Falso amor escrita por EllaRuffo


Capítulo 17
Capítulo 17




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Oi lindas, desculpem a demora. Estou pensando em fazer esse o último capítulo da maratona mesmo ter estipulado fazer mais uns 3. Vou decidir isso vendo a reação de vocês com o capítulo, vamos ver se vcs me animam a fazer mais uns kkk. Enfim espero que gostem!!!!



Heitor foi liberado pra subir para o andar que Maria morava. Ele havia chegado ali dirigindo e por várias vezes durante o caminho, pensou em voltar para trás e se acovardar novamente. Mas agora estava ali entrando no elevador pra estar cara a cara com a mãe que não via já há 15 anos. No peito dele não cabia o conjunto de emoções que tinha, passavam tantas coisas em sua mente e coração que ele sentia vontade de chorar como criança, mas respirava fundo para parecer tranquilo, ainda que estava nervoso e mãos suando.

E assim o elevador abriu. Número 57 era o apartamento de Maria e então Heitor andou caçando entre as portas o número certo até que ele avistou e parou ali a dois passos da porta, olhou para trás e a vontade de ir longe dali pareceu mais forte que antes. Mas então quando seu corpo já virava em direção contrária da porta, ele ouviu.

— Maria: Heitor, filho.

Era Maria que não se aguentava mais de tanta ansiedade, que abriu a porta antes mesmo de Heitor tocar a campainha e o chamou. E quando ela viu, ele ali, parado no meio do corredor com o corpo virado mostrando a ela que ele estava pronto pra refazer o caminho dele, ela se desesperou e o chamou de voz já embargada de emoção. Heitor já havia chegado como o combinado e por nada ela permitiria que ele fosse embora como parecia que ele queria fazer.


Heitor quando a ouviu ficou de corpo todo rígido. Travado ele ainda nem tinha se virado para o lado do chamado de Maria. Ele como estava, só estava sentindo o efeito de ouvi-la e agora tão perto. E com os olhos cheios de lágrimas, ele respirou fundo outra vez para não deixar elas descerem, não sabendo até quando iria segura-las.

E quando já estava disposta a pegar Heitor pela mão e fazê-lo entrar, Maria o viu se virando pra ela. E ela da porta e de coração acelerado, ergueu a cabeça pra olha-lo melhor. Ele era alto, um moreno forte e bonito e estava tão crescido que ela quis chorar por seu filho mais velho em sua frente... Havia perdido aquela mudança dele de um menino para um homem que ele já era. Maria sentiu uma profunda tristeza e uma fúria dentro si, mas também ainda o olhando, como uma mãe coruja que era o achou o mais lindo dos jovens de sua idade e acabou sorrindo com os olhos inundados de lágrimas, visivelmente emocionada.

E assim como estava, hipnotizada ali olhando Heitor, ele com suas mãos soltas uma de cada lado de seu corpo chamou a atenção dela dizendo baixo.

— Heitor : Senhora.

Maria deu um meio sorriso entre triste e conformada em ouvir a voz de Heitor de novo e de novo ser só uma senhora na boca dele. Ela sabia que seria assim dali em diante, apenas uma senhora, a mãe que o havia abandonado, mas que a partir daquele momento sua luta começaria de verdade para conquista-lo e ser finalmente reconhecida como mãe por ele . E então ela disse, decidida mais que nunca a isso.

— Maria : Entre por favor, meu querido .

Ela ficou de lado da porta e suspirou nervosa vendo que Heitor não dava passo algum. Ele a olhava atento e em silêncio. Maria vestia um conjunto de calça e terninho rosa bebê, tinhas os cabelos soltos e um par de sapatos baixos nos pés, um batom claro nos lábios e um brinco de pérola que mostrava na orelha que o cabelo dela não cobriu. Heitor analisou ela toda de cima a baixo. A lembrança mais forte que ele tinha dela era os olhos e cabelos, que ele via que seguiam iguais. Agora ela tinha o rosto mais maduro, a vestimenta também e como Leonel havia dito, era linda, mais linda do que ele lembrava. E na análise que fez, Heitor só pensava que algo não batia. Havia escutado muito falar de sua mãe, de como ela havia sido imoral e por isso havia crescido com uma imagem distorcida da mulher que o havia gerado. 

A roupa que Maria usava ao invés de ser sensual e provocante como ele esperava, ele via só elegância . E era isso que confuso não entrava em sua mente, já que ele tinha a imagem da mãe todos aqueles anos, de uma mulher que tinha seduzido seu pai e o traído depois. Heitor inconsequentemente, julgava como a maioria da sociedade, que mulheres com essas artimanhas e índoles costumavam se vestir mais ousadamente, mais sensuais não importando a idade que tinha. Era como que a roupa pudesse passar a imagem de uma pessoa, no caso uma mulher sempre seria mais cobrada em como se vestir . E então ele sacudiu a cabeça. Não era aquele tipo de homem que julgava uma mulher pela vestimenta mas com Maria não conseguiu evitar. Não com tudo que havia escutado falar dela até a idade que já tinha.

E assim com um toque leve na mão, foi o que tirou Heitor das confusões de seus pensamentos. Maria o tocava de leve em sua mão direita. Uma mão macia e pequena perto da dele era a que Heitor sentia alisar a palma de sua mão . E ele então a olhou com os olhos mais arregalados impossível e a ouviu novamente.

— Maria : Por favor, Heitor. Entre. Por favor, filho.

Maria pediu praticamente suplicando vendo resistência de seu filho. Ela via nos olhos de Heitor lágrimas querendo descer e no seu rosto uma expressão de abalo. Mas de repente a expressão dele endureceu e seus olhos estreitou a olhando de coração acelerado. Heitor tinha um misto de sentimentos, que um deles era medo do que sentia com o toque dela e o outro era seu instinto de defesa, que o deixou arisco o fazendo puxar a mão da dela e dizer.


— Heitor : Eu não tenho muito tempo, senhora . Vamos terminar logo com isso para seguirmos com nossas vidas.

Ele então andou, entrando de uma vez dentro do apartamento e Maria baixou a cabeça, engolindo o choro que quis deixar sua garganta. Estava preparada para aquele momento, ela queria se convencer daquilo.

