Apenas Amigos escrita por Arii Vitória


Capítulo 7
Jantar de família


Notas iniciais do capítulo

Além do último mês ter sido uma bagunça, eu estava no meio de um bloqueio criativo daqueles. MAS HOJE resolvi reler essa fanfic todinha desde o início, e lembrei do quanto eu gosto dela. Depois disso foi fácil dar continuidade. Boa leitura!



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Logan

Minha mãe sempre foi a mais séria entre meus pais, ela e meu pai se separaram no ano passado, eles fizerem o possível para que isso não afetasse a relação deles comigo ou com a minha irmã, mas não foi exatamente uma separação amigável. O silêncio constrangedor que surge toda vez que meu pai vêm jantar conosco é a prova disso. 

Meu pai é mais carinhoso que minha mãe, ele é do tipo que beija a testa da minha irmã antes dela ir se deitar, e cita uma fala de Karatê Kid enquanto fazemos high-five porque era meu filme preferido na infância, é sua maneira de dizer eu te amo. Mas esse ano particularmente, ele só fala comigo sobre estudos e futuras profissões, por isso não me surpreendo quando ele anuncia que arranjou uma entrevista de emprego no shopping pra mim. 

—Assim você pode juntar dinheiro para comprar um carro, e parar de pegar o do seu pai emprestado. -minha mãe diz, no centro da mesa de jantar, me fazendo lembrar do porquê eu odeio jantares em família. Não vou explicar há nenhum deles de novo que quero ser piloto de avião e que estou estudando para as provas teóricas de aviação na semana que vem, a única pessoa que sabe disso é a Cíntia, então fico em silêncio. Para quebrá-lo, Nat pergunta:

—Logan, quando vai nos apresentar sua namorada nova? 

Encaro Natasha, que está bem a minha frente, um olhar que diz "do-que-diabos-você-está-falando?", mas ela finge não notar, enquanto nossos pais me encaram surpresos. 

—Porque eu não tenho uma namorada nova. -respondo naturalmente, e enfio uma garfada de macarronada na boca.

—Não foi isso que eu vi no colégio. -Nat retruca, lanço um outro olhar pra ela, dessa vez é um olhar mortal, mas ela o ignora exatamente como fez com o outro. Nat ter completado 13 anos e ter se mudado para o meu colégio, estudando no mesmo turno que eu, foi a pior que coisa que aconteceu nos últimos tempos.

Termino de mastigar, depois finjo que ainda estou mastigando por mais um tempo.

—Amy e eu estamos apenas nos conhecendo. -respondo a ela, mas estou olhando para minha mãe, porque é ela quem está me encarando como se eu estivesse escondendo um corpo assassinado da família.

—Não estou falando da Amy. -Natasha fala, dessa vez me recuso a olhar pra ela, apenas engasgo, apesar de eu não estar mais comendo ou bebendo nada.

Minha mãe empurra um copo de água na minha direção, mas permanece muda, apenas observando. Meu pai solta uma risada espontânea com a minha reação. 

—Cíntia e eu somos só amigos. De verdade. -digo e tenho que aturar o som duvidoso que sai da boca de minha irmã.

—Cíntia! Então é esse o nome dela? -minha mãe pergunta, nego com a cabeça, fingindo não ter ideia do que ela está falando. -A garota pra quem você telefona o tempo todo?

Cíntia e eu não telefonamos um para o outro o tempo todo. Mas levando em consideração que eu nunca ligava para Alice, -sempre conversávamos por mensagens- entendo como minha mãe provavelmente ouviu minhas conversas particulares no celular.

—Cíntia não é aquela loira? -meu pai pergunta, desatualizado. 

—Aquela era a Alice. -minha irmã responde por mim, fazendo meu pai soltar outra risada. 

Pior do que estarem falando sobre meu futuro na mesa de jantar, é falarem sobre meus relacionamentos. 

—Certo. Vou ir me deitar! -decido, já me levantando da mesa.

—Não esqueça da sua entrevista de emprego amanhã! É na loja "tecno-você", vou te mandar o endereço. -meu pai diz, apesar de eu saber bem onde fica o shopping, apenas concordo com a cabeça e fujo para o meu quarto o mais rápido possível. 

