causar tamanho afronta para a sociedade ABO. Alfas se casavam com ômegas, sempre foi assim, agora...Um beta e um Alfa? Aquilo era considerado por alguns antinatural. Mas Alphonse não parecia ligar para o preconceito, ainda mais, quem iria confrontar Caleb, uma das maiores estrelas desta geração, cantor, ator, modelo e produtor musical? Caleb tinha uma frota de fãs fies que estavam prontos para proteger seu ídolo como também o parceiro por ele escolhido.

Hehe nada! — Rosnou Andrey — Em outras palavras, por vocês dois estragarem os seus respectivos Exames Ômegas, fui relegado ao dever de restaurar a honra da família...Ou sei lá o que!

— Bem, você poderia ter mentido e ter dito que estava namorado. — Sugeriu Albert.

— E aí o que? Teria que trazer meu namorado imaginário aqui para conhecer a família... Não daria certo!

— Ora, Drey-Drey, aposto que qualquer um dos seus secretários ou subordinados iria adorar fingir ser seus namorados. — Piscou travesso Alphonse.

— Isso só complicaria as situações no trabalho. — Resmungou. Já bastava os flertes e as indiretas lançados pelos ômegas no seu dia-a-dia no trabalho, não queria abrir espaço para mais assédios ou atiçar esperanças folas.

— Então, suporte o Exame até o fim e depois retorne a sua vida de solteirão. — Aconselhou Albert — Não é como o Brian fosse roubar a fazenda do papai nem nada.

— Brian não consegue tomar conta nem do cacto no escritório dele, imagine uma fazenda! — Riu o beta rolando na cama.

— Alias, vai que você se surpreenda com os candidatos.

— Eu duvido muito... — Suspiro resignado.

Já imaginava...Teria uma semana extremamente tediosa.

~***~

— Andrey Philippe Morgantein... — Mikhail leu lentamente o convite que sua mãe-ômega tinha lhe entregado assim que chegou em casa. Estava escrito em letras douradas e o papel era até perfumado. Era a coisa mais fresca e para não dizer ômega que já tinha visto.

— Que nome pomposo... — Fez uma careta.

— Filho, não julgue antes de conhecê-lo! — Falou Mariah sua mãe, que servia mais um pedaço de torta de limão, parecia que ela estava tentando suborná-lo com comida...E estava conseguindo! Afinal, torta de limão era sua comida preferida — Dizem que ele é um contador famoso lá na capital, se tornou sócio de uma firma famosa e tudo mais.

— Contador, hein? Não parece ser uma profissão muito Alfa, não é?

— Olha o preconceito, Micha. — Apontou o seu pai todo sorridente.

— Sim, claro. Desculpe. — Mikhail queria rosnar, mas infelizmente ômegas não tinham essa habilidade de demonstrar o quanto queria morder alguém — Alias, pai, só quero enfatizar que não sou hipócrita, não precisa experimentar algo para tecer opiniões a respeito. Só basta ter o mínimo de empatia e raciocínio lógico.

— Hum... — Seu pai de nome Viktor, bebeu sua xícara de chá de forma lenta — Estava voltando atrás, filho? É isso?

— Oh! Não! — Choramingou Mariah, seu rosto gordinho e rosado parecia que iria se desfazer em lágrimas.

— Eu vou sim participar do Exame. — Garantiu rapidamente, sua mãe logo voltou a sorrir e ofereceu mais um pedaço de torta — Só estou esclarecendo os fatos. Irei participar, mas só para escrever sobre o evento e nada mais. Não esperem que eu ganhe ou algo do tipo!

— Ora, não filho! Não se precisa se preocupar em ganhar. — Garantiu sua mãe toda risonha— Digo, sei que a competição deve ser bem pesada, ainda mais, levando-se em considerar que o Andrey é rico e tudo mais. Ômegas de cidades vizinhas estão vindo participar, alguns até fizeram cursos preparatórios e tudo...Eu só queria te ver vestido para o Exame, sabe? Você ficaria tão bonitinho de branco e usando a gravata preta! Além disso, todos os ômegas de nossa família participaram dos Exames, bem que nenhum deles venceu! Então, não deve se sentir pressionado!

— Mãe... — Deu uma risada nervosa — Você está querendo dizer que venho de uma linhagem de ômegas perdedores?

— Ora, eu me casei e sou feliz, não é mesmo? — Riu Mariah dando um leve tapa no ombro do marido — E eu quero tirar selfies de você, Mikhail, vestindo a roupa cerimonial, vou compartilhar com as minhas amigas e elas vão morrer de inveja!

— Certo... — Mikhail chegou uma conclusão: seus pais não estavam nem um pouco ligando se ele iria ganhar ou perder aquela competição. Não sabia se deveria se sentir mais aliviado quando a isso ou frustrado...


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