E quando Heitor entrou no apartamento, ele parou no meio da sala como que se tivesse um freio nos pés e não pudesse mais seguir passo algum. Ele não tinha mais nenhuma coragem nem dureza, que ele quis mostrar antes de entrar ali dentro do apartamento da mãe dele.

Ao lado de um sofá no canto da parede, ele viu uma mesinha com um vaso com flores amarelas e um quadro, nele tinha tinha uma menina com Maria ao lado. A foto era de perfil e as duas estavam sorrindo de rostos colados. Um sorriso enorme estampava o rosto de ambas e Heitor suspirou, sentido com o que via. Pois já imaginava que aquela menina era sua irmã e que ela sim tinha tido toda sua vida mãe ao lado enquanto ele não .

Maria por trás dele, com ele de costa para ela, depois de ter fechado a porta só o olhava em silêncio, vendo ele olhar o quadro dela com Estrela. Que como ele não dizia nada, ela disse, na dúvida se ele já sabia de Estrela.

— Maria : Ela é sua irmã, filho. Estrela é o nome dela.

Maria deu um leve sorriso mas não tão triste como antes, porque em sua mente ela já se ilusionava com o momento que teria Heitor e Estrela juntos e interagindo como irmãos.

Heitor então enfiou as mãos no bolso, totalmente incomodado pelo que sentia pela inocente menina que teve a mãe dele e ele não. Porque ela era sim uma inocente na história toda, como ele foi quando pensava que foi abandonado quando criança. Mas que mesmo assim, já um homem de 20 anos maduro para sentir o que sentia pela menina, ele sentia um conjunto de sentimentos ridículo que se resumia junto em tudo, como ciúmes. Sentiu ciúme, sentiu raiva daqueles sorrisos e da clara cumplicidade que ele via que a menina tinha com Maria e que ele sabia que nunca teve e acreditava que jamais teria.

E ele riu de lado sem um pingo de humor pois sentia vergonha do que sentia, que por isso quis máscarar com suas primeiras palavras que tanto sentiu elas entaladas e sufocando seu coração, ao dizer quando se virou pro lado de Maria 

— Heitor : Já sei da existência dela. Meu pai disse e disse também que a escondeu dele todo esse tempo. Mas não me quer aqui pra falar de minha nova irmã. Eu não quero falar dela. Quero falar senhora, do porquê deixou seu filho de cinco anos pra trás pra estar com seu amante! Que tipo de mulher e mãe foi a senhora, ao fazer isso? Por que me abandonou? 

Heitor respirou fundo de corpo todo tenso ao final de suas palavras. Ele tinha os olhos pregados nos olhos de Maria a espera de sua resposta. Enquanto ela sentiu o golpe das palavras dele a atingindo em cheio em seu coração que ela acreditou mais uma vez ter estado preparada para aquele momento, para ouvir aquelas palavras vindo de Heitor. Ela era aquela mulher que ele tinha como mãe. A que havia traído o marido e fugido com o amante, deixando assim um filho pequeno para trás e que sem conseguir se conter, as lágrimas dela desceram, deixando os olhos dela escorregando na bochecha e caindo na roupa. Começaria aquele momento mesmo sofrendo, desmentir Estevão com sua falsa verdade.

E então ela puxou o ar do peito, levou as mãos nas bochechas para tirar as lágrimas dali e disse, séria e sem desviar do olhar do seu filho.

— Maria :Nunca existiu amante algum, filho! Nunca o abandonei como acha e não fui embora com esse amante que acredita tampouco! Eu não tive escolha! Seu pai não me deu uma escolha!

Ao falar Maria chorou mais e próximo a Heitor ela tocou nos braços dele. Heitor respirou fundo vendo Maria chorar em sua frente. A ouviu bem e de bom som, mas ainda que abalado em tê-la daquela forma, duvidou de cada palavra já que era muito pouco pra ele.  Que então ele disse de voz grossa.

— Heitor : Mente, senhora! Meu pai a amava! Viviamos uma família feliz mas a senhora escolheu nos abandonar, me abandonar!

Maria se afastou dele e levou mão nos lábios. Não queria provar a Estevão mais que a verdade estava do seu lado mas a Heitor sim, dele ela necessitava pelo menos da dúvida para buscar seu amor e porquê não o perdão, já que ela sabia que aquela agressividade de Heitor ao falar era apenas sua ferida da ausência dela tendo voz .

E então ela suspirou cheia de coragem erguendo a cabeça ainda que tinha o rosto todo molhado em lágrimas e o respondeu, pronta pra começar limpar sua imagem e sujar a imagem do maior culpado dela tê-lo daquela forma com ela.


— Maria : Seu pai nunca me amou Heitor, porque não se fere e não se humilha a quem se ama, como ele fez comigo, me arrancando você me destruindo sem piedade alguma! Se me ouvir e me deixar contar o meu lado, o lado da sua mãe irá me entender. Irá entender do porquê eu fui embora!

Heitor levou a mão na cabeça . O lado. Havia outro lado da história como Leonel havia dito que ele ainda não tinha escutado. Que era o lado de sua mãe, de Maria. E ele sentiu seu corpo todo tremer.  O que ela teria a dizer o que já não sabia? Sabia de tudo. E por isso voltando a olha-la depois de ouvi-la ele só pensou como ela podia ser hipócrita, que se fosse mesmo como ela dizia, ela também não havia amado o pai dele, o homem com quem ela havia casado e que esse fato o fazia de um fruto do falso amor que tinha os unido.


E era demais.  Era demais pensar que ele só foi parte de um plano de uma mãe ambiciosa e que o pai não teve o valor também de ama-la como devia, já que conseguia ver pelo tom dela o ressentimento que ela tinha por ele. Se havia ressentimentos de ambos os lados, havia erros que eles desconhecia e não só de um lado.

E então ele não aguentou e sentou no sofá, de mãos ainda na cabeça ele desceu para os olhos e ele então chorou. Chorou sem aguentar, chorou alto como um homem da idade dele podia chorar.

Foi ferido com aquela história toda, o mais prejudicado e agora batia de frente com sua dor que era Maria em sua frente, que então depois de tomar fôlego, ele disse o que mais o feria o que mais era importante para ele como filho.