(...) 

—Onde você está? -Cíntia pergunta assim que me liga no dia seguinte, provavelmente porque não me viu no colégio, precisei faltar para comparecer a entrevista de emprego.

Achei que Jake –o dono da loja- iria querer meu currículo, fazer perguntas sobre o quanto eu entendo de fones de ouvido e celulares, mas ele saiu da loja para “ir ao banheiro” desde que eu cheguei, há uma hora atrás. 

—No meu emprego novo, na tecno-você. –conto pra ela. Tenho que me segurar para não perguntar do Ed, seu ex-namorado que ressurgiu das cinzas, apesar de eu querer saber se eles continuam conversando.

—Você? Você está trabalhando? –ela brinca e depois ri da própria piadinha.

—Tenho que juntar dinheiro pra comprar um carro. –explico pra ela.

—Isso é verdade. Vou te deixar trabalhar agora, não quero que seja demitido no primeiro dia. –ela diz, se apressando pra desligar.

—Espera! E o Ed? Te ligou outra vez? –pergunto, quero parecer natural, como quem na verdade não se importa, mas é difícil.

—Não. Mas acho que o Raddar está namorando de novo. –ela responde sussurrando, com o tom de voz desconfiado, mas algo me diz que ela está apenas mudando de assunto.

—Não, ele ainda está mal por causa do ex. Lembra da festa do Vitão? –pergunto, me lembrando do dia em que Raddar chorou na frente de todos.

—é, mas isso já tem duas semanas. Vou descobrir de qualquer forma. Preciso ir, Logan! –ela avisa.

—Tchau… -começo a me despedir, mas ela desliga na minha cara. Por isso odeio falar no telefone, nunca sei o que a pessoa está fazendo do outro lado da linha.

Alguém entra na loja, então sou obrigado a me levantar do puf gigante em que estou sentado, mas não é um cliente, é Jake, finalmente voltando do banheiro.

—Cara, se importa em ficar aqui hoje pra mim? Tenho que me encontrar com uma pessoa, e você está indo muito bem. –-ele diz, olho pra ele indignado. Eu não sei mais do que o básico sobre fones de ouvido ou carregadores, como vou conseguir me virar sozinho?

—O quê? Jake, você ainda nem me ensinou a diferenças entre esses cabos. 

—Os nerds que vêm aqui vão te ensinar. Feche as cinco e talvez eu adiante seu salário, está bem?! -Jake responde, mas não está sequer olhando pra mim, está procurando sua jaqueta e quando a encontra sai imediatamente, não contestei diante de um adiantamento de salário, mas se tivesse, ele nem teria ouvido. 

Cerca de dez minutos depois, alguém entra, batendo no balcão de vidro, me forçando a levantar do puf gigante onde ninguém pode me ver  outra vez.  Para minha surpresa, se trata de Cíntia. 

—O que você está fazendo aqui? -pergunto pra ela, sorrindo, ela está sorrindo também. 

—Eu queria ser sua primeira cliente! -ela diz, parece realmente empolgada com isso, mas nessa altura não me surpreende, desde que a conheci Cíntia se empolga demais com quase tudo e me surpreende o tempo inteiro. -Estou precisando de um carregador de celular! –ela afirma.  

—Não, você não está. -digo pra ela, franzindo a testa. 

—É isso que vai dizer quando seus clientes pedirem algo? -ela pergunta. -E além disso, eu perdi o meu.

—Não, você me emprestou no colégio, lembra? Na última sexta? –pergunto pra ela, me lembrando da data.

—E você não devolveu? -ela pergunta, mas não respondo porque acho que emprestei o carregador dela para Amy. -Certo, então vou comprar um carregador pra te dar de presente! -ela exclama, animada de novo. Sorrio.

Me viro para as dezenas de prateleiras atrás de mim, dou uma boa olhada em tudo até achar os carregadores, diversos dele, de todos os modelos e marcas. Pego uns dez e coloco no balcão, de frente pra ela. 