— Heitor : Me abandonou ainda criança! Isso não tem justificativa senhora. Me abandonou!

Quando terminou de falar ele sentiu Maria ao lado dele, o cobrindo com os braços em um abraço que tocava as costas dele e sua cabeça tocava um braço dele . Ele havia cobrido os olhos com a mão de novo abalado como estava e ele ouviu Maria chorando com ele . Doía nela como mãe ver a dor que ele tinha. A dor causada por uma mentira, uma trama e da injustiça de Estevão. Lembrava como se fosse uma lembrança recente de quando ele havia comunicado sobre o divórcio deles, no mesmo dia ele tinha retirado a queixa contra ela e a ilusionado assim que tentariam juntos chegar na verdade. Mas o golpe foi dado, não no pedido de divórcio e sim quando ela soube que perderia seu bem maior. Que era aquele homem que chorava como criança. E Maria se lamentou recordando também das palavras do padre Belisário que havia dito que os mais prejudicados em tudo aquilo, eram os filhos deles.

E que ainda que doece, Maria sabia que tanto a ferida dela quanto a de Heitor tinha que ser cutucada aquela manhã. Seria para achar a cura e a verdade, pelo menos começar achar para que ela fosse curada . O que não seria naquela manhã, seria as poucos e ao mesmo tempo tudo de uma vez. Já que Maria ali ao lado de Heitor 15 anos depois tirava uma casca da ferida dele que ele havia fingindo que já havia cicatrizado, quando já se viu um homem e pensou que não necessitava mais do amor dela que não teve durante aqueles anos todos.

E assim, escorregando o corpo para o chão ao ter se acomodado no sofá, Maria de joelhos a frente de Heitor, ela disse, de voz embargada das emoções sentida ali e pelo choro que seguia descendo dos olhos dela.

— Maria : Não. Não chore assim, Heitor.Parte minha alma, meu coração te ver assim, filho. Me olhe, me olhe querido.

Maria suspirou angustiada e beijou o topo da cabeça de Heitor e fechou os olhos ficando em silêncio como ele. Até que ele levantou a cabeça e ela se afastou um pouco para olha-lo. Ambos muitos abalados pelo momentos conseguiram ver um nós olhos do outro a dor estampando neles.

E Heitor então se levantou rápido deixando Maria no chão como estava. E ele de olhos vermelhos e ainda molhados, disse.

— Heitor: Se choro é tudo por culpa sua, senhora. Por que regressou? Regressou para brincar com meus sentimentos e do meu pai novamente?


Ele então cuspiu o que era mais fácil acreditar do que acreditar naqueles olhos cheios da mesma dor que a dele. Uma dor que não se podia fingir e vê-la tão abalada como ele só estava o deixando mais confuso e receoso. Já que temia se entregar perante aqueles olhos.

E Maria quando o ouviu se levantou rápido do chão limpando o rosto e o respondeu com a força de seu amor de mãe, o motivo que a teria de volta.

— Maria : Regressei pra recuperar o que me tiraram com a armadilha que fui vítima. Regressei pra recuperar meu filho! Você Heitor! Seu pai não me importa! Estou de volta por você!

Heitor suspirou com a garra mostrada na voz de Maria. Da mãe dele.  Desejou tanto vê-la falando assim diante dele, com aquela garra em suas ilusões de menino que sonhava em ter a mãe de volta.  Mas parecia tão tarde ainda que não conseguia fingir nada o que ela estava lhe causando. Que então ele esbravejou .

— Heitor : E por que só agora? Te esperei tanto! Tanto! Por que só agora a senhora resolveu voltar?

Maria juntou uma mão na outra e levou frente a boca. Chorava tanto e tremia que pensava que a qualquer momento poderia esmorecer ali.  Mas não podia se entregar ao seu corpo que vivia uma adrenalina com aquele confronto . E  assim ela o respondeu com sua única verdade.

—Maria: Porque eu tinha medo de voltar antes e seu pai me arrancar Estrela também, filho! Foi assim com você! Eu não tive escolha ele simplesmente disse que não ficaria com você e o tirou de mim! Ele me tirou meu menino!

Ela tocou no rosto dele. Tocou tirando as lágrimas dali e Heitor virou o rosto diferente do que ele tinha feito com a mão dele quando sentiu a dela. Ele virou o rosto devagar e apertou os olhos fechados. E então ele disse a respondendo sem olha-la.

— Heitor : Disso eu sei senhora . Meu pai nunca me mentiu quando me contou que não me deixou viver com a senhora por sua índole! Então teve escolha sim e provou fugindo com seu amante. E sobre sua filha ele me avisou que diria isso, mas a escondeu dele depois de tudo que já fez.

Maria então recolheu a mão. Heitor claramente ainda que mostrava que logo se entregaria a ela, que seu preferido ali que tinha sua defesa era o pai, era Estevão e não ela. E então ela disse de tom frio.

— Maria : A verdade que diz está distorcida e manipulada, Heitor. Estevão me deixou na miséria, me deu um ultimato para que eu fosse embora para não me ver mais, que se voltasse me ver, me mandaria pra prisão outra vez. Eu não tive escolha a não ser começar uma nova vida estando grávida e longe dele como ele queria, por medo. Medo dele voltar atrás com a decisão da retirada da queixa e me tirar também minha menina, o que era o meu maior medo.


Maria se calou em meio a um soluço de choro ao reviver tudo. Estevão havia sido seu pior pesadelo há 15 anos.  E Heitor a olhou de lado, com ela de costa para ele e tentando tomar fôlego para seguir, que então quando tomou ela voltou olha-lo e seguiu.

— Maria: Tudo que eu digo é a plena verdade, Heitor. É só pensar com a idade que já tem, sabe o poder que o dinheiro dá ao seu pai. O homem que ele é até hoje o dar poder.  E no passado contra mim que não tinha nada nem ninguém, ele iria sem dúvida tirar sua irmã também de mim e eu não iria suportar também essa dor. Por isso desde que fui embora, estive construindo meu próprio patrimônio para poder lutar de igual para igual contra ele e recuperá-lo!