—Você é péssimo nisso! -ela afirma, e antes que eu pudesse sequer impedi-la, ela passa pelo balcão e vêm até o meu lado, só aí consegue ver meu puf gigante. 

—Você tem um puf só seu? Espera! Não devia ter alguém aqui te vigiando? -Cíntia pergunta enquanto esquece os carregadores e vai até meu puf e se senta nele, esticando os braços. 

—Jake foi encontrar alguém. -respondo a ela, me inclinando para o balcão. 

—E quanto a Amy? Como ela está? –ela pergunta, se eu não conhecesse a Cíntia diria que ela não gostou muito de Amy quando a conheceu…

—Eu não sei, ela é legal, mas quase toda vez que estou prestes a ficar com ela, ela diz que nossos signos não estão combinando na data, ou algo assim, e depois some. 

—Você sempre escolhe as melhores, Logan. -Cíntia diz após rir, mas tenho a impressão de que está sendo irônica. -Alice te pediu um tempo pra poder beijar outros caras, e Amy é a louca dos signos. Sorte sua que você fica bonito até nesse uniforme ridículo, senão eu acharia que não tem esperanças para você. 

Dou uma risada sem graça, mas depois dou uma olhada no uniforme ridículo que estou usando, e sorrio com seu elogio. No momentos seguinte mais gente entra na loja, mas dessa vez é minha mãe, com a minha irmã logo atrás. 

—O uniforme é melhor que aquelas camisetas esquisitas que ele usa, é claro. -minha mãe diz, se intrometendo na conversa.

Cíntia não pode vê-la de onde está, então continua falando:

—E ele diz que é a mãe dele que compra aquelas camisetas horrorosas, mas você é um péssimo mentiroso, Logan. -Cíntia diz e finalmente se levanta. Só então vê que estava conversando com minha mãe, ela faz uma expressão tão surpresa e engraçada que eu preciso segurar o riso. 

—Não, ele vai junto com o pai comprar aquelas camisetas floridas. -minha mãe continua falando, como se nada tivesse acontecido. 

—Eles acham que acabaram de voltar do Havaí, com certeza. -Nat completa, se intrometendo. Cíntia continua calada, com um sorriso meio sem graça no rosto. 

—Imagino que você não trabalhe aqui também. –minha mãe diz, coberta de razão.

—Não, não… -ela murmura enquanto sai de trás do balcão, voltando a ser uma cliente comum. 

—E você é a Cíntia, certo? 

Cíntia ergue o olhar pra mim antes de responder minha mãe, talvez porque tenha pensado que ela não sabia da sua existência.

—Isso, e você é a mãe do Logan…

—Pode me chamar de Odete.

—Ah, com certeza soa melhor que mãe-do-Logan. –Cíntia diz e dá uma risadinha sem graça em seguida, ela parece estar nervosa, o que é fofo.

—Foi ela quem eu disse ontem, mãe. A namorada do Logan! –Nat diz, atrás da minha mãe, apertando seu braço.

—Não, não é isso. –intervejo, desde quando minha irmã ficou tão fofoqueira?

—Nós somos só amigos. –Cíntia diz, ergue o olhar pra mim logo depois, como se esperasse que eu confirmasse, mas minha mãe é mais rápida:

—Devia aparecer lá em casa um dia, Cíntia. Iríamos amar te receber, e com certeza seria melhor pra conversar com Logan do que em seu local de trabalho. –minha mãe diz, me viro pra ela com as sobrancelhas franzidas,.

—Ah, eu vou sim. Mas já estava de saída de qualquer forma. –Cíntia diz, e começa a se aproximar da saída aos poucos.

—Foi ótimo te conhecer! –minha mãe diz, com um sorriso no rosto.

—Igualmente, conversamos mais tarde, Logam! –ela diz, e em seguida vira para sair.

—O que foi isso? –pergunto para minha mãe.

—Sua namorada não pode ficar no seu trabalho com você, querido. Aliás, onde está seu chefe? –minha mãe me pergunta, não sei como responder sua pergunta e não quero explicar novamente que Cíntia não é minha namorada, então mostro meu puff para Nat, e deixo que ela se divirta com ele por um tempo.


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