Heitor suspirou . Andou de um lado para o outro enquanto ouvia Maria. O que ela dizia fazia sentido. O maior sentido. Sabia quem era o pai que vivia. Ele havia se tornado um homem duro que ele não recordava quando o viu rir de verdade e não dando um sorriso falso. Além de que quando ele falava do que tinha feito, o tirado da mulher que ouvia em prantos, ele não demonstrava remorso algum. Estevão era sim um homem a se temer, ainda mais se seu alvo fosse uma mulher grávida e dona de todos seus ressentimentos. Que então ele disse a olhando, e pensando nos motivos que levaram seu pai agir como agiu.   

— Heitor: Está colocando meu pai como o maior vilão dessa história senhora, mas também errou!

Maria respirou fundo. Ela sabia que não havia sido Estevão que a colocou há 15 anos nua sobre uma cama de outro homem, tão pouco ele havia forjado aquele desfalque, portanto ela estava ciente quem em sua história havia mais de um vilão, mas que ainda assim, Estevão com certeza era um deles também. Que então ela respondeu Heitor.

— Maria : Não estou o colocando como um vilão, ele foi, Heitor! Sei que ele é seu pai, mas pense, filho na situação que estive. Estava grávida e sem ter aonde morar, como me sustentar com um ex marido me odiando tanto que não bastou só não acreditar no meu amor, na minha verdade que não o traí, mas também me tirar você, tirar meu menino. Sabendo que dessa forma que ele havia me deixado não teria recursos algum pra lutar por você.

Heitor piscou os olhos, não conseguindo falar mais nada, não tendo argumentos para usá-los a favor do pai, a favor dele mesmo para que pudesse segura-lo aonde estava e não amparar sua mãe que chorava ao contar sua história. O lado daquela história dela que faltava ele ouvir .

E Maria aproveitou que seu menino nada falava, apenas mostrava que queria seguir ouvindo-a, ela se aproximou mais dele e o tocou no rosto novamente, o deixando agora sem ação e seguiu olhando nos olhos dele .

— Maria :Todos me viraram as costas enquanto seu pai me pisava, me destruía, exceto alguém que sem pedir nada em troca me ofereceu ajuda. E eu fui obrigada a aceitar. Eu não tinha outra escolha, meu amor.


Maria parou e fechou os olhos. Fechou eles deixando que as lágrimas descessem e que seus lábios fechados tampasse seu gemido de dor. Heitor fechou os olhos dele também, não aguentou ver ela chorar daquela forma e a acompanhou sentindo uma dor forte no peito, com a mágoa que sentia sendo cutucada ou aliviada. Ele só sabia que queria chorar até a dor passar. Chorar sem se importar que seu pé já era do número 42 e não 32 para se ver naquele pranto .

E Maria quando viu que podia falar novamente, ela abriu os olhos pra vê-lo chorando tão copiosamente como ela e seguiu.


— Maria:  Eu fui pisada e humilhada pelo homem que eu amava que acreditei ser o homem da minha vida, mas o que mais me doeu não foi essa decepção com o amor filho, foi ter que te deixar pra trás como uma covarde, derrotada por esse homem que amei.

Quando terminou, Maria chorou agarrada em Heitor . Ela o agarrou firme sem ele esperar pelos ombros e depois desceu as mãos no corpo dele, o sentindo o abraçando forte, o abraçando desesperada. Não importava para ela se não tinha o consentimento daquele abraço, ela abraçava o filho dela que havia gerado por nove meses e vindo ao mundo por um doloroso parto normal. Ela só pensava que tinha direito de toca-lo de abraça-lo, era mãe dele e queria aquele abraço, aquele toque que lhe foi negado por tantos anos. E nele ela pediu ao sentir que devia também.

— Maria : Me perdoa, filho. Me perdoe por não ter ficado. Me perdoe, meu amor. Eu te amo. Te amo filho e pensei em você todos esses anos. Todos eles senti um vazio no meu peito que era você. Era você que sempre faltou nele, Heitor .

Ela ergueu a cabeça buscando os olhos de Heitor. Ele chorava em silêncio, em choque e trêmulo. Estava quebrado por dentro mas quebrantado também com aquele lado da história que o mais importava saber já que havia feito tantas perguntas, dado tantos porquês sobre sua mãe ter deixá-lo sem uma aparente importância que agora que seus porquês eram respondidos, estava sem poder falar apenas sentindo a força daquele abraço e das palavras de Maria. O pedido de perdão que ele acreditou que viria com ele ainda sendo um moleque ou um adolescente vinha aquele momento, que ele já homem se quebrou como um menino.

Aquele rancor que alimentou sua alma só queria aquele momento. Só queria a mãe dele ali aonde estava. Não se humilhando, mas mostrando arrependimento, amor...

Maria então limpou o rosto dele das lágrimas. Ainda que ela o via arisco com seu silêncio, ela tinha a prova que Heitor era um rapaz lindo por dentro, um poço de sentimentos e ela se orgulhou que só sendo assim, mostraria aquela " fraqueza" diante dela com tantas lágrimas.

E então ao se erguer na ponta do pé , ela o beijou na bochecha, depois na outra e foi beijando até às pálpebras dos olhos dele. Que no meio deles ela disse.

— Maria : Eu te amo, meu amor. Me deixe reconquista-lo. Me deixe ser sua mãe. Eu te imploro.

Heitor suspirou querendo que tudo fosse fácil, que fosse fácil se entregar ao seu coração que queria se entregar aquela mulher que lhe beijava e abraçava daquela maneira tão genuína que só uma mãe podia fazer. Que assim como o pai ainda que ele não assumisse de voz alta, Heitor só queria Maria na vida dele de volta.

E assim momento depois.

Maria tomava chá na mesa com Heitor. Seria um café mas com os ânimos a flor da pele que estavam, ela optou fazer chá para os dois.

Depois de tanto choro, Heitor tinha de volta sua postura mais arisca mas não estava agressivo. Ele ouvia Maria falar mais calma assim como ele estava, o seu outro lado da história. Já que faltava ele saber melhor o lado escuro, o motivo maior da separação dos dois. Faltava ele entender porque sua mãe era titulada de adúltera e ladra e negava as duas coisas. Negava o amante e o roubo.

E assim ele em silêncio, ouvia Maria contando como tinha sido o dia que ela acordou nua sobre a cama de um desconhecido, sem saber como tinha parado nela e foi aonde todo inferno havia começado.

Um pouco constrangida em ter que falar com detalhes como tudo havia acontecido, Maria teve que respirar fundo várias vezes pra não perder a coragem e não quebrar o contato visual com o filho, já que para ela era importante que ele visse ou tentasse ver pelo menos um pingo da verdade que ela carregava por trás de seus olhos.

Heitor seguia a analisando em silêncio e aparente calmo, enquanto ela sentia até suas mãos tremerem. Tinha medo dele também não acreditar nela não conseguindo ver a verdade que ela queria, nem ao menos ele dar um voto da dúvida de que ela dizia era verdade. Pedir que ele saísse dali acreditando que tudo que ela dizia sobre a falsa traição e o falso roubo não passavam de uma armadilha, Maria sabia que era pedir demais, afinal Heitor era bombardeado verdades duras demais. Então ela se contentava ainda que com medo, em ver ele baixando a guarda, se entregando ainda que pela metade, quando conheceu o porquê ela havia ido embora. Estrela sua menina ainda que ausente havia sido sua maior arma para fortalecer sua verdade. Com o nascimento de Estrela e ele saber que Estevão seria capaz de também tira-la como fez com ele, havia a ajudado muito. Assim Maria queria acreditar que ao cruzar aquela porta pra fora do apartamento dele, Heitor não a visse como a mulher que ele pensou que ela era, pelo menos não a que a abandonou ele porque quis. Já que ela sabia que para provar que nunca havia existido um amante e o roubo que foi acusada, ela teria que fazer mais do que falar já que existiam provas contra ela. 

E então Maria depois terminou, baixou a cabeça e olhou as mãos com final de sua história escancarada mais uma vez, mas ali na mesa e em uma conversa de adultos que ela teve com o filho. E Heitor depois que tinha puxado o ar do peito ele disse, por ter escutado a lógica dela quando pensava que não lembrava de nada que havia passado no apartamento que havia acordado.

— Heitor : Acredita que foi drogada aquela noite, senhora, certo isso pode ter acontecido. Mas e a conta com o dinheiro do meu pai que tinha em seu nome?

Maria entendeu a incredulidade dele e rápido, sentada de frente pra ele, ela disse para se defender.

— Maria: Ela era desconhecida para mim até aquela manhã Heitor que voltei pra casa, filho. Nunca teria sido capaz de roubar seu pai, eu não posso negar que ele colocava o mundo aos meus pés e não precisa de mais nada mesmo que para mim, o mais importante era o amor dele e a família que estávamos formando ao lado de nosso primogênito, você filho. Mas tudo desmoronou, de repente e me tornei a pior das mulheres para seu pai, uma adultera e uma ladra e tudo eu sendo apenas uma vítima do que houve. Acredite em mim, filho. Ou pelo menos me dê o voto da dúvida, meu amor.

Heitor se moveu em seu lugar. Estava em uma dúvida entre a sua razão e a emoção. A emoção dizia para acreditar em tudo que Maria falava e cair de uma vez nos seus braços de amor de mãe, enquanto a razão queria mais, mais para acreditar em tudo, já que ela zombava dele e seu lado emotivo. Que assim ele disse.


— Heitor : Do que adiantaria minha dúvida, senhora? Compreendo melhor do porque foi embora, mas não significa que vai apagar todos esses anos de sua ausência como mãe na maior parte de minha vida, enquanto o que digamos que supostamente fez ao meu pai e nega, eu não posso intervir se ele diz ter a prova. Vê? Minha dúvida não te serve de nada, senhora.

Maria bufou por dentro. Aquelas malditas provas falsas era como sua cruz, ou o pago dos seus maiores pecados de todas suas outras reencarnações, já que Maria não sentia que tinha pecado tanto para viver tamanho castigo. Já que tinha perdido tudo, tudo que ela acreditou que a fazia feliz na vida que teve ao lado de Estevão, até seu falso amor ela tinha perdido.


E assim ela disse de início irritada.


— Maria: São provas falsas, Heitor! Eu fui uma vítima. E sua dúvida me daria ao menos um consolo que pelo menos você meu filho, que é o único que me importa me dá esse crédito, depois de ninguém acreditar em mim.

Heitor passou a mão na cabeça. Via os olhos de Estevão sobre ele, o amor, a proteção que teve de pai e também via os olhos de Maria ali na frente dele, angustiados, suplicando um voto de confiança... Pois era isso que ela pedia ao querer que pelo menos ele duvidasse das verdades que ouviu vindo de Estevão. Entre confiar na mãe que esteve 15 anos ausente e seguir ao lado do pai, tomando suas dores dos ressentimentos que ele sentia, Heitor não sabia o que escolher. E então ele disse.

— Heitor: Está me pedindo demais senhora. Eu não sei o que pensar. Vi meu pai por anos sofrendo pelo que fez a ele.

Maria então ergueu o rosto e empinou o nariz, então ela disse, deixando transparecer não mais só a dor que Estevão havia causado nela mas também o desprezo que tinha dele.


—Maria: Tenho certeza que ele não sofreu mais do que eu em todos esses anos, filho.

Heitor respirou fundo. Era claro como água que seus pais se odiavam. Cresceu vendo Estevão resmungando pelos cantos seus ressentimentos e agora via Maria fazer o mesmo. E assim ele disse.

— Heitor: Está cada vez claro mais claro que vocês se odeiam. E quem pagou por tudo isso, foi eu que fiquei sem minha mãe e essa menina que é minha irmã e ficou sem o pai todos esses anos.

Maria virou o rosto e depois suspirou. Era verdade que perante de tanta maldade e aquela guerra que ela vivia com Estevão, os filhos deles estavam no meio e agora mais que nunca já que ela estava de volta. Era como o padre dizia mas que ela sentia que a culpa não era só dela. E então ela disse.

— Maria: Se Estevão tivesse agido diferente, Heitor. Se me pedisse apenas o divorcio tudo seria agora diferente agora. Sei que uma hora eu viveria normalmente só tendo o ódio dele por acreditar que o traí, mas ele me tirou você e não tem o meu perdão apenas meu desprezo e o meu pago, com o que fiz com Estrela não deixando que ele soubesse dela todos esses anos.


Heitor ficou quieto. Maria não tinha máscaras ele via, não queria se esconder . Revelou naquele momento com ele mais que uma face com sua transparência. Que agora ele via a Maria forte e uma grande inimiga do pai, que ele sabia que podia sim atingi-lo, por não ser um tonto e saber que Estevão nunca havia a superado.

Mas não querendo pôr os sentimentos do pai ali na mesa sem ele presente nem ao menos discutir mais os erros de ambos, ele apenas disse o que mais lhe interessava para se sentir em paz e se entregar...

— Heitor : Disse que foi vítima de uma armadilha. Mas de quem senhora? Quem foi capaz disso?

Ele então questionou com a testa franzida. Se ela dizia que foi vítima de uma armadilha ele queria saber porque e quem havia feito isso com ela. E então Maria deu de ombros, depois levou as mãos no cabelo puxando eles para trás e o respondeu, o que por tanto tempo remoeu quando fazia aquelas mesmas perguntas.

— Maria: Não sei, talvez alguém que me queria longe das empresas San Román ou separada do seu pai. Ou as duas coisas. Porque todos amigos em comum que tínhamos me viraram as costas. Mas isso já não me importa tanto, filho. Só quero você, seu amor. Voltei só por você não para tirar o peso das costas de seu pai que nunca o traí.

Heitor endureceu o corpo pensando. Se tudo que Maria dizia era verdade. Existia um vilão de verdade entre eles. Um que tinha tirado também tudo dele, que era sua família. A mãe. E por isso ele queria sim saber quem estava por trás do havia acontecido há 15 anos. Queria saber pra achar o culpado e também para poder acreditar que não era enganado por aqueles olhos de Maria que o mirava com tanto amor.  E assim ele disse sério, depois de pensar.

— Heitor : Mas a mim me importa e muito senhora, descobrir quem fez isso . Eu quero saber quem fez isso com a senhora e porquê. Se é verdade o que diz que é inocente, destruíram minha família tiraram minha mãe de mim. Se quer que eu acredite que é inocente, não prove para meu pai e sim para mim. Quero confiar que não tenho a mãe como tanto me pintaram toda a vida. Me ajude a acreditar na sua verdade, senhora.

Maria suspirou quase sem fôlego quando ouviu Heitor falar como falava. O tom sério, ainda que expondo que não acreditava nela não a feriu, e sim a deu forças pra dar a ele o que ele pedia. O que exigia com tanta garra e ainda parecendo querer brigar por ela, usando a palavra mãe. E ela esticou o braço sobra a mesa de vidro e redonda, e buscou a mão de Heitor, pegou e juntou no meio das suas e disse.

— Maria: É isso o que quer filho, que eu faça? Por você eu faço. Para te seu amor de volta, sua confiança que digo a verdade eu sou capaz de tudo. De tudo, Heitor.

Heitor olhou para mão dele unida com a dela e depois buscou os olhos dela novamente. Queria mais uma vez que fosse fácil acreditar nela mas não era, que por isso precisava sim que ela fizesse o que ele pedia, ele merecia isso. E então ele a respondeu.

— Heitor: Quero, senhora. Depois de tudo, depois de anos de sua ausência eu mereço. E mereço ter a certeza que não estou sendo nenhum tonto levado pela falta que me fez todo esse tempo. Eu quero poder defendê-la e dizer que nunca foi a mulher que me disseram até mesmo para meu pai.

Maria sorriu deixando uma lágrima escapar. O final das palavras de Heitor havia lhe dado mais forças, mais vontade de provar que era inocente em tudo que ele ouviu dela. E então ela disse, sem soltar a mão dele.

— Maria: Nem que seja a última coisa que eu faça filho, eu vou te dar essa certeza, querido. Eu vou te dar. Por você, apenas por você, meu amor.

E Heitor então apenas agradeceu.

— Heitor: Obrigado, senhora.

Maria então tirou a mão da dele e pegou sua caneca de chá com ele já morno, e depois de beber um gole, ela o respondeu.


— Maria: Eu que tenho que agradecer que apesar de tudo, está sendo o único em tudo isso que me aconteceu, que me deu o direito de me defender, que me deu o credito da dúvida pelo menos, Heitor. E você é meu filho, eu sonhava com isso.

E Heitor então depois de pensar nas palavras dela, perguntou.

— Heitor : E Estrela? Ela sabe o que houve, contou a ela?

Maria assentiu primeiro, para depois respondê-lo com um sorriso natural no rosto que vinha sempre que falava ou pensava em sua princesa.

— Maria: Contei só quando estávamos preste a voltarmos. E ela acredita em mim e diz que mesmo se eu tivesse feito o que me acusaram nada mudaria, porque sigo sendo a mãe dela.

Heitor deu um resmungo baixo. Ele sabia que mesmo a mulher que tinha em sua frente fosse sua mãe, seu sangue, ela era uma desconhecida pra ele com aqueles anos todos de separação. E não se acredita em uma pessoa desconhecida sem antes ter a confiança nela conquistada. E ele se comparou nas ambas situações que ele e Estrela viviam com a mãe deles. E então ele disse.

— Heitor: Claro, para ela é mais fácil acreditar. Ela viveu todos esses anos ao seu lado e te conhece bem melhor que eu, senhora. E como ir contra alguém que sempre esteve com você e ainda sendo mãe ou pai? Não dar.

Maria suspirou o entendendo. Entendendo novamente sua incredulidade e pensou também, que pelas palavras dele ficava também claro a defesa que ele deu a Estevão quando havia chegado. Era a mesma que ela tinha de Estrela. Ela e Estevão tinha cada um do seus filhos, a favor deles . Mas ela queria tirar a defesa que Heitor tinha em relação a Estevão, e tiraria com a verdade, cumprindo assim, o que ela tinha cuspido na cara dele mais de uma vez.

E assim ela disse calma .



— Maria: Sim e por isso compreendo seu pedido, Heitor. Sou uma desconhecida pra você. E para mim só tê-lo aqui e me deixar tentar provar que digo a verdade significa muito, filho. Eu te amo e vou reconquistar seu amor e a sua confiança me mim.

Heitor acabou rindo de lado. Pensou que seria pressionado mas tudo parecia estar ficando leve depois daquela longa conversa. E Maria sorriu também, com o coração em júbilo ao ver aquele primeiro sorriso, tímido mas um sorriso de Heitor direcionado a ela. Então ela disse.

— Maria: Tenho um filho lindo e justo. Estou orgulhosa de saber que é esse homem, Heitor.


Heitor quando a ouviu, sentiu sua consciência pesada. Tinha já dito tantas coisas contra a mulher que lhe elogiava ainda sem tê-la de frente pra ele. Havia ensaiado palavras duras que não o faria lindo e nem justo como ela dizia, se ele tivesse mesmo dito a ela e que era mãe dele.  E então ele disse.

— Heitor: Nem me conhece, senhora. Se conhecesse não diria isso.

Heitor então se levantou da mesa e Maria saltou do lugar dela, já sofrendo por ver que ele ia embora, e disse rápido.

— Maria: Me deixa conhece-lo? Sei que peço muito depois de tudo, depois de já estar me dando uma oportunidade de provar que não minto, ainda assim, me deixa conhece-lo aos poucos, sem pressa filho e como queira.


Heitor olhou pro chão e enfiou as mãos no bolso. Se dissesse sim a ela, a teria de vez em sua vida, no seu dia a dia, ainda que morassem longe um do outro, teriam contato para que pudessem se conhecer, porque no fundo ele também queria conhece-la melhor. Mas parecia ser tudo tão rápido e que com tantas informações ele ainda tinha medo, que sem as provas que ela dizia que era falso tudo que foi acusada, ele pudesse parecer um tonto em se entregar de bandeja pra ela. 


E então a olhando nos olhos ele disse.

— Heitor: Aconteceram muitas coisas. Todos esses anos eu tinha outra imagem da senhora e não sei mais se sigo com elas ou as deixo aqui. Só sei que temo estar sendo um tonto, senhora. Por isso é tão importante pra mim, saber que tudo que me disse é verdade.

Maria respirou fundo pensando no maior dos culpados dela ter Heitor com uma imagem dela totalmente enganosa, mas dissipou os pensamentos para não deixar a raiva tomar seu rosto e levar Heitor na paciência e mansidão que ela entendia que tinha que ter com ele, para que ela alcançasse o que desejava . E então, ela disse tocando nos braços dele.

— Maria: Eu quero que esqueça tudo que ouviu de mim e eu vou fazer com que consiga, enquanto luto pela verdade, Heitor. Não vou desistir de você, não vou me acovardar, meu amor. Não mais, eu prometo.

Heitor ficou mudo se segurando para não voltar a estar como esteve, em lágrimas e abalado quando ouviu as palavras de Maria e sua promessa.  E então ele só conseguiu dizer, depois de alguns segundos.


— Heitor: Obrigado por me compreender. 

Ele então andou, e Maria o seguiu chorando silenciosa. Sentia vontade de trancar Heitor dentro do apartamento dela, e fazê-lo assim refém de seu amor de mãe até que ele entendesse que ele era sua maior prova que precisava pra ele acreditar nela. 

E assim que Heitor chegou até a porta, e a abria antes dele atravessa por ela, Maria disse limpando o rosto.

— Maria: Espere, filho.

Heitor então se virou para ela de coração acelerado. Não queria sair como estava saindo, mas não sabia como agir, como se despedir dela nem sabia se dizia um até logo. Mas então ele sentiu ela abraça-lo com ternura e ficar naquele abraço em silêncio com ele. E dessa vez as mãos dele desceu e tocou levemente as costas dela. E Maria fechou os olhos enquanto sorria mas também chorava nos braços dele.

Ela sabia que teria uma longa caminhada pra conquista-lo e mostrar o quanto o amava. Mas faria com toda garra que teve quando recomeçou sua vida em Londres e agora era a mulher que havia se transformado.




As horas do dia foram passando e passando lento para Estevão que não conseguia se concentrar em um só minuto no trabalho. Heitor não havia ido trabalhar aquela tarde, tarde porque ele sabia que pela manhã ele esteve com Maria. Heitor também não atendia nenhuma chamada dele nem muito menos atendia Lupita que ele havia pedido que o ligasse de em cinco e cinco minutos até que ele atendesse. Mas nada. Era como que o garoto tivesse sumido do mapa que nem seu melhor amigo sabia de seu paradeiro.

E então Estevão cansou de esperar notícias de Heitor e saiu de trás de sua mesa, preocupado, mas também bufando de ódio. Sabia que o silencio de Heitor se devia ao encontro que ele teve com Maria que por isso o que acontecia era de novo culpa dela. E ele levou agoniado, a mão na gravata frouxando ela e sentou no sofá. Não estava vivendo feliz sem Maria todos aqueles anos, ele assumia isso pelo menos para ele e ainda não era feliz, mas pelo menos não vivia dias como aqueles que tudo depois que ela havia regressado parecia estar tudo fora do controle, do controle dele. Maria era um furacão que estava passando na vida dele e levantando mais que poeiras de um passado que eles tiveram.



E assim Estevão baixou a cabeça e passou as mãos nos cabelos e quando a ergueu, ele ouviu o telefone em sua mesa tocar. Ele deu um pulo do sofá crendo que era Heitor, já que havia passado ordem de Lupita só passar a ligação pra sala dele se fosse ele. Que assim ele atendeu afobado.



— Estevão: Heitor, filho!



Lupita do outro lado da linha pigarreou e disse.



— Lupita: Desculpe senhor, San Roman. Mas é que a senhora Alba está na linha é quer falar urgente com o senhor. Ela disse que é sobre Heitor.



Estevão então ficou mais nervoso e disse logo.



— Estevão : Passe a ligação.



Alba na mansão San Roman estava histérica, Heitor havia cobrado dela também do porquê ela não tinha feito nada por Maria nem se quer por piedade, quando ele em alguns minutos havia regressado pra casa sem dizer aonde estava. E então assim que ela ouviu Estevão, ela disse.



— Alba: Precisa vim pra casa Estevão. Maria, aquela mulherzinha ardilosa, não sei como, mas ela já tem Heitor do lado dela! Tem que vir para colocar razão nele!

Estevão então de corpo todo rígido, a respondeu de voz grossa, sem querer perder mais tempo .

— Estevão: Já estou indo, tia!  E não deixe que ele saia outra vez antes que eu chegue!



Estevão então com pressa, arrumou suas coisas da mesa, pegou as chaves do carro e saiu as pressas de sua sala. Era ainda 17:00 da tarde em pleno meio do expediente, mas ele deixaria tudo por Heitor. Tudo para tentar concertar o que estava acontecendo.



Ele só pensava, que Maria não podia ter conseguido colocar Heitor contra ele. Ela não podia também tirá-lo dele.



E assim, dirigindo em alta velocidade, momentos depois, Estevão chegou na mansão San Roman.



Alba andava de um lado para o outro nervosa na frente da escada e quando ela viu Estevão entrando, ela correu até ele dizendo.



— Alba: Ai Estevão! Estevão, Heitor vai se virar contra todos nós, todos nós para ficar a favor de Maria. Ela vai ganha-lo!


Estevão então bufou todo vermelho. Havia dirigido o caminho todo desesperado, cheio de medo de perder Heitor e ver assim Maria ganhando dele. E então ele disse.

— Estevão: Não! Ela não vai tia! Se for preciso tomarei medidas drásticas mas Maria não ganhará meu filho assim fácil!


Alba suspirou. Ter Heitor se rebelando no primeiro encontro com Maria, ela não esperava, ninguém esperava, tanto que em suas conversas com Bruno e os demais, temiam mais a adolescente que descobriram que Maria tinha como filha. E então ela disse, escondendo o real motivo de suas palavras.


— Alba: Tudo que fizemos a ele, foi por amor Estevão e ele nos retribuí assim!


E Estevão então querendo logo estar de frente com Heitor, perguntou.

— Estevão: Ele está aonde? No quarto? Vou atrás dele agora mesmo!




E do topo da escada Heitor, disse de voz grossa descendo ela.



— Heitor: Estou aqui papai!


Ele havia escutado a voz de Estevão, e depois de ter regressado para casa em ter evitado ter aquela conversa que queria ter com ele nas empresas, não indo nela, ele desceu logo para confronta-lo agora ele.


E Estevão olhando para Heitor que seguia descendo, disse, sem muita força na voz já que ela embargou com o medo que sentia mais real que nunca vendo o olhar que o filho dava pra ele.


— Estevão: Heitor, filho.


E Heitor então já de frente para Estevão, com Alba ao lado deles, disse mais alto que antes.


— Heitor : Quando ia me contar que na verdade minha mãe não teve escolha quando foi embora e me deixou? Porque não me contou que não só a tirou dela um filho, eu papai, mas também exigiu que ela fosse embora e tudo isso sem ela ter como se manter e nem aonde morar estando grávida!


Estevão bufou nervoso . A única coisa que ele podia se defender com o que ouviu, era a parte da gravidez, já que ele nunca soube que Maria estava grávida antes de ir embora. Enquanto as demais coisas ele nunca havia negado, só não perguntado por Heitor como a tinha deixado sem opção, o que ele sim, tinha ocultado aquilo.


Ainda que sentia a consciência pesada quando pensava demais no que tinha feito, antes mesmo de Maria regressar ele havia descoberto viver em paz com consciência, justificando suas ações sempre. E então, agora de voz grossa, ele respondeu Heitor.


— Estevão: Olha o tom que fala comigo Heitor, sou seu pai! E o que queria? O que queria que eu fizesse, hum? Que tivesse piedade de uma mulher como sua mãe foi? Queria que eu lhe desse uma pensão para cria-lo com um de seus amantes? Era isso que queria, Heitor? Porque eu jamais faria isso!

E então, ainda nada calmo, Heitor o respondeu, expondo toda sua indignação.

— Heitor: Foi cruel, papai! Foi desumano! Ela estava grávida!

Estevão então passou a mão na cabeça e depois no rosto todo vermelho. Heitor não baixava a voz e gritava por Maria, por ela. E Estevão sentia seu peito doer, mãos suarem e ao mesmo tempo formigarem de nervoso que sentia aquele momento. Que assim, ele o respondeu, depois que puxou fundo o ar do seu peito.

— Estevão: Eu não sabia que ela estava grávida! Eu disse isso a você Heitor, que ela escondeu minha filha de mim, sua irmã todo esses anos! Mas vejo que ela te envenenou contra mim! Contra o seu pai!


Estevão esbravejou suas palavras que depois delas, ele deu as costas e pôs as mãos estiradas em uma mesa que tinha no centro da entrada, com flores em cima . Precisava respirar e se acalmar, pois já se sentia que passava mal.

E como ele estava, ele ouviu Heitor questiona-lo.

— Heitor: E se esteve errado papai todo esse tempo? E se ela sempre foi inocente de tudo?


Alba que estava como sempre a espreita, arregalou os olhos ao ouvir Heitor . Enquanto Estevão frouxou a gravata no puro ódio e se virou para Heitor ainda pegando nela ao ouvir o absurdo que ele pensava que tinha escutado. 

Ele só pensava, que Heitor não tinha visto e nem sentido o que ele havia sentido há 15 anos atrás, para ousar dizer o que dizia. As provas ainda existiam mas Estevão nunca havia mostrado a ele, nunca por ter a nudez exposta de Maria e masoquistamente guardada por ele todos aqueles anos e também não mostrada, porquê a dor que Estevão julgava sentir, ele sabia que nunca seria a mesma que Heitor sentia como filho, já que ele como um homem que foi perdidamente apaixonado e depois traído e humilhado pela mulher que ele amou mais que sua vida, estava mesmo ferido em seu ego, em sua alma e coração. Mas que ainda assim, ele sabia que Heitor sofria pelo erro da mãe, o viu sofrer e ele só queria recorda-lo dessa dor que Maria havia feito ambos sofrerem... E então ele disse grosso.




— Estevão: Vamos continuar essa nossa conversa no meu escritório. E não estou pedindo, Heitor. Vamos agora!






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